sábado, 30 de julho de 2011

EUA: A MISÉRIA BATE À PORTA



Mais de 5 milhões de lares perderam toda a riqueza desde 2005 nos EUA
5,6 milhões de lares, ou 15 milhões de pessoas, tiveram toda sua riqueza completamente destruída durante a primeira parte da queda econômica
Por Andre Damon, na Revista Fórum
Tradução de Idelber Avelar

O lar típico dos EUA perdeu 28% de sua riqueza durante a crise econômica, com um terço tendo sido completamente destruído, de acordo com uma recente análise de números do Census Bureau realizada pelo Centro de Pesquisas Pew, intitulada “A diferença de riqueza entre brancos, negros e hispânicos sobe a um nível recorde”.

O estudo focaliza as disparidades raciais, mas as descobertas mais assustadoras dizem respeito ao empobrecimento geral de todos os setores da população. A porcentagem de lares dos EUA que tem ativos de zero dólares ou abaixo—ou seja, que têm mais dívidas que posses—subiu de 15% em 2005 para 20% em 2009. Isso significa que 5,6 milhões de lares, ou 15 milhões de pessoas, tiveram toda sua riqueza completamente destruída durante a primeira parte da queda econômica. Estes números vêm de uma pesquisa do Census Bureau para 2005 e 2009.

O estudo mostrou que, depois de ajustes de inflação, a riqueza média dos lares dos EUA caiu de US$96.894 em 2005 para US$70.000 em 2009, uma queda de 28%. A maior parte disso é atribuível à queda vertiginosa no valor dos imóveis, que foi da ordem de 30% entre 2006 e 2009 e até maior desde então.

A queda no valor das casas se combinou com a queda nos salários. Entre 2005 e 2009, a média recebida pelos trabalhadores por hora caiu 5%, depois de ajustada a inflação, de acordo com o Ministério do Trabalho.

O endividamento tem crescido de forma tão rápida como a riqueza tem caído. Entre 2005 e 2009, as dívidas não asseguradas cresceram 33% para a população como um todo, mostrou o estudo. Enquanto isso, a parcela da riqueza em mãos dos 10% mais ricos cresceu de 49% em 2005 para 56% em 2009.

As minorias raciais receberam um golpe particularmente duro, incluindo-se aí a queda no valor das casas. A riqueza líquida do lar hispânico caiu 56%, de US$12.124 em 2005 a US$5.677 em 2009. O valor líquido dos lares negros também desabou, 53%. Entre os hispânicos, as dívidas não asseguradas subiram 47%.

O nível de desigualdade entre brancos, negros e hispânicos é hoje o maior dos últimos 25 anos, e sem dúvida é mais alto do que antes desses 25 anos. A diferenciação racial é parcialmente atribuível à geografia. Enquanto que os brancos viram o valor de suas casas cair 18% e os negros, 23%, o valor das casas dos hispânicos caiu em mais de 50%.

Como nota o relatório, “em 2005, mais de dois em cada cinco lares hispânicos ou asiáticos se encontrava no Arizona, Califórnia, Flórida, Michigan ou Nevada, os cinco estados com declínios mais agudos nos preços das casas”. Para os hispânicos que moram nesses estados, nota o relatório, os ativos médios caíram de US$51.464 em 2005 para US$6.375 em 2009, uma queda de 88%.

Essas divergências raciais, no entanto, mascaram o aumento mais fundamental da desigualdade entre as classes trabalhadoras e os ricos de todas as raças. O relatório nota que os 10% dos negros mais ricos controlam 67% de toda a riqueza daquele grupo, comparado com 59% antes da crise. Para os hispânicos, da mesma forma, os 10% mais ricos controlam 72% da riqueza em 2009, por oposição a 59% em 2005.

O número de desempregados, enquanto isso, subiu de 7,9 milhões para 15,2 milhões entre 2005 e 2009. O crescimento do desemprego também afetou as minorias desproporcionalmente. O desemprego tem afetado negros e hispânicos de forma desproporcional, com a taxa atualmente em 16,5% para os negros e 11,6% para os hispânicos.

A tremenda queda na riqueza tem tido um efeito transformador na sociedade estadunidense, contribuindo para milhões de execuções de hipotecas e falências pessoais. De acordo com os números da Realtytrac.com, houve 10 milhões de execuções de hipotecas entre 2005 e 2009.

Abaixo o original em inglês e aqui a sua fonte.

More than 5 million households had their wealth wiped out since 2005

By Andre Damon 
28 July 2011
The typical US household lost 28 percent of its wealth during the economic crisis, with one third of these being totally wiped out, according to a recent analysis of Census Bureau data carried out by the Pew Research Center, “Wealth Gaps Rise to Record Highs Between Whites, Blacks and Hispanics”.
While the study headlines racial disparities, the most striking findings concern the general impoverishment of all sections of the population. The percent of US households who have a net worth of zero dollars or below—meaning they have more debts than assets—grew from 15 percent in 2005, to 20 percent in 2009. This means that 5.6 million households, or about 15 million people, had their wealth totally wiped out during the first part of the economic downturn. These figures come from an analysis of Census Bureau survey data for 2005 and 2009.
The study found that, after adjusting for inflation, the median wealth of US households fell from $96,894 in 2005 to $70,000 in 2009, a drop of 28 percent. The majority of this is attributable to the precipitous fall in real estate values, by about 30 percent between 2006 and 2009 and even more since.
The fall in home values has been compounded by falling wages. Between 2005 and 2009, workers’ average hourly earnings fell, on an inflation-adjusted basis, by 5 percent, according to the Labor Department.
Indebtedness has grown as rapidly as wealth has fallen. Between 2005 and 2009, unsecured liabilities grew 33 percent for the population as a whole, the study found.
Meanwhile, the share of household wealth held by the wealthiest ten percent of households grew from 49 percent in 2005 to 56 percent in 2009.
Racial minorities have been particularly hard hit, including by the fall in housing values. The net worth of Hispanic households fell by a staggering 66 percent, from $12,124 in 2005 to $5,677 in 2009. The net worth of black households has likewise tumbled 53 percent. Among Hispanics, unsecured debt grew by 47 percent.
The level of inequality between whites, blacks, and Hispanics is now at the highest level in 25 years, and no doubt longer. The racial differentiation is partly attributable to geography. While whites saw the values of their own homes fall by 18 percent and blacks by 23 percent, the home values of Hispanics fell by more than half.
As the report notes, “In 2005, more than two-in-five of the nation’s Hispanic and Asian households resided in Arizona, California, Florida, Michigan and Nevada, the five states with the steepest declines in home prices.” For Hispanics living in these states, the report noted, “median net worth tumbled from $51,464 in 2005 to $6,375 in 2009, a loss of 88 percent.”
These racial divergences, however, mask the more fundamental growth of inequality between the working class and the wealthy of all races. The report notes that the wealthiest 10 percent of blacks now controls 67 percent of the wealth for that group, compared to 59 percent before the downturn. For Hispanics, likewise, the wealthiest 10 percent controlled 72 percent of wealth in 2009, up from 59 percent in 2005.
The number of unemployed, meanwhile, grew from 7.9 million to 15.2 million between 2005 and 2009. Rising unemployment, too, has disproportionately affected minorities. Unemployment has affected blacks and hispanics disproportionately, with the unemployment rate for blacks currently at 16.5 percent and 11.6 percent for hispanics.
The staggering fall in wealth has had an transformative effect on American society, contributing to the millions of foreclosures and personal bankruptcies. According to figures from Realtytrac.com, there were 10 million foreclosures between 2005 and 2009, the years covered by the survey.


via  O Esquerdopata

segunda-feira, 25 de julho de 2011

TEIXEIRA E A GLOBO SÃO OS MURDOCH DO BRASIL. E NÃO DURAM MUITO




Nenhum político inglês ousava contrariar Murdoch.

Ele escolhia os primeiros ministros e decidia a política externa que melhor servia a seus interesses comerciais, ou seja, aos Estados Unidos.

Foi o que ele fez ao pressionar o primeiro ministro Tony Blair a se conformar ao papel de George Bush no Iraque.

Murdoch controlava uma paixão nacional inglesa: as revelações dos tablóides inescrupulosos.

A imprensa “séria” não tocava em Murdoch.

O  Judiciário fazia vistas grossas.

Murdoch e a Metropolitan Police, a Scotland Yard, serviam um ao outro.

Até que …

Barack Obama se recusou a dar entrevista à Fox News de Murdoch: não era uma rede de televisão, mas instrumento político do Partido Republicano.

O repórter Nick Davies do jornal inglês The Guardian entrou na sala do editor chefe, Alan Rusbridger e perguntou se ele se interessava pela informação de que o filho de Murdoch, James, tinha feito um acordo secreto para pagar um milhão de dólares e abafar provas de comportamento criminoso dentro da empresa.

(Leia na revista Época, pág. 62.)

A apuração de Nick tambem interessou o New York Times, que passara a enfrentar Murdoch diretamente no mercado americano, com a compra – e a subsequente degradação – do Wall Street Journal.

Rusbriger resume o desfecho provisório da denúncia contra o ex-todo poderoso Murdoch:

o fechamento de um jornal lucrativo, o News of the World;

o fracasso da compra de uma empresa de teve a cabo e uma espécie de CNN européia;

a desmoralização da Scotland Yard;

a classe política foi obrigada a desnudar-se diante de uma opinião pública perplexa;

e repulsa generalizada a um Al Capone que edita jornais como se contrabandeasse uísque falso do Canadá.

Além do desmantelamento da Ley de Medios inglesa, que se mostrou incapaz de coibir o generalizado e criminoso sistema de grampos e a cumplicidade da Polícia em abastecer a imprensa de esgoto de Murdoch.

Nenhum político brasileiro ousa enfrentar a Globo.

(Com três exceções: Leonel Brizola, Garotinho e Roberto Requião.)

A Globo parece imbatível – como Murdoch.

A Globo controla uma paixão nacional: o futebol.

O Campeonato Nacional e a Seleção Nacional.

Ela ganha dinheiro com isso, como Murdoch com a vida íntima da família real, tal qual exposta nos tablóides.

A Globo derruba o técnico, escala os jogadores, decide onde jogam a seleção e os clubes, e a que horas.

Porque a Globo tem um parceiro poderosíssimo – e que pode ser a corda com que ela se enforcará.

É Ricardo Teixeira.

Como Murdoch e a Globo, nenhum político ousa enfrentar Teixeira.

A mídia “séria”, aqui chamada de PiG (*), poupa Teixeira.

O Ministro dos Esportes trata Teixeira como um Chefe de Estado.

A Justiça ignora Teixeira.

O Ministério Público foge mais do Teixeira do que do Daniel Dantas.

Uma CPI que incriminou Teixeira 11 vezes teve o efeito desastroso de aguar (um pouco) o chopp que ele servia num restaurante no Jockey Club do Rio.

Teixeira move a Globo e por ela é movido.

É o veículo flex da política nacional.

Ainda mais que vem aí a Copa.

E quem ousaria enfrentar a Gloteixeira ?

É aí que reside o perigo.

Um outro repórter inglês, Andrew Jennings, a serviço da BBC, escreveu o livro “Jogo Sujo” e, num documentário , fez a pergunta que retirou a primeira pedra da monumental arquitetura: Mr. Teixeira, did you accept the bribe ?

A Justiça da Suíça apura se Teixeira aceitou a propina e, depois, como o sogro, Havelange, teve que devolver para abafar o caso.

Se o Ministro dos Esportes, Orlando Silva,  e o do Exterior, Antônio Patriota, quisessem proteger a biografia, apresentavam o Brasil à Justiça da Suíça como interessado em acompanhar o processo e descobrir se Mr. Teixeira accepted the bribe.

O dono da Copa se dá a receber – e devolver – propinas ?

Não basta perder quatro pênaltis  ?

Murdoch despiu a Inglaterra.

É um desses escândalos que magoam a alma de uma Nação e expõem as vísceras.

O povo inglês se viu num óleo de Lucien Freud e se envergonhou do que viu.

A imprensa de Murdoch instalou a Inglaterra e os Estados Unidos num reality show.

Como o reality show da Globo e Teixeira: onde ganha o mais malandro, o esperrrto, que faz o que quer, numa boa.

E se alguém percebe fica por isso mesmo.

Quem ousaria punir ou contestar o dono do circo.

De todos os circos ?

Só que é na frente de todo mundo.

Num futebol de quinta categoria.

Numa seleção que não vai para a semifinal.

E a Globo e Teixeira ganham um monte de dinheiro.

Trinta milhões para organizar festa de uma noite só !

A Globo e Teixeira, juntos, estão acima do certo e do errado.

É uma aliança que escreve a sua própria Ética, o próprio código de conduta.

Como Murdoch.  

Mas, Ricardo Teixeira e a Globo correm o risco de, eles mesmos, serem lançados numa sala fechada, envidraçada , com as luzes acesas.

E lá fora, uma Nação indignada.

Furiosa.

Quem manda  manipular a paixão de um povo ?


Paulo Henrique Amorim

Fonte:   Conversa Afiada

PARA ENTENDER A ESTRATÉGIA LULA-DILMA


Por LuisNnassif

Apesar de surpreender a gregos e troianos, a estratégia política de Lula-Dilma Rousseff é relativamente fácil de desvendar.

A primeira peça do jogo é não imaginar Dilma dissociada de Lula. Não existe hipótese para ciumeiras, rompimentos. A diferença de estilo entre ambos não é semente para futuras disputas, mas peça essencial na sua estratégia.

Primeiro, vamos às afinidades políticas e à continuidade de ambos os governos.
 1.Ambos são sociais-democratas. Não se exija perfil revolucionário, nem mesmo estatizante, embora estejam longe de se constituir em neoliberais.
 2.São políticos focados em resultados sociais, como peça central de legitimação política, Dilma dando mais atenção à gestão, Lula à política (mesmo porque tinha Dilma para cuidar da gerência).
 3.Na política econômica, a prioridade absoluta é o controle da inflação. Câmbio, desindustrialização, juros, é resto. E resto é resto. Embora Dilma tenha formação desenvolvimentista, a realpolitik se sobrepôs às demais prioridades. Se a crise internacional piorar, pode criar vulnerabilidades nessa parte da estratégia.
 4.No plano político, a lógica não é do confronto, mas da soma. Dilma aprendeu com Lula a dividir os contrários em dois grupos: os adversários e os inimigos. O primeiro grupo é para ser cativado ou cooptado.

Diferenças periféricas

As diferenças de estilo entre Lula e o Dilma são periféricas, embora importantes na montagem da estratégia política. No plano econômico e ideológico, são governos de continuidade.

Muitos analistas – à direita e à esquerda – tomam a nuvem por Juno, as diferenças periféricas pelas essenciais. E acabam se confundindo na análise do governo Dilma e de sua estratégia política.

Os fatores utilizados pela velha mídia para desgastar Lula (fazendo muito barulho, embora influenciando apenas 5% do eleitorado) são desimportantes e nada tem a ver com as peças centrais de sua política.

No plano político, nos últimos anos  desenterrou fantasmas da guerra fria que se supunham extintos desde os anos 60. Na diplomacia, a questão iraniana. Na política interna, o pesado véu de preconceito contra Lula e o enfrentamento nos últimos anos. As críticas contra as políticas sociais foram devidamente enterradas pelos fatos.

Ao assumir, sem comprometer os pontos centrais de sua política, Dilma definiu um estilo diferente de Lula na forma, embora muito similar no conteúdo – inclusive surpreendendo os que supunham que partiria para um confronto direto com adversários.

Colocou a questão dos direitos humanos como foco da diplomacia, deu atenção a FHC, compareceu ao aniversário da Folha, nos últimos dias convidou jornalistas brasilienses para conversas no Palácio, respondeu rapidamente às denúncias consistentes.

Completa-se assim a estratégia.

Dilma se incumbe do establishment, que rejeita Lula. No plano midiático, blogosfera para ela é como a Telebrás – serve apenas para ajudar a regular a mídia. O mesmo ocorre com movimentos sociais e sindicatos.

Já Lula garante os movimentos populares, o sindicalismo, a blogosfera e a ala esquerda. E estende sua sombra sobre os adversários. Se endurecerem muito com Dilma, entra na briga. Se Dilma não se sair bem no governo, ele volta.

Perto dessa estratégia, a oposição só tem perna de pau: um guru que ensarilhou as armas – FHC -, um político esperto mas sem ideias – Aécio Neves – e um desatinado – José Serra.

Cumprir-se-á o vaticínio do sábio José Sarney, de que a nova oposição sairá das entranhas do governo.

Linhas programáticas

Em relação à continuidade, é importante não confundir algumas linhas de ação que permanecem as mesmas desde o governo Lula – mas que têm dado margem a confusões..

A primeira, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Criou-se a ideia de que, com Lula, a Telebrás assumiria todo o trabalho de levar a banda larga até a última milha (a casa do ccidadão). Nunca foi essa a ideia. A Telebrás foi ressuscitada com o objetivo de levar linhas de transmissão ligando cidades, atendendo provedores independentes, fortalecendo as linhas de transmissão, mas sem a pretensão de atuar no varejo. A possibilidade de atuar no varejo foi acenada apenas para demover as resistências das operadoras em aderir ao plano.

Não significa que seja um bom plano. 300 mb de tráfego por mês a 35 reais é brincadeira. Tem que se aprimorar a negociação. Mas a estratégia de amarrar as teles a compromissos de universalização é correta.

O segundo ponto é a chamada "lei dos meios". Criou-se a ideia de que o projeto de Franklin Martins imporia limites aos abusos da mídia. A radicalização de Franklin foi muito mais no discurso do que propriamente nas propostas. A não ser a questão limitada da propriedade cruzada, o projeto era muito mais uma defesa dos grupos nacionais contra as grandes corporações internacionais e as teles.

A cegueira da velha mídia a impediu de entender a lógica do plano.

Fonte:  Blog da Dilma

sábado, 23 de julho de 2011

A VOZ DA PRESIDENTA NÃO DEVE TER DONOS
















Infeliz e perigosa a idéia de fazer uma “multiexclusiva” entrevista da Presidente Dilma Rousseff a um “seleto” grupo de jornalistas. Ou melhor, grupo de jornais, os grandes. Eles, apenas eles, sem fotos, sem gravação, sem imagem.

Logo, embora não se duvide da honestidade pessoal de nenhum dos profissionais, tudo está sujeito à forma que dão e derem às palavras da Presidenta.
E, claro, já a deram.
Dilma descarta controle da inflação com crescimento zero, emenda o Estadão.Que a presidenta quer e age para manter o crescimento, ninguém pode duvidar. Os projetos estruturantes prosseguem, sobretudo o PAC 2, foi lançado o “Brasil sem Miséria”, haverá desonerações tributárias.Mas permitiu, com esta forma escolhida para dizê-lo, que jogassem em seu colo a inflação.  Que não é dela, nem do Governo, nem da falta de uma política monetária dura.A imprensa escolhe o “lead” e ele veio, muito provavelmente, de um ponderação óbvia: a de que Dilma não adotará uma política recessiva para conter as pressões inflacionárias.Ora, disso todos sabíamos, e sabemos. Mas faltava a frase, e a frase veio porque, neste tipo de convescote, baixa-se a guarda.A Presidenta não “descarta” o controle da inflação. Muito menos pode dizer que “não reduzirá” uma inflação que não está em seu pleno poder decidir se fará ou não se reduzir.A escolha desta forma de comunicação fez com que se pudesse dizer por “toda” a imprensa-  e sem nada que possa mostrar que não foi isso que se disse – que a Presidenta Dilma tolera a inflação, em nome do crescimento econômico.Ao contrário. Dilma, contra a grita desta mesma imprensa, segurou os preços da gasolina na Petrobras e agiu para derrubar os do etanol. Sob seu governo, para contê-la, o Banco Central já submeteu o país e suas forças produtivas a um aumento de 1,75% na taxa pública de juros, contra um aumento de o,8% na inflação acumulada em 12 meses. Quase todo o resto do mundo pratica taxas negativas de juros, em busca  de reativação das suas economia. Nos juros, somos os campeões do mundo, disparado.Portanto, a presidenta não escolheu “não reduzir” a inflação ou descartar seu controle, em nome do crescimento. Só escolheu não detonar uma política ferozmente recessiva, que arruinasse o país para baixar um pouquinho a inflação e, claro, proporcionar lucros mais monstruosos ao sistema financeiro. E nem assim, talvez, adiantasse, com a gigantesca entrada de capitais e a ameaça mundial representada pela crise europeia e o impasse da dívida pública americana.Que estratégia “brilhante” é essa de a ligar a uma decisão da Presidenta o aumento – ou mesmo uma “não-queda” – dos preços? Ainda mais agora, quando felizmente há sinais de que o BC interromperá a sequência de altas na Selic?Foi “uma ideia genial”, é obvio, para virar a corrosiva pauta que de lá mesmo saiu, a de colocar toda a atividade da Presidenta voltada para a tal “faxina” ética. Dá muito bons resultados no curto prazo, isso, só que já perceberam que é também uma máquina de denúncias que perde todos os limites e que transforma tudo o que o governo faz, mesmo o bem feito, em fonte de suspeitas de negociatas.Seguir a agenda da mídia e entregar a ela o ritmo do Governo é mais que um risco, é um erro.Situações importantes, decisivas para que a população entenda quais são os compromissos de Dilma, como o lançamento do plano “Brasil sem Miséria” e a inauguração da plataforma P-56 da Petrobras, a de maior conteúdo nacional já construída, foram queimadas na fogueira do caso Palocci. A marcação da entrevista do então ministro ao Jornal Nacional para o mesmo dia do lançamento da nossa gigante petroleira, foi uma “pérola” de marketing. A grande festa virou uma “nota coberta” no JN.A presidente pode e deve dar entrevistas a todos os jornalistas; entrevistas exclusivas, também.Mas jamais se colocar de mãos atadas à interpretação que a mídia der às suas palavras.Ela pode ter falado meia hora, e com ênfase, no seu compromisso com o crescimento da economia, do emprego e da renda, da inclusão dos brasileiros ainda miseráveis.Mas a manchete será a de que ela “tolera” a inflação em nome de um crescimento que é apenas mencionado en passant.Quem não souber disso e expuser assim a Presidenta, ou é muito ingênuo e acredita que a mídia vai se encantar com as deferências presidenciais, ou é quem não “pegou” a idéia – tantas vezes repetida por Lula – de que, se dependesse dos “formadores de opinião” este país ainda seria o “Brasil da roda-presa”.

Tijolaço

domingo, 17 de julho de 2011

UMA LOA (PARA O MESTRE DIÓGENES AFONSO DE OLIVEIRA)

Aprecio certos vocábulos arcaicos, os quais, embora egressos de um léxico avoengo e desusado, continuam preservados pelo linguajar do povo.
Loar é um deles.
O verbo Loar ainda guarda os dois sentidos: tanto o da ação de louvar, fazer discurso laudatório; quanto o de intróito ao drama, prólogo, apresentação do espetáculo; como era costume, segundo Aurélio Buarque de Holanda, no teatro ibérico dos séculos XVI e XVII.
O povo nordestino, mui sábio, também costuma usar a
 loa, rimada e, quase sempre, metrificada, antes de engolir uma boa dose de cachaça. Antes de tomar a lapada, louva-se e introduz-se, em seguida, a bebida goela abaixo.
Esse é o meu intuito, e tão somente esse, ao apresentar, neste zine-blog literário, os poemas desse Mestre: introduzir os textos, antes da fruição da leitura. Louvação e introdução é o que querem ser essas palavras de pórtico. Loar. Loor. Loa.

Não sei se é propriamente uma fruição, o sentimento que nos traz a leitura dos textos abaixo, pois o Mestre Diógenes é dono de uma potência criadora próxima da dos pugilistas. Sua força poética quase nos nocauteia. As imagens acachapantes da sua agonia nos falam, também, danossa agonia. Seus versos caosagonicos tratam de uma angústia que me faz lembrar, em sua essência, a de um outro Mestre, o grande basco Dom Miguel de Unamuno, cuja obra, A Agonia do Cristianismo, percorremos dia desses.
Assim como o Varão de Bilbao, também se esforça, Dom Diógenes Afonso, por apresentar-se ao leitor, não apenas como Poeta ou Autor, e sim, como um homem de carne e osso, com o flanco nu, adentrando a arena:

“o homem de carne e osso, aquele que nasce, sofre e morre, - sobretudo o que morre - aquele que come e bebe e joga e dorme e pensa e quer; o homem a quem vemos e ouvimos, o irmão, o verdadeiro irmão”.
( Unamuno)

Fala-nos o homem Diógenes que se problematiza, que se faz a questão de si mesmo (mihi quaestio factus sum, como em Santo Agostinho). Sua obra poética é, ela mesma, reduto eregistro inominável 
de sua problematicidade. Como neste insólito e belo: 

INEQUAÇÕES:


Sou matemático de cabeça para baixo:
as inequações, marcas de minha impotência;
os números, teimosia de infinitude,
postergando o meu capturar definitivo.

Sou matemático de uma agônica geometria:
as linhas, tortas por um contorno inacabado;
as esferas, derretidas na frouxidão do tempo
(talvez, doidamente, mais lânguidas que os relógios-tempo de Dali);
os trapézios, trapalhadas trôpegas
de um discurso falido.



No entanto, radicam-se no homem todas as realidades, e ao se impor como a questão de si mesmo, encontrará, irremediavelmente, o outro que não ele.
Dom Diógenes, como Unamuno, é um homem de seu tempo, que busca salvar a sua circunstância e com ela salvar-se a si mesmo. Ao chorar, num poema, as agruras de seu recém-nascido filho Victor, (hoje, um victorioso e saudável rapagão), chorava também as dores da alteridade, do próximo, do humano:

PRA QUE NÃO CHORES
(poesia pra Victor)

Porque a miséria, Victor,
tem o semblante da
morte
em vida que desponta
cadavérica e ameaçadora
como carvalho dês
aponta
no cerne da noite.

Porque a miséria, Victor,
faz disparar em
retirada
os sonhos que
por um,
por mil,
por milhões,
por infinitos... vãos desejos
se pretendem
sonhar!

Porque a miséria, Victor,
faz o seio do homem
inflar
de sangue-latino, latindo
como cão danado
uivo-desespero explodindo
inerte no ódio!


******************************************************************************
Não escapará de si mesmo, tampouco do Deus em que acredita. Sua crença se apresenta sob certa tensão, certo embate interior com um cristianismo que professa crítica e crísticamente, quase dizia, unamunianamente. Bom exemplo disso é esse soco final, digo, poema final, que considero ser a obra prima de Dom Diógenes Afonso de Oliveira:
***


CAOSAGONIA: um acorde com ninguém.


Meu cansaço esfacela-se sem nome
E eu esbravejo matilhas ofegantes, espumando
Pela Caça Fugidia que desliza espectral
Dos ombros inefáveis de Deus.

Meu cansaço esfacela-se sem nome
E eu estremeço legiões de demonios, temendo
Pelo Tudo Distante que emerge seminal
Dos ombros inomináveis de Deus.

Meu cansaço esfacela-se sem nome
E eu... Que esbravejo por essa Caça,
Que estremeço por este Tudo,
Que enlouqueço por este Lugar-Nenhum,
Busco desbravar o labiríntico
Dessas sendas sem nomes:
Golpes golfando impotência
Diante dos ombros absurdos de Deus .


.......................................................(Diafonso).

Como arremate, trago esse poema, de um homem que se confessa demasiadamente humano:


Ícaro (A vertigem)


Eis o homem:
Ícaro de asas amputadas
De alma pútrida...
Áptero... pávido...
Insano... sem dó... dor só!


Eis o homem!
Acordado sem acordes
Ccom os quais dançar
(dançarino do nada: dor só)


Eis o homem!
Acordado sem cor
Ccom a qual se pintar
(dândi do nada: dor só)


Eis o homem!
Acordado sem palavras,
Sem verbo,
Sem vida
Com a qual apodrecer
em seu túmulo caiado de trevas
(divindade do nada: dor só!)


Eis o homem:
Dançarino... nada!
Dândi... nada!
Divindade... nada!


**************************

Leia mais em

TERRA BRASILIS
ou em,


******************************************


Eurico, julho/2011
homenagem, pelo aniversário do Poeta.
Fonte:   EU-LÍRICO




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