quarta-feira, 26 de junho de 2013

PLEBISCITO É A SAÍDA DEMOCRÁTICA PARA A CRISE

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Por Breno Altman, especial para o 247
O discurso da presidente Dilma Rousseff, anunciando a proposta de consulta popular para reformar o sistema político, foi um tiro de canhão contra estratégias que visam jogar a vontade das ruas contra o governo federal e desestabilizá-lo.  
A chefe de Estado, em um movimento de audácia, foi à raiz do problema que sacode o país: o apodrecimento das velhas instituições. Há dez anos implementando importantes mudanças sem romper com ordem herdada da transição conservadora à democracia, o governo liderado pelo PT finalmente entendeu que esse ciclo está esgotado.
A rebelião popular-juvenil, mesmo com suas contradições e disparates, como é próprio de todos os grandes movimentos de massa, decretou a falência de um sistema oligárquico, putrefato e avesso às transformações de fundo. Ao contrário de alguns petistas e intelectuais de esquerda, que viram no levante uma conspiração reacionária, Dilma compreendeu e ensinou que as ruas tinham aberto caminho para um tremendo salto adiante.
Ao exigir do Congresso um plebiscito que decida a fundação de novo ordenamento político, a presidente desbrava caminho para superar a associação entre o capital corruptor e a representação política de aluguel, epicentro da degenerescência republicana. Deslancha o processo que pode levar à proibição e criminalização do financiamento privado de campanhas, além de oxigenar o Estado com a transparência ideológica propiciada pelo voto em lista e a fidelidade partidária.
A intervenção presidencial também cria janela de oportunidade para ampliar a democracia participativa, através de novos instrumentos soberanos. A reforma poderia incluir a possibilidade de plebiscitos convocados por iniciativa dos próprios eleitores ou pelo presidente da República, o impedimento de governantes e parlamentares através do voto popular e outras iniciativas que incorporem as ruas ao Estado.
Não é à toa que a oposição de direita, estabelecida nos partidos e em outras casamatas da sociedade, reagiu com repulsa à proposta presidencial. Seu discurso contra a corrupção não passa de pura demagogia golpista. As correntes reacionárias querem que tudo permaneça como está, pois são esses segmentos os maiores beneficiários do contubérnio entre dinheiro e política. Desmascaram-se, com seu horror a qualquer ideia que coloque os rumos do país nas mãos do povo.
A disputa será renhida. A presidente ofereceu às ruas rebeladas uma plataforma para fazer valer suas reivindicações e ajudá-la a aprofundar a democracia, além de pactos pela melhoria das condições de vida. Inimigos irão se alçar em combate, atemorizando aliados mais volúveis. Às ruas caberá defender, com fervor e mobilização, a única saída progressista para a crise.

Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel

Fonte:  Brasil 247

terça-feira, 25 de junho de 2013

DILMA E A REVOLUÇÃO DOS COXINHAS

Enviado por  on 25/06/2013 

Dessa vez eles chegaram bem perto. A estratégia foi genial. Usaram um grupinho político da USP que tinha uma proposta simpática, a defesa do passe livre, e, com ajuda da brutalidade da polícia paulista, transformaram um protesto local num delírio jovem de magnitude nacional.
Ainda vai demorar para sabermos a extensão da influência dos grupos “anonymous” na organização virtual dos protestos. Mas as névoas estão começando a se dissipar. Depois do apoio dos Clubes Militares aos “protestos de rua”, as coisas vão ficando mais claras.
É um fenômeno que vem se repetindo nos últimos anos, e cada vez emerge mais forte. As novas investidas da direita tem se dado através da juventude da classe média. Pega-se uma bandeira ou candidato simpáticos, untados com antigovernissmo, agressividade política, cobertura midiática favorável, um bocado de esquerdismo utópico e infantil, e pronto, eis uma causa capaz de reunir milhares de jovens. A estratégia de usar a juventude, e símbolos da esquerda, para lançar uma candidatura conservadora, é um excelente cavalo de Tróia para dividir e confundir o eleitorado progressista. Em 2008, fizeram com Gabeira, símbolo de rebeldia, nas eleições municipais do Rio de Janeiro. Começou como queridinho dos jovens e terminou, como agora, com apoio do Clube Militar. Dois anos depois, Gabeira seria o candidato-fantoche do PSDB no estado do Rio, disputando uma eleição apenas para dar palanque à José Serra, e hoje o ex-guerrilheiro assina uma coluna udenista no Estadão.
Eu estive no protesto de Brasília. Observei os jovens segurando cartazes artesanais, individuais, com todo o tipo de platitude, como: “tanta coisa pra protestar que não cabe num cartaz”.
No dia seguinte, olhando a capa do Correio Braziliense, todavia, algo me chamou a atenção. A presença de uma faixa gigantesca. Tão grande que os próprios manifestantes deviam ter dificuldade de assimilar o conteúdo. Só dava para ser lida do alto do helicóptero da Rede Globo. A frase dizia: Prisão já para os Mensaleiros.
Num movimento não organizado por partidos, sindicatos ou movimentos sociais, a característica principal dos cartazes era a sua simplicidade. Aquela faixa era coisa de profissional. Deve ter custado uma fortuna, muito longe da realidade dos jovens manifestantes, apesar da minha impressão, ao observar seus rostos, que nenhum deles jamais perdeu uma noite de sono por causa de uma dívida. No Rio, também logo se viram faixas descomunais pedindo prisão de mensaleiros. A oposição, como se vê, pensou bem rápido e faturou em cima das manifestações.
As madames organizadas que fracassaram em levar adiante seus protestos contra “tudo o que está aí” assistiram, emocionadas, seus filhos assumindo seu lugar.
As pesquisas apontam que os protestos vistos nos últimos dias foram protagonizados principalmente por jovens universitários de classe média, que logo se viram acompanhados por elementos do chamado “lúmpem”, ou seja, camadas desorganizadas dos estratos mais pobres. Os elementos radicais de ambos os grupos praticaram um assombroso vandalismo, fazendo com que os protestos fossem os mais violentos de que se tem notícia em nossa história recente.
A insistência da mídia em falar que apenas “uma pequena minoria” praticou vandalismo tornou-se ridícula. Se os dez mil manifestantes de Brasília se pusessem a depredar o Itamaray, aí não era manifestação, e sim um ato de guerra civil antinacional, e eu mesmo iria à capital lutar em defesa do meu país, distribuindo uns tabefes nos irresponsáveis.
Congresso e Executivo tentam dar uma resposta política às manifestações, porque é tradição nacional procurar uma saída pacífica e conciliadora. Mas não podemos nos cegar para a emergência de um perigoso neofascismo playboy. No Rio, já vimos isso durante a candidatura de Marcelo Freixo, com o surgimento de uma legião de jovens absolutamente sectários, com a mesma visão messiânica, voluntarista e impaciente da política.
Mas a coisa é pior. Freixo ao menos tinha um programa, e pertencia a um partido. As manifestações de hoje não tem agenda, não tem foco, apenas um sentimento em comum: a impaciência, que na verdade reflete o voluntarismo arrogante de uma classe. “Queremos mudanças já! Agora! Não temos paciência para o jogo democrático! Não temos paciência para esperar as eleições de ano que vem e eleger novos deputados estaduais, novos governadores e um novo presidente!”
O rechaço à representatitividade política, por sua vez, tão edulcorado pelos pós-modernos, é na verdade um rechaço à democracia. Porque a democracia não é um governo dos melhores e sim da maioria. O representante político não chega lá por concurso público. Não é o mais ético. Ele ganha uma eleição porque soube articular melhor, se organizar junto a um grupo, arrumar dinheiro para campanha. Os jovens voluntaristas não aceitam que seus representantes políticos sejam eleitos pela massa ignara, que não sabe diferenciar corruptos de não-corruptos, que vota em evangélicos, em fisiológicos, em petistas. Querem ganhar no grito.
As madames, revoltadas com o súbito aumento no custo das empregadas domésticas, indignadas com a invasão de pobres nos aeroportos, devem ter cortado a mesada dos filhos, que saíram às ruas em protesto contra essa situação. O passe livre significa que a patroa não precisará mais pagar a passagem de sua empregada doméstica. Sim, porque a legislação brasileira obriga o empregador a pagar o transporte do funcionário. Seu passe já é livre, portanto. E o autônomo tem se beneficiado, por sua vez, de uma forte disparada no preço dos serviços que presta. Os vinte centavos a mais na passagem, conforme os próprios manifestantes admitiram, nunca foram o cerne dos protestos.
A questão da mobilidade urbana deve ser monitorada de perto pelos cidadãos. Se os protestos fossem, especificamente, para melhorar a qualidade do transporte público, maravilha. Mas botar 300 mil pessoas na rua, sem agenda, protestando por protestar, é algo sinistro. Um alemão com quem conversei longamente em Brasília, falou assim mesmo: “It’s scaring”. É assustador. Eles – alemães – já viram esse filme antes e não guardam boas lembranças.
É a revolução dos “coxinhas” ou “almofadinhas”, apoiados por neohippies de butique, desmiolados, indignados úteis, ingênuos, e toda espécie de malucos e idiotas políticos, que agora ganharam a companhia dos apopléticos dos clubes militares e das madames cansadas do Leblon.
Enquanto isso, Joaquim Barbosa, candidato preferido dos manifestantes, dá longas entrevistas à Globonews, defendendo o voto distrital e a possibilidade do povo “revogar” seu voto através de um “recall”. Detalhe: o voto distrital é o sonho da direita, porque seria a maneira maneira rápida de matar o sindicalismo e, por consequência, todos os partidos de esquerda.
A proposta de Dilma Rousseff de fazer um plebiscito popular para decidirmos se devemos ou não eleger uma constituinte, para levar adiante a reforma política, dá o foco que o Brasil precisava. As acusações da oposição de que seria um golpe apenas confirma a sua inapatência política. A verdadeira oposição, ou seja, aquela que hoje se encarna no cidadão Joaquim Barbosa, que tem se mostrado muito mais inteligente e articulado que um Aécio Neves, apoia o plebiscito, porque entende que ele consiste, na verdade, numa jogada de risco para a presidenta. E uma oportunidade de ouro para a oposição ao PT. Uma constituinte poderia introduzir o voto distrital tão sonhado por Joaquim Barbosa.
Mas um plebiscito também significa o aprofundamento da democracia. Vocês, manifestantes, querem promover uma ruptura no ritmo com o qual o Brasil vem mudando? Querem uma bebida mais forte? Ok, mas primeiro temos que perguntar ao povo se ele concorda.
A eleição de uma Constituinte para discutir a reforma política, por sua vez, é um gesto de deferência à rejeição vista nos protestos contra a classe política tradicional. É uma chance dos manifestantes provarem que seus protestos são consequentes e irem às ruas fazerem campanha para seus representantes preferidos. É uma oportunidade e tanto para sonháticos, barbosianos, éticos midiáticos, e independentes de todo o tipo.
Eu nem sei se defendo este plebiscito, essa constituinte, essa reforma política. O que eu sei é que se está oferecendo ao povo a oportunidade de decidir, e uma bandeira branca aos manifestantes. Ok, vocês venceram, vamos consultar o povo. Agora deixemos o Brasil trabalhar e funcionar, porque sem estabilidade econômica e política todo mundo sai perdendo, a começar pelo mais pobre.
Os protestos de rua conquistaram algumas vitórias, mas a um preço talvez excessivo: introduzimos o vírus da truculência na política brasileira. Acho um tanto alarmante que tanta gente ache “lindo” ver o povo destruindo pontes, ônibus, monumentos, lojas, restaurantes, rodoviárias. E tudo pra que? Por um mundo melhor?
A coisa perdeu todo o sentido porque é chocantemente absurdo ver um jovem socialista marchando ao lado de um defensor da ditadura. De um defensor do aborto ombreando com um que prega o contrário. O nível de esquizofrenia dos protestos, aliado à condescendência da mídia, atingiu um ponto crítico.
Quanto ao governo, a grande lição é o fracasso retumbante de sua política de comunicação, e a derrota na batalha pelo coração da classe média. Acabaram-se as tertúlias no programa da Ana Maria Braga, acabou-se o mito da faxineira da ética, da gestora séria e competente. Dilma se viu obrigada a fazer política. A ir para TV. A convocar movimentos sociais, governadores e prefeitos. A ouvir as centrais sindicais. Agora não pode mais parar. Dilma tem de achar uma outra Dilma para si, para gerenciar o país, e tem que mergulhar de vez na agenda política. Participar mais do debate, ajudando a aprovar suas reformas do Congresso, a defender seu governo nos meios de comunicação.
No meio da crise, com protestos comendo soltos em todo país, e ninguém sabendo direito onde aquilo ia dar, o blog da Dilma, uma ferramenta extraordinária para apagar incêndios, permaneceu parado. Twitter da Dilma, parado. Facebook da Dilma, idem. Um garoto do subúrbio carioca faz um trabalho melhor de comunicação para a presidenta, com o perfil Dilma Bolada, do que todo o pesado staff da presidência da república e da Secom.
A comunicação da presidenta é dominada pelo pensamento publicitário, pela mídia 1.0, onde tudo é pensado em termos de milhões de reais. Qual o custo em atualizar um blog, em escrever uns tuitezinhos por dia? Nenhum. Mas a presidência, sequestrada pela lógica pesada da Secom, prefere torrar milhões numa agência de publicidade, para fazer um novo pronunciamento na TV. Por que não fazer um tweetcam semanal com jovens e internautas? Porque não inovar na comunicação, interagir diretamente com a população, sem intermediação de Globo, Veja, Folha, Estadão?
Há um lado positivo em tudo isso, que é a aceleração da História. Assim como uma manifestação pode começar pela esquerda e terminar pela direita, como é o que aconteceu, ela pode tender à esquerda novamente. Mesmo uma guinada à esquerda, porém, só seria positiva se viesse no bojo de um forte apoio do povo e dos estratos mais progressistas da classe média. Um neochavismo sem base popular, sem comunicação, turbulento, isolacionista e mal ajambrado, apenas abriria espaço para uma vitória conservadora em 2014.
Por isso é tão necessário desenvolver uma estratégia de comunicação mais agressiva, mais jovem e mais dinâmica. O povo quer falar contigo, Dilma. Não apenas através de um plebiscito onde diremos sim ou não. Não através da Globonews. Quer falar contigo diretamente, olho no olho. Mas não pela TV, que tem um lado só. Tem que ser pela internet, onde podemos interagir. Talvez aí, nesse diálogo direto, veremos emergir uma surpreendente criatividade.
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Fonte:O Cafezinho

sexta-feira, 21 de junho de 2013

PROTESTOS QUE A PRINCÍPIO ERAM JUSTOS, AGORA TRANSFORMARAM-SE EM VIOLÊNCIA, CRIMINALIZAÇÃO DA POLÍTICA E CERCO A PARTIDOS E GOVERNOS DEMOCRATICAMENTE ELEITOS.


Quem pariu Mateus que o embale




No começo da noite de quinta-feira (20), redes de televisão exaltavam a “beleza” de protestos violentos, ainda que mascarados de pacifistas, que, há quase duas semanas, esmagam o país com medo, incêndios, bombas, tiros, depredações, destruições de todos os tipos, mutilações e, agora, até com morte, como previsto aqui tantas vezes e tão inutilmente.
Todo o horror que se espalhou pelo país foi produto de exigência feita por um grupo de meninos e meninas embriagados com um poder imensurável que adquiriram em questão de dias e que pôs de joelhos um dos maiores impérios de comunicação do mundo e todo o resto do oligopólio comunicacional verde-amarelo, além de políticos, jornalistas e legiões de cidadãos comuns.
Muito poucos entre os que enxergaram o desastre que estava sendo construído tiveram coragem de denunciá-lo, intimidados por hordas de fanáticos que promoviam linchamentos na internet e até nos ambientes sociais e profissionais mais variados contra todo aquele que ousasse dissentir.
A maioria, porém, enxergou exatamente o oposto do que estava ocorrendo. E agora se espanta com o que estava diante de seus olhos e não viu.
Parece ocioso repetir o tamanho do desastre que se produziu no país algumas dezenas de horas após o Estado brasileiro, em suas mais diversas instâncias, ficar de quatro para pouco mais do que adolescentes mimados, que passaram a emitir ultimatos de que iriam “parar” cidades e depois o país se não fossem atendidos.
Por ficar de quatro, entenda-se as autoridades ignorarem todas as condições técnicas de orçamentos municipais e estaduais porque a garotada “não queria nem saber”.
Organizando manifestações de dezenas de milhares de pessoas mesmo lendo em sua página no Facebook as atrocidades que vândalos prometiam promover, um tal de Movimento Passe Livre assumiu o risco de colocar nas ruas hordas de jovens de classe média que têm tempo para passar 15 dias só se dedicando a “parar cidades” e, como se viu depois, o pais.
Algo que possa ser definido como “o povo” pode chegar todo dia, no meio da tarde, a praças públicas e permanecer nas ruas até a madrugada paralisando a vida de quem levanta cedo para trabalhar e, após extensas jornadas laborais, ainda enfrenta outro tanto em salas de aula?
Não a grande maioria deste povo. O brasileiro trabalha duro. Não tem tempo para isso. Nem que fosse por uma causa concreta e racional conseguiria fazê-lo. Temos que sobreviver.
Parece ocioso relatar no que deu o Estado, as autoridades, enfim, a República ficar de quatro para essa criançada e seu novo brinquedo: o poder. E não um poder qualquer, mas um poder discricionário que, após humilhar e impor caprichos a autoridades e aos Poderes constituídos, arrogou a si o direito de impedir liberdades individuais.
Relatei, no primeiro dia útil desta semana trágica, como os “manifestantes pacíficos” passaram a decidir quem poderia ocupar o espaço público usando uma roupa ou portando um símbolo de partido político como bem lhe aprouvesse. Sobretudo sendo de um partido em especial, que, nos dias seguintes, passaria a ser a Geni da República: o Partido dos Trabalhadores.
Na segunda-feira, vi, a centímetros de meu corpo, a única pessoa humilde de verdade em um agrupamento de milhares de pessoas ser atirada ao chão, chutada, agredida, insultada. Uma garota negra de nem 1,6 metro de altura e pesando, no máximo, uns cinquenta quilos.
Por que? Por usar uma camiseta vermelha e portar uma bandeira do mesmo tom com a sigla de seu partido.
Legiões de garotos e garotas se encantaram pelo clima de “Queda da Bastilha” e pelo poder discricionário recém-adquirido, estimulado por impérios de comunicação e por partidos político ditos de esquerda.
Esse conclave, mesmo após ter suas exigências atendidas, inundou as ruas com fascistas de ultradireita que bem sabia que levaria consigo, pois os via postando sua truculência em frases na internet que mais se assemelhavam a hieróglifos, de tão ininteligíveis em nosso idioma.
Agora, com a República de quatro, como sempre ocorre com o fascismo – e como se tornou pior com o fascismo infanto-juvenil – o tal “passe-livre” (para o caos?) passou a determinar até que cor de roupa as pessoas podem usar na rua. E o vermelho-PT foi “proibido”.
A pena para quem ousasse desafiar o desígnio dos novos donos do país? Espancamento, no mínimo.
Um amigo fraterno, militante da CUT, assim como a Central Sindical e o PT acreditou ainda viver numa democracia e foi com um pequeno grupo à manifestação da avenida Paulista e lá, assim como no resto do país, foi espancado juntamente com seus companheiros, alguns dos quais foram parar no hospital.
Enquanto isso, cerca de cem cidades brasileiras tiveram, cada qual, seu quinhão de ditadura infanto-juvenil. Petistas, sindicalistas, sedes do PT, todos foram atacados nas maiores, nas médias e até em pequenas cidades por usarem a cor ou o símbolo de suas organizações.
A mídia, que num primeiro momento sentiu medo daquelas crianças armadas de tanto poder, vendo possibilidade que tanto almejou durante a última década para destruir um grupo político ao qual se opõe e não consegue derrotar nas urnas, passou a estimular que as massas descontroladas fossem às ruas, em seguida passando a minimizar o caos resultante, atribuindo-o a “pequeno grupo” que, de tão pequeno, conflagrou um país continental de ponta a ponta.
Como não podia deixar de ser – e estava demorando –, veio o primeiro cadáver.
Ao fim da noite, os telejornais, após todo o caos, toda destruição de palácios, espancamento de pessoas vestidas com cores ou portando símbolos proibidos sob o mote do tal “MPL” que proscreveu partidos políticos das ruas ocupadas, comemorava.
O semblante de alegria midiático se acentuou com a notícia veiculada pela rádio CBN de que o Brasil poderá ser punido se a Copa das Confederações não puder ser realizada até o fim por aqui devido à convulsão social desencadeada por crianças armadas de bombas atômicas.
Melhor que isso, para a mídia que atirou o Brasil em duas décadas de ditadura, só se a Copa do Mundo no país for cancelada, fazendo com que amargue prejuízo financeiro e de imagem irrecuperável, sem falar na crise econômica que a conflagração deverá render, pois as expectativas sobre o futuro pioraram muito em míseras duas semanas.
Ao fim da noite fatídica de quarta-feira, o mesmo movimento que atirou o Brasil em um processo que se espera que a maioria silenciosa saiba repudiar – até porque não aguenta mais –, horrorizou-se com sua obra e, em protesto contra si mesmo, abandonou a manifestação na avenida Paulista. Indignado.

Fonte:  Blog da Cidadania, com título adaptado.

domingo, 16 de junho de 2013

202 MIL LEITURAS DE TEXTO HISTÓRICO E NÚMERO PARECIDO DE COMENTÁRIOS NAS REDES INDICAM QUE INCONFORMISMO DOS JOVENS NÃO É SÓ CONTRA O AUMENTO DE PASSAGEM, MAS CONTRA OS CONSERVADORES E A MÍDIA.

O artigo "Jovens vão as ruas e mostram que estamos desaprendendo a sonhar.", do nosso comentarista André Borges Lopes, entrará para a história do ativismo online brasileiro como um marco. Hoje de manhã bateu em 202 mil leituras. A divulgação se deu exclusivamente através das redes sociais e liberou o grito engasgado na garganta de milhares de jovens por todo o país.
Dei-me conta do fenômeno alertado por minha filha de 15 anos, que soube por colegas de várias partes do país, através de sua página do Facebook.
De lá para cá, pelo Twitter, Facebook e no espaço dos comentários do post, o texto inspirou os jovens a colocarem para fora sentimentos, expectativas, convicções, que permitem entender esse momento mágico, caótico, de transbordamento de energia que marcará, daqui para sempre, o nascimento de uma nova geração política.
Como o comentário da Ana Paula Cordeiro, colocado na 6a feira passada:
“Esse foi o elogio que meu pai nunca me fez e nunca me fará. Obrigada”.
A seguir, alguns dos comentários selecionados.
Camila Coutinho
Postado em: 14/06/2013 – 23:21
O texto é absolutamente brilhante e é quase a transcrição dos meus pensamentos.
Ontem, durante o acontecimento dos protestos, eu estava em casa assistindo a cobertura ao vivo dos canais de notícias e a única coisa na qual conseguia pensar era em como gostaria de estar lá, o que não daria pra ter me juntado a multidão. Uma coisa dentro de mim parecia querer sair pra fora, uma vontade que carrego desde muito cedo, quando comecei a ver o mundo como ele realmente é, a ver que temos neste país uma mídia extremamente tendenciosa e manipuladora, capaz de mudar os rumos do país, alienar o povo a ponto de enfiar-lhes guela a baixo uma porção de programas imbecis, enquanto programas com alguma opinião e conteúdo são transmitidos apenas nos horários em que quase ninguém assiste. Senti a necessidade de sair na rua e gritar pra todo mundo o que pouca gente enxerga.
Em um relato de um manifestante nas redes sociais, que falava sobre a repressão sofrida, sem motivo, um senhor comentava sobre levar o conhecimento científico e educação política para a periferia, ou algo parecido. Esse comentário fez sentir que minhas ideias não são tão malucas assim.
(...) Posso ser pessimista demais ao pensar que não importa quem estiver no poder nada vai mudar, mas acredito no que vejo nas ruas, acredito quando vejo um fio de esperança vindo de um comentário, seja ele nas redes sociais, no trem ou na porta da uma escola porque então eu sei que, se estiver maluca de acreditar que o povo pode mudar a realidade, pelo menos não estou sozinha.
Ana Paula Cordeiro
sex, 14/06/2013 - 21:28
Esse foi o elogio que meu pai nunca me fez e nunca me fará. Obrigada.
christiane
sex, 14/06/2013 - 18:19
Incrível que você escreveu!!! Você foi exato, claro e muito sensível na sua interpretação do momento que estamos vivendo. Estamos cansados de pensamentos conservadores com condutas inflexíveis e triste em ver uma sociedade oprimida e obrigada a ficar em uma situação de conformismo para toda a série de abusos que assola o nosso país.
Hugo C
sex, 14/06/2013 - 17:31
Certo ou errado, o seu texto reflete com perfeição o modo como eu vejo as coisas no atual cenário. Para mim foi um grande prazer e alívio poder lê-lo. Obrigado
Larissa Andrade
sex, 14/06/2013 - 00:44
Texto perfeito e completo. E tenho muito orgulho de ser uma jovem que vai a luta,que não desaprendeu a sonhar,apesar de tudo!
Maria Lua
sex, 14/06/2013 - 00:24
Tenho 17 anos e estudo História numa universidade estadual. Achei o texto genial e queria separar frases para colar na minha parede.
O que me chamou a atenção em primeiro lugar foi o título, porque a algum tempo eu notei que minha geração tem dificuldade de sonhar de verdade, afogada como é na criação voltada para o consumo e auto-promoção. E também porque eu estou escrevendo um livro chamado "O povo que não sabia sonhar", uma distopia que trata justamente dessa situação limite, que infelizmente ainda acontece no nosso país, mesmo depois de tantas ditaduras...
Já estava achando tudo muito acertado, mas quando me deparei com "Vivemos uma grande ofensiva do coxismo: conservador nas ideias, conformado no dia-a-dia, revoltadinho no trânsito engarrafado e no teclado do Facebook." pensei: Esse cara sabe mesmo do que está falando! De que adianta reclamar todos os dias da corrupção se não consegue acreditar que pessoas comuns podem sair as ruas, não para vandalizar, mas para deixar claro que isso não é um mar de rosas, e não são só as "minorias" que sofrem. O cidadão médio sofre, os jovens sofrem, e não é porque tem casa e comida que não podem se manifestar.
Camila Pires
Ter, 11/06/2013 - 12:05
O melhor texto que li nos últimos tempos. São tantas as críticas que se fazem aos que se levantam contra o que está errado, seja protestando nas ruas, seja praticando ativismo via internet, que me pergunto se quem critica não está, na verdade, concordando com o que está imposto. Há uma cultura muito forte no Brasil de anti-politização. Reclamam que o brasileiro é acomodado, mas quando alguém se revolta, é comunista. Reclamam que o governo explora, mas quando alguém vai para a rua protestar, é um baderneiro vagabundo. No mundo todo, quem protesta tem direito de ser ouvido, e seu protesto é legitimado pelo restante da população. Porque aqui não pode ser assim também? A coxinhização é visível: cuidemos de nossas próprias vidas, e foda-se o resto. Como se fossemos ilhas, como se tudo não estivesse conectado. Este pensamento egoísta é o que causa todo nosso atraso. Enquanto não olharmos ao redor e compreendermos que não adianta nos fecharmos, seremos sempre terceiro mundo se for, piada no exterior.
Gabriela O. T.
ter, 11/06/2013 - 02:08
Texto bacana, infelizmente pecou no que diz respeito à luta das mulheres. Como jovem e inconformada que sou, preciso lembrar que - ressalvando o fato de, por nunca ter sofrido preconceito de gênero, ser realmente difícil para você se colocar no lugar das tantas "vadias" - as manifestantes feministas não lutam pelo direito de "serem prostitutas" ou "se vestirem como vadias". A ideia do movimento é justamente a de desprender rótulos aplicáveis unicamente a mulheres, tais como vadia, puta, biscate, entre outros, para tentar de alguma forma mudar o ideológico social que teima em julgar as mulheres pelo tamanho de suas saias e a culpá-las por qualquer violência sofrida por conta de sua aparência. Que fala que homens podem ter os seus mamilos expostos em cidades praianas, mas que mulheres que o façam estão "pedindo para ser estupradas", por exemplo. Não vou me aprofundar no assunto para não escrever outro texto do tamanho do seu, mas gostaria de fazer essa ressalva. Afora esses deslizes, o texto é realmente muito bom e inspirador.
Mari5555
seg, 10/06/2013 - 21:27
Primeiramente queria parabenizar o colunista e blogueiro André, pois além de escrever um texto muito bom, conseguiu tocar o ponto alto dessa questão:
"O fundamental é que estamos vivendo uma brutal ofensiva do pensamento conservador, que coloca em risco muitas décadas de conquistas civilizatórias da sociedade brasileira."
Antes de criticar, o que eu vi em vários comentários, por que vocês não vão as ruas lutar pelo que acham certo? Se querem saber onde eu estava nos outros acontecimentos eu digo a vocês, estava no meu berço, tenho 16 anos e esse foi o primeiro protesto que eu participei, antes que digam que fora 20 centavos, e sobre a inflação e várias baboseiras, e/ou que eu sou burguesa, eu moro numa comunidade onde demoro 1h e meia pra chegar a uma escola (onde para chegar uso um transporte coletivo que muitas vezes vai com a porta um palmo aberta por causa da superlotação), pois as que ficam perto da minha casa tem a média por sala de 50 a 60 alunos, eu gostaria de perguntar, o que o estudante é além do trabalhador do futuro?
O problema é que como ele diz no final do texto:
"Esses moleques que tomam as ruas e dão a cara para bater incomodam porque quebram vidros, depredam ônibus e paralisam o trânsito. Mas incomodam muito mais porque nos obrigam a olhar para dentro das nossas próprias vidas e, nessa hora, descobrimos que desaprendemos a sonhar."
Parem de esperar atitudes dos outros, por que nenhum de vocês não está lutando pelo que acha certo sem se importar com que os outros pensam? NÃO CHEGA DE COVARDIA? Gritar e e ficar apertados em uma rua onde não passam carros não traria atenção, antes de julgar as coisas e pessoas, entendam, ''as vezes se é preciso fazer um mal para a conquista de um bem maior'', é uma frase muito triste e muito antiga, que pertence a uma história muito longa, que agora eu não vou contar, quem sabe um dia não? (...)
Tarsila Araújo
seg, 10/06/2013 - 11:21
Este é o texto mais LÚCIDO que li nos últimos meses.
Estou feliz de ter encontrado alguém que pensa e reflete dessa maneira... eu concordo com tudo que foi dito sobre esses tantos assuntos!
"Vivemos uma grande ofensiva do coxismo: conservador nas ideias, conformado no dia-a-dia, revoltadinho no trânsito engarrafado e no teclado do Facebook."
Isso diz tudo. To cansada de conviver com essas pessoas que só enxergam o próprio umbigo. Cansada de pessoas passando reto na frente de mendigos dormindo na rua e achar que aquilo é normal. Achar que você, que estudou e teve educação, você mereceu isso e seus pais 'deram duro' para vocês terem tudo que tiveram. A educação deveria ser gratuita e de qualidade para todos. E isso é um direito, simples, mas que é completamente ignorado. Você, conversador e da classe média alta e que está lendo isso com os dentes cerrando de raiva do que estou dizendo, saiba que na Europa, onde você viaja e elogia tanto a cultura e a civilização daqueles países, 'bem melhor que o Brasil onde tudo pode e é sem lei', há vários países em que a educação é gratuita e de qualidade para o povo, para todos os cidadãos. Há vários países onde a desigualdade praticamente não existe. Onde a faxineira, o garçom ganham tão bem quanto uma pessoa que fez ensino superior. Porque o trabalho, não importa qual, é importante. Precisamos de todos eles para a economia funcionar. Precisamos de todos eles para nossa vida funcionar. Precisamos de quem limpe nossa casa, sirva nossas bebidas, empacote nossas compras, traga nossos carros no estacionamento, nos atenda nas lojas, do gerente do banco para cuidar das nossas finanças, do taxista e do motorista de ônibus também, que seja para trazer sua faxineira lá da periferia até a sua casa.
Enfim, feliz com esse texto e espero que ajude alguns coxinhas a pensarem melhor e fora do umbigo.
Bruna Potenza
seg, 10/06/2013 - 11:17
Trata-se daquele texto que não apenas te toca, mas que toca em vários lugares diferentes... trata-se mesmo de um toque, nada muito profundo, doloroso como um beliscão, porque se fossem vários beliscões sairia doída da leitura, e não foi isso que aconteceu... Por serem vários toques, em vários lugares, e em alguns lugares que estavam adormecidos em mim, a leitura foi maravilhosa porque eu senti novamente esses lugares dentro de mim... obrigada!
Giovanna Angeline
seg, 10/06/2013 - 09:00
André,
Eu realmente precisava ler isso. Faço parte destes movimentos mas não por uma luta unificada dos transportes, mas estou na luta por justiça, por um mundo melhor, ou na medida do possível, onde tenhamos direitos! Sou jovem, trabalho, estudo, e nao me importo em não ser uma conformada mediocre!
Obrigada mesmo,
Leandro Romano
seg, 10/06/2013 - 00:58
Como seria bom se todas as revistas, jornais e mídias em geral, publicassem seu texto magnífico. Eu como jovem também concedo meu rosto a tapas em protestos, ver um texto tão belo quanto o seu, me concede mais ânimo para lutar e sonhar a cada dia.
Obrigado.

terça-feira, 11 de junho de 2013

FÁTIMA OLIVEIRA: POR QUE O BOLSA FAMÍLIA DESPERTA TANTO ÓDIO DE CLASSE.


É o maior e mais importante projeto antipobreza do mundo
Fátima Oliveira, em O TEMPO
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Eu não tinha a dimensão do ódio de classe contra o Bolsa Família. Supunha que era apenas uma birra de conservadores contra o PT e quem criticava o Bolsa Família o fazia por rancor de classe a Lula, ou algo do gênero, jamais por ser contra pobre matar a sua fome com dinheiro público.
Idiota ingenuidade a minha! A questão não é de autoria, mas de destinatário! Os críticos esquecem que a fome não é um problema pessoal de quem passa fome, mas um problema político. E Lula assumiu que o Brasil tem o dever de cuidar de sua gente quando ela não dá conta e enquanto não dá conta por si mesma. E Dilma honra o compromisso.
Estou exausta de tanto ouvir que não há mais empregada doméstica, babá, “meninas pra criar”, braços para a lavoura e as lidas das fazendas que não são agronegócios… E que a culpa é do Bolsa Família!
Conheço muita gente que está vendendo casas de campo, médias e pequenas propriedades rurais porque simplesmente não encontra “trabalhadores braçais” nem para capinar um pátio, quanto mais para manter a postos “um moleque de mandados”, como era o costume até há pouco tempo! E o fenômeno é creditado exclusivamente ao Bolsa Família.
Esquecem a penetração massiva do capitalismo no campo que emprega, ainda que pagando uma “merreca”, com garantias trabalhistas, em serviços menos duros do que ficar 24 horas por dia à disposição dos “mandados” da casa-grande, que raramente “assina carteira”. Eis a verdade!
Esquecem que a população rural no Brasil hoje é escassa. Dados do IBGE de setembro de 2012: a população residente rural é 15% da população total do país: 195,24 milhões.
Não há muitos braços disponíveis no campo, muito menos sobrando e clamando por um prato de comida, gente disposta a alugar sua força de trabalho por qualquer tostão, num regime de quase escravidão, além do que há outras ocupações com salários e condições trabalhistas mais atraentes do que capinar, “trabalhar de aluguel”, que em geral nem dá para comprar o “dicumê”. Dados de 2009 já informavam que 44,7% dos moradores na zona rural auferiam renda de atividades não agrícolas!
Basta juntar três pessoas de classe média que as críticas negativas ao Bolsa Família brotam como cogumelos. Após a boataria de 18 de maio, que o Bolsa Família seria extinto, esse assunto se tornou obrigatório. Fazem questão de ignorar que ele é o maior e mais importante programa antipobreza do mundo e foi copiado por 40 países – é uma “transferência condicional de renda” que objetiva combater a pobreza existente e quebrar o seu ciclo.
Atualmente, ajuda 50 milhões de brasileiros: mais de 1/4 do povo! E investe apenas 0,8% do PIB! Sem tal dinheiro, mais de 1/4 da população brasileira ainda estaria passando fome!
Mas há gente sem repertório humanitário, como as que escreveram dois tuítes que recebi: “Nunca vi tanta gente nutrida nas filas dos caixas eletrônicos para receber o Bolsa Família, até parecia fila para fazer cirurgia bariátrica”; e “Eu também nunca havia visto tanta gente rechonchuda reunida para sugar a bolsa-voto!”.
Como disse a minha personagem dona Lô: “Coisa de gente má que nunca soube o que é comer pastel de imaginação; quem pensa assim integra as hostes da campanha Cansei de Sustentar Vagabundo, que circulou nas eleições presidenciais de 2010”. São evidências de que há gente que não se importa e até gosta de viver num mundo em que, como escreveu Josué de Castro, em Geografia da Fome (1984): “Metade da humanidade não come e a outra não dorme com medo da que não come…”.

Fonte:  Vi o Mundo

domingo, 9 de junho de 2013

COM O CIVITA FILHO A VEJA CONTINUA O MESMO LIXO

A primeira semana de Titi Civita à frente da Veja


Titi Civita, ao lado do pai num evento da abril

A vantagem de uma jornalista bem colocada sobre os demais brasileiros é que ela tem um imediato direito de resposta quando é vítima de um erro.
Não depende da justiça.
Isso levou a um fato notável na mídia brasileira: a jornalista Mônica Bérgamo, colunista social da Folha, obteve instantaneamente um pedido de desculpas do jornalista Otavio Cabral, da Veja.
Numa biografia de Zé Dirceu que está chegando às livrarias e que foi capa da Veja, Cabral errou ao situar o excelente texto de MB que narrava o preparativo de Dirceu, no final do ano, para enfrentar o que parecia ser a prisão iminente.
MB disse que o caso estava “completamente errado”. Dirceu, segundo o livro, a convidou para o que se prenunciava como uma espécie de última ceia.
Foi ela que o procurou, veio a retificação.
No Twitter, MB apontou o equívoco e, depois, informou que o autor e a editora tinham concordado em repará-lo. E deu o assunto por encerrado para ela.
Talvez para ela, mas para os demais brasileiros não. O caso merece ampla discussão pelo que revela além do erro.
Tiros previsíveis acabam não machucando
Tiros previsíveis acabam não machucando
Primeiro, o descompromisso com os fatos, sobretudo se eles são contra os suspeitos de sempre.
Ora, se o texto de MB foi tão importante para merecer citação no livro, por que não conversar com ela?
Segundo o Twitter, Cabral é casado com Vera Magalhães, editora do Painel da Folha. Se é verdade, ele não teria sequer que procurar MB. Bastaria pedir que sua mulher checasse o caso com a colega.
Os brasileiros não têm o privilégio da reparação de erro que MB tem. Isso por causa de Ayres Britto, autor do prefácio do livro precocemente morto de Merval Pereira sobre o Mensalão.
Ayres Britto, no STF, desativou a Lei de Imprensa da ditadura militar, mas fez um serviço tão ruim que deixou as coisas bem piores do que eram.
Ele não cuidou que fosse preservado o direito de resposta. Segundo a recapitulação dos fatos, ele até pensou nisso, mas teria decidido tratar de outras coisas depois que a Folha publicou uma reportagem em que seu genro aparecia numa situação constrangedora.
Eis a nossa mídia, eis o nosso Supremo.
Você não precisa ler o livro de Cabral para saber que é uma paulada em Dirceu. Basta saber que ele trabalha na Veja.
E isso mitiga a força de qualquer ataque, porque ele tenderá a ser calcado em razões que vão muito além do jornalismo e da preocupação com os brasileiros.
Do mesmo modo, qualquer elogio que a Veja faça a Joaquim Barbosa será enfraquecido pela sua enorme vontade em fazer dele o que não é: um ex-menino pobre que mudou o Brasil.
A perda de influência da revista ao se tornar tão previsível nos afagos e chutes está estampada no último Datafolha.
Joaquim Barbosa. Numa simulação como candidato em 2014, teve 8% das intenções de voto. O alvo predileto da Veja, Lula, teve 55%, o que lhe daria vitória no primeiro turno.
A relativa surpresa da capa é que na primeira edição sob nova gestão o tom seja o mesmo.
Desde a morte do pai, o caçula Titi Civita comanda oficialmente o Conselho Editorial da Abril. Isso quer dizer que ele é o responsável pela voz da Veja.
A visão de Roberto Civita do governo e do Brasil contemporâneo – em suas coisas boas e ruins — já estava completamente comprometida por conta de uma guerra pessoal travada contra Lula.
Dada a popularidade de Lula, e a fragilidade de quase todas as acusações feitas contra ele nos últimos dez anos, Roberto Civita e a Veja se tornaram objeto de repulsa de muitos brasileiros.
Em seu obituário, a Forbes classificou a Veja como uma das publicações “mais detestadas do Brasil”.
Era de esperar que sob Titi, mais jovem, na casa dos 40, a revista se tornasse mais arejada e menos raivosa, condições essenciais para que se faça bom jornalismo.


O primeiro sinal é ruim. A revista que está nas bancas parece ter 150 anos de idade, e tomada dos preconceitos da senectude. Você vai ao site e vê Reinaldo Azevedo pedir cadeia para os jovens do Movimento Passe Livre.
Não há por onde escapar.
Considerada a dimensão da repulsa à linha da revista, abrir a janela é urgente – caso se entenda que a receita que vinha sendo seguida não traz bons resultados.
Me chamou a atenção, ao escrever sobre a morte de RC, o grau de ódio em tantos manifestantes.
Permanecendo as coisas como estão, Titi Civita logo atrairá para si a herança da rejeição que marcou os últimos anos de seu pai.
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