domingo, 26 de setembro de 2010

GILSON CARONI: MARINA, A SEGUNDA MORTE DE CHICO MENDES

Marina Silva e as novas florestas

por Gilson Caroni
O verdadeiro mestre não é somente o professor que sabe dar a aula com a lição na ponta da língua – é, sobretudo, aquele que sabe fazer discípulos. Quanto ao discípulo, é este mais do que o aluno que aproveita a lição na sala de aula. Na verdade, corresponde ao prolongamento do mestre, retendo-lhe o fascínio pelo resto da vida, como se o saber do professor continuasse a acompanhá-lo além do curso, alongando-lhe a presença.
Cortejada pela grande imprensa como possibilidade de levar a eleição para o segundo turno, Marina parece bailar nas decisões hamletianas: faz que vai e volta do meio para trás como cantilena do Grande Sertão. Já não convida mais seu coração para dar batalha. Quando está madura a oportunidade de colocar o Brasil na trilha das aspirações populares, a “cabocla de tantas malárias e alergias” coloca-se como linha auxiliar de uma elite desprovida de projeto de consenso para o país.
Rifando sua biografia, tergiversa sobre questões caras ao campo democrático-popular do qual, até bem pouco tempo, foi militante expressiva. A mulher que apostava na organização do povo como único agente capaz de resolver seus próprios problemas, elegendo suas prioridades e lutando para atingi-las, deu lugar a uma “celebridade” que, pretextando buscar um novo espaço político, reproduz o discurso dos editoriais reacionários. Deixou de dar valor ao partido político, ao sindicato, aos movimentos populacionais, às ações associativas. Esqueceu que são essas as instâncias capazes de superar um modo de vida que não corresponde às expectativas reais dos seres humanos de verdade.
Sua candidatura busca cobrir um vazio que não existe. Hoje, todos reconhecem que o crescimento econômico deve ser visto como condição necessária, mas não suficiente, do desenvolvimento social. O governo petista criou as condições políticas para o surgimento de uma nação que efetivamente combate a miséria e a pobreza extremas, implementando princípios econômicos que aumentaram a oferta de emprego e a remuneração condigna de trabalho.
Há oito anos, a visão progressista contempla valores ambientais imprescindíveis à saúde e ao bem-estar do ser humano, não isentando, como muitos querem crer, as elites regiamente capitalizadas nos tempos do consórcio demo-tucano. Sendo assim, onde estaria a novidade, e até mesmo a necessidade da agenda de Marina Silva?
Equilíbrio ambiental e desenvolvimento sustentável são elementos indispensáveis ao futuro do país. Exigem do movimento ecológico uma reformulação radical que o torne matriz de uma nova esquerda. A Amazônia é um exemplo. Seu desmatamento é obra conjunta de latifundiários, grandes empresários e empresas mineradoras. São os inimigos a serem confrontados prontamente. É essa a perspectiva da “doce” Marina e seus aliados recentes?
Quando em entrevista a uma revista semanal, a ex-ministra do Meio Ambiente disse: “tenho um sentimento que mistura gratidão e perda em relação ao PT. Sair do partido foi, para mim, um processo muito doloroso. Perdi quase 3 quilos. Foi difícil explicar até para meus filhos. No álbum de fotografias, cada um deles está sempre com uma estrelinha do partido. É como se eu tivesse dividido uma casa por muito tempo com um grupo de pessoas que me deram muitas alegrias e alguns constrangimentos. Mudei de casa, mas continuo na mesma rua, na mesma vizinhança“. Marina  mistura oportunismo e desorientação espacial.
A senadora do PV sabe que, uma vez derrubada, a floresta não se recompõe. Que tipo de “empates” se propõe travar com as alianças escolhidas? O partido que a convidou para bailar sobrevive de parcerias antagônicas a sua antiga história de combatividade, coerência e superação. Como nas matas degradadas, a política tem fios de navalha onde tudo perde a cor e dificilmente se refaz. A rua e a vizinhança são decorrências geográficas de escolhas caras. No caso de Marina, tudo mudou.
Chico Mendes reafirmava que “se descesse um enviado dos Céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta, até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver”.
Por sua discípula isso está cada vez mais improvável.
Este texto foi importado pelo Brasil's news do Vi o Mundo

POR QUE NÃO ELA? ENTRE DILMA E MARINA

Marina, candidata pelo Partido Verde (PV), nasceu no Acre em 1958, de pais pobres oriundos do Nordeste. Moradora da floresta, começou ao estudar apenas quando já tinha a idade de 16 anos e em dez anos é graduada em história. Em 1984, junto com Chico Mendes, ajudou a fundar a CUT no Acre e foi eleita vereadora pelo PT em 1988. Deputada estadual em 1990, eleita senadora em 1994 e sendo reeleita em 2002. Conhecida e respeitada pelo movimento ambientalista, em 2003 foi convidada a ser ministra do Meio Ambiente pelo presidente Lula onde trabalhou por seis anos.
Dilma, candidata pelo Partido dos Trabalhadores (PT), nasceu em Belo Horizonte, no ano de 1947. Filha  de imigrante búlgaro com uma professora mineira. Aos 16 anos ela já estaria se juntando a organizações clandestinas de esquerda. Em 1970, é presa e torturada por três anos pelo regime militar. Em 1981, ajuda a fundar o PDT do Rio Grande do Sul. Em 1986 é nomeada secretaria da Fazenda de Porto Alegre, assumindo depois a Secretaria Estadual de Minas, Energia e Comunicação do Rio Grande do Sul. Em 1999, filia-se ao PT, e em 2003, é convidada por Lula para ser ministra de Minas e Energia. Em 2005, torna-se ministra chefe da Casa Civil.
São duas mulheres interessantes, íntegras, inteligentes e com uma biografia de compromisso com as causas sociais. Mas com estas duas opções feminas a pergunta para esta eleição é: Por que uma e não a outra? E o objetivo deste texto é explicar a minha opção.
Dilma e Marina, duas mulheres com estórias de engajamento social e político parecidas, que até recentemente fizeram parte do mesmo governo progressista do PT, mas que agora representam projetos distintos. A forma como eu percebo essa distinção é que teoricamente Marina representa um projeto de desenvolvimento guiado pelo movimento ambientalista (desenvolvimento sustentável). Dilma representa um projeto de desenvolvimento guiado pelo movimento de inclusão social (desenvolvimento com distribuição de renda). Pode-se dizer que esses dois projetos não são antagônicos nem tampouco auto-excludentes. Tanto a Marina quanto a Dilma, de forma variada, defendem o desenvolvimento sustentável e o crescimento com inclusão social. A distinção pode ser feita observando o princípio norteador de cada projeto político. Enquanto o projeto da Dilma tem sido apontado como representando a melhoria do capitalismo dando-lhe uma face mais humana e social (capitalismo social), o projeto da Marina tem sido apresentado como um projeto que de economia verde que visa tornar o meio ambiente parte do capital (eco-capitalismo).
A crítica de fundo que deve ser feita é que em primeiro lugar a ideologia de uma economia verde adotada pelo projeto da Marina se implementado beneficiaria as nações afluentes e que estão no topo da hierarquia do capitalismo global. Essas nações estão mais preparadas e são certamente mais competitivas dentro do contexto do capitalismo verde. Na verdade, esses países afluentes conseguiram criar um verdadeiro nicho de mercado ambientalista, e tem usado as tecnologias limpas (verdes) como estratégia para beneficiar os produtos delas e impedir o acesso de produtos de outros países. Além de serem elas próprias produtoras e exportadoras de produtos criados por e para esse novo mercado. O Brasil pode e deve adotar tecnologias limpas mas com o devido cuidado de não cair no jogo de cartas marcadas do mercado global. Essa tecnologia verde deve atender aos objetivos de incluir ainda mais os seres humanos e o habitat deles (o planeta terra). Se para alguns o projeto da Dilma parece privilegiar o ser humano em detrimento do meio ambiente, para outros o projeto da Marina parece privilegiar o meio ambiente em detrimento do ser humano. Na realidade, um não existe sem o outro. Qual seria o sentido do cosmo para os seres humanos se ele se torna inabitável?
Por que não ela!
A forma de interação do ser humano com o meio ambiente deve ser levado em conta por qualquer projeto de desenvolvimento, sem perder de vista que essa relação deve ser negociada pelos atores humanos. Então o estado tem um papel fundamental nisso. E foi nesse aspecto que a Marina falhou enquanto ministra do Meio Ambiente. Infelizmente ela não demonstrou aptidão e paciência para negociar com todos os atores envolvidos. Atores com agendas e interesses conflitantes mas que precisam ser ouvidos e de certa forma atendidos pelos agentes do estado, ou mais precisamente, por quem está no governo. Nisso o presidente Lula se mostrou muito bem sucedido, negociando intensamente com os mais diversos atores. É claro que isso implicou concessões e perdas, mas feitas com o objetivo de avançar de forma mais ampla naquilo que beneficia a todos os brasileiros, a terra Brasil e mesmo outros povos. Isso demonstrou uma visão paciente e de longo alcance do governo Lula.
Porém o Ministério do Meio Ambiente, sob a liderança da Marina, não parecia acompanhar essa mesma dinâmica de dialogicidade com grupos de interesses diferentes. Marina também parece não ter demonstrado grande capacidade de coordenação e articulação dentro da própria pasta dela. Havia muita queixa quanto a lentidão na expedição de licenças ambientais, o que significava o travamento de projetos importantes para o desenvolvimento do país. Por estar presa ao lobby verde ela não conseguia entender a ansiedade dos grupos empresariais e nem mesmo de grupos desenvolvimentistas. Marina renuncia em 2008 expressando frustração, mas com a chegada do geógrafo e ambientalista Carlos Minc, o Ministério do Meio Ambiente adquire uma outra dinâmica e parece realmente avançar onde antes se mostrava emperrado. Isso demonstrou que a causa dos problemas estava na ministra e não no ministério.
Marina continua no PT, onde ela sempre demonstrou se sentir em casa, mas em julho de 2009 representantes do PV a abordam, e em reunião com ela, apresentam uma pesquisa de opinião que mostrava que se fosse candidata a presidente da república ela já começaria com 14% da intenção de votos. Marina cai no canto da sereia. Até mesmo a direita anti-verdista vibra e concede a ela a projeção em revistas e jornais de grande circulação.  É evidente que Marina não deixa o PT por questões de divergências ideológicas ou de projeto. Ela deixa o PT para assumir um projeto pessoal em um partido pequeno que precisava de alguém que pudesse fazer o partido crescer nacionalmente. Foi uma cartada inteligente do PV e tem na verdade mostrado resultado. Como candidata do PV, a Marina se apresenta como a candidata da terceira via (ou via media) tentando unir o irreconciliável. Diz que se eleita, ela governará com ambos PSDB e PT, o que demonstra uma certa ingenuidade política de uma pessoa experiente na política brasileira. Ela não perde tempo em afagar e defender o governo do Fernando Henrique Cardoso e de uma forma que nem mesmo o candidato do PSDB faz. Defender o indefensável, no caso aqui  FHC, é parte de uma estratégia eleitoral, pois se fosse para o segundo com a Dilma, a Marina sabe que iria contar com o apoio do PSDB.
Na verdade, quando o quadro eleitoral ainda não estava claro, Marina jogava com ambas as possibilidades, ou seja a de disputar um possível segundo turno com Serra ou Dilma. Agora que há uma certa clareza (de acordo com as pesquisas) sobre quem já está no segundo turno, Marina tenta tirar votos de ambos Serra e Dilma para ser a segunda colocada. S echegar a disputar o segundo turno contra Dilma ela formará uma coligação com o DEM e PSDB.  Então, se eleita, ela muito provavelmente não governará com o PT.
O fato de Marina agora não fazer parte de coligação alguma mostra a fragilidade da candidatura dela e do risco que será um governo liderado pelo PV. Ela ficará refém dos setores mais atrasados e reacionários da sociedade brasileira. O maior problema será que a agenda verde que ela defende não terá espaço a não ser para ser discutida e continuar como um ideal. E quando ela diz que é positivo não ter coligações pois isso reforça o compromisso dela com o eleitor, isso soa como meramente uma forma de compensar a ausência de uma composição política que dê substância ao projeto político dela. Na verdade, aqui reside uma profunda contradição no discurso da Marina. Os partidos políticos são importantes, e em uma democracia nenhum governante pode prescindir deles. Então não existe isso de compromisso com eleitor sem respeitar ou considerar o mandato dos partidos políticos dados pelo eleitor. Mais, se a Marina teve dificuldades de negociar com setores desenvolvimentistas dentro do governo, como ela conseguirá lidar com os setores que representam os interesses dos ruralistas e das grandes corporações que inevitavelmente, através do PSDB e DEM, farão parte do governo dela? Infelizmente as recentes declarações feitas por ela, como disse o Emir Sader, a fez “cair no colo da direita e cancelam qualquer traço progressista que sua candidatura poderia ter até agora. Quem estiver ainda com ela, está fazendo o jogo da direita golpista, não há mais mal entendidos possíveis” (Revista Carta Maior, 03/09/2010).
Por que Ela!
Enquanto a Marina se enrolava no Ministério do Meio Ambiente, a Dilma continuava crescendo dentro do governo mostrando elevada competência na condução do Ministério das Minas e Energia. Isso se dá a tal ponto de impressionar o presidente Lula que a convida a assumir o ministério da Casa de Civil. É nesse ministério que ela demonstra uma grande capacidade de coordenação dos vários ministérios e projetos, bem como traquejo em negociar com os mais diversos setores da sociedade. Enquanto a Marina ainda ficava na abstração de um ideal verde, a Dilma estava implementando na prática um projeto que significava inclusão social e transformação da realidade material dos diversos estados da República Federativa do Brasil. Assim, Dilma se faz co-responsável com o Lula pelo êxito das políticas públicas que tem mudado a face do país nesses últimos anos.
Dilma se manteve fiel e leal a um projeto de governo, mesmo em face das adversidades, por conta de uma visão de longo alcance onde o projeto mais amplo de transformação social é mais importante do que derrotas pontuais em negociações políticas. Dilma se apresenta como uma candidata que tem competência para coordenar diferentes grupos dentro de um governo, e sabe negociar com aqueles que representam interesses divergentes na sociedade. Dilma tem a experiência de governar com umacoalização política e faz parte de uma coligação que, mesmo contendo elementos conservadores, representa uma aliança progressista. Dilma encarna hoje a esquerda idealista e pragmática que defende um desenvolvimento que significa distribuição de renda, inclusão social, redução da desigualdade, restauração da dignidade dos brasileiros, e um protagonismo do Brasil no cenário internacional.
Eis porque Ela! *Joabe G Cavalcanti é teólogo e sacerdote anglicano.
Blog Ruminações de um Pastor Rabugento: http://pastorrabugento.blogspot.com
Este texto foi importado para o Brasil's News a partir do Blog da Dilma

RESPOSTA AOS BARÕES DA IMPRENSA PAULISTA




Dois dos maiores jornais do país tomaram uma decisão que, quando a história deste período for contada, explicará a decadência em que mergulharam aqueles que serão lembrados como “barões da imprensa”. Em 26 de setembro de 2010, os periódicos anunciaram, em editoriais, as suas respectivas posições políticas, ambas de confronto com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Os jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo surgiram em um Brasil que não existe mais. Naquele país-fazenda, ribombavam as vozes das famílias que os fundaram e que os tornaram multimilionários à custa do Estado, dos favores de governos amigos, alguns alçados ao poder por meio de ruptura da ordem constitucional que esses veículos apoiaram.
O Estado de São Paulo nasceu em 1875, sendo batizado como A Província de São Paulo. O jornal foi impulsionado pela venda avulsa. Um imigrante francês chamado Bernard Gregoire saía a cavalo pelas ruas da capital paulista soprando uma corneta e vendendo exemplares. A imagem do vendedor trombeteando em seu cavalo tornar-se-ia símbolo do jornal.
Em 1964, o jornal paulista, agora rebatizado como O Estado de São Paulo, perfilou-se à União Democrática Nacional (UDN) de Carlos Lacerda, fazendo oposição cerrada ao então presidente João Goulart. Dois anos antes do golpe, o diretor do jornal, Júlio de Mesquita Filho, redigiu o “Roteiro da Revolução”, editorial em que exortava a oposição civil a se unir aos militares, então chamados de “partido fardado”, que desde o limiar da República interferia na política.
Em 1964, o jornal O Estado de São Paulo pediria e apoiaria o golpe militar e a eleição indireta de Castello Branco. Em 1º de abril daquele ano, publicou texto de apoio à derrubada de João Goulart fazendo uma relação entre aquele momento político e o da Revolução Constitucionalista de 1932.
O jornal paulista só romperia com a ditadura quatro anos depois do golpe. Em 1968, com a sua redação ocupada por censores do regime, publicou editorial que seria censurado por meio de apreensão de seus exemplares que chegavam às ruas. A família Mesquita descobriria, então, que quando se viola a democracia nem os que ajudaram a fazê-lo podem se considerar a salvo dos chefes violadores.
A Folha de São Paulo, por sua vez, nasceu em 1921, 46 anos depois do Estadão. Então batizada como “Folha da Noite”, era dirigida por Olival Costa e Pedro Cunha. Durante a revolução de 1930, foi fechada por reação popular, que empastelou o jornal.
Voltou a funcionar em 1931 com novos donos e nova linha editorial, sob o nome de Folha da Manhã. Era dirigida por Alves de Lima, Diógenes de Lemos Azevedo, Guilherme de Almeida e Rubens do Amaral. Em 1962, o jornal foi vendido a Carlos Caldeira Filho e Octavio Frias de Oliveira e rebatizado como Folha de São Paulo.
Tal qual o Estadão, a Folha também apoiou o golpe militar de 1964 e a ditadura que estava sendo implantada no Brasil. Segundo o colunista Elio Gaspari, chegou a emprestar veículos para transporte de presos. Isso mesmo, o jornal que fala em censura à imprensa fez parte da estrutura de assassinato e tortura dos ditadores de plantão.
O apreço pela ditadura era tanto que em 1971, durante o governo do general-presidente Emílio Garrastasu Medici, o jornal publica editorial, assinado por Octavio Frias de Oliveira, que definia assim o governo ditatorial:
“(…)Um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social – realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama (…)”.
Hoje, sabe-se que a maior vítima da ditadura militar foi justamente a justiça social. Foi durante a ditadura, que Frias defendeu com tanto ardor, que o Brasil chegou a ser um dos cinco países com maior concentração de renda no mundo, perdendo a primeira colocação apenas para países africanos miseráveis.
A tomada de posição política em relação ao governo Lula que esses jornais publicaram em suas edições de 26 de setembro de 2010 – tendo a Folha publicado o texto em sua capa –, em pretensa resposta à crítica do presidente da República a uma conduta partidarizada desses veículos, vem sendo desprezada por uma maioria esmagadora da sociedade, como revelam as pesquisas de opinião sobre este governo e sua candidata.
Em todos os níveis de escolaridade, em todas as faixas etárias, em todas as regiões – com exceção, apenas, entre os mais ricos –, os brasileiros, em maioria avassaladora, ignoram as diatribes diárias desses jornais contra o governo mais respeitado – nacional e internacionalmente – e popular da história deste País. Suas denúncias contra um só lado são ignoradas, e o Brasil caminha para dar uma vitória histórica à candidata que rejeitam.
Todavia, há que fazer uma distinção entre as posturas adotadas pelo Estadão e pela Folha. Enquanto que o primeiro, como que atendendo a exortação do presidente da República, finalmente sai do armário, deixando claro, de forma tardia, que tem candidato, exatamente como o chefe da nação disse que tinha, o segundo continua tentando se esconder sob uma imparcialidade na qual só os seus controladores e empregados bajuladores dizem acreditar.
Por mais que os argumentos do Estadão para justificar que tenha se convertido em cabo eleitoral de José Serra sejam questionáveis e não resistam à menor exposição àquele contraditório que o jornal censura furiosamente, seus controladores não têm descido ao nível da família Frias.
Entre todas as barbaridades praticadas pela Folha, algumas das quais já lhe renderam sucessivas condenações na Justiça, uma delas jamais encontrou paralelo na dita “grande imprensa” nacional. O jornal publicou em sua primeira página a falsificação de uma ficha policial de Dilma Rousseff, adversária do candidato extra-oficial do veículo, José Serra.
A Folha publicou em sua primeira página o conteúdo de um e-mail apócrifo, sem ter verificado absolutamente nada sobre a veracidade do documento. Tanto é que, depois do malfeito, escreveu nota de esclarecimento dizendo que não tinha elementos para negar ou confirmar a veracidade de uma falsificação contra uma ministra de Estado que publicou em seu espaço de maior visibilidade, na primeira página.
Em seu editorial de 26 de setembro de 2010, em que reafirma ser “isenta”, a Folha chega a “advertir” o presidente da República e sua candidata de que não aceitará que tentem “censurar” a imprensa, esgrimindo com cláusula pétrea da Constituição que versa sobre liberdade de expressão. O Estadão vai pela mesma linha de confronto com este governo por ter as mesmas inclinações antidemocráticas que o seu congênere, ainda que tenha mais caráter.
Ambos, porém, carregam o suplício de inocentes em seus currículos fétidos. Sob essa trajetória conspurcada por um apreço patético e degenerado pelo estupro do Estado Democrático de Direito que Estadão e Folha agora se arvoram em sentinelas da democracia. E é por esse cinismo atroz que esses jornais terminarão na lata de lixo da história.
Este texto foi postado originalmente no Blog da Cidadania

QUEM TEM MEDO DA DEMOCRACIA




O momento mais trágico da história brasileira – o do golpe de 1964 e da instauração do pior regime político que o Brasil já teve, a ditadura militar – foi o momento da verdade da democracia. O momento revelou quem estava a favor e quem estava contra a democracia. E quem pregava e apoiava a ditadura. Foi um divisor definitivo de águas. O resto são palavras que o vento leva. A posição diante da ditadura e da democracia, na hora em que não havia outra alternativa, em que a democracia estava em risco grave – como se viu depois - foi decisiva para definir que é democrata e quem é ditatorial no Brasil.

Toda a velha imprensa, que segue ai – FSP, Globo, Estadão, Veja – pregou e apoiou o golpe militar, compactuou com a destruição da democracia no Brasil e enriqueceu com isso. Compactuou inclusive com a destruição da Última Hora, o único jornal que sempre resistiu à ditadura. O mesmo aconteceu com a maior parte da elite política da época - uma parte da qual ainda anda por aí, quase todos dando continuidade ao mesmo papel de inimigos da democracia, mesmo se disfarçados de democratas.

A história contemporânea é continuação daquela circunstância e da ditadura que ela instaurou. Se o amplo apoio ao governo Lula provêm, no essencial, em ter, pela primeira vez, diminuído a desigualdade, a injustiça e a exclusão social no Brasil, isto se deve, em grande parte, à monstruosa desigualdade que o modelo implantado pela ditadura – fundado na liberdade total ao capital e no arrocho dos salários, acompanhado da intervenção em todos os sindicatos – promoveu.

Da mesma forma que a polarização atual da política brasileira se centra de novo em torno da alternativa democracia/ditadura. Como naquela época, ambos os lados dizem falar em nome da democracia. Como naquela época, toda aquela imprensa e parte da elite política tradicional, falam da democracia – que eles mesmos ajudaram a massacrar ao pregar e apoiar a instauração da ditadura no Brasil –, mas representam a antidemocracia, representam os interesses tradicionais das elites, que resistem à imensa democratização por que passa o Brasil.

O golpe de 1964 foi realizado para evitar a continuidade de um processo de ampla democratização por que passava o Brasil. A política econômica do governo Jango, a extensão da sindicalização – aos funcionários públicos, aos trabalhadores rurais -, as lutas populares por mais direitos, o começo de reforma agrária, incorporavam crescentes setores populares a direitos essências. Mas isso não era funcional aos interesses das elites dirigentes, comprometidas com interesses econômicos voltados para o consumo das camadas mais ricas da sociedade – a indústria automobilística era o eixo da economia – e para a exportação, em detrimento do mercado interno de consumo popular.

O golpe e a ditadura militar fizeram um mal profundo para o Brasil, mas favoreceram o capitalismo fundado nas grandes corporações nacionais e internacionais, que lucraram como nunca – entre elas os próprios grupos econômicos da mídia. A gritaria de que a democracia estava em perigo, em 1964, serviu para acobertar a ditadura e o regime mais antipopular que já tivemos.

Agora o quadro se repete, já não mais como tragédia, mas como farsa. Vivemos de novo um processo de ampla e profunda democratização da sociedade brasileira. Dezenas de milhões de brasileiros, que nunca haviam tido acesso aos bens mínimos à sobrevivência, adquirem o direito de tê-los, para viver com um mínimo de dignidade. O mercado interno de consumo popular passou a ser elemento integrante essencial do modelo econômico.

A sociedade brasileira, que era a mais desigual da América Latina - que, por sua vez, é o continente mais desigual do mundo -, pela primeira vez, começou a ser menos desigual, menos injusta. Isso incomoda às elites conservadoras brasileiras. Já não podem dispor do Estado brasileiro – e das empresas estatais – como sempre dispuseram. Os donos de jornais, rádios e TVs, já não têm um presidente da república que almoce e jante com eles, com todas as promiscuidades decorrentes daí.

Sentem que o poder se lhes escapa das mãos. Que um presidente – nordestino e operário de origem – conquistou um prestigio e um apoio popular, apesar deles. Tem medo do povo. Quando se dão conta da democratização que começou a acontecer, logo retomam os seus fantasmas da guerra fria e gritam que a democracia está em perigo, quando o que está em perigo são os seus privilégios.

São os mesmos que confundiam seus privilégios com democracia – porque assimilavam democracia com regime que protegia seus interesses -, que agora tem medo da democracia, porque sentem que perdem privilégios. Privilégios de serem os únicos formadores de opinião publica, de serem os que filtravam quem podia ocupar a presidência republica e os outros cargos públicos importantes. Privilégios de terem acesso exclusivo a viajar, a comprar certos bens, a ir ao teatro. Privilégios de decidir as políticas governamentais, de eleger e destituir presidentes.

O que está em perigo são os privilégios das minorias. O que está em desenvolvimento no Brasil é o mais amplo processo de democratização que o país já conheceu. Um processo que apenas começa, que tem que quebrar o monopólio do dinheiro (poder do capital financeiro), da terra (poder dos latifundiários) e o poder da palavra (poder da mídia monopolista), entre outros, para que nos tornemos realmente um país justo, solidário e soberano.

Quem tem medo da democracia? As elites que sempre detiveram privilégios, que agora começam a perdê-los. O povo, os que têm consciência social, democrática, não tem nada a temer. Tem um mundo – o outro mundo possível – a ganhar.


Postado por Emir Sader às 04:42

Este "post" foi importado do Blog do Saraíva

MARCOS COIMBRA: A "ÚLTIMA HORA"




Neste domingo, a apenas uma semana da eleição presidencial, temos uma parte menor do sistema político, uma parte importante (mas minoritária) da sociedade e a maioria da “grande imprensa” em torcida animada para que a “última hora” faça com que os prognósticos a respeito de seu resultado não se confirmem.

É natural que todos os candidatos, salvo Dilma, queiram que alguma reviravolta aconteça. Os três partidos que dão apoio a Serra, o PV de Marina Silva, os pequenos partidos de esquerda, todos torcem pelo “fato novo”, a “bala de prata”, algo que a golpeie. Do outro lado, a ampla coligação que Lula montou para sustentar sua candidata (e que formará, ao que tudo indica, a maioria do próximo Congresso) espera que nada altere o quadro.

Hoje, Dilma lidera em todas as regiões do país, jogando por terra as análises que imaginavam que as eleições consagrariam um fosso entre o Brasil “moderno” e o “atrasado”. Era o que supunham aqueles que leram, sem maior profundidade, as pesquisas, e acreditavam que Serra sairia vitorioso no Sul e no Sudeste, ficando com Dilma o voto do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste. Não é isso que estamos vendo.

Ela deve vencer em todos os estados, em alguns com três vezes mais votos que a soma dos adversários. Vence na cidade de São Paulo, na sua região metropolitana e no interior do estado. Lidera o voto das capitais, das cidades médias e das pequenas. É a preferida dos eleitores que residem em áreas rurais.

As pesquisas dão a Dilma vantagem em todos os segmentos socioeconômicos relevantes. É a preferida de mulheres e homens (sepultando bobagens como as que ouvimos sobre as dificuldades que teria para conquistar o voto feminino), de jovens e velhos, de negros e brancos. Está na frente entre católicos, evangélicos, espíritas e praticantes de religiões afro-brasileiras.

Vence entre pobres, na classe média e entre os ricos (embora fique atrás de Serra entre os muito ricos). Lidera entre beneficiários do Bolsa Família e entre quem não recebe qualquer benefício do governo. Analfabetos e pessoas que estudaram, do primário à universidade, votam majoritariamente nela.

É claro que sua candidatura não é uma unanimidade. Existe uma parcela da sociedade que não gosta dela e de Lula, que nunca votou e que nunca votará em alguém do PT. São pessoas que até toleram o presidente, que podem achar que é esperto e espirituoso, que conseguem admirar aspectos de seu governo. Mas que querem que Dilma perca.

Se, então, Dilma reúne ampla maioria no eleitorado e apoios majoritários no sistema político, o que seria a “última hora”? O que falta acontecer, de hoje a domingo?

Formular a pergunta equivale a considerar que o eleitorado ainda não sabe o que vai fazer, que aguarda a véspera para se decidir. Que “tudo pode mudar”.

É curioso, mas quem mais acredita que os outros são volúveis são os mais cheios de certezas, os mais orgulhosos de suas convicções. Mas acham que o cidadão comum (o “povão”) é diferente, que é incapaz de chegar com calma a uma decisão pensada e madura.
É fato que sempre existe uma parcela do eleitorado que permanece indecisa até o final. Já vimos, em eleições anteriores, que ela pode oscilar, saindo de uma candidatura e indo para outras. Conforme o caso, sua movimentação pode provocar resultados inesperados, como ocorreu com o segundo turno em 2006.

Mas aquelas eleições também mostram como acontecem esses fenômenos de “última hora”. Nelas, a única coisa que um quase uníssono da “grande imprensa” contra a candidatura Lula conseguiu fazer foi assustar os eleitores mais frágeis, com baixa informação e baixo interesse por política. Os dados indicam que os eleitores mais informados e com alto e médio interesse em nada foram afetados pela artilharia da mídia (assim como os sem nenhum, que nem ficaram sabendo que havia “aloprados”).

Ou seja: aquela gritaria só fez com que as pessoas mais inseguras a respeito de suas escolhas ficassem confusas, ainda que apenas por alguns dias. Mal começou a campanha do segundo turno, Lula reassumiu as rédeas da eleição e avançou sem problemas até a consagração no final de outubro. É como o título daquela comédia: “Muito barulho por nada”.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi



Fonte: Vermelho

O RECADO DO CUMPADI DIAFONSO.




Carta aberta aos inestimáveis amigos blogueiros

Esta semana que entra é decisiva. Haverá "choro e ranger de dentes" vindos da oposição. Não baixemos a guarda. Conversando, ontem à noite (tomando um uisquinho), com o meu cumpadi prof. Ramos do blog Brasil's news externei a ele a nossa obrigação de intervir para que a mídia golpista não maculasse o processo democrático nessas eleições. Dizia eu que não pude intervir no período da ditaruda, pois minha geração era outra. Sabíamos pouco ou quase nada. Eu tive a oportunidade de estudar todo o meu antigo primário em quartel, nas tais Escolas Reunidas fundadas no governo militar, e, por algo que escapa à minha compreensão, pude perceber que algo não era do jeito que pintavam. Havia algo de estranho naqueles aroubos cívicos a que éramos obrigados e internalizar. Só com o passar dos tempos é que pude atinar para o que acontecia. Não fui omisso, fui, impiedosamente, desinformado e ludibriado. Não tive o poder de intervenção nesta página dolorosa da história do Brasil. Hoje é diferente. Tenho uma rede que me permite diálogo e reflexões. Tenho amigos blogueiros com quem posso interagir. Hoje quero fazer valer (como venho fazendo desde a primeira candidatura de LULA) o meu poder de intervenção como cidadão que deseja o Brasil para os brasileirosa. Tenho à disposição a Blogosfera e meus amigos de batalha. Façamos valer o nosso direito de ser feliz e de ter um país digno e justo para todos. Derrotemos esta mídia golpista, seletiva, mesquinha e parasita! Vale, também, refundar a emoção de um tempo em que ver um projeto político derrotado era apenas um detalhe, pois sabíamos o que queríamos e sabíamos que continuariamos lutando. Deu no que deu: um governo para o povo, pelo povo e do povo com Lula presidente por oito anos. Ele é o cara! Escutemos a aurora de um país diferente (Vale chorar... Já chorei várias vezes antes e... porque não lacrimejar agora?):Ouça a aqui a música que finaliza o texto(é de fazer arrepiar).Fonte:Terra Brasilis.

Post original Terra Brasilis, post atual e título importado do Terror do Nordeste 

NÃO VOU LER O EDITORIAL DO ESTADÃO. FAÇO PARTE DOS 96%. OS 4% LÊEM POR MIM.

by the teacher.

CARTA ABERTA À MULHER MARINA SILVA MULHER

Reapresento aqui ótimo texto do Terra Brasilis sobre Marina Silva.

domingo, 26 de setembro de 2010



Mulher não é Mulher por ser Mulher, apenas, como tem sacramentado a sociedade machista. Fragilidade nela é um engodo que se perpetua. Mulher é Mulher. Força, coragem e determinação são atributos que, mesmo encobertos pela história, sempre estiveram no DNA delas. Mulher não é Mulher para ser execrada, vilipendiada e, muito menos, estampada nas manchetes de jornais por ter sido agredida por marido, amante ou macho que pode tudo e tudo pode. Mulher é Mulher por ser este ser inominável que nos "guarda" a todos durante nove meses - quer este "guardar" proteja um bebê, que se tornará homem; ou uma bebê, que se tornará Mulher. Mulher é esta incógnita que alimenta a humanidade desde os tempos que se perderam com a poeira e que o vento transformou e transforma sempre em halo de vida... De esperança. 
Algumas tendem a ser mães, outras a cuidar de filhos que não tiveram e nunca terão por opção, mas, independente do que a fazem decidir, elas continuam sendo Mulher que cuida de tudo e de todos. A Ciência ainda não definiu, com suas terminologias e nomenclaturas apropriadas, o ser  que habita aquela a quem denominamos carinhosamente e, diriam, misteriosamente... MULHER.
Essa reflexão me levou a inquerir por qual razão, num processo político antropofágico desses, uma Mulher, como Marina Silva Mulher, assiste em silêncio à desconstrução de uma outra Mulher. Por que Marina Silva Mulher se omite e não sai em defesa de outra Mulher cuja imagem está sendo desconstruída pela mídia golpista diuturnamente.

Essa reflexão me obriga a perguntar por qual razão Marina Silva Mulher, altiva e de uma história de vida digna de massagem no ego da humanidade, vai ouvir, ler e assistir à execração pública de uma outra Mulher (e aqui não se discute posicionamento ideológico-partidário), compactuando com essa carnificina midiática golpista sem intervir.
 

Isso é omissão... Isso, para enveredar pelo universo do Re-Ligare ou da Religião, é pecado. Marina Silva Mulher, a senhora sabe, muito bem, que Dilma Rousseff está sendo triturada pelos  órgãos de imprensa conservadores que têm, no seu seletivo modo de "informar", o intuito de se preservarem enquanto parasitas da sociedade brasileira.
 

Marina Silva Mulher, saia em defesa de Dilma Rousseff contra a 
Veja, a Folha de S. Paulo, a Globo e contra todos os meios de comunicação que falam em liberdade de expressão da boca para fora, pois misturam denúncias vazias e sem provas para tumultuar um processo democrático em que o povo, só o povo, pode escolher.

Isso, Marina Silva Mulher é o que a tornará respeitada, não só historicamente, mas também biograficamente. Isso, Marina Silva Mulher, é que a tornará uma Mulher de fibra... Caso contrário, a senhora terá perdido a oportunidade de sacramentar o poder que a Mulher tem e sempre teve nos destinos da humanidade...
 

Isso é fato... De onde a senhora vem, há uma realidade diferente  de tempos imemoriais pela intervenão de uma Mulher como a senhora.
 

Meu respeito e admiração por sua vida de luta... E meu silêncio pelo que a senhora poderia fazer, e já deveria ter feito, e não fez... 
Da editoria-geral do Terra Brasilis
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