quinta-feira, 29 de setembro de 2011

MARTIN GRANOVSKY: FOI PRECISO UM ARGENTINO PARA DEFENDER LULA EM PARIS





Conversa Afiada reproduz post do Viomundo, do Azenha:

Martin Granovsky: Foi preciso um argentino defender Lula em Paris


Escravocratas contra Lula


Por Martín Granovsky, no Página 12, sugerido pelo Igor Fellipe


Podem pronunciar “sians po”. É, mais ou menos, a fonética de ciências políticas. Basta dizer Sciences Po para aludir ao encaixe perfeito de duas estruturas, a Fundação Nacional de Ciências Políticas da França e o Instituto de Estudos Políticos de Paris.


Não é difícil pronunciar Sians Po. O difícil é entender, a esta altura do século 21, como as ideias escravocratas continuam permeando a gente das elites sul-americanas.


Hoje à tarde, Ruchard Descoings, diretor do Sciences Po, entregará pela primeira vez o doutorado Honoris Causa a um latino-americano: o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio “Lula” da Silva. Falará Descoings e falará Lula, claro.


Para bem explicar sua iniciativa, o diretor convocou uma reunião em seu escritório da rua Saint Guillaume, muito perto da igreja de Saint Germain des Pres, em um prédio de onde se pode ver as árvores com suas folhas amareladas. Enfiar-se na cozinha é sempre interessante. Se alguém passa por Paris para participar de duas atividades acadêmicas, uma sobre a situação política argentina e outra sobre as relações entre Argentina e Brasil, não fica mal entrar na cozinha do Sciences Po.


Pareceu o mesmo à historiadora Diana Quattrocchi Woisson, que dirige em Paris o Observatório sobre a Argentina Contemporânea, é diretora do Instituto das Américas e teve a ideia de organizar as duas atividades acadêmicas sobre Argentina e Brasil, das quais também participou o economista e historiador Mario Rapoport, um dos fundadores do Plano Fenix faz 10 anos.


Naturalmente, para escutar Descoings foram chamados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático. O Sciences Po tem uma cátedra sobre o Mercosul, os estudantes brasileiros vem cada vez mais à França, Lula não saiu da elite tradicional do Brasil, mas chegou ao nível máximo de responsabilidade e aplicou planos de alta eficiência social.


Um dos colegas perguntou se era o caso de se premiar a quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado. Quiçá sabia que esta declaração de Lula não consta em atas, embora seja certo que Lula não tem um título universitário. Também é certo que quando assumiu a presidência, em primeiro de janeiro de 2003, levantou o diploma que é dado aos presidentes do Brasil e disse: “Uma pena que minha mãe morreu. Ela sempre quis que eu tivesse um diploma e nunca imaginou que o primeiro seria de presidente da República”. E chorou.


“Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção?”, foi a pergunta seguinte.


O professor sorriu e disse: “Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o julgamento da História este assunto e outros muito importantes, como a eletrificação das favelas em todo o Brasil e as políticas sociais”. E acrescentou, citando o Le Monde: “Que país pode medir moralmente a outro, nos dias de hoje? Se não queremos falar sobre estes dias, recordemos como um alto funcionário de outro país renunciou por ter plagiado a tese de doutorado de um estudante”. Falava de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro da Defesa da Alemanha até que se soube do plágio.


Disse também: “Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países”.


Outro colega perguntou se era bom premiar a alguém que uma vez chamou de “irmão” a Muamar Khadafi.


Com as devidas desculpas, que foram expressas ao professor e aos colegas, a impaciência argentina me levou a perguntar onde Khadafi tinha comprado suas armas e qual país refinava seu petróleo, além de comprá-lo. O professor deve ter agradecido que a pergunta não citava, com nome e sobrenome, a França e a Itália.


Descoings aproveitou para destacar em Lula “o homem de ação que modificou o curso das coisas” e disse que a concepção da Sciences Po não é de um ser humano dividido entre “uns ou outros”, mas como “uns e outros”. Enfatizou muito o et, e em francês.


Diana Quattrocchi, como latino-americana que estudou e fez doutorado em Paris depois de sair de uma prisão da ditadura argentina graças à pressão da Anistia Internacional, disse que estava orgulhosa de que a Sciences Po dava um título Honoris Causa a um presidente da região e perguntou sobre os motivos geopolíticos.


“Todo o mundo se pergunta”, disse Descoings. “E temos de escutar a todos. O mundo nem sequer sabe se a Europa existirá no ano que vem”.


No Sciences Po, Descoings introduziu estímulos para que possam ingressar estudantes que, se supõe, tem desvantagem para conseguir aprovação no exame. O que se chama de discriminação positiva ou ação afirmativa e se parece, por exemplo, com a obrigação argentina de que um terço das candidaturas legislativas deve ser de mulheres.


Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa de Lula era parte da política de ação afirmativa do Sciences Po.


Descoings o observou com atenção antes de responder. “As elites não são apenas escolares ou sociais”, disse. “Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas”.


Como Cristina Fernández de Kirchner e Dilma Rousseff na Assembleia Geral das Nações Unidas, Lula vem insistindo que a reforma do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial está atrasada. Diz que estes organismos, assim como funcionam, “não servem para nada”. O grupo BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) ofereceu ajuda à Europa. A China tem os níveis de reservas mais altos do mundo. Em um artigo publicado no El Pais, de Madrid, os ex-primeiros ministros Felipe González e Gordon Brown pediram maior autonomia para o FMI. Querem que seja o auditor independente dos países do G-20, integrado pelos mais ricos e também, da América do Sul, pela Argentina e Brasil. Ou seja, querem o contrário do que pensam os BRICs.


Em meio a esta discussão Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e escravos. Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão irritados.



sábado, 24 de setembro de 2011

JOÃO PAULO É MEU CANDIDATO PARA QUALQUER CARGO. MAS PARA O PV, ELE QUE VÁ SOZINHO.

o futuro de João Paulo

Quero começar dizendo que sempre votei em João Paulo nas suas candidatura para deputado estadual e federal embora nunca tenha podido votar nele para prefeito porque meu domicílio eleitoral é outro. Dito isto, passo a explicar o título do "post":  
Todos nós que apoiamos o ex-prefeito e agora deputado federal João Paulo acompanhamos sua luta contra a metade do partido para a indicação do nome de João da Costa para prefeito do Recife. Foi uma luta difícil por estar do outro lado nomes como o de Maurício Rands além do vice Luciano Siqueira, homem de bem, além de muito importante na aliança que dava sustentação ao governo petista. No entanto, João Paulo conseguiu não apenas  emplacar  o nome que queria como conseguiu ganha a eleição ainda no primeiro turno. Não me alongarei aqui contando história que todos conhecem. Sempre disse e repito que ambos deviam explicações ao eleitores, militantes e companheiros políticos que os apoiaram e votaram nessa indicação. Explicações sim: então eu convenço você a votar em uma pessoa dizendo que ela é a mais preparada do mundo, você acredita em mim, vota no meu candidato e um mês depois eu rompo relações e passo a negar tudo que eu havia dito antes? Para onde foram as virtudes nas quais você me fez acreditar? Eram mentiras? Quem mentiu? Por quê?.

Agora, em função das explicações que não foram dadas, o ex-prefeito encontra-se numa posição de isolamento e aqueles que votaram nele e no seu candidato por uma Recife melhor, não sabem o que fazer. Digo que isso acontece por causa da falta de informações ao povo que votou porque, se porventura,  elas tivessem sido dadas ou João Paulo não estaria isolado dentro do PT ou João da Costa não teria apoio de ninguém, uma vez que os eleitores e militantes saberiam quem está errado nesta história. 

Para completar, a imprensa começa a divulgar a notícia de que o Deputado está arrumando as malas para ir para o PV. Para o PV! Deputado João Paulo, os eleitores, como eu,  votamos no senhor não por sermos alienados, nem por sermos massa de manobra. É o contrario, deputado, nós votamos no senhor por que temos consciência política e discernimento para separar o joio do trigo, perdoem-me o lugar comum.

O Partido Verde foi adversário do PT aqui em Pernambuco nas eleições estaduais. Até aí tudo bem. isso faz parte do jogo democrático. Mas não podemos esquecer que em nível nacional o PV serviu de partido de aluguel para Serra perpetrar as maiores baixaria contra Dilma Rousseff. No Rio de Janeiro chegou ao absurdo de o PV fazer propaganda de Marina no horário eleitoral e nos passeios a pé pela cidade Gabeira desfilar com Serra. Marina Silva assistiu de Camarote Dilma ser vítima de uma das campanhas mais sórdida de calúnia, difamação e preconceito de gênero e religioso pela internet. O que ela e partido dela fizeram? Nada. ficaram calados porque lhes era conveniente, embora soubessem que não chegariam ao segundo turno. Mas a intenção nunca foi essa:  a intenção era levar Serra para o segundo turno. O que aconteceu? Marina percebendo o fisiologismo e adesismo do PV, além da maneira centralizadora como o seu presidente conduz o partido em nível nacional, não aguentou e pediu pra sair. 

Por que a indignação? João Paulo,  que sempre defendeu uma linha ideológica completamente diferente daquela defendida pelo PV, partido que  não tem uma agenda trabalhista e ultimamente está abandonando até a agenda ambientalista, vai para este partido  para disputar a prefeitura do Recife? Por favor, deputado! Não estou falando em nome da população do Recife, até porque como já deixei claro neste texto moro em outra cidade. Estou falando como militante do Partido dos Trabalhadores e com a autoridade de quem mesmo sem poder votar passou  um dia inteiro em frente ao Sesi de Casa Amarela fazendo bandeiraço e panfletagem e depois foi  para o Marco Zero comemorar   aquela  vitória histórica para Roberto Magalhães.

Sim, deputado, é por tudo isso que lhe digo:   Na minha opinião o senador do PT por Pernambuco seria o senhor e o senhor será sempre meu candidato ao cargo que se candidatar. Desde que resguarde a coerência e ideologia que nos fizeram acreditar no Senhor. Das duas uma: ou lute para reconquistar o seu lugar dentro do partido que é seu por direito ou vá para um partido que se adeque a sua história de vida e de militante político. Para o PV o senhor que vá sozinho.

The teacher .

Professor e militante em Camaragibe.



MAIS UMA DA "DECEPÇÃO" OBAMA


No texto abaixo o premiado correspondente do britânico "The Independent" fala a verdade hoje sobre Obama: "Um Presidente sem condições de encarar a realidade do Oriente Médio.",

diz que Obama fala para marcianos e diz que sua performance no discurso da ONU foi patética.

Robert Fisk: A President who is helpless in the face of Middle East reality
Obama's UN speech insists Israelis and Palestinians are equal parties to conflict
Friday, 23 September 2011
Barack Obama made the 'preposterous' suggestion that Palestinians and Israelis were 'equal' parties to the conflict
REUTERS
Barack Obama made the 'preposterous' suggestion that Palestinians and Israelis were 'equal' parties to the conflict
Today should be Mahmoud Abbas's finest hour. Even The New York Times has discovered that "a grey man of grey suits and sensible shoes, may be slowly emerging from his shadow".
But this is nonsense. The colourless leader of the Palestinian Authority, who wrote a 600-page book on his people's conflict with Israel without once mentioning the word "occupation", should have no trouble this evening in besting Barack Hussein Obama's pathetic, humiliating UN speech on Wednesday in which he handed US policy in the Middle East over to Israel's gimmick government.
For the American President who called for an end to the Israeli occupation of Arab lands, an end to the theft of Arab land in the West Bank – Israeli "settlements" is what he used to call it – and a Palestinian state by 2011, Obama's performance was pathetic.
As usual, Hanan Ashrawi, the only eloquent Palestinian voice in New York this week, got it right. "I couldn't believe what I heard," she told Haaretz, that finest of Israeli newspapers. "It sounded as though the Palestinians were the ones occupying Israel. There wasn't one word of empathy for the Palestinians. He spoke only of the Israelis' troubles..." Too true. And as usual, the sanest Israeli journalists, in their outspoken condemnation of Obama, proved that the princes of American journalists were cowards. "The limp, unimaginative speech that US President Barack Obama delivered at the United Nations... reflects how helpless the American President is in the face of Middle East realities," Yael Sternhell wrote.
And as the days go by, and we discover whether the Palestinians respond to Obama's grovelling performance with a third intifada or with a shrug of weary recognition that this is how things always were, the facts will continue to prove that the US administration remains a tool of Israel when it comes to Israel's refusal to give the Palestinians a state.
How come, let's ask, that the US ambassador to Israel, Dan Shapiro, flew from Tel Aviv to New York for the statehood debate on Israeli Prime Minister Netanyahu's own aircraft? How come Netanyahu was too busy chatting to the Colombian President to listen to Obama's speech? He only glanced through the Palestinian bit of the text when he was live-time, face to face with the American President. This wasn't "chutzpah". This was insult, pure and simple.
And Obama deserved it. After praising the Arab Spring/Summer/ Autumn, whatever – yet again running through the individual acts of courage of Arab Tunisians and Egyptians as if he had been behind the Arab Awakening all along, the man dared to give the Palestinians 10 minutes of his time, slapping them in the face for daring to demand statehood from the UN. Obama even – and this was the funniest part of his preposterous address to the UN – suggested that the Palestinians and Israelis were two equal "parties" to the conflict.
A Martian listening to this speech would think, as Ms Ashrawi suggested, that the Palestinians were occupying Israel rather than the other way round. No mention of Israeli occupation, no mention of refugees, or the right of return or of the theft of Arab Palestinian land by the Israeli government against all international law. But plenty of laments for the besieged people of Israel, rockets fired at their houses, suicide bombs – Palestinian sins, of course, but no reference to the carnage of Gaza, the massive death toll of Palestinians – and even the historical persecution of the Jewish people and the Holocaust.
That persecution is a fact of history. So is the evil of the Holocaust. But THE PALESTINIANS DID NOT COMMIT THESE ACTS. It was the Europeans – whose help in denying Palestinian statehood Obama is now seeking – who committed this crime of crimes. So we were then back to the "equal parties", as if the Israeli occupiers and the occupied Palestinians were on a level playing ground.
Madeleine Albright used to adopt this awful lie. "It's up to the parties themselves," she would say, washing her hands, Pilate-like, of the whole business the moment Israel threatened to call out its supporters in America. Heaven knows if Mahmoud Abbas can produce a 1940 speech at the UN today. But at least we all know who the appeaser is.
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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

DISCURSO DA PRESIDENTA DILMA NA ABERTURA DA ASSEMBLÉIA GERAL DA ONU

CHUPA ESSA, PIG!!!





“Senhor presidente da Assembleia Geral, Nassir Abdulaziz Al-Nasser,
Senhor secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,
Senhoras e senhores chefes de Estado e de Governo,
Senhoras e senhores,
Pela primeira vez, na história das Nações Unidas, uma voz feminina inaugura o Debate Geral. É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nesta tribuna que tem o compromisso de ser a mais representativa do mundo.
É com humildade pessoal, mas com justificado orgulho de mulher, que vivo este momento histórico.
Divido esta emoção com mais da metade dos seres humanos deste Planeta, que, como eu, nasceram mulher, e que, com tenacidade, estão ocupando o lugar que merecem no mundo. Tenho certeza, senhoras e senhores, de que este será o século das mulheres.
Na língua portuguesa, palavras como vida, alma e esperança pertencem ao gênero feminino. E são também femininas duas outras palavras muito especiais para mim: coragem e sinceridade. Pois é com coragem e sinceridade que quero lhes falar no dia de hoje.
Senhor Presidente,
O mundo vive um momento extremamente delicado e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade histórica. Enfrentamos uma crise econômica que, se não debelada, pode se transformar em uma grave ruptura política e social. Uma ruptura sem precedentes, capaz de provocar sérios desequilíbrios na convivência entre as pessoas e as nações.
Mais que nunca, o destino do mundo está nas mãos de todos os seus governantes, sem exceção. Ou nos unimos todos e saímos, juntos, vencedores ou sairemos todos derrotados.
Agora, menos importante é saber quais foram os causadores da situação que enfrentamos, até porque isto já está suficientemente claro. Importa, sim, encontrarmos soluções coletivas, rápidas e verdadeiras.
Essa crise é séria demais para que seja administrada apenas por uns poucos países. Seus governos e bancos centrais continuam com a responsabilidade maior na condução do processo, mas como todos os países sofrem as conseqüências da crise, todos têm o direito de participar das soluções.
Não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise. É, permitam-me dizer, por falta de recursos políticos e algumas vezes, de clareza de ideias.
Uma parte do mundo não encontrou ainda o equilíbrio entre ajustes fiscais apropriados e estímulos fiscais corretos e precisos para a demanda e o crescimento. Ficam presos na armadilha que não separa interesses partidários daqueles interesses legítimos da sociedade.
O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo. Enquanto muitos governos se encolhem, a face mais amarga da crise – a do desemprego – se amplia. Já temos 205 milhões de desempregados no mundo. 44 milhões na Europa. 14 milhões nos Estados Unidos. É vital combater essa praga e impedir que se alastre para outras regiões do Planeta.
Nós, mulheres, sabemos, mais que ninguém, que o desemprego não é apenas uma estatística. Golpeia as famílias, nossos filhos e nossos maridos. Tira a esperança e deixa a violência e a dor.
Senhor Presidente,
É significativo que seja a presidenta de um país emergente, um país que vive praticamente um ambiente de pleno emprego, que venha falar, aqui, hoje, com cores tão vívidas, dessa tragédia que assola, em especial, os países desenvolvidos.
Como outros países emergentes, o Brasil tem sido, até agora, menos afetado pela crise mundial. Mas sabemos que nossa capacidade de resistência não é ilimitada. Queremos – e podemos – ajudar, enquanto há tempo, os países onde a crise já é aguda.
Um novo tipo de cooperação, entre países emergentes e países desenvolvidos, é a oportunidade histórica para redefinir, de forma solidária e responsável, os compromissos que regem as relações internacionais.
O mundo se defronta com uma crise que é ao mesmo tempo econômica, de governança e de coordenação política.
Não haverá a retomada da confiança e do crescimento enquanto não se intensificarem os esforços de coordenação entre os países integrantes da ONU e as demais instituições multilaterais, como o G-20, o Fundo Monetário, o Banco Mundial e outros organismos. A ONU e essas organizações precisam emitir, com a máxima urgência, sinais claros de coesão política e de coordenação macroeconômica.
As políticas fiscais e monetárias, por exemplo, devem ser objeto de avaliação mútua, de forma a impedir efeitos indesejáveis sobre os outros países, evitando reações defensivas que, por sua vez, levam a um círculo vicioso.
Já a solução do problema da dívida deve ser combinada com o crescimento econômico. Há sinais evidentes de que várias economias avançadas se encontram no limiar da recessão, o que dificultará, sobremaneira, a resolução dos problemas fiscais.
Está claro que a prioridade da economia mundial, neste momento, deve ser solucionar o problema dos países em crise de dívida soberana e reverter o presente quadro recessivo. Os países mais desenvolvidos precisam praticar políticas coordenadas de estímulo às economias extremamente debilitadas pela crise. Os países emergentes podem ajudar.
Países altamente superavitários devem estimular seus mercados internos e, quando for o caso, flexibilizar suas políticas cambiais, de maneira a cooperar para o reequilíbrio da demanda global.
Urge aprofundar a regulamentação do sistema financeiro e controlar essa fonte inesgotável de instabilidade. É preciso impor controles à guerra cambial, com a adoção de regimes de câmbio flutuante. Trata-se, senhoras e senhores, de impedir a manipulação do câmbio tanto por políticas monetárias excessivamente expansionistas como pelo artifício do câmbio fixo.
A reforma das instituições financeiras multilaterais deve, sem sombra de dúvida, prosseguir, aumentando a participação dos países emergentes, principais responsáveis pelo crescimento da economia mundial.
O protecionismo e todas as formas de manipulação comercial devem ser combatidos, pois conferem maior competitividade de maneira espúria e fraudulenta.
Senhor Presidente,
O Brasil está fazendo a sua parte. Com sacrifício, mas com discernimento, mantemos os gastos do governo sob rigoroso controle, a ponto de gerar vultoso superávit nas contas públicas, sem que isso comprometa o êxito das políticas sociais, nem nosso ritmo de investimento e de crescimento.
Estamos tomando precauções adicionais para reforçar nossa capacidade de resistência à crise, fortalecendo nosso mercado interno com políticas de distribuição de renda e inovação tecnológica.
Há pelo menos três anos, senhor Presidente, o Brasil repete, nesta mesma tribuna, que é preciso combater as causas, e não só as consequências da instabilidade global.
Temos insistido na interrelação entre desenvolvimento, paz e segurança; e  que as políticas de desenvolvimento sejam, cada vez mais, associadas às estratégias do Conselho de Segurança na busca por uma paz sustentável.
É assim que agimos em nosso compromisso com o Haiti e com a Guiné-Bissau. Na liderança da Minustah, temos promovido, desde 2004, no Haiti, projetos humanitários, que integram segurança e desenvolvimento. Com profundo respeito à soberania haitiana, o Brasil tem o orgulho de cooperar para a consolidação da democracia naquele país.
Estamos aptos a prestar também uma contribuição solidária, aos países irmãos do mundo em desenvolvimento, em matéria de segurança alimentar, tecnologia agrícola, geração de energia limpa e renovável e no combate à pobreza e à fome.
Senhor Presidente,
Desde o final de 2010, assistimos a uma sucessão de manifestações populares que se convencionou denominar “Primavera Árabe”. O Brasil é pátria de adoção de muitos imigrantes daquela parte do mundo. Os brasileiros se solidarizam com a busca de um ideal que não pertence a nenhuma cultura, porque é universal: a liberdade.
É preciso que as nações aqui reunidas encontrem uma forma legítima e eficaz de ajudar as sociedades que clamam por reforma, sem retirar de seus cidadãos a condução do processo.
Repudiamos com veemência as repressões brutais que vitimam populações civis. Estamos convencidos de que, para a comunidade internacional, o recurso à força deve ser sempre a última alternativa. A busca da paz e da segurança no mundo não pode limitar-se a intervenções em situações extremas.
Apoiamos o Secretário-Geral no seu esforço de engajar as Nações Unidas na prevenção de conflitos, por meio do exercício incansável da democracia e da promoção do desenvolvimento.
O mundo sofre, hoje, as dolorosas consequências de intervenções que agravaram os conflitos, possibilitando a infiltração do terrorismo onde ele não existia, inaugurando novos ciclos de violência, multiplicando os números de vítimas civis.
Muito se fala sobre a responsabilidade de proteger; pouco se fala sobre a responsabilidade ao proteger. São conceitos que precisamos amadurecer juntos. Para isso, a atuação do Conselho de Segurança é essencial, e ela será tão mais acertada quanto mais legítimas forem suas decisões. E a legitimidade do próprio Conselho depende, cada dia mais, de sua reforma.
Senhor Presidente,
A cada ano que passa, mais urgente se faz uma solução para a falta de representatividade do Conselho de Segurança, o que corrói sua eficácia. O ex-presidente Joseph Deiss recordou-me um fato impressionante: o debate em torno da reforma do Conselho já entra em seu 18º ano. Não é possível, senhor Presidente, protelar mais.
O mundo precisa de um Conselho de Segurança que venha a refletir a realidade contemporânea; um Conselho que incorpore novos membros permanentes e não-permanentes, em especial representantes dos países em desenvolvimento.
O Brasil está pronto a assumir suas responsabilidades como membro permanente do Conselho. Vivemos em paz com nossos vizinhos há mais de 140 anos. Temos promovido com eles bem-sucedidos processos de integração e de cooperação. Abdicamos, por compromisso constitucional, do uso da energia nuclear para fins que não sejam pacíficos. Tenho orgulho de dizer que o Brasil é um vetor de paz, estabilidade e prosperidade em sua região, e até mesmo fora dela.
No Conselho de Direitos Humanos, atuamos inspirados por nossa própria história de superação. Queremos para os outros países o que queremos para nós mesmos.
O autoritarismo, a xenofobia, a miséria, a pena capital, a discriminação, todos são algozes dos direitos humanos. Há violações em todos os países, sem exceção. Reconheçamos esta realidade e aceitemos, todos, as críticas. Devemos nos beneficiar delas e criticar, sem meias-palavras, os casos flagrantes de violação, onde quer que ocorram.
Senhor Presidente,
Quero estender ao Sudão do Sul as boas vindas à nossa família de nações. O Brasil está pronto a cooperar com o mais jovem membro das Nações Unidas e contribuir para seu desenvolvimento soberano.
Mas lamento ainda não poder saudar, desta tribuna, o ingresso pleno da Palestina na Organização das Nações Unidas. O Brasil já reconhece o Estado palestino como tal, nas fronteiras de 1967, de forma consistente com as resoluções das Nações Unidas. Assim como a maioria dos países nesta Assembléia, acreditamos que é chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a pleno título.
O reconhecimento ao direito legítimo do povo palestino à soberania e à autodeterminação amplia as possibilidades de uma paz duradoura no Oriente Médio. Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional.
Venho de um país onde descendentes de árabes e judeus são compatriotas e convivem em harmonia – como deve ser.
Senhor Presidente,
O Brasil defende um acordo global, abrangente e ambicioso para combater a mudança do clima no marco das Nações Unidas. Para tanto, é preciso que os países assumam as responsabilidades que lhes cabem.
Apresentamos uma proposta concreta, voluntária e significativa de redução [de emissões], durante a Cúpula de Copenhague, em 2009. Esperamos poder avançar já na reunião de Durban, apoiando os países em desenvolvimento nos seus esforços de redução de emissões e garantindo que os países desenvolvidos cumprirão suas obrigações, com novas metas no Protocolo de Quioto, para além de 2012.
Teremos a honra de sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho do ano que vem. Juntamente com o Secretário-Geral Ban Ki-moon, reitero aqui o convite para que todos os Chefes de Estado e de Governo compareçam.
Senhor Presidente e minhas companheiras mulheres de todo mundo,
O Brasil descobriu que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. E que uma verdadeira política de direitos humanos tem por base a diminuição da desigualdade e da discriminação entre as pessoas, entre as regiões e entre os gêneros.
O Brasil avançou política, econômica e socialmente sem comprometer sequer uma das liberdades democráticas. Cumprimos quase todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, antes 2015. Saíram da pobreza e ascenderam para a classe média no meu país quase 40 milhões de brasileiras e brasileiros. Tenho plena convicção de que cumpriremos nossa meta de, até o final do meu governo, erradicar a pobreza extrema no Brasil.
No meu país, a mulher tem sido fundamental na superação das desigualdades sociais. Nossos programas de distribuição de renda têm nas mães a figura central. São elas que cuidam dos recursos que permitem às famílias investir na saúde e na educação de seus filhos.
Mas o meu país, como todos os países do mundo, ainda precisa fazer muito mais pela valorização e afirmação da mulher. Ao falar disso, cumprimento o secretário-geral Ban Ki-moon pela prioridade que tem conferido às mulheres em sua gestão à frente das Nações Unidas.
Saúdo, em especial, a criação da ONU Mulher e sua diretora-executiva, Michelle Bachelet.
Senhor Presidente,
Além do meu querido Brasil, sinto-me, aqui, representando todas as mulheres do mundo. As mulheres anônimas, aquelas que passam fome e não podem dar de comer aos seus filhos; aquelas que padecem de doenças e não podem se tratar; aquelas que sofrem violência e são discriminadas no emprego, na sociedade e na vida familiar; aquelas cujo trabalho no lar cria as gerações futuras.
Junto minha voz às vozes das mulheres que ousaram lutar, que ousaram participar da vida política e da vida profissional, e conquistaram o espaço de poder que me permite estar aqui hoje.
Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da justiça, dos direitos humanos e da liberdade.
E é com a esperança de que estes valores continuem inspirando o trabalho desta Casa das Nações que tenho a honra de iniciar o Debate Geral da 66ª Assembleia Geral da ONU.
Muito obrigada.”
Fonte:  Vi O Mundo
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