quinta-feira, 10 de outubro de 2013

MARINA EMPURROU O PSB PARA A DIREITA





Wanderley Guilherme voltou mais afiado que nunca. Em seu artigo de hoje, o professor analisa a momentosa entrada de Marina Silva no partido de Eduardo Campos. E dispara:

“Marina pintou-se com as cores da reação (…). Abandonando a retórica melíflua a ex-senadora revela afinal a coerência entre suas posições políticas e as sociais. Empurrou o PSB para a direita de Aécio Neves, a um passo de José Serra.”

Coluna Cafezinho com Wanderley


MARINA, VOCÊ SE PINTOU


Por Wanderley Guilherme dos Santos

Em 48 horas de fulminante trajetória a ex-senadora Marina Silva provocou inesperados solavancos no panorama das eleições em 2014. Renegando o que há meses dizia professar aderiu ao sistema partidário que está aí, mencionou haver abrigado o PSB como Plano C, sem mencioná-lo a desapontados seguidores, e declarou guerra a um suposto chavismo petista. De quebra, prometeu enterrar a aniversariante república criada pela Constituição de 88, desprezando-a por ser “velha”. Haja água benta para tanta presunção.

Marina e seguidores não consideravam incoerente denunciar o excessivo número de legendas partidárias e ao mesmo tempo propor a criação de mais uma. Ademais, personalizada. O “Rede” sempre foi, e é, uma espécie de grife monopolizada pela ex-senadora. Faltando o registro legal, cada um tratou de si, segundo o depoimento de Alfredo Sirkis. Inclusive a própria Marina. Disse que informou por telefone ao governador Eduardo Campos que ingressaria no Partido Socialista Brasileiro para ser sua candidata a vice- presidente. Ainda segundo declaração de Marina, o governador ficou, inicialmente, mudo. Não era para menos. Em sua estratégia pública, Eduardo Campos nunca admitiu ser um potencial candidato à Presidência, deixando caminhos abertos a composições. Eis que, não mais que de repente, o governador é declarado candidato por sua auto-indicada companheira de chapa. Sorrindo embora, custa acreditar que Eduardo Campos esteja feliz com o papel subordinado que lhe coube no espetáculo precipitado pela ex-senadora.

Há mais. Não obstante a crítica às infidelidades de que padecem os partidos
que aí estão, Marina confessou sem meias palavras que ingressava no PSB, mas não era PSB, era “Rede”, e seria “Rede” dentro do PSB. Plagiando o estranho humor da ex-senadora, o “Rede” passava a ser, dali em diante, não o primeira partido clandestino da democracia, mas o primeiro clandestino confesso do Partido Socialista Brasileiro. Não deixa de ser compatível com a sutil ordem de preferência de Marina Silva. Em primeiro lugar vinha a criação da Rede, depois a pressão para que a legenda fosse isenta de exigências fundamentais para a constituição de um partido conforme manda a lei e, por fim, aceitar uma das legendas declaradamente à disposição.

Decidiu-se por uma quarta opção e impor-se a uma legenda que não é de conhecimento público lhe tenha sido oferecida. Enquanto políticos trocam de legenda para não se comprometerem com facções, a ex-senadora fez aberta propaganda de como se desmoraliza um partido: ingressar nele para criar uma facção. Deslealdade com companheiros de percurso, ultimatos e sabotagem de instituições estabelecidas (no caso, o PSB), não parecem comportamentos recomendáveis a quem se apresenta como regeneradora dos hábitos políticos.

O campo das oposições vai enfrentar momentosas batalhas. Adotando o reconhecido mote da direita de que o Partido dos Trabalhadores constitui uma ameaça “chavista”, Marina pintou-se com as cores da reação, as mesmas que usa em suas preferências sociais: contra o aborto legal, contra o reconhecimento das relações homoafetivas, contra as pesquisas com células tronco, enfim, contra todos os movimentos de progresso ou de remoção de preconceitos. Abandonando a retórica melíflua a ex-senadora revela afinal a coerência entre suas posições políticas e as sociais. Empurrou o PSB para a direita de Aécio Neves, a um passo de José Serra. É onde Eduardo Campos vai estar, queira ou não, liderado por Marina Silva. As oposições marcham para explosivo confronto interno pelo privilégio de representar o conservadorismo obscurantista.



Fonte:  Conversa Afiada

O VALE TUDO CONTRA O PT


Marina e Serra se igualam neste momento no desejo desenfreado de tirar o PT do poder, não importa que expedientes ou alianças espúrias sejam necessárias para alcançar o objetivo
Por razões diferentes, que o perfil e a história de cada um determinou, os ex-senadores Marina Silva e José Serra, querem derrotar o PT nas próximas eleições. Ele diz que o PT não tem projeto para o Brasil e ela afirma que sua luta atual é contra o PT e o chavismo que se instalou no país.
Obviamente que os dois gostariam de fazer essa tentativa encabeçando chapas presidenciais, mas, ao que tudo indica até agora, isso não está fácil de acontecer.
Serra cogitou abandonar o PSDB depois que a cúpula do partido colocou Aécio na presidência da legenda, como parte da estratégia de lançá-lo candidato a presidente. Serra não deixou a legenda mas ameaça pedir prévias para a escolha do candidato oficial do partido às eleições de 2014. Nada indica que sairia vencedor numa convenção do PSDB.
Ser vice de Aécio, ou o contrário, e fazer renascer a histórica dobradinha Café com Leite, é uma opção na qual ninguém crê. São dois egos muito grandes para aceitarem o cargo de vice.
Após a decisão de Serra, no último final de semana, de permanecer no ninho tucano, Aécio disse que Serra é figura indispensável ao PSDB mas que "ainda não é o momento de definir a candidatura presidencial do PSDB e do conjunto de forças que se dispuserem a marchar conosco". Ele sinalizou, ou não, que o vice por ele pretendido deve estar entre as forças que se dispuserem a marchar com o PSDB?
Marina por sua vez, viu abortar seu plano de presidenciável quando não conseguiu registrar seu partido junto à Justiça Eleitoral. Por atribuir o fato a uma ação coordenada do governo contra ela, enxergou na aliança com Eduardo Campos, do PSB, sua melhor vingança contra o PT.
Nenhuma surpresa a respeito do posicionamento de Serra em relação ao PT. Há muitos anos é clara sua opção pelo neoliberalismo e pela defesa dos interesses das elites. Marina Silva, no entanto, ex- seringueira, eleita deputada estadual e duas vezes senadora pelo PT, ex-ministra de Lula, não reconhecer as ações dos governos petistas de tirar da miséria 40 milhões de brasileiros, muitos deles analfabetos, como ela própria até os 16 anos de idade, é muita hipocrisia. O que fez foi iniciar um projeto individual, egoísta, abandonando os ideais coletivos.
O mundo dá voltas, e algumas surpreendem mais do que outras. Marina, que cresceu politicamente se elegendo vereadora com a ajuda da imagem do líder seringueiro Chico Mendes, conhecido internacionalmente por sua luta em defesa da Amazônia, é hoje candidata a vice numa chapa que tem recebido apoios de figuras de tendências não exatamente de esquerda ou socialistas.
Senão vejamos, Ronaldo Caiado, do DEM, um dos expoentes da União Democrática Ruralista –UDR, a mesma organização a qual pertencia o fazendeiro Darly Alves e seu filho Darcy Alves, que em 22 de dezembro de 1988, em Xapuri, mandaram assassinar covardemente Chico Mendes.
Nos últimos 20 anos, as mortes de mais de mil líderes camponeses, sacerdotes e sindicalistas na Amazônia são atribuídas em sua maioria à UDR, organização defensora dos latifundiários brasileiros.
O que pensarão seus eleitores ao ver a senadora ambientalista e ex-seringueira, Marina, no mesmo palanque do ex-deputado Paulo Bornhausen, filiado ao PSB e filho do cacique Jorge Bornhausen, um dos fundadores do PFL, atual DEM; ou ao lado do ex-senador piauiense Heráclito Fortes, que deixou o DEM e se filiou recentemente ao PSB, declarando apoio para a disputa presidencial de
Campos; ou ainda, próxima do ex-governador do Maranhão, Zé Reinaldo, preso por corrupção, também apoiando atualmente o PSB.
Além de se unir a figuras do DEM, Marina como vice de Eduardo Campos deve estar disposta a se unir a figuras também do PSDB, uma vez que já não é de hoje a aproximação da sigla com o PSB pelo país afora.

Com a saída do PSB do governo, essa tendência de aproximação do partido de Eduardo Campos com a oposição se acentuou, notadamente com o PSDB, que já articula coligações rivais, contra o PT, em cerca de 20 estados brasileiros, ou seja, o projeto político de Eduardo e Marina só deve fechar com o PT em muito poucos estados.
Um complicador ético para Marina Silva: será que o acordo no plano federal entre PSB e Rede se reproduzirá de forma fácil nos estados? Aliados de Marina Silva resistem a ficarem lado a lado com alguns dos quadros que já se engajaram no projeto de Eduardo Campos. A tendência é que os dois grupos não apoiem o mesmo candidato a governos estaduais.
Como se comportará ainda Marina diante da atuação do PSB em relação ao novo Código Florestal, proposta que a Rede incluiu até em regras de filiação como um dos motivos para rejeitar a adesão de quem votou de forma favorável à proposta? Será que a maioria dos deputados do PSB se aliará as causas ambientalistas defendidas pela Rede e por Marina?
Serra está cumprindo seu papel de defensor das elites, que nunca aceitaram o fato de um metalúrgico chegar à Presidência da República. Marina está cuspindo no prato que comeu e mudando radicalmente de rumo.
Ela critica os governos Lula e Dilma. Mas se esquece que eles desenvolveram um programa político de fazer inveja, destacando-se entre os Brics, com a construção de infraestrutura em estradas, hidrovias e portos para circulação e exportação de sua produção agrícola e industrial; investindo na agricultura familiar, responsável por 60% do alimento hoje na mesa do brasileiro; na educação básica, técnica e científica; em políticas públicas de melhoria da qualidade de vida da população carente, com garantia de água e luz para todos.
Para citar apenas alguns programas de importância estratégica para o desenvolvimento sustentável do Brasil, lembro o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec; o ProUni; o Bolsa Família; o Minha Casa Minha Vida; o Luz para Todos.
Em dois anos, 4,6 milhões de pessoas já fizeram ou estão fazendo um dos cursos oferecidos pelo Pronatec em todo o Brasil, e a meta do governo é matricular 8 milhões de alunos até o final de 2014. Até o próximo ano o governo está investindo R$ 14 bilhões no programa ofertando Ensino Técnico para quem está cursando o Ensino Médio; oportunidades de qualificação profissional para o jovem ou o adulto que deseja uma melhor formação profissional; e cursos para participantes do programa Brasil sem Miséria conseguirem uma profissão.
Um outro sucesso do governo, o Bolsa Família, considerado pela revista britânica The Economist um dos principais programas de combate à pobreza do mundo, foi reconhecido como um esquema anti-pobreza que está ganhando adeptos mundo afora. O jornal francês Le Monde afirmou que "o programa Bolsa Família amplia, sobretudo, o acesso à educação, que representa a melhor arma contra a pobreza, no Brasil ou em qualquer outro lugar do planeta".
Na área do ensino superior, o ProUni -Programa Universidade Para Todos, criado em 2004, no primeiro governo Lula, foi o maior programa de bolsas de estudo da história da educação brasileira, tendo beneficiado até 2012, um milhão de jovens com a concessão de bolsas de estudos, custeando parcial ou integralmente seu curso superior em uma universidade particular.Entre os beneficiados com bolsas, cerca de 46% eram autodeclarados afrodescendentes, o que resgata uma dívida histórica com a população negra deste país.
Além disso, 11 universidades públicas federais foram criadas apenas durante os governos do presidente Lula, superando o marco do presidente Juscelino Kubitschek.
O programa Luz para Todos, por sua vez, atendeu até marco de 2012 cerca de 14,4 milhões de moradores rurais de todo o país, com investimentos que chegam a R$ 20 bilhões, dos quais R$ 14,5 bilhões do Governo Federal.
Será que Marina Silva está ciente disso? O Luz para Todos utilizou cerca de 1,4 milhão de km de cabos elétricos e 7,3 milhões de postes, parte deles desenvolvida com uma nova tecnologia a base de resina de poliéster e fibra de vidro, facilitando seu transporte pelos rios, já que por serem leves flutuam, dispensando o uso de caminhões, em trechos intrafegáveis na região amazônica.Só no estado do Amazonas foram utilizados 28 mil metros de cabos elétricos colocados dentro dos rios.
A economia também se beneficia com a instalação da eletricidade no campo. Uma pesquisa de impacto realizada no ano de 2009 mostrou que 79,3% dos atendidos pelo programa adquiriram televisores, 73,3% passaram a ter geladeiras em suas casas e 24,1% compraram bombas d'água.
Outro programa do governo federal, o Minha Casa Minha Vida, transformou o sonho da casa própria em realidade para mais de 1 milhão de famílias, com renda bruta de até R$ 5 mil. Após esse sucesso, o programa pretende construir numa segunda fase, até 2014, cerca de 2 milhões de casas e apartamentos.
Agora, a pergunta que não quer se calar: quem é José Serra para falar mal do PT? Que programa político desenvolveu o PSDB durante os anos de governo neoliberal de FHC, além de privatizar estatais brasileiras a preço de banana e gerar para a história e para que nossos filhos saibam quem são, livros como a Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro e o Príncipe da Privataria, do jornalista Palmério Dória?
Os dois livros contam em pormenores e com apresentação de farta documentação as falcatruas com o dinheiro público por parte de autoridades governamentais do período pré Lula, que, certamente envergonharão ainda por muitos anos este país.
O povo brasileiro não é idiota e sabe avaliar a trajetória e a mudança de rumos de cada um. A sociedade já está demonstrando há alguns anos de que lado está. Este é o desespero das elites: está cada vez mais difícil enganar o povo brasileiro. A hora é de mudança real, não apenas de retórica.

Fonte:  Brasil 247
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