Num fim de semana em que Época e Veja apontaram canhões contra o governo federal, com capas idênticas sobre a "inflação do tomate", e pediram doses cavalares de juros às vésperas de uma reunião do Comitê de Política Monetária, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisa: "inflação não se combate com tiro de canhão"; um balde de água fria para o jornalismo tomateiro e para o economista Alexandre Schwartsman, que pede quatro pontos na Selic "para começar o jogo"
13 DE ABRIL DE 2013 ÀS 19:28
247 - Ainda não será desta vez que as revistas Época e Veja, assim como o economista Alexandre Schwartsman, conseguirão levar o que estão buscando. As duas revistas semanais, numa surpreendente coincidência editorial (será mesmo?), deram capas idênticas sobre a chamada "inflação do tomate" e pediriam doses cavalares de taxas de juros, às vésperas de uma reunião do Comitê de Política Monetária. Mais explícito ainda foi Schwartsman, que sugeriu um aumento de quatro pontos na taxa Selic "para começar o jogo".
No entanto, o ministro Guido Mantega tem um recado para a turma do tomate que cairá como um balde de água fria. "Inflação não se combate com tiro de canhão", disse o ministro, em entrevista que circula na edição deste domingo do jornal Estado de S. Paulo. O ministro não adiantou a posição do Banco Central, mas fica claro que, se houver alguma elevação da taxa Selic, hoje em 7,25% ao ano, será muito moderada – e bem distante do que demandam Veja, Época e Schwartsman.
Mantega afirmou ainda que, no Brasil, "até a indústria estava viciada em juros altos", mas disse que todos terão que se acostumar com o novo patamar das taxas. Segundo ele, a inflação atual é momentânea e, no caso dos alimentos, tem ligação direta com secas que aconteceram no Brasil e nos Estados Unidos.
De acordo com técnicos do IBGE, a inflação deve cair nos próximos meses. Abaixo, notícia da Agência Brasil sobre a perspectiva de queda do IPCA:
Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Apesar do forte aumento no início do ano, com o estouro do teto da meta (6,5%) no acumulado de 12 meses, a inflação oficial não deve fugir do controle. Segundo especialistas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve arrefecer nos próximos meses, até encerrar o ano em níveis similares aos do ano passado.
Para os economistas, a possibilidade de o Banco Central (BC) reajustar os juros básicos da economia pela primeira vez em quase dois anos e as novas reduções de impostos anunciadas pelo governo contribuirão para conter os preços. No entanto, o fator decisivo que ajudará a segurar a inflação é o esgotamento das principais pressões sobre os índices.
Segundo o economista chefe do banco Sulamérica Investimentos, Newton Rosa, os preços dos alimentos, que se refletiram no IPCA nos três primeiros meses do ano, tendem a cair depois dos níveis recorde de março. “A perspectiva de uma safra recorde nos próximos meses e a desoneração da cesta básica vão arrefecer a pressão dos alimentos sobre os preços”, diz Rosa. Ele também ressalta que os custos com educação, que também influenciaram a inflação no primeiro trimestre, já se estabilizaram.
Para ele, a atuação do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que se reunirá na próxima semana para fixar os juros básicos da economia, também será decisiva para conter a inflação. “O Banco Central vai contribuir para segurar as expectativas. A alta dos juros é importante para cortar o canal que alimenta a inflação e facilitar a estabilização dos índices, não apenas em 2013, mas também no próximo ano”, explica. Ele acredita que, caso o Banco Central não reajuste a taxa Selic na próxima semana, tomará a decisão no fim de maio.
Tanto o mercado quanto o governo acreditam que a inflação desacelerará nos próximos meses. No último boletim Focus, pesquisa com instituições financeiras divulgada toda semana pelo Banco Central, os analistas preveem que o IPCA encerrará o ano em 5,7%. No Relatório de Inflação, divulgado no fim de março, o BC também projeta que a inflação vai desacelerar no segundo semestre.
De acordo com o Relatório de Inflação, o IPCA deverá acelerar um pouco nos próximos meses,até atingir 6,7% no acumulado de 12 meses terminados em junho. O índice, então, deverá recuar para 6% no fim de setembro, até terminar o ano em 5,7%. Para 2014, a autoridade monetária projeta inflação oficial em torno de 5,3%.
Ex-diretor do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas também acredita que a inflação desacelere no segundo semestre e chegue ao fim do ano abaixo do teto da meta. Ele não arrisca uma estimativa exata, mas diz que, mesmo fechando 2013 em menos de 6,5%, a inflação continua alta. Segundo Freitas, problemas estruturais da economia brasileira têm feito o IPCA ficar acima de 5% nos últimos anos.
Para ele, a política econômica e o fato de o Brasil estar vivendo níveis mínimos de desemprego contribuem para que a inflação continue em níveis elevados. “O país está com condições de crescimento baixo porque o uso da capacidade instalada está elevado e a economia está em pleno emprego. Neste cenário, se o governo estimula a demanda, seja reduzindo impostos ou facilitando o crédito, a produção só pode crescer acompanhada de aumentos de preços.”