domingo, 4 de setembro de 2011

MALUF E FHC: MOVIMENTAÇÃO DA DIREITA CONTRA AS MUDANÇAS



 

Duas celebrações de aniversários de lideranças políticas, tirante os aspectos de cordialidade nas relações intersubjetivas, de sociabilidade e folclóricos, são ilustrativas de um comportamento típico da vida política brasileira, que se acentua toda vez que ocorre uma transição: a movimentação das forças de direita e centro-direita para garantir posições-chave no poder político.

Referimo-nos às comemorações dos aniversários natalícios do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em junho último, e neste final de semana, do deputado federal Paulo Maluf.


No aniversário do ex-mandatário, até a presidente Dilma Rousseff exagerou no tom, fazendo-lhe elogios imerecidos. FHC fez todos os esforços para aparecer como grande líder e figura de proa da intelectualidade nacional. Extremamente vaidoso e com desmedidas ambições, ainda pretende liderar a oposição e arregimentar forças em torno do seu fracassado PSDB.

No aniversário de Maluf, comemorado no último sábado (3), os principais líderes da política paulista - o governador Alckmin, o vice-presidente da República, Michel Temer, e o prefeito da capital, Gilberto Kassab, procuraram ressaltar o papel do ex-alcaide e cortejá-lo tendo em vista capturar os votos da direita nas próximas eleições municipais e em eleições futuras. Este, oportunista como sempre, procura capitalizar os elogios e se posicionar “na crista da onda”.

Cada qual com sua trajetória e estilo, FHC e Maluf representam o que há de mais reacionário na vida política nacional. O ex-presidente da República liderou uma coalizão de forças de direita e centro-direita, da qual participou o próprio Maluf. Com tal aliança, realizou um governo conservador e neoliberal, um dos piores de toda a história nacional. Entreguismo, fisiologismo nas relações com o Congresso, corrupção desbragada, personalismo, repressão aos movimentos sociais foram as características do seu governo.

Já o ex-prefeito paulistano é filhote da ditadura, sob cuja sombra de corrupção e violência prosperou em negócios escusos e ascendeu na escala do poder. Lidera uma corrente política de direita, hoje em decadência, mas que ainda atua como força de reserva para aventuras golpistas, se eventualmente a ocasião se apresentar. Maluf é porta-voz de um discurso anticomunista, antipetista, antiprogressista, com tintas de misoginia e patriarcalismo.

As homenagens e paparicos em relação a essas duas figuras nefastas indica a movimentação dos grandes partidos das classes dominantes para consolidar posições conservadoras no quadro político e, desde a oposição como de dentro do governo, exercer freio sobre qualquer ímpeto tansformador. Não deixa de ser, no plano simbólico, uma jogada para pressionar, pela direita, a sucessão presidencial de 2014.

O Brasil precisa urgentemente de reformas democráticas estruturais, o que só será possível com a formação de um coerente e consistente núcleo de esquerda no governo e fora dele e com a mobilização do povo em torno de uma plataforma de lutas. A concertação ou a polarização entre forças e lideranças de direita e centro-direita não terá outro resultado senão a inflexão do curso político no sentido conservador. São movimentações estranhas e contrárias aos esforços para a união entre as forças de esquerda e do movimento popular.Portal Vermelho

OPOSIÇAO SEM RUMO


 
JOSÉ DIRCEU
Ao criticar as alianças de Dilma, Eduardo Graeff parece se esquecer de que o PSDB se alinhou com as mesmas siglas nos Estados que governa

Enquanto o Brasil avança com o PT no governo federal, a oposição demo-tucana permanece inerte, saudosa de um passado distante e perdida em seus próprios dilemas.Sem propostas viáveis para o crescimento do Brasil, os velhos mandatários centralizam seus esforços em inúteis tentativas de desestabilizar o governo e o país, por meio de ataques sem provas ao PT e a seus militantes.No último dia 23, fui grosseiramente atacado, nesta Folha, em artigo assinado pelo cientista político Eduardo Graeff, secretário-geral da Presidência da República no governo FHC. Graeff tomou versões mal-intencionadas e sem compromisso com a verdade para reembalar teses que há muito não encontram eco na sociedade.Seu artigo "Aliados e companheiros" é uma coletânea desatualizada de equívocos e hipocrisias.Graeff chega a dizer que, em 1998, eu teria arrecadado recursos em prefeituras para financiar campanhas do partido. Trata-se de uma mentira, de uma acusação que não se sustenta caso seja questionada judicialmente.O episódio fantasioso se tornou público na investigação do assassinato do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, e seu autor se retratou em juízo pelas falsas alegações. O ex-assessor tucano vai ao fundo do poço ao dar conotação política a um caso que, por duas vezes, ficou comprovado em inquéritos policiais se tratar de crime comum. Na tentativa de provocar estragos, investe até mesmo contra a imagem de Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência.Graeff critica as alianças do governo Dilma. E parece se esquecer de que o PSDB se alinhou com essas mesmas siglas nos Estados que governa. O PMDB não está na base de sustentação da gestão de Geraldo Alckmin em São Paulo?Antonio Anastasia não levou o PDT e o PSB para a base de seu governo em Minas Gerais?E mais, o tucano mineiro não desmontou a oposição a seu governo ao tirar primeiro o PR da frente parlamentar Minas sem Censura, e agora o PMDB? José Serra, quando assumiu a Prefeitura de São Paulo, não nomeou prefeitos derrotados no Estado para as administrações regionais da cidade? Quer maior aparelhamento e uso da máquina do que esse?Quando secretário-geral da Presidência, na hoje longínqua era FHC, parte das tarefas de Graeff não era ouvir reivindicações da base aliada a respeito da ocupação dos cargos públicos e de emendas parlamentares?E agora vem o próprio Graeff questionar a legitimidade da participação dos partidos que apoiam o governo. Quanta hipocrisia!Estamos dispostos a um debate mais profundo do que esse. Já realizamos as reformas da Previdência e do Judiciário e colocamos na pauta a Tributária e a do Código Civil.Nos oito anos em que governou o país, o PSDB não foi capaz nem de apresentar uma proposta de reforma que pudesse corrigir erros históricos e estruturais de nosso sistema político-eleitoral e conter a forte influência do poder econômico em nossas eleições.O tema também já está lançado com a reforma política. Nós, do PT, defendemos o financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais, de forma a acabar com a contribuição direta a partidos ou candidatos e a anular a força do poder econômico na eleição. Somos favoráveis ao sistema proporcional misto, no qual o eleitor votará duas vezes: primeiro, na lista do partido de sua preferência, e depois em um candidato da própria lista.Nossa posição é clara. Surpreende a fuga do PSDB a esse debate.
Para eles, talvez seja melhor atacar a honra alheia do que discutir questões realmente importantes para o país.
JOSÉ DIRCEU, 65, é advogado e ex-ministro-chefe da Casa Civil.
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