domingo, 15 de agosto de 2010

O "CIDADÃO KANE" ATACA NOVAMENTE

                       Na foto, o ex-ator que hoje é diretor de jornalismo

Lendo em Luis Nassif Online, aqui, o ótimo texto "A vez de jogar a Época na lama" que faz a referência a reportagem de capa do semanário das organizações Globo, na qual são feitas perguntas, as mais meigas possíveis, sobre o passado de Dilma Roussef chegamos a conclusão de que esta guerra está muito longe do fim e de que o inimigo  não se entregará facilmente nem jogará de maneira limpa. As diversas tentativas que o "Partido da Imprensa Golpista" , ou PIG,  tem feito até agora para manipular a vontade do povo não surtiram efeito: A ficha falsa de Dilma, O ex-prisioneiro que disse ter sido abusado pelo Presidente Lula quando estavam em uma prisão, os ataques à Petrobrás, A celeuma da fabricação de dossiês a partir do Comitê Central da campanha do PT nada dissso deu certo. A "Época" retoma um tema que a oposição e o PIG, através da FSP., já tentaram explorar antes que foi recorrer ao passado de Dilma. Muitos "post"  têm sido colocados na rede  dizendo que isto não dará em nada e, até certo ponto, concordo com eles. Mas a discussão não é essa! O problema maior é que estamos num país que se diz já maduro democraticamente. Onde as instituições se dizem consolidadas, onde órgãos como a OAB se preocupam até com a licença médica de um Ministro do STF(estou falando da celeuma envolvendo o Ministro Joaquim Barbosa). Então a pergunta que cabe é: Não há nenhuma instituição neste país capaz de questionar esta atitude de alguns órgãos da imprensa? Pode jornais, telejornais e revistas agirem de modo francamente parcial em favor de um único candidato? Há democracia  nessas atitudes? a justiça está sendo feita e o direito inalienável à informação que o cidadão tem está sendo respeitado? Acho que não. A atuação nos domínios da Internet tem sido exemplar. o próprio Presidente Lula manifestou isto em forma de vídeo. Mas será que isso é suficiente? Não será a hora de levarmos o que está acontecendo na imprensa brasileira para o conhecimento daqueles que não têm acesso à blogosfera? Também acho que sim. A grande pergunta, que talvez seja respondida em outro "post" é: como? Como combateremos no mundo real uma rede de televisão, um jornal, uma rádio? Que estratégia será usada? Não tenho respostas. Mas tenho uma certeza: ou os que se sentem indignados e prejudicados com esse estado de coisas encontram soluções para este verdadeiro atentado aos princípios da democracia ou estaremos fadados a, em toda eleição,  ficarmos com o coração na mão, temendo que o vitorioso seja não o escolhido pelo povo, mas o escolhido pelo "quarto poder".
by "the teacher"

O MUNDO VAI ASSISTIR PASSIFICAMENTE A MAIS UM HOLOCAUSTO?

As mentiras sobre Hiroshima são as mentiras de hoje

por John Pilger 
 
No aniversário do lançamento da bomba atómica sobre Hiroshima, a 6 de Agosto de 1945, John Pilger descreve a 'sucessão de mentiras' desde a poeira daquela cidade destruída até às guerras de hoje – e à ameaça do ataque ao Irão.
 
 
 
Quando fui a Hiroshima pela primeira vez, em 1967, ainda ali se encontrava a sombra nos degraus. Era uma imagem quase perfeita de um ser humano descontraído: as pernas esticadas, as costas dobradas, uma mão na cintura, enquanto estava ali sentada à espera que o banco abrisse. Às oito e um quarto da manhã de 6 de Agosto de 1945, ela e a sua silhueta ficaram gravadas a fogo no granito. Fiquei a olhar para aquela sombra durante uma hora ou mais, depois desci até ao rio e encontrei um homem chamado Yukio, que ainda tinha gravado no peito o padrão da camisa que vestia quando caiu a bomba atómica.

Ele e a sua família ainda viviam numa cabana enterrada na poeira de um deserto atómico. Descreveu um gigantesco clarão sobre a cidade, "uma luz azulada, como um curto-circuito eléctrico", depois do que soprou um vento como um tornado e caiu uma chuva negra. "Fui atirado ao chão e só reparei que os pés das minhas flores tinham desaparecido. Estava tudo calmo e silencioso e, quando me levantei, as pessoas estavam todas nuas e não diziam uma palavra. Algumas delas não tinham pele, outras não tinham cabelo. Tive a certeza de que estava morto". Nove anos depois, quando lá voltei e o procurei, ele tinha morrido com leucemia.

Imediatamente depois da bomba, as entidades aliadas de ocupação proibiram qualquer referência ao envenenamento por radiações e afirmaram insistentemente que as pessoas tinham morrido ou sofrido danos apenas pela explosão da bomba. Foi a primeira grande mentira. "Não há radioactividade nas ruínas de Hiroshima", dizia a primeira página do 
New York Times, um clássico da desinformação e da subserviência jornalística, que o repórter australiano Wilfred Burchett denunciou com o seu 'furo' do século. "Estou a escrever isto como um alerta a todo o mundo", noticiava Burchett no Daily Express, quando chegou a Hiroshima depois de uma perigosa viagem, o primeiro correspondente que se atreveu. Descreveu salas hospitalares cheias de pessoas que não tinham ferimentos visíveis mas que estavam a morrer duma coisa a que ele chamou "uma peste atómica". Por ter contado esta verdade, retiraram-lhe a credencial de imprensa, foi ridicularizado e caluniado – e inocentado.

A bomba atómica de Hiroshima foi um acto criminoso a uma escala épica. Foi um assassínio de massas premeditado que pôs à solta uma arma de criminalidade intrínseca. Por causa disso, os seus defensores refugiaram-se na mitologia da suprema "guerra boa", cujo "banho ético", conforme Richard Drayton lhe chamou, tem permitido ao ocidente não só desculpar o seu sangrento passado imperial mas promover 60 anos de guerra de rapina, sempre à sombra de A Bomba.

A mentira mais duradoura é que a bomba atómica foi lançada para acabar com a guerra no Pacífico e salvar vidas. "Mesmo sem os ataques das bombas atómicas", concluiu o Strategic Bombing Survey dos Estados unidos, em 1946, "a supremacia aérea sobre o Japão podia ter exercido pressão bastante para provocar uma rendição incondicional e evitar a necessidade de invasão. Com base numa investigação pormenorizada de todos os factos, e apoiada pelo testemunho dos lideres japoneses sobreviventes envolvidos, é opinião do Survey que … o Japão se teria rendido mesmo que não tivessem sido lançadas as bombas, mesmo que a Rússia não tivesse entrado na guerra e até mesmo se não tivesse sido planeada ou contemplada qualquer invasão".

Os Arquivos Nacionais de Washington contêm documentos do governo dos EUA que representam em gráfico as tentativas de paz japonesas já em 1943. A nenhuma delas foi dado seguimento. Um telegrama enviado em 5 de Maio de 1945 pelo embaixador alemão em Tóquio e interceptado pelos EUA dissipa todas as dúvidas de que os japoneses estavam desesperados para suplicar a paz, incluindo "capitulação mesmo que as condições sejam pesadas". Em vez disso, o secretário americano da Guerra, Henry Stimson, disse ao presidente Truman que tinha "receio" de que a força aérea americana "bombardeasse" o Japão de tal modo que a nova arma não pudesse "mostrar a sua força". Posteriormente reconheceu que "não tinha sido feita nem considerada qualquer tentativa para conseguir a rendição apenas para não ter que utilizar a bomba". Os seus colegas da política externa estavam ansiosos "por intimidar os russos com a bomba que trazíamos bastante ostensivamente à cintura". O general Leslie Groves, director do Projecto Manhattan que fez a bomba, testemunhou: "Nunca tive qualquer ilusão de que o nosso inimigo era a Rússia e que o projecto foi orientado nessa base". Um dia depois de Hiroshima ter sido arrasada, o presidente Truman manifestou a sua satisfação pelo "êxito esmagador" da "experiência".

Desde 1945, pensa-se que os Estados Unidos estiveram à beira de usar armas nucleares pelo menos três vezes. Ao travar a sua fictícia "guerra contra o terrorismo", os actuais governos de Washington e de Londres declararam estar preparados para fazer ataques nucleares "preventivos" contra estados não nucleares. A cada avanço para a meia-noite de um Armagedão nuclear, as mentiras de justificação são cada vez mais escandalosas. O Irão é a actual "ameaça". Mas o Irão não tem armas nucleares e a desinformação de que está a planear um arsenal nuclear provém sobretudo de um grupo da oposição iraniana, o MEK, patrocinado por uma CIA desacreditada – tal como as mentiras sobre as armas de destruição maciça de Saddam Hussein tiveram origem no Congresso Nacional Iraquiano, montado por Washington.

O papel do jornalismo ocidental em levantar este espantalho é fundamental. Que a Defence Intelligence Estimate da América tenha dito "com toda a confiança" que o Irão desistiu do seu programa de armas nucleares em 2003, foi remetido para o buraco do esquecimento. Que o presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, nunca tenha ameaçado "varrer Israel do mapa" não tem qualquer interesse. Mas tamanha tem sido a mística lenga-lenga dos meios de comunicação deste "facto" que, na sua recente representação subserviente perante o parlamento israelense, Gordon Brown aludiu a isso, quando mais uma vez ameaçou o Irão.

Esta progressão de mentiras conduziu-nos a uma das mais perigosas crises nucleares desde 1945, porque a ameaça real mantém-se quase impossível de referir nos círculos governamentais ocidentais e portanto nos meios de comunicação. Há apenas uma potência nuclear desenfreada no Médio Oriente e é Israel. O heróico Mordechai Vanunu tentou alertar o mundo em 1986 quando forneceu provas de que Israel estava a construir 200 ogivas nucleares. Desafiando as resoluções das Nações Unidas, Israel está actualmente ansiosa por atacar o Irão, com receio de que uma nova administração americana possa, apenas possa, efectuar genuínas negociações com uma nação que o ocidente tem caluniado desde que a Grã-Bretanha e a América derrubaram a democracia iraniana em 1953.

No 
New York Times de 18 de Julho, o historiador israelense Benny Morris, outrora considerado um liberal e actualmente consultor da instituição política e militar do seu país, ameaçou "um Irão transformado num deserto nuclear". Isso seria um assassínio de massas. Para um judeu, é uma ironia gritante.

Impõe-se a questão: vamos nós todos ser meros espectadores, afirmando, como fizeram os bons alemães, que "nós não sabíamos"? Vamos esconder-nos cada vez mais por detrás do que Richard Falk designou por "uma cortina legal/moral, beata, de uma só face" [com] imagens positivas de valores e inocência ocidentais, apresentada como estando ameaçada, validando uma campanha de violência ilimitada"? Está outra vez na moda apanhar criminosos de guerra. Radovan Karadzic está no banco dos réus, mas Sharon e Olmert, Bush e Blair não estão. Porquê? A memória de Hiroshima exige uma resposta. 
 
08/Agosto/2010
 
Tradução de Margarida Ferreira. 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 
Blog fonte: Cidadã do Mundo
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