domingo, 3 de março de 2013

A PROCURA DESESPERADA POR UM CANDIDATO




Rodolpho Motta Lima

Nos últimos dias, tem havido grande efervescência política com o lançamento, claro ou velado, de diversas candidaturas à Presidência da República, inclusive a da própria Presidenta. A profusão de prováveis candidatos de oposição a Dilma – estimulados pela mídia - deixa evidente, de cara,  que o pessoal do PIG não acredita que Aécio ou qualquer outro tucano seja capaz de vencer a eleição. E a direita experimenta seus sonhos de consumo nas figuras de Marina Silva (nem de direita nem de esquerda, porque tudo que cai na REDE é peixe...), Eduardo Campos (cujo avô, Miguel Arraes, deve tremer no túmulo com certos entusiasmos de ocasião destinados ao neto) e até uma outra, que merece aqui observação mais  atenta.

Recentemente – entre os dias 20 e 26.02 -, vimos surgir, nas charges do Chico, cartunista/chargista de presença diária no “Globo” junto a figuras de “presidenciáveis” – como Marina, Aécio e Eduardo – a do ministro, Joaquim Barbosa. Nada a objetar, se ele não estivesse aparecendo, como os outros e com os outros, no estilo “mocinho que invade o saloon”, em atitude acintosa de oposição à presidenta Dilma. Em uma delas, a que me parece mais grave, a charge vem acompanhada da mensagem/fala atribuída aos quatro personagens – Joaquim Barbosa inclusive -  e dirigida à Dilma: “- Eu vou tirar você desse lugar”.

Chico costuma seguir, em suas charges,  a  linha editorial do jornal onde trabalha. Nada contra: ele tem todo o direito de possuir o posicionamento político-ideológico da mídia a que serve. Isso não se discute. E é igualmente óbvio que ele pode fazer humor com as coisas e pessoas que bem entender, assumindo, claro, suas responsabilidades éticas.  Mas é  obrigação cidadã  não deixar passar em branco aquilo que – com humor ou sem ele – cheira a desvio antidemocrático.

No campo político, a charge envolvendo personagens do nosso dia a dia corresponde a uma tradição e deve ser saudada como manifestação da liberdade de comunicação e da expressão de ideias. Isso é ponto pacífico. Creio mesmo que, apesar de pouco republicana, a colocação do Presidente do Supremo ao lado de políticos oposicionistas mandando mensagens contrárias à Presidenta é um direito do chargista. Lá no fundo, ele pode estar desejando a candidatura do Ministro Joaquim Barbosa a Presidente do país. Ou pode, o que seria postura lastimável, estar torcendo pela monitoração do poder executivo pelo  poder judiciário.

Sabemos todos que os humoristas são sempre os primeiros a ser perseguidos por sistemas repressores de poder. É só lembrar, na história recente do país, a turma do Pasquim... No Brasil de hoje, felizmente, é livre a comunicação.  Mas é igualmente  livre a interpretação que se possa fazer das intenções de quem atua na mídia, humorista ou não. O episódio das charges do Chico pode ser irrelevante para muitos. E ele pode nem ter percebido o sentido que se poderia dar à sua criação. Mas assim como “de grão em grão a galinha enche o papo”, de pequenos golpes em pequenos golpes pode-se chegar a um grande ataque  às instituições.

De qualquer forma, nada tenho contra o cartunista, apenas estou divergindo de suas ideias. Tenho certeza de que ele não se importará nem um pouco com os meus gostos, mas, entre os diversos Chicos brasileiros, ideologicamente prefiro o Chico Buarque de Holanda – pela coerência ao longo da vida – e o Chico Mendes – morto em defesa dos seringueiros massacrados pelo poder. E quanto ao humor, minha predileção vai para o Chico Anysio, pela sua criatividade não pautada...

Provoca estranheza, isso sim, que o Presidente do STF se deixe retratar dessa forma, sem qualquer palavra a respeito. Não é por falta de espaço na mídia,  onde ele, seguidamente, vem opinando sobre diversos problemas da sociedade. Não por acaso, no dia 01.03, ele foi personagem central da coluna do Merval Pereira, com considerações do colunista sobre a possibilidade de vir a ser candidato à Presidência da República. E é claro que ele tem direito a postular o cargo, como qualquer cidadão brasileiro. Mas, em nome da independência entre os poderes constituídos, obtida a duras penas pela democracia brasileira, e considerada, fundamentalmente, a sua condição de magistrado -  julgador, inclusive de feitos em que o poder executivo está envolvido -,  ele deveria contestar claramente uma possível inferência, extraída da charge, de que – como presidente do Supremo que é - estaria “fazendo o jogo” da oposição ao atual Governo, eleito, diga-se, pela expressiva maioria do povo brasileiro.

No momento em que o julgamento do Mensalão, aplaudido por muitos, é considerado por outros um episódio de cartas marcadas, político em sua essência, onde terá faltado a observância a princípios básicos do direito, com casuísmos e inversões doutrinárias, Joaquim Barbosa deveria ser, no mínimo, por sagacidade e prudência, o primeiro a rejeitar tal postura a ele atribuída, porque ele representa o poder maior da justiça neste país e não pode, em hipótese alguma, deixar que se sobreponha a essa posição a interpretação de que age politicamente, seja atrelado a um grupo, seja a serviço de seus interesses pessoais. A não ser, é claro, que concorde com a insinuação, hipótese em que deveria afastar-se do Supremo e dedicar-se aos  projetos de um candidato oposicionista. Afinal, de todas as autoridades maiores dos poderes do país – que não valem pelo que são individualmente, mas pelo que encarnam como representantes dos interesses do  povo -, esperam-se, permanentemente e sem cochilos,  posturas  condizentes  com os ideais republicanos que se obrigam a  defender.

 

Do Blog TERRA BRASILIS.

JUÍZES PERDEM A PACIÊNCIA COM JOAQUIM BARBOSA


do Conjur, via Brasil 247

Pela primeira vez na história, três associações de magistrados se levantam contra um juiz do Supremo Tribunal Federal; em nota, presidentes da Associação de Magistrados do Brasil, da Anamatra e da Ajufe, que representam 100% da categoria, se dizem perplexos com a forma "preconceituosa", "superficial" e "desrespeitosa" com que Barbosa se dirigiu aos integrantes do Poder Judiciário ao dizer que juízes têm mentalidade "pró-impunidade"; será que Barbosa terá humildade para pedir desculpas?

Pela primeira vez na história, três associações de magistrados se levantam contra um juiz do Supremo Tribunal Federal; em nota, presidentes da Associação de Magistrados do Brasil, da Anamatra e da Ajufe, que representam 100% da categoria, se dizem perplexos com a forma “preconceituosa”, “superficial” e “desrespeitosa” com que Barbosa se dirigiu aos integrantes do Poder Judiciário ao dizer que juízes têm mentalidade “pró-impunidade”; será que Barbosa terá humildade para pedir desculpas?
A Associação dos Magistrados Brasileiros, a Associação dos Juízes Federais do Brasil e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho emitiram neste sábado (2/3) nota pública em que classificam de “preconceituosa, generalista, superficial e, sobretudo, desrespeitosa” a declaração do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, a jornalistas estrangeiros.
Em entrevista coletiva concedida na quinta-feira (28/2) a correspondentes internacionais, Barbosa afirmou que os juízes brasileiros têm mentalidade “mais conservadora, pró status quo, pró impunidade”. Já os integrantes das carreiras do Ministério Público seriam “rebeldes, contra status quo, com pouquíssimas exceções”.
Para as entidades que representam os juízes, as conclusões de Joaquim Barbosa partem de “percepções preconcebidas”. Os juízes consideram “incabível” a comparação das carreiras da magistratura e a do Ministério Público, já que o MP é a parte responsável pela acusação no processo penal enquanto os juízes não têm obrigação nem com a defesa nem com a acusação, mas “a missão constitucional de ser imparcial” e garantir um processo justo.
As entidades afirmam que não têm sido ouvidas pelo presidente do STF e disseram que o “isolacionismo” de Barbosa “parte do pressuposto de ser o único detentor da verdade”.
Assinam o documento o presidente da AMB, Nelson Calandra, o da Ajufe, Nino Toldo, e o da Anamatra, Renato Henry Sant’Anna.
Leia abaixo a íntegra da nota:
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), entidades de classe de âmbito nacional da magistratura, a propósito de declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) em entrevista a jornalistas estrangeiros, na qual Sua Excelência faz ilações sobre a mentalidade dos magistrados brasileiros, vêm a público manifestar-se nos seguintes termos:
1. Causa perplexidade aos juízes brasileiros a forma preconceituosa, generalista, superficial e, sobretudo, desrespeitosa com que o ministro Joaquim Barbosa enxerga os membros do Poder Judiciário brasileiro.
2. Partindo de percepções preconcebidas, o ministro Joaquim Barbosa chega a conclusões que não se coadunam com a realidade vivida por milhares de magistrados brasileiros, especialmente aqueles que têm competência em matéria penal.
3. A comparação entre as carreiras da magistratura e do Ministério Público, no que toca à “mentalidade”, é absolutamente incabível, considerando-se que o Ministério Público é parte no processo penal, encarregado da acusação, enquanto a magistratura —que não tem compromisso com a acusação nem com a defesa— tem a missão constitucional de ser imparcial, garantindo o processo penal justo.
4. A garantia do processo penal justo, pressuposto da atuação do magistrado na seara penal, é fundamental para a democracia, estando intimamente ligada à independência judicial, que o ministro Joaquim Barbosa, como presidente do STF, deveria defender.
5. Se há impunidade no Brasil, isso decorre de causas mais complexas que a reducionista ideia de um problema de “mentalidade” dos magistrados. As distorções —que precisam ser corrigidas— decorrem, dentre outras coisas, da ausência de estrutura adequada dos órgãos de investigação policial; de uma legislação processual penal desatualizada, que permite inúmeras possibilidades de recursos e impugnações, sem se falar no sistema prisional, que é inadequado para as necessidades do país.
6. As entidades de classe da magistratura, lamentavelmente, não têm sido ouvidas pelo presidente do STF. O seu isolacionismo, a parecer que parte do pressuposto de ser o único detentor da verdade e do conhecimento, denota prescindir do auxílio e da experiência de quem vivencia as angústias e as vicissitudes dos aplicadores do direito no Brasil.
7. A independência funcional da magistratura é corolário do Estado Democrático de Direito, cabendo aos juízes, por imperativo constitucional, motivar suas decisões de acordo com a convicção livremente formada a partir das provas regularmente produzidas. Por isso, não cabe a nenhum órgão administrativo, muito menos ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a função de tutelar ou corrigir o pensamento e a convicção dos magistrados brasileiros.
8. A violência simbólica das palavras do ministro Joaquim Barbosa acendem o aviso de alerta contra eventuais tentativas de se diminuírem a liberdade e a independência da magistratura brasileira. A sociedade não pode aceitar isso. Violar a independência da magistratura é violar a democracia.
9. As entidades de classe não compactuam com o desvio de finalidade na condução de processos judiciais e são favoráveis à punição dos comportamentos ilícitos, quando devidamente provados dentro do devido processo legal, com garantia do contraditório e da ampla defesa. Todavia, não admitem que sejam lançadas dúvidas genéricas sobre a lisura e a integridade dos magistrados brasileiros.
10. A Ajufe, a AMB e a Anamatra esperam do ministro Joaquim Barbosa comportamento compatível com o alto cargo que ocupa, bem como tratamento respeitoso aos magistrados brasileiros, qualquer que seja o grau de jurisdição.
Brasília, 2 de março de 2013.
Nelson Calandra
Presidente da AMB
Nino Oliveira Toldo
Presidente da Ajufe
Renato Henry Sant’Anna
Presidente da Anamatra
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A MÁQUINA DA NOTÍCIA PODE VIRAR SUCATA




Nos anos de 1970 e de 1980, o Jornal Nacional da TV Globo se orgulhava de ter uma média de 80% de audiência. Oscilava entre o primeiro e o segundo lugares no ranking de popularidade junto ao público da emissora. Hoje, o JN patina nos 27% de audiência e está no quinto lugar na lista dos programas mais vistos na Globo, atrás até mesmo do pouco expressivo seriado Pé na Cova.
Esta brutal mudança de status não pode ser atribuída a alguma defasagem técnica ou concorrência de outro telejornal. A Globo continua usando o que há de mais moderno em matéria de tecnologia, mantém o maior e mais bem pago plantel de jornalistas da tevê brasileira e nenhuma outra emissora consegue bater a Vênus Platinada em matéria de coberturas internacionais, de temas políticos ou econômicos, e na mobilidade das equipes de reportagem. Só enfrenta alguma concorrência da TV Record na cobertura de crimes, tragédias e escândalos sociais.
Pode-se alegar que a concorrência do canal fechado GloboNews – e seus similares na Band e Record – tenha levado os públicos A e B para um nicho informativo mais exclusivo, deixando a tevê aberta como um reduto das classes C e D, supostamente menos interessadas em jornalismo. Mas acontece que tanto o Jornal Nacional como seus similares na tevê paga seguem estritamente o mesmo modelo jornalístico, a mesma fórmula para lidar com a audiência.
A explicação para a perda de audiência do Jornal Nacional está fora da emissora. Está nos quase 150 milhões de brasileiros que todas as noites ligam a tevê. Este público perdeu a atração quase mística pelo noticiário na televisão, como acontecia entre os anos de 1970 a 1990, passando para um posicionamento desconfiado, distante e cético. A narrativa telejornalística deixou de ser discursiva para ganhar ares menos ufanistas, menos formalista e mais próxima da realidade, mas nem isso fez com que o telespectador baixasse a guarda.
Esse comportamento não é exclusivo do telespectador, pois também o leitor de jornais e de revistas é, sobretudo, um cético quando se trata de avaliar publicações. Em qualquer conversa sobre o noticiário impresso ou audiovisual, o número de críticas sempre supera – por larga margem – a quantidade de elogios.
Há 20 ou 30 anos, as pessoas discutiam os fatos, dados e eventos noticiados na tevê e nos jornais. Hoje, o leitor e o telespectador se mostram mais preocupados em identificar quem está por trás da notícia, quem são os beneficiários e os prejudicados. Ao longo dos anos, o público, de maneira geral, começou a perceber que os entrevistados e protagonistas do noticiário estavam mais preocupados com sua imagem pessoal do que com a informação. Que os eventos cobertos estavam ligados a interesses políticos, comerciais ou econômicos.
Como a imprensa raras vezes questionou esse tipo de comportamento, as pessoas assumiram, consciente e inconscientemente, que era necessário ter um pé atrás ao receber sua dose diária da realidade filtrada pelas redações. A sofisticação crescente do marketing pessoal, social, político e corporativo torna inevitável que celebridades, parlamentares, governantes e executivos tentem projetar para o público percepções que lhes sejam favoráveis. Pode ser eticamente nebuloso, mas é a regra do jogo.
O erro está no papel da imprensa que, em vez de questionar esse tipo de postura marqueteira, ou pelo menos identificar os interesses ocultos, simplesmente passou a publicar tudo o que recebia como informação, desde que fosse fornecido por fontes respeitáveis. A confiabilidade de dados e fatos deixou de estar atrelada a uma checagem jornalística para ficar pendente do status da fonte. Os jornais, revistas e telejornais se preocuparam mais com os formadores de opinião e tomadores de decisões do que com o público, que foi aos poucos perdendo a confiança naquilo que lhe era oferecido como sendo a verdade dos fatos.
A imprensa está pagando caro por esse erro estratégico porque a crise no modelo de negócios provocada pelas novas tecnologias de comunicação e informação fez com que ela se tornasse mais dependente do consumidor de notícias, justo no momento em que cresce o ceticismo e desconfiança do público em relação ao noticiário corrente. Ceticismo que assume proporções endêmicas no público jovem, com menos de 35 anos e que em breve estará na liderança dos governos, das organizações sociais e das empresas.
A solução para esse problema não está em tecnologias mais sofisticadas, mas na revisão das estratégias editoriais que priorizam os interesses das fontes e das empresas jornalísticas. O jornalismo tem em seu DNA a prestação de serviços ao público, e é aí que ele pode encontrar novas fórmulas de relacionamento com leitores, ouvintes, telespectadores e internautas.
Trata-se de uma escolha histórica porque, se ela não for feita, corremos o risco de desperdiçar toda a experiência e sabedoria de várias gerações de jornalistas que têm muito a transmitir para os novos profissionais e amadores. Estes inevitavelmente vão mudar a imprensa porque já nasceram com um chip digital embutido em sua cultura informativa. Mas também inevitavelmente passarão por muitas decepções e revezes porque a experiência é única e insubstituível.
Se as atuais empresas jornalísticas ignorarem o público como seu parceiro para continuar a vê-lo apenas como comprador de notícias, elas não sobreviverão e serão substituídas por outras. O preço a ser pago é o desperdício de quantidades imensas de informação acumuladas ao longo dos anos e que podem virar sucata junto com marcas jornalísticas centenárias.
Carlos Castilho
No Limpinho&Cheiroso
Fonte   Blog do Saraíva
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