Os locutores esportivos de antigamente costumavam dar apelidos a quase todo jogador de destaque. Assim, no meu tempo de garoto, Vavá era o "Peito de Aço", Servílio, o "Bailarino", e Ademir da Guia, o "Divino", só para citar três exemplos do meu querido Palestra.
Com o tempo, o talento dos locutores e dos jogadores foi decaindo. Hoje, são raros os boleiros que têm o privilégio desse segundo nome, que às vezes os identifica mais que aqueles que fazem parte das escalações do time.
Sobreviveram os que realmente são - ou foram - craques, como o Ronaldo "Fenômeno", que, infelizmente para o verdadeiro futebol, trava uma luta perdida contra o tempo - e também contra alguns quilos a mais.
Até mesmo cartolas mereceram a honra desse segundo nome. Quem não sabe que Paulo Machado de Carvalho era o "Marechal da Vitória"?
Nesta campanha eleitoral nota-se um esforço do presidente Lula para colar em sua candidata, Dilma Rousseff, um desses apelidos. Lembrando de um de seus ídolos, Getúlio Vargas, que era chamado de "Pai dos Pobres", em vários comícios e atos de campanha, Lula se referiu a Dilma como a "Mãe do PAC".
Como essa, porém, é a primeira eleição de que participa, provavelmente seja ainda muito cedo para que a ex-ministra da Casa Civil fique conhecida por meio de outro nome que não o seu.
Risco maior corre seu opositor, o ex-governador paulista José Serra, que, embora esteja na vida pública há bastante tempo, apenas recentemente, com o advento da internet, é que tem sido brindado com uma série de apelidos.
Se não me engano, o primeiro foi dado por Paulo Henrique Amorim, em seu site Conversa Afiada - Zé Pedágio, por razões óbvias. O mesmo jornalista arriscou algumas variantes: Zé Alagão e Serrágio, entre outros. O mais recente é "Jênio", com "J" mesmo.
Ainda é cedo para saber como Serra ficará conhecido no futuro. Nenhum desses apelidos pode pegar. A experiência mostra que, para merecer ser chamado de algo além de seu nome, a pessoa tem de ter alguma característica marcante, alguma coisa especial.
É caso, por exemplo, do pai espiritual de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, alcunhado de "Príncipe dos Sociólogos", ou simplesmente "Príncipe" - a redução do epíteto, no seu caso, é menos para expressar intimidade do que para marcar o seu caráter esnobe.
Já Serra, com toda a sua sensaboria, com aquele mau humor constante, a falta de ideias recorrente, a palidez da face e do pensamento, tudo indica, será sempre apenas Serra, assim sem mais nada, assim solitária e tristemente.