domingo, 26 de setembro de 2010

POR QUE NÃO ELA? ENTRE DILMA E MARINA

Marina, candidata pelo Partido Verde (PV), nasceu no Acre em 1958, de pais pobres oriundos do Nordeste. Moradora da floresta, começou ao estudar apenas quando já tinha a idade de 16 anos e em dez anos é graduada em história. Em 1984, junto com Chico Mendes, ajudou a fundar a CUT no Acre e foi eleita vereadora pelo PT em 1988. Deputada estadual em 1990, eleita senadora em 1994 e sendo reeleita em 2002. Conhecida e respeitada pelo movimento ambientalista, em 2003 foi convidada a ser ministra do Meio Ambiente pelo presidente Lula onde trabalhou por seis anos.
Dilma, candidata pelo Partido dos Trabalhadores (PT), nasceu em Belo Horizonte, no ano de 1947. Filha  de imigrante búlgaro com uma professora mineira. Aos 16 anos ela já estaria se juntando a organizações clandestinas de esquerda. Em 1970, é presa e torturada por três anos pelo regime militar. Em 1981, ajuda a fundar o PDT do Rio Grande do Sul. Em 1986 é nomeada secretaria da Fazenda de Porto Alegre, assumindo depois a Secretaria Estadual de Minas, Energia e Comunicação do Rio Grande do Sul. Em 1999, filia-se ao PT, e em 2003, é convidada por Lula para ser ministra de Minas e Energia. Em 2005, torna-se ministra chefe da Casa Civil.
São duas mulheres interessantes, íntegras, inteligentes e com uma biografia de compromisso com as causas sociais. Mas com estas duas opções feminas a pergunta para esta eleição é: Por que uma e não a outra? E o objetivo deste texto é explicar a minha opção.
Dilma e Marina, duas mulheres com estórias de engajamento social e político parecidas, que até recentemente fizeram parte do mesmo governo progressista do PT, mas que agora representam projetos distintos. A forma como eu percebo essa distinção é que teoricamente Marina representa um projeto de desenvolvimento guiado pelo movimento ambientalista (desenvolvimento sustentável). Dilma representa um projeto de desenvolvimento guiado pelo movimento de inclusão social (desenvolvimento com distribuição de renda). Pode-se dizer que esses dois projetos não são antagônicos nem tampouco auto-excludentes. Tanto a Marina quanto a Dilma, de forma variada, defendem o desenvolvimento sustentável e o crescimento com inclusão social. A distinção pode ser feita observando o princípio norteador de cada projeto político. Enquanto o projeto da Dilma tem sido apontado como representando a melhoria do capitalismo dando-lhe uma face mais humana e social (capitalismo social), o projeto da Marina tem sido apresentado como um projeto que de economia verde que visa tornar o meio ambiente parte do capital (eco-capitalismo).
A crítica de fundo que deve ser feita é que em primeiro lugar a ideologia de uma economia verde adotada pelo projeto da Marina se implementado beneficiaria as nações afluentes e que estão no topo da hierarquia do capitalismo global. Essas nações estão mais preparadas e são certamente mais competitivas dentro do contexto do capitalismo verde. Na verdade, esses países afluentes conseguiram criar um verdadeiro nicho de mercado ambientalista, e tem usado as tecnologias limpas (verdes) como estratégia para beneficiar os produtos delas e impedir o acesso de produtos de outros países. Além de serem elas próprias produtoras e exportadoras de produtos criados por e para esse novo mercado. O Brasil pode e deve adotar tecnologias limpas mas com o devido cuidado de não cair no jogo de cartas marcadas do mercado global. Essa tecnologia verde deve atender aos objetivos de incluir ainda mais os seres humanos e o habitat deles (o planeta terra). Se para alguns o projeto da Dilma parece privilegiar o ser humano em detrimento do meio ambiente, para outros o projeto da Marina parece privilegiar o meio ambiente em detrimento do ser humano. Na realidade, um não existe sem o outro. Qual seria o sentido do cosmo para os seres humanos se ele se torna inabitável?
Por que não ela!
A forma de interação do ser humano com o meio ambiente deve ser levado em conta por qualquer projeto de desenvolvimento, sem perder de vista que essa relação deve ser negociada pelos atores humanos. Então o estado tem um papel fundamental nisso. E foi nesse aspecto que a Marina falhou enquanto ministra do Meio Ambiente. Infelizmente ela não demonstrou aptidão e paciência para negociar com todos os atores envolvidos. Atores com agendas e interesses conflitantes mas que precisam ser ouvidos e de certa forma atendidos pelos agentes do estado, ou mais precisamente, por quem está no governo. Nisso o presidente Lula se mostrou muito bem sucedido, negociando intensamente com os mais diversos atores. É claro que isso implicou concessões e perdas, mas feitas com o objetivo de avançar de forma mais ampla naquilo que beneficia a todos os brasileiros, a terra Brasil e mesmo outros povos. Isso demonstrou uma visão paciente e de longo alcance do governo Lula.
Porém o Ministério do Meio Ambiente, sob a liderança da Marina, não parecia acompanhar essa mesma dinâmica de dialogicidade com grupos de interesses diferentes. Marina também parece não ter demonstrado grande capacidade de coordenação e articulação dentro da própria pasta dela. Havia muita queixa quanto a lentidão na expedição de licenças ambientais, o que significava o travamento de projetos importantes para o desenvolvimento do país. Por estar presa ao lobby verde ela não conseguia entender a ansiedade dos grupos empresariais e nem mesmo de grupos desenvolvimentistas. Marina renuncia em 2008 expressando frustração, mas com a chegada do geógrafo e ambientalista Carlos Minc, o Ministério do Meio Ambiente adquire uma outra dinâmica e parece realmente avançar onde antes se mostrava emperrado. Isso demonstrou que a causa dos problemas estava na ministra e não no ministério.
Marina continua no PT, onde ela sempre demonstrou se sentir em casa, mas em julho de 2009 representantes do PV a abordam, e em reunião com ela, apresentam uma pesquisa de opinião que mostrava que se fosse candidata a presidente da república ela já começaria com 14% da intenção de votos. Marina cai no canto da sereia. Até mesmo a direita anti-verdista vibra e concede a ela a projeção em revistas e jornais de grande circulação.  É evidente que Marina não deixa o PT por questões de divergências ideológicas ou de projeto. Ela deixa o PT para assumir um projeto pessoal em um partido pequeno que precisava de alguém que pudesse fazer o partido crescer nacionalmente. Foi uma cartada inteligente do PV e tem na verdade mostrado resultado. Como candidata do PV, a Marina se apresenta como a candidata da terceira via (ou via media) tentando unir o irreconciliável. Diz que se eleita, ela governará com ambos PSDB e PT, o que demonstra uma certa ingenuidade política de uma pessoa experiente na política brasileira. Ela não perde tempo em afagar e defender o governo do Fernando Henrique Cardoso e de uma forma que nem mesmo o candidato do PSDB faz. Defender o indefensável, no caso aqui  FHC, é parte de uma estratégia eleitoral, pois se fosse para o segundo com a Dilma, a Marina sabe que iria contar com o apoio do PSDB.
Na verdade, quando o quadro eleitoral ainda não estava claro, Marina jogava com ambas as possibilidades, ou seja a de disputar um possível segundo turno com Serra ou Dilma. Agora que há uma certa clareza (de acordo com as pesquisas) sobre quem já está no segundo turno, Marina tenta tirar votos de ambos Serra e Dilma para ser a segunda colocada. S echegar a disputar o segundo turno contra Dilma ela formará uma coligação com o DEM e PSDB.  Então, se eleita, ela muito provavelmente não governará com o PT.
O fato de Marina agora não fazer parte de coligação alguma mostra a fragilidade da candidatura dela e do risco que será um governo liderado pelo PV. Ela ficará refém dos setores mais atrasados e reacionários da sociedade brasileira. O maior problema será que a agenda verde que ela defende não terá espaço a não ser para ser discutida e continuar como um ideal. E quando ela diz que é positivo não ter coligações pois isso reforça o compromisso dela com o eleitor, isso soa como meramente uma forma de compensar a ausência de uma composição política que dê substância ao projeto político dela. Na verdade, aqui reside uma profunda contradição no discurso da Marina. Os partidos políticos são importantes, e em uma democracia nenhum governante pode prescindir deles. Então não existe isso de compromisso com eleitor sem respeitar ou considerar o mandato dos partidos políticos dados pelo eleitor. Mais, se a Marina teve dificuldades de negociar com setores desenvolvimentistas dentro do governo, como ela conseguirá lidar com os setores que representam os interesses dos ruralistas e das grandes corporações que inevitavelmente, através do PSDB e DEM, farão parte do governo dela? Infelizmente as recentes declarações feitas por ela, como disse o Emir Sader, a fez “cair no colo da direita e cancelam qualquer traço progressista que sua candidatura poderia ter até agora. Quem estiver ainda com ela, está fazendo o jogo da direita golpista, não há mais mal entendidos possíveis” (Revista Carta Maior, 03/09/2010).
Por que Ela!
Enquanto a Marina se enrolava no Ministério do Meio Ambiente, a Dilma continuava crescendo dentro do governo mostrando elevada competência na condução do Ministério das Minas e Energia. Isso se dá a tal ponto de impressionar o presidente Lula que a convida a assumir o ministério da Casa de Civil. É nesse ministério que ela demonstra uma grande capacidade de coordenação dos vários ministérios e projetos, bem como traquejo em negociar com os mais diversos setores da sociedade. Enquanto a Marina ainda ficava na abstração de um ideal verde, a Dilma estava implementando na prática um projeto que significava inclusão social e transformação da realidade material dos diversos estados da República Federativa do Brasil. Assim, Dilma se faz co-responsável com o Lula pelo êxito das políticas públicas que tem mudado a face do país nesses últimos anos.
Dilma se manteve fiel e leal a um projeto de governo, mesmo em face das adversidades, por conta de uma visão de longo alcance onde o projeto mais amplo de transformação social é mais importante do que derrotas pontuais em negociações políticas. Dilma se apresenta como uma candidata que tem competência para coordenar diferentes grupos dentro de um governo, e sabe negociar com aqueles que representam interesses divergentes na sociedade. Dilma tem a experiência de governar com umacoalização política e faz parte de uma coligação que, mesmo contendo elementos conservadores, representa uma aliança progressista. Dilma encarna hoje a esquerda idealista e pragmática que defende um desenvolvimento que significa distribuição de renda, inclusão social, redução da desigualdade, restauração da dignidade dos brasileiros, e um protagonismo do Brasil no cenário internacional.
Eis porque Ela! *Joabe G Cavalcanti é teólogo e sacerdote anglicano.
Blog Ruminações de um Pastor Rabugento: http://pastorrabugento.blogspot.com
Este texto foi importado para o Brasil's News a partir do Blog da Dilma

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