sexta-feira, 29 de março de 2013

MESMO COM INFLAÇÃO NA META, DILMA SOFRE NA MÍDIA



Jornais tradicionais alinham corredor polonês contra presidente à sombra do fantasma da inflação; mas gestão Dilma Rousseff alia crescimento do emprego e renda a inflação sob controle; em dez anos, petismo formou taxa inflacionária de 74%, contra 100% em oito anos de Fernando Henrique; Brasil com Lula e Dilma enfrentou crises internacionais tão ou mais graves do que as de FHC; editoriais malham, mas sem números; confira dados



247 - É para colocar no currículo. Na sexta-feira 29 de feriado religioso, sem pressa de encontrar tema mais relevante, a mídia tradicional dedicou três editoriais à desconstrução de uma frase da presidente Dilma Rousseff – repita-se, três editoriais contra uma frase –, e pelo menos um artigo. Todo o pacote resumido na primeira linha do manifesto da Folha, no melhor estilo do concorrente Estadão:
- Foram lesivas à credibilidade da política econômica da presidente Dilma Rousseff suas declarações sobre inflação na cúpula dos Brics em Durban, na África do Sul. Reforçaram a percepção de que o governo federal não tem estratégia definida para lidar com os desafios da economia e do regime de metas inflacionárias (íntegra abaixo).
Foram lesivas para quem, camarada? Na repercussão concreta da taxa de juros futuros na Bolsa Mercantil & Futuros – o octógono do vale tudo financeiro --, na quinta 28, as taxas previstas caíram. Para a interpretação objetiva, de mercado, do dito antagonismo entre crescer economicamente e controlar preços, venceu a tese de que o primeiro plano não é incompatível com o segundo. Fosse diferente, muitos outros indicadores teriam despertado do marasmo dos últimos tempos, como a taxa de câmbio, os títulos da dívida brasileira, o volume de negócios na bolsa de valores nacional.
Nada houve, fora a espuma. Fazendo projeções obscurantistas, sem anotar as distorções do interesse da especulação, o plantão permanente dos predadores contrariados do mercado financeiro e, em especial, os números objetivos da economia, as publicações de papel das famílias Frias, Mesquita e Sirotski cravaram que o governo Dilma não tem compromisso com o controle da inflação. É falso.
Em Durban, diante dos líderes dos Brics, que genuinamente vêem no Brasil um modelo de desenvolvimento com democracia, Dilma apenas e tão somente reafirmou os compromissos de sua gestão, e do grupo político que representa, com o desenvolvimento. O crescimento, apontado para 3,1% para este ano, melhor resultado a ser alcançado no último triênio, é muito compatível com um mundo em crise. Absolutamente dentro das melhores previsões internas. E se soma, no ritmo já praticamente assegurado de subida de 1% no primeiro trimestre do ano, a taxas históricas de emprego de mão de obra e de superação coletiva da miséria.
O que colunistas como Miriam Leitão, na ortodoxia das páginas de O Globo, ou editorialistas tais quais os digitadores da Folha, Estadão e Zero Hora não medem é o cruzamento entre índices – talvez por inaptidião, certamente por má vontade. Os componentes de resgate social, de manutenção do emprego e de preservação do dinamismo da economia têm peso objetivo no julgamento dos índices de preços.
Tal qual a paz dos cemitérios, do que valeriam para os brasileiros comuns percentuais decimais – será isso? – como os prometidos por fórmulas mirabolantes dos ex-diretores do Banco Central Ilan Goldfajn e Alexandre Schwartsman, arautos do desemprego, ao custo de milhões de falências pessoais e familiares provocadas pela desocupação. Exibir um número bonito?
Não são feios, ao contrário, os números de inflação apresentados pelo governo Dilma. Nos dois primeiros anos, a soma das taxas de cada período de doze meses resultou em 6,19% -- contra 8,77% da resultante do mesmo IPC somado nos dois primeiros anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. Alegam ele e sua antiga equipe, como os economistas Pedro Malan e Armíno Fraga, que havia no período de 1995 a 2003 uma permanente crise internacional. E agora, nos últimos dois anos, por acaso assistiu-se a um filme diferente?
Em oito anos de gestão, para mostrar um número redondo, a administração FHC acumulou uma taxa inflacionária de 100,6%. Nos oito anos de governo do ex-presidente Lula e dois, até aqui, da presidente Dilma, pelo mesmo método de medição, a subida de preços foi de 74%. E em dez anos, não em oito, somente. São 24 meses de vantagem desperdiçada pela fórmula mágica da aliança político-midiática.
Abaixo, para os próximos editoriais, uma lembrança histórica da inflação entre 1995 e 2002, segundo os principais medidores:
Ano      IGP-DI (FGV)       IGP-M (FGV)      IPC (FGV)      INPC (IBGE)      IPCA (IBGE)
1995            14,78                  15,25                   25,91            21,98               22,41
1996               9,34                    9,20                   11,34             9,12                9,56
1997               7,48                    7,74                     7,21             4,34                5,22
1998               1,70                    1,78                     1,66              2,49                 1,65
1999              19,98                 20,10                     9,12              8,43                8,94
2000                9,81                    9,95                     6,21             5,27                5,97
2001              10,40                  10,38                     7,94             9,44                7,67
2002              26,41                   25,31                   12,18           14,74              12,53
Na média anual da inflação, os ultimos dois governos e o atual ficaram assim:
FHC 1 – 9,71%
FHC 2 – 8,77%
FHC 8  anos – 9,24%
LULA 1 – 6,43%
LULA 2 – 5,14%
LULA 8 anos – 5,78%
DILMA 2 anos – 6,17%
Para sua consideração, os editorais da mídia tradicional e o artigo da jornalista de O Globo Miriam Leitão:
Atropelos de Dilma - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 29/03
Presidente constrange BC com declaração desajeitada sobre combate à inflação, que segue em alta, e depois ainda diz que foi mal interpretada
Foram lesivas à credibilidade da política econômica da presidente Dilma Rousseff suas declarações sobre inflação na cúpula dos Brics em Durban, na África do Sul. Reforçaram a percepção de que o governo federal não tem estratégia definida para lidar com os desafios da economia e do regime de metas inflacionárias.
Ontem, um dia depois das declarações de Dilma, o BC publicou seu relatório do primeiro trimestre com novas projeções de inflação, sensivelmente piores que as do final do ano passado. O BC espera que o IPCA suba 5,7% neste ano, bem acima dos 4,9% prognosticados em dezembro. Para 2014, a expectativa subiu de 4,8% para 5,3%.
O tropeço retórico presidencial começou por atribuir ao Ministério da Fazenda, e não ao Banco Central, o papel de discorrer sobre inflação. Parece uma questão semântica, mas não é.
O mandato de controlar a inflação pertence ao BC. Desde que o presidente do banco passou a ter status de ministro, até mesmo sua subordinação formal à pasta da Fazenda deixou de existir.
A presidente também declarou não concordar com um combate à inflação que implique redução do crescimento econômico. Para ela, o receituário "que quer matar o doente em vez de curar a doença" estaria datado.
Por fim, Dilma atribuiu o problema a flutuações de preços no curto prazo, visão contestada por grande número de especialistas. O segmento de serviços, por exemplo, mantém alta persistente, à taxa de 8% ao ano.
A fala de Dilma foi considerada incompatível com manifestações do BC, que vem sinalizando em seus comunicados o desconforto com a inflação e a possibilidade de ter de elevar os juros para contê-la. Alertada sobre a reação negativa do mercado financeiro, a presidente voltou à carga para dizer que suas afirmações haviam sido manipuladas e mal interpretadas.
O ponto nevrálgico não está em uma ou outra má palavra da presidente, mas no atropelo do BC. Ainda assim, chama a atenção a imperícia na comunicação do governo, que deixa a sensação de improviso. Não há um estado-maior para definir um rumo claro e alinhar as percepções do setor privado. Aos trancos e barrancos, o governo parece enfrentar apenas o desafio -ou o deslize- de cada dia.
A inflação sobe. O crescimento permanece deprimido. As contas externas pioram. E o investimento, que seria a marca do governo Dilma Rousseff, não dá sinais de sair da letargia.
Qual é a estratégia? A colcha de retalhos formada pelas declarações das autoridades sugere resposta sombria: não há nenhuma à vista.
O bicho inflação - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 29/03
A inflação está alta, o governo passa mensagens ambíguas sobre que prioridade tem o combate à inflação na política econômica; há dúvidas sobre a autonomia do Banco Central, e parte da alta de preços tem sido camuflada ou adiada. Mesmo assim, a taxa vai estourar o teto da meta no trimestre que começa semana que vem. E é esta a maior ameaça ao crescimento.
A presidente pode ficar brava com a maneira como a sua frase foi noticiada, mas o que ela disse foi exatamente isso: "eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico" Essa era o final de uma declaração que ela havia começado dizendo que era o ministro da Fazenda quem falava sobre a inflação e que terminou criticando "o remédio que mata o paciente"
Três erros. Primeiro: o Banco Central é o responsável pelo cumprimento das metas de inflação, e o ministro da Fazenda deve cuidar da política fiscal, suporte indispensável de qualquer estabilidade. Segundo: é exato o oposto do que a presidente disse. O que deveria causar a ela incredulidade é a possibilidade de manter o crescimento num ambiente de alta de inflação. E terceiro, em inflação não usar remédio é que ameaça o paciente.
Por sua natureza, a inflação, quando sobe, consome renda e capacidade de consumo, desorganiza a economia, aumenta a incerteza e isso leva à retração dos investimentos. Uma inflação baixa e previsível é o melhor ambiente para a construção de um projeto de crescimento.
Mas isso o governo sabe. Tanto que o relatório de inflação de ontem diz exatamente isso. "O Copom ressalta que a evidência internacional, no que é ratificada pela experiência brasileira, indica que taxas de inflação elevadas geram distorções que levam a aumentos de riscos e deprimem os investimentos." Diz também que "taxas de inflação elevadas subtraem o salários".
Não adianta escrever isso e entrar no terceiro ano repetindo que não é realista levara inflação de volta a 4,5% como fez ontem de novo, reproduzindo o mesmo raciocínio da primeira ata do Copom do governo Dilma. O fato é que nos anos Dilma a inflação ficou mais alta, e o Banco Central aceita que ela se acomode em ponto perto do teto da meta. Os economistas que defendem o governo gostam de lembrar que está havendo choques de por exemplo. Sim, tem havido choques de preços. É por isso que tem que se voltar com a meta para o centro, para que o espaço de flutuação cumpra o seu papel de absorver esses impactos. Se ficar sempre no teto, ou acima, o choque levará para cada vez mais alto o índice de preços. De um relatório a outro, a previsão da inflação do ano pelo Banco Central - cenário de referência - aumentou quase um ponto percentual. Ele registra isso e repete que é devido aos "choques!
Parafraseando João do Vale em Carcará, a inflação é "um bicho que avoa que nem avião" Por isso, é preciso ser contida e quanto mais cedo melhor, porque ela é um predador, como sabemos. Não está fora de controle, mas está alta demais em que qualquer descuido a fará fugir ao controle e subir.
Não adianta muito garantir que a estabilidade é um valor em si para o governo, se nos seus atos - e várias palavras - ele demonstra o oposto. A inflação tem estado constantemente acima do centro da meta, e isso apesar das medidas tomadas de postergação de correções de preços que servem apenas para mascarar o problema.
A pedido da coluna, a analista Adriana Molinari calculou quanto seria a inflação sem alguns dos truques do governo. Em fevereiro, por exemplo, teria sido de 1%, o que elevaria a taxa anual para 7,08%. Um desses truques é postergação de aumentos, como o de ônibus, o outro é o da redução da energia, que todos sabem que será neutralizado em grande parte pelo uso das térmicas. O economista Elson Teles, do Itaú Unibanco, acha que alimento em casa deve estar em 15%, em doze meses, neste mês de março. O país está atravessando um período em que naturalmente alimento pesa muito pela alta dos preços de legumes, verduras e frutas.
Independentemente das explicações localizadas, das altas sazonais, o fato é que a inflação está perigosamente andando no teto da meta e, na prática, poderia já ter estourado. O risco é alto. E quando o governo tem que passar um dia inteiro explicando uma declaração é que ela foi infeliz.
Uma leitura para Dilma - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 29/03
A economia brasileira crescerá 3,1% neste ano, com inflação de 5,7%, muito acima dos 4,8% projetados no fim de 2012, segundo as novas estimativas do Banco Central (BC). Os preços continuarão subindo bem acima da meta, de 4,5%, pelo menos até o primeiro trimestre de 2015, de acordo com o Relatório de Inflação, um panorama divulgado a cada três meses pelo BC. Rico de informações e projeções sobre a economia nacional e os mercados globais, esse estudo seria, no entanto, mais completo, e muito mais realista, se incluísse uma seção especial sobre as intervenções desastradas da presidente Dilma Rousseff na política de contenção de preços. A última interferência notável ocorreu na quarta- feira, véspera da publicação do relatório. O palavrório estabanado da presidente, numa entrevista em Durban, na África do Sul, provocou tensão no mercado financeiro, seguida de explicações oficiais, desmentidos e uma reação irada da própria Dilma.
"Foi uma manipulação inadmissível de minha fala", disse a presidente, numa vã tentativa de atribuir a outras pessoas o próprio erro. Não houve manipulação. Durante o dia todo as emissoras de televisão reapresentaram a desastrada fala presidencial sobre a "política superada" de combate à inflação. Sua declaração foi interpretada, como era de esperar, como condenação do uso dos juros no combate à inflação. Nenhuma outra interpretação seria mais compatível com o discurso habitual de quem apresenta como conquista do governo a redução dos juros básicos.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, foi mobilizado para cuidar do estrago. Em entrevista ao Broadcast, serviço de informação em tempo real da Agência Estado, ele tentou desfazer o "mal-entendido". Afirmou o compromisso da presidente com o combate à inflação como "um valor em si", negou a tolerância à inflação e acrescentou uma explicação tão importante quanto tardia: "De inflação fala a equipe econômica. Em relação à política de juros fala o BC". Mas esta e a mais perfeita negação do comportamento habitual da presidente e também do ministro da Fazenda. Sobram razões para ninguém levar a sério, desde o começo do atual governo, o discurso oficial sobre a autonomia do BC.
O escorregão presidencial já seria bastante grave, e até grotesco, se o episódio tivesse terminado na quarta- feira. Seria difícil, no entanto, apagar em tão pouco tempo as impropriedades ditas em tom professoral pela presidente da República. Ela tentou provar seu ponto de vista apontando o contraste do baixo crescimento econômico do ano passado com a inflação próxima de 6%. Segundo ela, a alta de preços decorreu de um fator externo e fora do controle do Brasil - a alta das cotações das commodities. Qual teria sido o crescimento - esta é a pergunta implícita - se os juros tivessem subido?
É uma argumentação ingênua, incrivelmente inepta e desmentida no Relatório de Inflação divulgado ontem. Ao mencionar a resistência da inflação, o documento cita a alta de preços do setor de serviços (8,66% nos 12 meses até fevereiro), "a maior dispersão recentemente observada" nos aumentos de preços ao consumidor, além de "pressões sazonais e pressões localizadas no segmento de transportes, entre outros fatores".
Faltou acrescentar: o encarecimento dos serviços e a dispersão dos aumentos são claros indícios de inflação de demanda, sustentada por fatores também citados no relatório, como a geração de emprego e renda e a expansão do crédito (moderada, segundo o BC, mas nem tanto). Falta uma ressalva. Não se pode chamar de "recente" a dispersão dos aumentos, há muito tempo destacada pelos analistas independentes.
Para completar, o relatório contesta a oposição simplória entre crescimento econômico e combate à inflação. Segundo o documento, a evidência internacional, ratificada pela experiência brasileira, aponta distorções graves resultantes da inflação elevada. Essas distorções aumentam os riscos e deprimem os investimentos, encurtando os horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos e reduzindo a confiança dos empresários. Em suma, taxas altas de inflação "reduzem o potencial de crescimento da economia" e as possibilidades de geração de emprego e renda. Esse relatório seria uma leitura instrutiva para a presidente.
Cutucada da inflação - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 29/03
A presidente da República não pode levar em conta apenas o impacto dos níveis de crescimento sobre a inflação. Precisa se preocupar também com os efeitos perversos da elevação do custo de vida sobre a economia de maneira geral.
Preocupada com os efeitos de uma declaração impensada sobre inflação e crescimento econômico, a presidente Dilma Rousseff voltou correndo aos microfones para dizer que seu comentário havia sido manipulado. Não foi exatamente o que aconteceu. O que ocorreu foi resultado da extrema sensibilidade de um mercado que, permanentemente preocupado em potencializar os ganhos, interpretou a fala presidencial como um sinal de que não haverá alta da taxa básica de juros para conter a inflação. Menos mal que a presidente se deu conta das consequências e reagiu rapidamente, procurando recolocar as coisas no seu devido lugar: o governo não renunciará à política de combate inflexível e permanente da inflação. Mas ficou o alerta: o dragão está vivo e não deve ser cutucado com vara curta.
Em Durban, onde esteve reunida com representantes do Brics _ o grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul _, a presidente da República demonstrou preocupação com o "receituário que quer matar o doente em vez de acabar com a doença", considerando superada qualquer possibilidade de prejudicar o crescimento. O que contribuiu mais para uma redução nos juros futuros, porém, foi a afirmação de que as questões específicas sobre inflação são da alçada do ministro da Fazenda. No Brasil, política monetária compete ao presidente do Banco Central, a começar pelo fato de que o controle da inflação segue uma política de metas. Quando falta clareza em relação a esses aspectos dentro do governo, o mercado aproveita a oportunidade para ampliar seus próprios ganhos, o que normalmente implica perdas para a sociedade de maneira geral.
Até a manifestação presidencial, e desde a afirmação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de que a inflação estava em nível desconfortável, o mercado vinha apostando com mais força numa elevação da taxa básica de juros. Desde então, a tendência foi perdendo força, principalmente pelo fato de o Planalto ter continuado a apostar na política de redução de tributos. Foi o que ocorreu com a cesta básica, apesar de os resultados efetivos ainda se mostrarem tímidos sob o ponto de vista do consumidor. Por isso, é positivo que, depois da reação desfavorável a sua manifestação, a presidente tenha reforçado a afirmação de que "o combate à inflação é um valor em si".
A presidente da República não pode levar em conta apenas o impacto dos níveis de crescimento sobre a inflação. Precisa se preocupar também com os efeitos perversos da elevação do custo de vida sobre a economia de maneira geral. A garantia do poder aquisitivo dos consumidores é um pressuposto para que o país volte a conviver com níveis adequados de um desenvolvimento sustentado, menos vulnerável a mal-entendidos e aos humores do mercado.

  Fonte:   Brasil 247  

O PERFEITO IMBECIL POLITICAMENTE INCORRETO


sexta-feira, 29 de março de 2013


                



Por Cynara Menezes, na revista “Carta Capital”

“No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião. Saiba como reconhecê-lo. 

Em 1996, três jornalistas –entre eles o filho do Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, Álvaro –lançaram com estardalhaço o “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”. Com suas críticas às idéias de esquerda, o livro se tornaria uma espécie de bíblia do pensamento conservador no continente. Vivia-se o auge do deus mercado e a obra tinha como alvo o pensamento de esquerda, o protecionismo econômico e a crença no Estado como agente da justiça social. Quinze anos e duas crises econômicas mundiais depois, vemos quem de fato era o perfeito idiota.

Mas, quem diria, apesar de derrotado pela história, o Manual continua sendo não só a única referência intelectual do conservadorismo latino-americano como gerou filhos. No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião que, no fundo, disfarça sua real ideologia e as lacunas em sua formação. Como de fato a obra de Álvaro e companhia marcou época, até como homenagem vamos chamá-los de “perfeitos imbecis politicamente incorretos”. Eles se dividem em três grupos:

1. O “pensador” imbecil politicamente incorreto: ataca líderes LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trânsgeneros) e defende homofóbicos sob o pretexto de salvaguardar a liberdade de expressão. Ataca a política de cotas baseado na idéia que propaga de que não existe racismo no Brasil. Além disso, ações afirmativas seriam “privilégios” que não condizem com uma sociedade em que há “oportunidades iguais para todos”. Defende as posições da Igreja Católica contra a legalização do aborto e ignora as denúncias de pedofilia entre o clero. Adora chamar socialistas de “anacrônicos” e os guerrilheiros que lutaram contra a ditadura de “terroristas”, mas apoia golpes de Estado “constitucionais”. Um torturado? “Apenas um idiota que se deixou apanhar.” Foge do debate de ideias como o diabo da cruz, optando por ridicularizar os adversários com apelidos tolos. Seu mote favorito é o combate à corrupção, mas os corruptos sempre estão do lado oposto ao seu. Prega o voto nulo para ocultar seu direitismo atávico. Em vez de se ocupar em escrever livros elogiando os próprios ídolos, prefere a fórmula dos guias que detonam os ídolos alheios –os de esquerda, claro. Sua principal característica é confundir inteligência com escrever e falar corretamente o português.

2. O comediante imbecil politicamente incorreto: sua visão de humor é a do ‘bullying’. Para ele não existe o humor físico de um Charles Chaplin ou Buster Keaton, ou o humor ‘nonsense’ do Monty Python: o único humor possível é o que ri do próximo. Por “próximo”, leia-se pobres, negros, feios, gays, desdentados, gordos, deficientes mentais, tudo em nome da “liberdade de fazer rir”. Prega que não há limites para o humor, mas é uma falácia. O limite para esse tipo de comediante é o bolso: só é admoestado pelos empregadores quando incomoda quem tem dinheiro e pode processá-los. Não é à toa que seus personagens sempre estão no ônibus ou no metrô, nunca num 4X4. Ri do office-boy e da doméstica, jamais do patrão. Iguala a classe política por baixo e não tem nenhum respeito pelas instituições: o Congresso? “Melhor seria atear fogo”. Diz-se defensor da democracia, mas adora repetir a “piada” de que sente saudades da ditadura. Sua principal característica é não ser engraçado.

3. O cidadão imbecil politicamente incorreto: não se sabe se é a causa ou o resultado dos dois anteriores, mas é, sem dúvida, o que dá mais tristeza entre os três. Sua visão de mundo pode ser resumida na frase “primeiro eu”. Não lhe importa a desigualdade social desde que ele esteja bem. O pobre para o cidadão imbecil é, antes de tudo, um incompetente. Portanto, que mal haveria em rir dele? Com a mulher e o negro é a mesma coisa: quem ganha menos é porque não fez por merecer. Gordos e feios, então, era melhor que nem existissem. Hahaha. Considera normal contar piadas racistas, principalmente diante de “amigos” negros, e fazer gozação com os subordinados, porque, afinal, é tudo brincadeira. É radicalmente contra o Bolsa-Família porque estimula uma “preguiça” que, segundo ele, todo pobre (sobretudo se for nordestino) possui correndo em seu sangue. Também é contrário a qualquer tipo de ação afirmativa: se a pessoa não conseguiu chegar lá, problema dela, não é ele que tem de “pagar o prejuízo”. Sua principal característica é não possuir ideias além das que propagam os “pensadores” e os comediantes imbecis politicamente incorretos.”

FONTE: escrito por Cynara Menezes, na revista “Carta Capital”. Transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/cynara-menezes-o-perfeito-imbecil-politicamente-incorreto). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

ESTADÃO DESMENTE FHC E MOSTRA QUE DOCUMENTOS DO "PRIVATARIA TUCANA" SÃO AUTÊNTICOS"

                               


O Estadão, muito a contragosto, capitulou à realidade nua e crua e estragou a estratégia de José Serra e FHC de tentar desacreditar o livro "A Privataria Tucana", do premiado jornalista investigativo Amaury Ribeiro Júnior. José Serra e FHC malufavam ao dizer que os documentos são falsos. O Estadão os desmente e diz que são verdadeiros, e dá até a fonte de um deles, inédito até então, da CPI do Banestado. O título da reportagem é ruim de doer, seria análogo a escrever "Reportagem usa auto de apreensão de cocaína contra Nem da Rocinha"... o Estadão recorre a clichês para atenuar a denúncia, toda hora dizendo que Amaury é indiciado, mas para ser isento também deveria dizer que ele coleciona vários prêmios de jornalismo... mas de qualquer forma a reportagem tem o mérito de não fugir da realidade. O leitor do Estadão deve ter entrado em estado de choque ao saber, com retardo, muita coisa que os leitores de nosso blog já sabiam há muito tempo: - "... documentos inéditos da antiga CPI do Banestado que apontam supostas movimentações irregulares de recursos por pessoas próximas ao ex-governador José Serra (PSDB)...". 
 - "... Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de Serra, utilizou-se de uma conta operada por doleiros em Nova York para enviar US$ 1,2 milhão para a empresa Franton Interprises, que seria ligada ao ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira..." (Nota do blog: faltou falar da sociedade de Preciado com Serra em um terreno no Morumbi). - 

"... Indicado por Serra para o Banco do Brasil no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Sérgio é apontado na obra como suposto articulador da formação de consórcios que participaram do processo de privatização, graças a sua influência na Previ, fundo de pensão dos funcionários do banco estatal..." - 

"... Ricardo Sérgio controlava empresas em paraísos fiscais que teriam recebido supostas propinas de beneficiados pelo processo de privatização, entre eles o próprio Preciado, representante da espanhola Iberdrola na época em que a empresa comprou três estatais de energia no Brasil..." -

 "... A mesma empresa Franton recebeu US$ 410 mil de uma empresa pertencente ao grupo La Fonte, de Carlos Jereissati, que adquiriu o controle da Telemar (atual Oi) durante a privatização da antiga Telebrás..." -

 "... a redução de dívidas de empresas de Marin Preciado no Banco do Brasil quando Ricardo Sérgio era diretor... Entre 1995 e 1998, segundo o Ministério Público Federal, duas empresas de Preciado obtiveram desconto de cerca de R$ 73 milhões em um empréstimo que, originalmente, era de US$ 2,5 milhões. O valor final da dívida, segundo o livro, chegou a pouco mais de R$ 4 milhões..." -

 "...A Privataria Tucana também aborda a sociedade entre Verônica Serra, filha do ex-governador, e Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, na empresa Decidir.com, sediada em Miami. De acordo com o autor, a empresa foi transformada em uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas e, de lá, injetou recursos em uma empresa brasileira que tinha Verônica Serra como vice-presidente, a Decidir do Brasil..." 

(nota do blog: até que enfim, depois de 18 meses que nosso blog desafiou o jornalão a publicar). A reportagem é sóbria, seca e sem ilações. Ainda ficou devendo falar da arapongagem da empresa Fence sobre a vida de Aécio com dinheiro público paulista, do indiciamento de Verônica Serra por quebra de sigilo financeiro de milhões de brasileiros, e da movimentação do genro em paraísos fiscais, e dívidas previdenciárias. Mas para o leitor do Estadão que vem sendo adestrado a pedir a cabeça de ministros até por causa de multas de trânsito, a reportagem é mais do que suficiente para sentir o mau cheiro das relações da família Serra com essas roubalheiras todas. .

 Os Amigos do Presidente Lula, via facebook 

A MÁ VONTADE DO PIG É DE DAR PENA!




Projeção de crescimento aponta para PIB de 3,1% este ano, o maior do último triênio; desemprego de 5,6% é o menor em 14 anos, assim como a taxa de juros de 7,25% é a mais baixa dos últimos 20 anos; previsão do Banco Central é de queda de 15% na tarifa de energia e de 2% na de telefonia; empréstimos para empresas crescem 75% em janeiro na Caixa, apontando para investimentos produtivos; inadimplência se mantém estável; preços administrados devem subir 2,7%, dentro da meta traçada; por que esses números não são destacados pela mídia tradicional?

29 DE MARÇO DE 2013 ÀS 06:21

247 - Entre 1999 e 2002, na gestão do fundador do Gávea Investimentos, Armínio Fraga, na presidência do Banco Central, a inflação saltou de 8,44% para 12,53%, variando entre 5,97% e 7,67% nos dois anos intermediários. As metas de inflação daquele quadriênio estouraram por três vezes, sendo respeitadas, com a entrada na variação permitida pela banda pré-estabelecida, em apenas um exercício. Era o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, com Pedro Malan no Ministério da Fazenda. A alegação para a quebra de todos os limites impostos pelo próprio BC, invariável: culpa da crise internacional.
A mídia tradicional, naquela quadra histórica, não apenas compreendia o momento, como aquiescia diante das decisões e elevou Fraga ao patamar de intocável, no qual ele está até hoje.
Nos últimos dois anos, o cenário de crise permaneceu tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. O euro, moeda única do Velho Continente, quase virou pó, com os países membros da União Européia tendo conseguido um consenso em torno da manutenção de sua moeda apenas depois de meses de longas reuniões. Países industrializados como a Itália, ascendentes como Portugal e modelares como a Espanha chegaram perto de quebrar. Aconteceu com a Grécia. Para todos, foram necessários bilhões de euros em ajuda para impedir o pior. No entanto, os efeitos da crise que, para ser contida nos Estados Unidos, leva o Federal Reserv a manter as taxas de juros no patamar zero até 2015 – decisão anunciada formalmente –, não levaram o Banco Central do Brasil, como no passado da virada dos anos 1990 para 2000, a estourar suas metas. Ao contrário.
Com base nos indicadores econômicos dos três primeiros meses deste ano, o Banco Central apresentou nesta quinta-feira 28 projeção de crescimento do PIB para 2013 de 3,1%. O resultado, uma vez confirmado, será o melhor do último triênio. A taxa de desemprego, medida pelo IBGE, também hoje foi anunciada em de 5,6%, a menor da série histórica iniciada em 1999. Ou seja, a mais baixa em 14 anos.
Sobre investimentos produtivos, a Caixa Econômica Federal divulgou um dado relevante. A carteira de crédito para pessoas jurídicas (empresas) chegou a R$ 67 bilhões em fereiro, num salto de 75% sobre o mesmo mês do ano passado. A inadimplência de pagamentos, ao mesmo tempo, se mostrou estável em 2%. Os indicadores mostram que os empresários voltaram a tomar recursos para investimentos produtivos, e têm conseguido pagar suas contas junto ao credor CEF.
No campo dos preços, as previsões convergem para estimar uma baixa generalizada de 15% nas tarifas de energia elétrica, beneficiando consumidores residenciais e a indústria, e de 2% nas contas de telefonia. É uma redução próxima à espetacular para um País que já tem mais telefones celulares do que habitantes. Os preços administrados, que na projeção de dezembro divulgada pelo BC poderiam ter alta de 2,4%, têm elevação prevista agora até dezembro de 2,7%. A taxa de inflação, antes projetada para 4,8%, foi ajustada para 5,7%.
Todos os números acima foram divulgados nesta manhã, em relatórios públicos do Banco Central e do IBGE. O destaque da mídia tradicional, porém, como se notava pelos títulos principais dos portais UOL, Estadão e G1, por volta do meio-dia, era apenas um: a taxa de inflação de 5,7%.
O que não foi dito ali com igual destaque, em prejuízo dos leitores, é que a nova projeção era integralmente esperada pelo mercado. E continua, a previsão de 5,7%, dentro da banda de variação de dois pontos acima ou abaixo do centro da meta, que é de 4,5%. Não houve um salto para além de 12%, como ocorreu no último ano da gestão de Fraga no BC. Os demais porcentuais que apontam para uma economia saudável, que vai quebrando, uma a uma, as ondas contrárias chegadas de fora para dentro do País, ficaram relegados a um plano inferior. De menor ou quase nenhuma visibilidade.
Trata-se, sem retoques, de uma estratégia comum de olhar o desempenho da economia brasileira pelo pior ângulo, embotando visualizações de um futuro diferente do que, por exemplo, o abismo do descontrole. Nesse rumo, até mesmo conclamações como as feitas pelos economistas Ilan Goldfajn e Alexandre Schwartasman, arautos do desemprego como forma de conter a inflação, ganham grandes espaços como se fizessem parte do debate sério da economia. "Gênios", como ironizou Delfim Netto.
Ainda bem que Malan está no Itaú Unibanco. E Fraga jogando golfe, aos domingos, no Itanhangá, e atuando no Gávea, e não no BC, nos dias úteis. (Marco Damiani)
Fonte:   Brasil 247  (título adaptado)


quinta-feira, 28 de março de 2013

DILMA ENFRENTA PÁTRIA RENTISTA: MÍDIA URRA



Uma dia de estupefação e revolta no circuito formado pelos professores banqueiros, os consultores e a mídia que os vocaliza.


Na reunião dos Brics, na África do Sul, nesta 4ª feira, a presidenta Dilma afirmou que não elevará a ração dos juros reivindicada pelos batalhões rentistas, a pretexto de combater a inflação. 



A reação instantânea das sirenes evidencia a cepa de origem a unir o conjunto à afinada ciranda de interesses que arrasta US$ 600 trilhões em derivativos pelo planeta. 



Equivale a dez voltas seguidas no PIB da Terra. 



Trinta e cinco vezes o movimento das bolsas mundiais. 



Os anéis soturnos desse garrote reúnem – e exercem – um poder de extorsão planetária, capaz de paralisar governos e asfixiar nações. 



Gente que prefere blindar automóveis a investir em infraestrutura. O Brasil tem a maior frota de carros blindados do mundo. 



E uns R$ 500 bi estocados em fundos de curto prazo; fora o saldo em paraísos fiscais.



Carros blindados, dinheiro parado, paraísos fiscais e urgências de investimento formam a determinação mais geral da luta política em nosso tempo.



Em Chipre, como lembra o correspondente de Carta Maior em Londres, Marcelo Justo, o capital a juros compunha uma bocarra equivalente a 67 bilhões de euros, uns US$ 90 bilhões de dólares.



Três vezes o PIB. De um país com população menor que a de Campinas. 



A fome pantagruélica desse organismo requeria rações diárias indisponíveis no ambiente retraído da crise mundial. 



A gula que quebrou Chipre é a mesma que já havia quebrado a Espanha, Portugal, Irlanda, Islândia e alquebrado o mercado financeiro dos EUA.



A falência cipriota assusta o mundo do dinheiro não por suas dimensões. 



Mas porque ressoa o uivo cavernoso de uma bancarrota, só anestesiada a um custo insustentável na UTI mundial das finanças desreguladas.



No Brasil o mesmo uivo assume o idioma eleitoral ao gosto do dinheiro graúdo: ‘dá para fazer mais’.



O governo Dilma acha que sim. 



Mas com a expansão do investimento produtivo. Não com arrocho e choque de juros.



O país ampliado por 12 anos de políticas progressistas na esfera da renda e do combate à pobreza, não cabe mais na infraestrutura concebida para 30% de sua gente. 



A desproporção terá que ser ajustada em algum momento. 



Como o foi, com viés progressista e investimento pesado, durante o ciclo Vargas.



Sobretudo no segundo Getúlio, nos anos 50. 



Mas também o foi em 64.



Em versão regressiva feita de arrocho e repressão contra as reformas de base de Jango, no golpe que completa 49 anos neste 31 de março.



O que se assiste hoje guarda uma diferença política importante em relação ao passado.



Nos episódios anteriores, o conflito de classe entre as concepções antagônicas de desenvolvimento seria camuflado pela vulnerabilidade externa da economia.



Um Brasil estrangulado pelo desencontro entre a anemia das exportações e o financiamento das importações colidia precocemente com o seu teto de crescimento.



O gargalo do investimento se realimentava no funil das contas externas. E vice versa.



Era um prato cheio para o monetarismo posar de arauto dos interesses da Nação. E golpeá-la, com as ferramentas recessivas destinadas a congelar o baile.



'Quem está fora não entra; quem está dentro não sai'. 



Durante séculos, essa foi a regra do clube capitalista brasileiro.



Hoje, embora a pauta exportadora se ressinta de temerária concentração em commodities, não vem daí o principal obstáculo ao investimento. 



O país dispõe de reservas recordes (US$ 370 bi). Tem crédito farto no mercado internacional. O relógio econômico intertemporal é favorável ao financiamento de um ciclo pesado de investimentos em infraestrutura.



Quem, afinal, veria risco em financiar a sétima economia do planeta, que, em menos de uma década, estará refinando a pleno vapor as maiores descobertas de petróleo do século 21?



O desencontro entre o Brasil que somos e aquele que podemos ser deslocou-se do gargalo externo, dos anos 50/60/80 para o conflito aberto entre os interesses da maioria da sociedade e os dos detentores do capital a juro.



Assim como em Chipre, na Espanha, nos EUA ou em Paris, o rentismo aqui prefere repousar num colchão de juros reais generosos, blindado por esférico monetarismo ortodoxo. 



Migrar para a esfera do investimento produtivo, sobretudo de longo prazo, como requer o país agora, não integra o seu repertório de escolhas espontâneas.



É essa prerrogativa estéril que os professores banqueiros do PSDB cobram pela boca e pelo teclado do jornalismo econômico, escandalizado com a assertiva defesa do desenvolvimento feita pela presidenta Dilma. 



Presidenciáveis risonhos que se oferecem untados em molhos palatáveis às papilas monetaristas e plutocráticas vão aderir ao jogral. 



“Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença está datado; é uma política superada", fuzilou Dilma.



Previsível, o dispositivo midiático tentou desqualificar o revés como se fora uma demonstração de ‘negligência com a inflação’. 



Um governo que trouxe 50 milhões de pessoas para o mercado de consumo minimizaria a vigilância sobre a inflação?



Seria o mesmo que sacar contra o seu maior patrimônio político. 



O governo Dilma optou por abortar as pressões de preços de curto prazo com desonerações. E enfrentar o desequilíbrio estrutural com um robusto ciclo de investimentos.



São lógicas dissociadas da receita rentista.



Aqui e alhures, a obsessão mórbida pela liquidez descolou-se da esfera patrimonial para a dos rendimentos financeiros. Não importa a que custo social ou político.



Sua característica fundamental é a preferência parasitária pelo acúmulo de direitos sobre a riqueza, sem o ônus do investimento físico na economia.



A maximização de ganhos se faz à base da velocidade e da mobilidade dos capitais, sendo incompatível com o empenho fixo em projetos de longa maturação em ferrovias, hidrelétricas ou portos.



Durante a década de 90, as mesmas vozes que hoje disparam contra o que classificam como ‘intervencionismo da Dilma’, colocaram o Estado brasileiro a serviço dessa engrenagem.



A ração dos juros oferecida no altar da rendição nacional chegou a 45%, em 1999.



Um jornalismo rudimentar no conteúdo, ressalvadas as exceções de praxe, mas prestativo na abordagem, impermeabilizou essa receita de Estado mínimo com uma camada de verniz naval de legitimidade incontrastável.



A supremacia dos acionistas e dos dividendos sobre o investimento –e a sociedade-- tornou-se a regra de ouro do noticiário econômico.



Ainda é.



A crise mundial instaurou a hora da verdade nessa endogamia entre o circuito do dinheiro e o da notícia.



Trata-se de uma crise dos próprios fundamentos daquilo que o conservadorismo entende como sendo ‘os interesses dos mercados’. Que a mídia equipara aos de toda a sociedade.



Dilma, de forma elegante, classificou essa ilação como uma fraude datada e vencida. De um mundo que trincou e aderna, desde setembro de 2008.



A pátria rentista uiva, range e ruge diante de tamanha indiscrição. 



Postado por Saul Leblon 

Fonte:  Carta Maior

quarta-feira, 27 de março de 2013

AS CRIANÇAS TEM QUE SER PROTEGIDAS DA CAFAJESTICE DO CQC




A gangue pseudocômica faz um garoto mentir, enganar e torturar psicologicamente José Genoíno.

Alguns meses atrás, a gangue do  CQC já descera à lama ao abordar José Genoíno de maneira cafajeste logo depois do trauma de uma absurda decisão da justiça que decretou prisão para ele.
Agora, a gangue conseguiu descer ainda mais.
Ao longo de um interminável, odioso filme de sete minutos os pseudo-humoristas submeteram Genoíno sessão de violência que degrada não quem a sofreu, mas quem a fez – os mentecaptos sorridentes liderados por Marcelo Tas.
O que eles fizeram não é nem comédia e nem jornalismo: é simplesmente um caso de polícia.
Um repórter-palhaço ficou trollando desvairadamente Genoíno, em Brasília, em busca de uma “entrevista”, aspas.
Louvo aqui o autocontrole de Genoíno,  porque pouca gente é capaz de suportar uma provocação tão baixa pelo que pareceu uma eternidade.
Depois, a gangue colocou um garoto pré-adolescente num papel que em algum momento haverá de envergonhá-lo, se ele tiver decência básica.
O menino enganou Genoíno. Se fez passar por admirador para entrar na sala de Genoíno e extrair algumas palavras.
Depois, em seguimento às mentiras que o fizeram contar, o garoto disse a Genoíno que seu tio estava fora da sala, esperando para cumprimentá-lo.
O tio era um dos integrantes da gangue.
Genoíno saiu da sala e deu de cara com o tio de mentira. E isso foi comemorado como um triunfo pela gangue.
Se há algum comitê de proteção à infância que funcione no Brasil, ele tem que cobrar satisfações de quem fez o garoto se submeter a uma infâmia dessa natureza. Dificilmente ele terá outra aula tão completa de canalhice.
Em poucos minutos, o menino foi obrigado a agir como um pequeno trapaceiro desprezível. O risco é que ele cresça e se torne um adulto tão asqueroso como Marcelo Tas e os integrantes da gangue.
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