domingo, 3 de junho de 2012
Dilma vem para fazer História
Rodolpho Motta Lima
Quem não se lembra da crônica política de dois anos atrás que,
diante da iminência da vitória da candidata Dilma Roussef, rotulava-a
como inexperiente, pronta para ser engolida, seja pela previsível
subserviência ao que seria o seu inventor (Lula) seja pela matreirice
corporativista de um congresso formado basicamente por raposas da
política, por aproveitadores e fisiológicos? Quem não se recorda do
conceito de “pau mandado” que lhe tentaram impingir em relação ao
ex-presidente, eminência parda para quem a presidenta eleita apenas
esquentaria o lugar para um hipotético retorno do líder petista?
Um mínimo de honestidade dessa turma de críticos, alicerçada nos atos
e fatos que vêm marcando o governo Dilma, já deve estar mexendo com
determinadas convicções então levantadas, ao menos por parte dos
realmente bem intencionados. E não é por acaso que mesmo alguns setores
da mídia que se pautam permanentemente pelas tentativas de
desestabilizar o poder constituído pelo povo, mesmo esses estão mais
cautelosos nas observações e análises sobre as posturas da Presidenta,
que hoje desfruta dos mais altos índices de aceitação conferidos nos
últimos anos a um mandatário nacional. E então, claro, voltam suas
baterias para o Lula, contando com a cumplicidade de alguns golpistas e
de muitos figurões da República... E elegem o “mensalão” petista (que,
diga-se, tem mesmo que ser julgado e, se for o caso, punido) como o
nosso mais sério delito de corrupção, esquecendo o seu irmão gêmeo
mineiro, a compra de votos para a reeleição, as denúncias da Privataria
Tucana e tudo mais que, em nosso país, está se transformando numa
cachoeira, ou, se quiserem, numa enxurrada. Mas esse é um outro
assunto...
A Presidenta não titubeou no caso dos ministros que se viram
envolvidos em denúncias de malversação, tráfico de influência ou coisas
do gênero. Com sabedoria de estadista, administrou as crises – que
muitos pretendiam avassaladoras – e deixou que o bom senso (ou o rabo
preso) dos envolvidos encaminhasse as soluções de afastamento. Recusou o
rótulo pejorativo de faxineira, e afirmou-se pela sobriedade e
seriedade com que foi equacionando os problemas. Nas substituições que
fez, deixou clara uma posição de independência em relação a muitos
interesses da sua própria base política de apoio, apostando no técnico
contra o político, na eficiência contra a demagogia.
É bem nítido que o nosso sistema político de composições para a
malfadada “governabilidade” tem impedido muitas vezes a Presidenta de
fazer valer seus propósitos. Mesmo assim, até pelas reações corajosas de
Dilma, poucas vezes a sociedade brasileira pôde perceber tão
claramente esse jogo espúrio de pressões e contrapressões que ainda
marcam o cenário nada republicano de nossa política.
De qualquer forma, a Presidenta vem impondo sua marca, cada vez mais
particular, na condução de assuntos que, embora de interesse de todo o
povo brasileiro, são (ou eram) tidos como intocáveis. Um deles: os
juros cobrados no sistema bancário. Dilma não economizou críticas – em
horário nobre e rede nacional – às exorbitâncias praticadas e não apenas
cobrou medidas da rede particular como usou os bancos oficiais como
elementos de concorrência, em uma linguagem que o “mercado” certamente
entende ...
A criação da Comissão da Verdade, acompanhada da verdadeira
profissão de fé da Presidenta, e a transparente Lei do Acesso, são
ações que, embora tardias, finalmente surgem agora como irreversíveis
conquistas da cidadania, marcas adicionais no perfil de estadista da
Presidenta.
Se Dilma não pôde – como queriam os ambientalistas – vetar totalmente
o escandaloso Código Florestal aprovado no Congresso, nem por isso
cedeu aos ruralistas naquilo que considerou mais relevante para a
preservação de nossas florestas e para a afirmação de princípios éticos
como o da não anistia aos grandes desmatadores.
São apenas alguns exemplos, dentre muitos, que justificam os números
que as repetidas pesquisas estão revelando. Agora mesmo leio nos
jornais a publicação, pelos Ministérios da Saúde e da Justiça, de lei
que criminaliza a exigência, por parte de entidades de saúde
particulares, de cheque-caução para atendimento médico de urgência,
tipificando a exigência como crime de omissão de socorro. Sabemos todos
da “caixa preta” que envolve esse e outros assuntos ligados aos planos
de saúde.
Evidentemente, nem tudo são ou serão flores no âmbito federal. Há
muitos desafios pela frente. Dilma reafirmou em recente pronunciamento
que seu compromisso é com o crescimento econômico do país, com inclusão
social e sustentabilidade.
Lamentavelmente, a permanente tentativa
dos nossos partidos de fazer valer a política do “toma lá dá cá” não
são práticas que desaparecerão em um repente, por milagre ou por
espasmo. Dilma, nesse âmbito, às vezes tem que empenhar-se em dobrar
alguns dos seus próprios companheiros de partido...
Mas o caminho da Presidenta, esperamos todos, deve ser o do enfrentamento do fisiologismo reinante. Aproveitando-se dos exitosos
índices que o país vem revelando no cenário mundial – que garante aos
brasileiros uma relativa tranquilidade em meio à crise geral - penso que
está na hora de fazer valer sua merecida popularidade para trocar,
gradativamente, o comprometido apoio de políticos discutíveis pelo
indiscutível apoio popular. Nas ruas, se for o caso, quando necessário,
na velha tradição das grandes causas públicas.
A TOGA, A LÍNGUA E O CAÇADOR DE BLOGS
Saiu na Carta Maior artigo de Saul Leblon:
A toga, a língua e o caçador de blogs
Escudado na proteção republicana da toga, o ministro Gilmar Mendes desnudou uma controversa agenda política pessoal na última semana de maio. Onipresente na obsequiosa passarela da mídia amiga, lacrou seu caminho na 6ª feira declarando-se um caçador de blogs adversários de suas ideias e das ideias de seus amigos. Em preocupante equiparação entre a autoridade da toga e a arbitrariedade da língua, Gilmar decretou serem inimigos das instituições republicanas todos aqueles que contestam os seus malabarismos discursivos, a adequar denúncias a cada 24 horas, num exercício de convencimento à falta de testemunhas e fatos que as comprovem.
A fragilidade desse discurso impele-o agora ao papel de censor a exigir da Procuradoria Geral da República, e do ministro Mantega, que sufoque blogs adversários asfixiando-os com o corte da publicidade oficial. Sobre veículos que incluem entre suas fontes e ‘colaboradores informais’, notórios acusados de integrar quadrilhas do crime organizado, o ministro nada observa em relação à presença da publicidade oficial. Cabe ao governo Dilma dar uma resposta ao autonomeado censor da República.
O ataque da língua togada contra a imprensa crítica não é aleatório. O dispositivo midiático conservador vive em andrajos de credibilidade e pautas. A semana final de maio estava marcada para ser um desses picos de desamparo, na despedida humilhante de seu herói decaído. E de fato o foi: em depoimento no Conselho de Ética do Senado, na 3ª feira, o ex-líder dos demos na Casa, Demóstenes Torres, deixaria gravado no bronze dos falsos savonarolas a lapidar confissão de que um chefe de quadrilha pagava as contas, miúdas, observaria, de seu celular. E ele, o centurião da moralidade, a direita linha dura assim cortejada pela língua togada e pelo aparato conservador –quem sabe até para vôos maiores em 2014–, não viu nenhum tropeço ético nesse pequeno mimo que elucida todo um perfil.
O fecho de carreira do tribuno goiano contaminaria as manchetes que ele tantas vezes ancorou à direita não fosse a providencial intervenção da língua amiga do ministro do STF, Gilmar Mendes. Na mesma 3ª feira desde as primeiras horas da manhã, lá estava ela a falar pelos cotovelos. Diuturnamente, contemplou a orfandade da mídia amiga naquele dia cinzento. A cada qual ofereceu uma frase brinde para erguer a moral da tropa e justificar a manchete com o carimbo ‘exclusivo’ no alto da página. Não se poupou. O magistrado, não raro em destemperados decibéis, esfregou na opinião pública recibos e documentos que comprovariam o pagamento, com recursos próprios –’tenho-os para umas três voltas ao mundo’– de seu giro europeu, em abril de 2011, onde se encontraria com o herói decaído da linha dura, Demóstenes Torres.
Sua língua foi peremptória em alguns momentos, na mais pura tradição liberal que o distingue: ‘Vamos parar com essas suspeitas sobre viagens”, determinou. Para depois admitir em habilidosa antecipação: por duas vezes utilizou carona aérea do amigo Demóstenes; por duas vezes voou sob os auspícios do amigo que não possui veículo aéreo próprio; do amigo que não paga nem as contas de celular. Contas miúdas, diga-se, a revelar um vínculo orgânico com a ubíqua carteira gorda de acusados de integrar o condomínio criminoso goiano.
Gilmar estava determinado a servir de redenção ao dispositivo midiático demotucano num dia tão aziago. Não desapontou amigos, ainda que tenha escandalizado parte do país. Ofensivo, execrou blogs e sites críticos — esses sim, bandidos e gangsters– que arguiram e ainda arguem as fronteiras da identidade de valores que aproximou o magistrado do senador decaído.
Fez mais ainda: acusou Lula de ser a central de boatos contra ele para ‘melar o julgamento do mensalão’ –como se o ex-presidente Lula não pudesse, não devesse ter opinião sobre fatos relevantes da vida política nacional –prerrogativa que outras togas mais serenas não contestam e legitimam. Ao jornal O Globo, na linha da frase à la carte, facilitou a manchete pronta para dissolver a terça-feira de cinzas do conservadorismo: ‘O Brasil não é a Venezuela onde Chávez manda prender juiz’. O diário retribuiu a gentileza em manchete garrafal de duas linhas no alto da página. Um contrafogo sob medida à humilhante baixa no Senado. Incansável, a língua foi provendo xistes e chutes a emissários de redações sedentas, mas cometeu alguns deslizes.
Esqueceu que um pilar de sua versão sobre a famosa conversa com Lula –origem de toda celeuma que descambou em ataque à liberdade de imprensa– residia nos pequenos detalhes que emprestam veracidade ao bom contador; um deles, o cenário: a cozinha. Teria sido naquele recinto profano do escritório do ex-ministro Nelson Jobim, abrigado de qualquer solenidade e sem a presença do anfitrião, que ocorrera o assédio moral inesperado de um Lula chantageador contra um Gilmar irretocável.
Quadro perfeito. Exceto pelo fato de não se sustentar nem mesmo no matraquear do interessado. Sim, o mesmo magistrado suprimiu o precioso cenário despido de testemunhas na versão apresentada ao jornal Valor do dia 30-05 quando afirmou literalmente: ‘Jobim esteve presente durante todo o tempo’. Como? E a cozinha? E a privacidade a dois que lubrificou o assédio de um Lula irreconhecível?
Evaporou-se: Jobim estava presente o tempo todo, afirmou o narrador em contradição ostensiva. Mas por um bom motivo: desferir no ex-ministro de FHC e ex- presidente do STF uma punhalada em retribuição ao desmentido categórico do anfitrião para seu relato original do episódio à indefectível VEJA. No mesmo Valor, Gilmar insinuaria contra Jobim uma suspeita de cumplicidade com Lula por ter lançado na mesa o nome de um desafeto: Paulo Lacerda. Ex-dirigente da ABIN, Lacerda foi demitido em 2008 depois que Gilmar denunciou suposta escuta da PF, nunca comprovada, em seu escritório. Só na 5ª feira o entendimento da investida contra Jobim ficaria completo: Serra, o candidato predileto do conservadorismo, amigo de Gilmar e de outros da mesma cepa, prestou-se à colaborar com Veja; desinteressadamente, a exemplo do que tantas vezes o fez também o colaborador Dadá, aparaponga de aluguel do esquema Cachoeira. Serra incitou o amigo Jobim a falar com a revista sobre o encontro.
Surpreendido pela trama Jobim tirou a escada de VEJA e deu troco duplo: desmentiu Gilmar no Estadão e confirmou a Monica Bergamo, da Folha, o que tantos sabem: Serra não falha; sua biografia de bastidores está, esteve e estará sempre entrelaçada a golpes e denúncias que contemplem a regressividade udenista da qual VEJA constitui a corneta mais atuante e Gilmar o novo expoente da linha de frente lacerdista.
Diante do maratonismo verbal não sobraria fôlego aos jornais e jornalistas amigos para conceder ao leitor um pequeno espaço de reflexão sobre a momentosa semana final de maio, pausa todavia ainda mais necessária à medida em que versões assentam e dúvidas emergem em contornos mais nítidos. Ademais da evanescente cozinha do escritório do ex-ministro Nelson Jobim, outros pontos de dissipação merecem retrospecto. Por exemplo:
a) a reportagem publicada por Carta Maior no dia 29-04 ” Cachoeira arruma avião para Demóstenes e ‘Gilmar’ –com aspas por conta da identificação incompleta do ilustre viajante e um dos motivos da fluvial verborragia togada, não tratava de pagamento de vôo a Berlim pelo esquema Demóstenes/Cachoeira;
b) o texto, conciso e claro baseado em escutas públicas da PF teve como foco uma ‘carona aérea’ no trecho SP-Brasília, solicitada ao esquema Cachoeira para o dia 25-04 de 2011;
c) as tratativas telefônicas da quadrilha Cachoeira apontam que os passageiros da carona viriam da Alemanha e seriam, respectivamente, Demóstenes e ‘Gilmar’ ;
d) a data da chegada a São Paulo é a mesma do retorno informado pelo próprio Gilmar Mendes em seu rally jornalístico;
e) o horário de chegada do seu vôo originário da Alemanha guarda proximidade com aquele informado à quadrilha. Essas as coincidências notáveis. A partir daí os fatos e comprovantes apresentados por Gilmar Mendes desmentem que ele tenha utilizado a dita carona solicitada à quadrilha, fato que Carta Maior noticiou imediatamente após os esclarecimentos do magistrado. O desencontro entre essas evidências e as providencias tomadas pela quadrilha Cachoeira, todavia, autoriza uma indagação que não se dissolve no aluvião verborrágico da semana, a saber: quantos Gilmares havia em Berlim com Demóstenes Torres? E, mais que isso: quem seria o ‘Gilmar’ cuja inclusão na carona, aparentemente desativada, não causou qualquer surpresa a Cachoeira, que nas escutas reage à menção do nome e da presença como algo se não habitual, perfeitamente compatível com a extensão de seus tentáculos e zonas de influência?
Carta Maior reserva-se o direito de continuar praticando um jornalismo crítico e auto-crítico, comprometido única e exclusivamente com a democracia e as aspirações progressistas da sociedade brasileira, abraçadas pela ampla maioria de seus leitores. Isso naturalmente a coloca na margem oposta daqueles que até ontem consideravam Demóstenes Torres, seus valores, agendas, contas de celular e caronas em jatinhos uma referência ética e republicana.
Fiel ao compromisso com o se leitor Carta Maior cumpre a obrigação de manter em pauta algumas perguntas ainda sem resposta satisfatória: quantos gilmares havia em Berlim? Quantos gilmares havia no escritório de Jobim (um na cozinha e um na sala)? E, ainda mais urgente, quantas ameaças de fuzilamento da liberdade de expressão serão necessárias para que os partidos democráticos e o governo tomem a iniciativa de desautorizar a língua arvorada em extensão da toga? Não só em palavras, mas sobretudo na impostergável democratização afirmativa da publicidade oficial, antes que novos e velhos caçadores de jornalistas consigam transformá-la em mais um torniquete da pluralidade de opinião.
Postado por Saul Leblon
Em tempo: o Conversa Afiada reproduz e-mail do infatigável Stanley Burburinho:
1 – Segundo a resolução Nº 439 de 21 de setembro de 2010, publicada no Diário da Justiça Eletrônico em 24/9/2010, que dispõe sobre a concessão de diárias e passagens, diz:
“RESOLUÇÃO Nº 439, DE 21 DE SETEMBRO DE 2010
Dispõe sobre a concessão de diárias e passagens
(…)
Art. 17. O cartão de embarque e o bilhete de passagem ou o documento equivalente deverão ser entregues na Seção de Passagens e Diárias até 5 (cinco) dias após o retorno à sede.
(…)”
http://www.stf.jus.br/ARQUIVO/NORMA/RESOLUCAO439-2010.PDF
2 – Então, o cartão de embarque do Gilmar Mendes no voo LH 7376 (Lufthansa / TAM),entre SP e BSB, está à disposição na Seção de Passagens e Diárias do STF. Por que Gilmar Mendes não mostra para acabar com toda essa confusão?
Clique aqui para ler “Blogueiro sujo vai ao Supremo contra Gilmar”.
E aqui para ver que nem o Noblat, da Globo, que recebe tanto anúncio do Governo (ah !, que inveja, diria a Geórgio Pinheiro, diretora-executiva do C Af) , leva o Gilmar a sério.
Fonte: Conversa Afiada
Assinar:
Postagens (Atom)