terça-feira, 5 de julho de 2011

PROFESSORA AMANDA GURGEL RECUSA PRÊMIO DO PNBE


Natal, 02 de julho de 2011

Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,

Professora Amanda Gurgel

(Fonte: Blog da Amanda)

         FONTE: Alternativa 

O NOSSO FUTURO E O CASACO DE 29 REAIS

Qual dessas fusões o BNDES financia?



por Luiz Carlos Azenha

Vivemos tempos interessantes. A acreditar no noticiário, falta dinheiro aos governos.
No entanto, o Rio de Janeiro é um canteiro de obras.
E os estádios sobem.
E o BNDES — sim, eu sei, a BNDESPar — ajuda o Abílio, o Eike e outros pobres milionários.
Não, não há dinheiro para investir nos grandes equalizadores: educação pública e gratuita para todos (com bons salários para os professores) e banda larga realmente larga e universal para todos.
Lá na Coreia do Sul eles deram um jeito. Tudo bem, já entendi, sei que o país, comparado ao Brasil, é pequeno e a densidade demográfica é grande. Custaria mais caro, aqui, fazer o backbone feito lá, através do qual o estado cripto-comunista espalhou as redes de fibra ótica.
Lá foi dinheiro público financiando a iniciativa privada: quem cuidou e cuida da “última milha” são as empresas de telefonia e internet. Mas, ao controlar a infraestrutura, além de garantir a própria soberania na idade da informação, fazendo as ferrovias do século 22, o estado sul coreano ganhou poder de barganha diante das empresas privadas. Ditou as regras com um porrete na mão: lá, segundo a OECD (Organização para a o Desenvolvimento e Cooperação Econômica) 100 mbps pelo equivalente a 60 reais mensais; aqui, 1mbps por 35 reais. Nossa vantagem é que temos a Anatel para garantir que o serviço será de fato prestado nas condições propagandeadas…
[Ao contrário do que vocês imaginam, não apoio a banda larga como ferramenta para combater o PIG. É para impulsionar os pequenos empreendedores e negócios. Para facilitar a produção e disseminação de conteúdo cultural regional. Como forma de aumentar a mobilidade urbana.  Para impulsionar a indústria nacional ligada às tecnologias de informação.Como descobriram os japoneses e os sul coreanos, ter uma banda larga realmente veloz e universal cria uma série de novos "problemas" e a solução para eles exige inventividade e criatividade. Starcraft vicia, mas também cria emprego!]
Aqui, só falta escalar o ministro para vender o combo da Telefonica. Não duvido que em breve surja alguma lei exigindo número de telefone fixo para tirar documento. Aí vai ser possível empurrar dois serviços ruins combinados nas classes C e D. Aliás, o que é do projeto que extinguiria a cobrança da “mensalidade” dos telefones?
Ao contrário do que imaginávamos, vivemos o aprofundamento do sistema pelo qual os lucros são privatizados e os prejuízos, socializados. Taí o resgate de Wall Street para não me deixar mentir. Depois, a Grécia. Agora, privatizaram o Paulo Bernardo.
Como repetiu um milhar de vezes um antigo leitor deste site, hoje sumido, as empresas-casca da telefonia terceirizaram tudo. Ficaram apenas com o financeiro. E remetem os lucros obtidos no Brasil para tapar buraco na matriz. Agora, diz um executivo do banco Santander, eles vão correr atrás da classe C e D no Brasil. Como alertou a Conceição Oliveira, corram!
Ou, como disseram os bancários no Pacaembu, na final da Libertadores:
O fato é que nós, assalariados, já não temos mais representação política.
Quantos governadores ou deputados você viu, recentemente, defendendo os professores grevistas em Minas GeraisOu em Santa Catarina?
E os bombeiros que se amotinaram no Rio de Janeiro? Quem é que se arrisca a dar a cara a tapa e dizer que apoia a PEC 300, que aumenta os salários dos policiais?
Vejam bem, caros amigos: os salários são inflacionários! Quem sugere é ministro de um governo do Partido dos Trabalhadores!
Notaram como a falta de dinheiro público é relativa?
Depois de toda a gastança e a gatunagem que precederá a Copa do Mundo no Brasil, lá pelos fins de 2013 ainda vão tentar nos convencer de que precisamos fazer “trabalho voluntário” no evento.
E, às vezes, o que parece uma vantagem imediata pode ter consequências terríveis a longo prazo.
Como não entendo de economia, deixo para vocês os comentários. Apenas conto o causo.
1985. Acabo de desembarcar em Nova York, para trabalhar como correspondente da Rede Manchete. Um dia sim, outro também, um dos jornais importantes publica reportagem sobre um “terrível” problema do Japão: o país é fechado às grandes redes varejistas dos Estados Unidos. Por conta disso, os jornalistas estadunidenses associam os japoneses ao atraso. Os mercadinhos são um horror, os preços são altos, a qualidade é péssima, etc.
Aquele soldado japonês que não sabe que a Segunda Guerra acabou fica no mato por culpa da péssima qualidade das lojinhas “pop e mom” do Japão…
Foi a primeira campanha do PIG internacional que vi de perto, ainda que sem entender direito, na época, o que estava acontecendo.
Mais para a frente, lá pela metade dos anos 90, percebi em retrospectiva o que tinha acontecido: foi quando, nas minhas andanças pelos Estados Unidos (modéstia à parte, em meus vinte anos por lá só não fui à Dakota do Norte) descobri a grande campanha que se organizava contra o Walmart, que existe até hoje e que rendeu até mesmo um documentário, Walmart: O alto custo dos preços baixos.
Só que, se a campanha para “abrir” o Japão tinha ocupado as manchetes da grande mídia americana, a campanha local contra o Walmart mereceu um silêncio ensurdecedor…
O argumento contra o Walmart é de que o conglomerado detona o comércio local e, portanto, compromete a sobrevivência das pequenas cidades. Há um toque saudosista e conservador na campanha, quando se diz que a rede detona “the real America”. Solapa a base fiscal. Substitui centenas de salários médios por dezenas de salários miseráveis. Faz isso contando com o gigantesco poder de barganha diante dos fornecedores e, acima de tudo, com a capacidade de importar imensas quantidades de produtos baratos da China. O Walmart compra cerca de 10% de tudo o que a China exporta para os Estados Unidos!
Ontem, depois de publicar um texto de um leitor manifestando preocupação com a concentração dos supermercados no Brasil, tive a sensação de déjà vu, quando um colega jornalista contou que tinha ido ao Walmart e comprado um casaco made in China por apenas 29 reais.
Ei-lo:
A pergunta que me assalta é: corremos o risco de ver, no Brasil, o mesmo fenômeno que testemunhei nos Estados Unidos?
É possível que o Brasil enfrente ao mesmo tempo dois fenômenos contemporâneos turbinados pelo crescimento da China, a saber: a desindustrialização e o “desvarejo”?
Qual é o risco de a gente, gastando os tubos na Disney – agora que o Disney On Ice no Brasil é bancado com dinheiro público –  descobrir, de repente, que só nos resta produzir alimentos para os porcos asiáticos?
Se eu comprar o casaco de 29 reais, é bom porque combato a inflação ou é ruim porque exporto um emprego para a China?
Fonte: Vi O Mundo
Comentário Brasil's News:  Ótima análise da conjuntura econômica e consistente questionamento sobre o fato que nunca há dinheiro para a educação e a saúde (PERNAMBUCO PAGA O PIOR SALÁRIOS PARA PROFESSOR DO BRASIL) no entanto a ajuda a quem já é bilionário permanece e a corrupção campeia. (the teacher)

BOM DIA, PROFESSORA, COMO VAI?

terça-feira, 5 de julho de 2011


Reflexões de uma Educadora
Fui alfabetizada numa escola na costa do Rio Cavernoso, divisa de Laranjeiras do Sul com Candói, então distrito do município de Guarapuava e hoje emancipado.
A nossa professora, dona Lorena tinha um quadro de giz e 30 alunos sendo de primeira a quarta serie.
A merendeira era um dia ela e noutro também. Enquanto nós, alunos limpávamos a sala, todo mundo motivado, aprendíamos e ensinávamos, os maiores sempre acabavam nos ajudando em nossas tarefas. Foi aí que comecei a gostar a e pensar em ser professora.
Cresci em tempos difíceis e me formei durante o regime autoritário, sendo que meus pais eram gente simples e viviam ora como arrendatários ora como meeiros de terras.
Nessa época, falar em greves, significava ser contra-ordem e “gentilmente” éramos convidados a passar uns tempos em uma cela e ser rotulado de baderneiros, ainda que fossemos os professores, muitas vezes, dos filhos de nossos algozes.
Era tempo de aflição e nesse tempo, a música era um dos instrumentos, uma das vozes a se levantar contra a arbitrariedade.
Basta ver em Geraldo Vandré, na letra de Aroeira, a similitude:
“Vim de longe, vou mais longe
Quem tem fé vai me esperar
Escrevendo numa conta
Pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar”
Hoje, a liberdade permite que uma professora, estando no cargo de Secretária de Educação, venha a público e diga que não negocia com grevistas...
Não conhece, por certo, a História escrita com sangue, suor e lágrimas, inclusive, de muitos professores para que houvesse a democracia e por isso, desconsidera o significado social de uma greve.
Deve ser lembrada que toda legislação trabalhista brasileira, considera a greve um direito do trabalhador consignado na Constituição.
O que uma professora ou professor vai ensinar para seus alunos em relação a luta por direitos?
Que exemplo estranho é esse?
Mas, talvez, aprendeu com um certo ex-presidente que pediu para esquecerem o que havia escrito, agora, nossa ilustre Secretária de Educação quer que esqueçamos o tempo em que defendeu bandeiras petistas e hoje, as rasga publicamente.
No som de Geraldo Vandré, todos a cantar:
“Noite e dia vêm de longe
Branco e preto a trabalhar
E o dono senhor de tudo
Sentado, mandando dar.
E a gente fazendo conta
Pro dia que vai chegar”
Dóceis. Humilhados. Resignados a uma condição inglória, um após outro, professores estão voltando a sala de aula. O que dirão a seus alunos? Que exemplo de coragem e ousadia? O que pensarão seus alunos a respeito de sua submissão?
Nas estrofes de Aroeira, uma esperança:
“Eu também sou marinheiro
Eu também sei governar.
Madeira de dar em doido
Vai descer até quebrar
É a volta do cipó de arueira
No lombo de quem mandou dar”.
Amanhã, junto com a alegria do reencontro dos alunos, haverá no olhar cabisbaixo de cada professor, tristeza e dor. Como diz os versos de Geraldo Vandré, em Mato Grosso, na Educação, “É a volta do cipó de arueira. No lombo de quem mandou dar”. Bravos professores que não se curvaram, pois aquele que acostuma a beijar a mão que lhe açoita, não sabe o significado e tem medo da liberdade.
Hilda Suzana Veiga Settineri


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