sábado, 25 de fevereiro de 2012

Jornalista da Globo continua no time da Escolinha do Gilmar

O apresentador e repórter político da Rede Globo Heraldo Pereira, autor de bizarra ação judicial contra o jornalista e blogueiro Paulo Henrique Amorim, foi flagrado por este Cloaca News, em maio de 2009, como membro do corpo docente do IDP - Instituto Brasiliense de Direito Público, modelar instituição de ensino pertencente ao ministro do STF Gilmar Mendes (em 2010, a propósito, o magistrado esteve envolvido em uma feroz batalha societária com Inocêncio Mártires Coelho, ex-procurador geral da República e parceiro de Mendes no negócio). Heraldo, que naquela ocasião era "mestrando em Direito pela UnB" estava designado na Escolinha como responsável pelo módulo VI do Curso de Introdução ao Direito para Profissionais de Comunicação. 

Três dias após a revelação feita por este blog - reproduzida por muitos outros -, a página do IDP na internet com as informações de tal curso foi retirada do ar. Na mesma época, a blogosfera descobriu – e mostrou - que o nome de Heraldo Pereira figurava no website da TV Justiça como "conselheiro estratégico" da emissora. Curiosamente, o jornalista pinga-fogo saiu-se com a conversa fiada de que fora convidado, sim, a integrar tal Conselho, mas que declinou da honraria. 

O fato é que o astro global mantém, de fato, estreita ligação com a Escolinha do Professor Gilmar. Como se vê na imagem abaixo, capturada ontem, sexta-feira, 24, no website da Justiça do Trabalho do Distrito Federal – e já autenticada por este escaldado blog -, mestre Heraldo faz parte do seleto corpo docente do Curso de Formação Inicial de Magistrados, promovido pelo CSJT, e a sigla "IDP" aparece como que anexada ao sobrenome do jornalista-causídico, talvez para dar algum estofo acadêmico ao reserva de William Bonner. O curso ministrado por Pereira – Psicologia e Comunicação – trata do "estudo do relacionamento interpessoal, dos meios de comunicação social e do relacionamento do magistrado com a sociedade e a mídia".

Clique na imagem para ampliá-la.

Agora que matamos a cobra, clique aqui para ver o pau.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

CARNAVAL DA GLOBO PERDE FEIO PARA DOMINGO ESPETACULAR, SEGUNDO IBOPE

QUINTA-FEIRA, 23 DE FEVEREIRO DE 2012

Globo enrola espectador "enquanto o Carnaval não se transforma em um reality show"

"Carnaval da Globo" perdeu para o "Domingo Espetacular" com Paulo Henrique Amorim e para a série "Rei Davi" na segunda, saudades da cobertura da Manchete... 

TV trucida transmissão das escolas de samba
O desfile das escolas de samba pode até ser o maior espetáculo da terra. Mas a televisão brasileira ainda não aprendeu a transmiti-lo.
Há uma forte razão que obriga todas as escolas a terem um samba-enredo e que seus integrantes sejam estimulados a cantá-lo e sambar com ele. Mas quem assiste ao desfile pela TV, logo percebe que o áudio é um mero detalhe.
A transmissão não se ocupa dele. Os sons parecem todos iguais e se não fosse por dois minutos de legenda, nem sequer saberíamos qual a música que cada escola escolheu para guiá-la.
Os enredos são mesmo complexos, falam de muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. Mas o carnavalesco nem precisaria se preocupar em armar uma ordem mais ou menos lógica para tentar explicá-lo.
A transmissão da TV é randômica, vai e vem para frente e para trás freneticamente, alternando alas, destaques e carros e impossibilita ao espectador saber quem está na frente, quem está atrás.
A bateria é o pulmão de qualquer escola de samba, e quem quer que já a tenha ouvido ao vivo tem exata noção de sua importância e da emoção que provoca. Mas o som que ela produz é quase inaudível nas transmissões.
Os instrumentos dos ritmistas mais parecem fantasias. Como todo o desfile, aliás, muito mais plástico que acústico.
A TV Globo continua tratando os espectadores pela doutrina Willian Bonner, segundo a qual quem está do outro lado da tela são milhões de Homer Simpson.
É preciso explicar cada uma das cenas como se estivéssemos assistindo a uma inusitada cerimônia aborígene ou a transmissão do parlamento sueco.

Mas os comentários que ouvimos na longa transmissão forjam, mais ainda que os enredos incompreensíveis, aquilo que o compositor e humorista Stanislaw Ponte Preta denominava "samba do crioulo doido".
O falso suicídio de Wladimir Herzog foi um tema muito "desenvolvido", diz o narrador. Antônio Conselheiro, líder da revolta de Canudos, vira mártir da independência brasileira. E por aí vão os comentários que nos impedem de ouvir as músicas.
Samba e enredo, cultura e alegria, engenho e arte, tudo sai de cena quando o assunto é encontrar celebridades na avenida.
Como madrinhas de bateria, destaques de alegorias ou diretores ad-hoc, toda escola tem os seus globais, que serão fartamente iluminados pelas câmaras da casa durante todo o desfile e entrevistados em plena ação, mesmo que para isso alas inteiras devam sucumbir na sombra.
Descobre-se, ao final, entre tantas vinhetas, salas especiais e recursos visuais repetidos ad nauseam, que a vedete do Carnaval é sempre a própria emissora.
E como se não bastasse trucidar o desfile, a Globo ainda estimula seus milhões de telespectadores a opinar pelo telefone justamente sobre aquilo que não viram.
Como escolher entre os vários sambas-enredo que a emissora impediu que conhecêssemos? Como dar nota às baterias cujos sons nos foram sonegados? Não, a nota não tem nenhum valor, dizem eles insistentemente; apenas preço: trinta e poucos centavos mais os impostos etc.
Mudar de canal, como se sabe, é impossível.
Formadora constante de monopólios, a TV, alavanca do capitalismo, está se tornando, paradoxalmente, a maior inimiga da livre concorrência.
Para corridas, jogos ou eventos musicais, não existe mais opção nesse liberalismo totalitário.
Vai chegar um dia que alguma emissora, possivelmente a própria Globo, terá exclusividade na cobertura de uma passeata, na apuração da eleição ou na posse de um presidente.
Para as escolas, o dinheiro engrossa o caixa não apenas pelos direitos de transmissão, mas cada vez mais pelo uso do merchandising.
Produtos, locais ou pessoas vão se tornando enredos à medida em que são bons de retorno financeiro - é a tal força da grana que ergue e destrói as coisas belas.
Assistimos à escola bancada pelo iogurte, com uma ala de lactobacilos, ou à que rende homenagem à mulher, alojando rimas da esponja de limpeza patrocinadora nas estrofes do samba.
Se o mundo é um moinho, como já ensinava Cartola, e vai mesmo reduzir nossas ilusões a pó, talvez devêssemos é nos dar por satisfeitos, enquanto o Carnaval não se transforma num enorme reality show.

Marcelo Semer

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A SANHA DO PT CONTRA O PISO NACIONAL DOS PROFESSORES


Wagner e Guimarães, incansáveis na luta contra os professores

Leio no blog Tabocas Noticas que o Governador da Bahia, Jaques Wagner do PT pediu ao Presidente da Camara, o também petista, Marco Maia para colocar em votação o projeto que tenta reduzir o índice de reajuste do Piso Nacional de Salário dos professores. O reajuste hoje é feito tendo como base o mesmo índice que reajusta o valor do custo aluno. Por este índice o reajuste para 2012 será de 22,23%. Wagner  e outros  governadores querem que seja usado para o piso apenas o INPC/IBGE, que em 2011 ficou em torno de 6%. O projeto, ao qual o governador se refere tem como relator o, mais uma vez, deputado petista José Guimarães (PT/CE), que já foi aprovado na comissão de finanças da Camara. A deputada petista Fatima Bezerra (PT/RN), que teve importante participação na aprovação do Piso, conseguiu o número de assinaturas necessárias para impetrar recurso contra o projeto em 2011. Mas agora, pelo visto, querem, de novo, continuar com a fúria contra o piso e contra o professor.

Eu gostaria de entender, sinceramente, essa insensata marcha de alguns setores do país contra o professor e o seu salário. Todos sabem que  um país só evolui a potência se os seus cidadãos forem bem preparados e capacitados e isso só acontece através da educação. Todos sabem, também, que uma educação de qualidade só acontece quando além dos alunos, da estrutura física das escolas, o professor também é bem cuidado. E cuidar bem do professor significa dá suporte para que ele evolua em sua carreira  facilitando-lhe a capacitação, o mestrado o doutorado e outros avanços na formação. Mas nada disso fará sentido para o profissional se ele, ao sair de casa não deixar sua família em segurança alimentar, com conforto e com qualidade de vida. E é aí que entra o salário. 

O Piso Nacional de Salário do professor está contemplado na verba do FUNDEB, que, por sua vez, está contemplado no orçamento da união. Os estados não pagam sozinhos o piso, o governo federal entra com uma parte. Então por que a má vontade de vários governadores e prefeitos em cumprir a lei? O que querem os governadores fazer com a imensa verba do FUNDEB, que está na casa do bilhão, destinadas aos estados?

Em seu discurso de posse a presidenta disse que uma das prioridades de seu governo era a educação. Disse também que tinha consciência de que dentro desta prioridade estava a valorização dos profissionais desta área. Vemos agora governadores e deputados do próprio partido do governo atentando contra os professores e seus salários e gostaríamos de saber a posição oficial do governo sobre isso. Num momento em que o Brasil surge como uma potência econômica e que os olhos do mundo se voltam para cá,  seria uma vergonha que um governo que foi eleito para dar continuidade a um projeto de valorização da renda  e   diminuição das desigualdades sociais apoie um projeto que vá de encontro a essas duas perspectivas, pois um professor sem um salário digno é um trabalhador sem renda e a consequência disso é uma educação de péssima qualidade, aumentando, assim, a desigualdade,  pois pobres, são esses a maioria dos alunos da rede pública, sem acesso à educação de qualidade estão fora do mercado de trabalho e longe de condições de vida digna. Vai ver que é isso que o governador Jaques Wagner e seus seguidores dentro do PT querem.


The teacher.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

AS MÁSCARAS DO "CANSEI" GENÉRICO



A intolerância social, sexual e política que experimentamos nos dias de hoje ainda é a herança imposta a várias gerações que cresceram e se formaram sob as mordaças da ditadura militar. Está presente na direita, na extrema esquerda e, mais ainda, nos que garantem ser apolíticos ou apartidários.

Os intolerantes de direita continuam sendo os mesmos: aquele percentual que não chega a dois dígitos do conjunto social há um bom tempo. Seus ícones-gurus são, por assim dizer, adversários honestos. Como nós, dão a cara a tapa; você sabe onde estão, para quem trabalham e como manipulam a opinião pública. Já os desmascaramos várias vezes e continuaremos a fazê-lo.

 
Imagine o espectro político como um círculo. Nele, os extremos ideológicos se encontram e muitas vezes descobrem interesses comuns. É o caso do PSOL e do DEM. Não se pode afirmar que Heloísa Helena seja uma fascista. Saiu do PT porque o PT se aproximou ao centro, fez alianças e, assim, viabilizou seu projeto de governo. Heloísa não gostou da mistura e cuspiu no prato que comeu.


DEM e PSOL se encontram nos extremos e derrubam a CPMF. Heloísa Helena vibra ao lado dos "colegas"

A associação do PSOL e DEM no combate ao “inimigo” comum resultou, por exemplo, na extinção da CPMF em 2008. Minorias estagnadas ou em franca decadência, seus eleitores não representam perigo algum para o projeto de governo encabeçado por Dilma Roussef.


Perigosos mesmo, são os que se dizem apolíticos ou apartidários. Gente que está, consciente ou não, a serviço da ultra-direita fascista. Estes, sim, estão em franca ascenção nas redes sociais e portais da Internet. Usam diversas máscaras. Repare naquele tipo cético, indignado, decepcionado com tudo à volta. Entra em qualquer roda – e o papo é mais ou menos o mesmo: “político é tudo ladrão, tem que fuzilar todos”, o clássico “este país não tem jeito – acorda Brasil” etc. Não conseguem formular uma frase que não tenha palavras como “corruptos” e “corrupção”. O curioso em relação ao estigma da corrupção é que não se interessam pelo sujeito oculto: o corruptor. Não mencionam nomes, generalizam para não revelarem seu propósito. Quando se referem ao passado com discreto saudosismo, recuam de 2002 direto para ditadura – sem escalas no mandato de FHC. Lamentam reconhecer que sob o regime militar “político ladrão não tinha perdão: morria em vala rasa”. Para não parecerem completos alienados, têm pequenos surtos de informação política e se aventuram em citar Fidel Castro ou Hugo Chavez em suposta conspiração comunista sob a “conivência da nossa imprensa” – como quem acha pouco ou nenhum o golpismo diário do PiG.

“Cansamos”, “Basta de”, “Fora os”… são expressões presentes na maioria de seus banners. A tática não é propor solução nem destacar algum político “bom”, mas desmoralizar TODA a classe política que aí está. Em sua lógica surreal, fica sub-entendido que depois de fuzilarmos os ocupantes do Palácio do Planalto, do Congresso e da Câmara, e varrermos assim toda a corrupção que nos corrói, o povo iluminado pela “nova era” descobrirá, espontaneamente, que ainda tem gente boa para nos governar. Quem? Ora, todos que não nos governam atualmente. Certo? Deixa eu adivinhar: Agripino Maia, Maluf, Serra, Kassab, Bolsonaro… Quem sabe o Tiririca – pior do que está não fica?

 
Todos conhecemos alguma pessoa que não liga pra isso, esse negócio de política. Gente que não dá a mínima, que não acredita nem se interessa por política e políticos. Uns são religiosos, outros praticam aeróbica. Uns são músicos, outros intelectuais. Uns viajam, outros meditam. Uns tem muita grana, outros nenhuma… Para um apolítico, não importa quem governa: sua vida segue sempre igual.

 
Mas quando alguém decide reunir um grupo para reivindicar, protestar ou difundir uma causa ou palavra de ordem, seja no condomínio onde mora, no seu bairro, ou nas redes sociais – estará fazendo política. Mesmo que não se dê conta disso.

 
Outro dia segui uma amiga no Facebook e cheguei a um grupo que propunha fazer abaixo assinado para “acabar com os corruptos que mamam nos impostos provenientes do nosso trabalho suado”. Ok, até aí eu concordo. Mas porque não citam nomes? Eis o x da questão! Deixam isso pro visitante “descobrir”. O dono do pedaço usa um avatar com aquela máscara do Anonymous e prega o voto nulo. Discordei, argumentei com o Zé Mané mascarado que não está certo fazer campanha para o voto nulo. Porque o voto é a única arma que temos para mudar as coisas, que é preciso distinguir os bons e maus políticos… 5 minutos de debate e o mascarado já me “acusava” de petista, comunista, de estar sendo pago pra falar bem do governo etc.

 
Aí me dei conta de que andei incorporando “amigos” no Facebook sem saber quem eram de fato. Me dei conta também, que a nova tática da direita é acusar a espécie política, o genérico. Porque os governos de Lula e Dilma são muito bem avaliados e de fato alavancaram o Brasil de cabo a rabo, dos bancos às favelas. Porque nem a imprensa deles tem como omitir e o jornalista tem que fazer uma ginástica enorme, criar factóides sem fundamento pra desmerecê-los. Lembrei de como a campanha de Serra evitou atacar Lula.

 
O movimento “Cansei” não cansa nunca. É um camaleão grotesco que se apropriou da máscara alheia.

 
Aliás, será que os verdadeiros hackers do Anonymous não pensaram que QUALQUER pessoa do planeta pode usar essa máscara e se fazer passar por eles? Se amanhã eu formar um grupo que se reúne aos sábados pra jogar boliche e usarmos essas máscaras, como saberão se somos ou não os hackers que invadem e derrubam o site do Pentágono? E mais: o que faz um fascistóide pensar que seus “ideais” são os mesmos do verdadeiro Anonymous?


Fonte: Original O que será que me dá? copiado para cá do Terror do Nordeste

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

CADEIA PARA OS ASSASSINOS DE MENDIGOS


   

Jornal do BrasilMauro Santayana 


Algumas religiões santificam a mendicância, como o ato mais expressivo da humildade. Pedir aos outros o pão, em lugar de o obter mediante o trabalho, é visto, assim, como o contraponto à vaidade e à arrogância. As sociedades, sendo profanas, não veem com os mesmos olhos o ato de pedir. Os costumes, diferentes das razões éticas, sobretudo os construídos pela consciência burguesa, condenam a mendicância, ainda que admitam, com certo cinismo, a caridade. É interessante registrar que Sartre, senhor de grande lucidez e, em algum tempo, militante revolucionário, andava com moedas nos bolsos, que distribuía aos mendigos do Quartier Latin. Talvez se sentisse, com isso, menos culpado dos desajustes do mundo.


Coincidindo com os fatos da Bahia, um jovem universitário tentou intervir, ao assistir à agressão de um morador de rua na Ilha do Governador, no Rio, por cinco jovens. Foi quase linchado, teve seu rosto arrebentado pelas patadas, só reconstituído mediante o emprego de 63 pinos de platina.Matar mendigos não é um esporte novo. A civilização cristã oscila entre o exercício da caridade (que, em alguns casos, costuma ser negócio lucrativo) e o da repressão. Entre a piedade e a forca, conforme o ensaio do historiador Bronislaw Geremek sobre os miseráveis e pequenos bandidos da Idade Média. No Brasil, a agressão e o assassinato dos diferentes estão assumindo dimensões insuportáveis. Numerosos moradores de rua em Salvador foram trucidados durante a greve dos policiais militares. Há suspeitas de que foram policiais, eles mesmos, os matadores.

Não é um fato isolado. Ao ser confundido como mendigo, conforme confessaram os matadores, um índio pataxó foi queimado por jovens bem situados de Brasília. No Rio de Janeiro, há décadas, os adversários de um governador da Guanabara o acusaram de mandar matar mendigos e atirá-los junto à foz do Rio da Guarda. E houve quem sugerisse o incêndio como uma forma de resolver o problema das favelas no Rio de Janeiro. Mais cínicas, autoridades de São Paulo decidiram criar obstáculos sob as marquises e os viadutos a fim de impedir que ali os miseráveis pudessem repousar. No Rio, outras autoridades instalaram uma divisória nos bancos dos jardins para que, sobre eles, os mendigos não pudessem deitar.
Esses caçadores de mendigos naturalmente são conduzidos pelo senso estético da ordem do capitalismo totalitário. Uma cidade sem pedintes é muito mais bela. Mas é também muito mais bela se nela não houver pessoas feias ou enfermas. Assim pensavam os nazistas, em sua cruzada de eugenia — embora não fossem belos nem fisicamente saudáveis homens como Himmler e Goebbels, entre outros. Da mesma forma que pretendiam a eliminação completa dos judeus, incomodava-os, pelo menos no discurso, a existência de homossexuais. Depois se soube que muitos deles eram homossexuais, mais dissimulados uns, menos dissimulados outros, como Ernst Röhm. Joachim Fest, o grande biógrafo de Hitler, chegou a suspeitar que houvesse uma ligação homossexual entre o líder nazista e seu arquiteto predileto e possível sucessor, Albert Speer.
E como o caminho da perfeição, de acordo com essa insanidade, é sem fim, quiseram eliminar, além dos judeus, outros perturbadores de sua ordem estética e “moral”, como os ciganos, os negros, os mestiços, os eslavos  —  e os comunistas.
O racismo e a insânia dos nazistas não desculpam — e, sim, agravam  —  os atos estúpidos contra os miseráveis brasileiros que, sem teto, sem famílias, sem amigos, sem destinos, são nômades nas ruas, onde alguns nascem, e muitos quase sempre morrem. Mas, dessa visão curta de humanismo, padecem pessoas instruídas e aparentemente responsáveis, como a ministra francesa, que aconselhou os sem-teto de seu país a não saírem de casa, por causa do frio europeu que vem matando os desabrigados às centenas, e a juíza brasileira, que decretou a prisão domiciliar de um morador de rua.


A sociedade se emociona com a coragem solidária do jovem Vitor. O Estado deve a ele uma manifestação oficial de reconhecimento. Seria louvável se a Assembleia Legislativa lhe concedesse a Medalha Tiradentes, a mais alta condecoração do Estado.A polícia tem o dever de identificar os matadores de mendigos e de levá-los à Justiça. E os juízes não podem se deixar engambelar pelos advogados dos assassinos. Em uma sociedade já tão injusta com os pobres, cabe ao Ministério Público e à Justiça socorrer os que, desprovidos de tudo, só têm a lei como consolo e esperança.

Fonte: Brasil, Brasil  (Título original: Cadeia para os assassinos)


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Dotô Mervá Perêra da ABL e os "alhos com bugalhos"

Por DiAfonso [Terra Brasilis]


Desde o dia em que li o artigo Alhos com bugalhos [transcrito abaixo] do Merval Pereira, o "Imortá da ABêEle", venho arrumando um tempinho para tecer algumas considerações. Eis que agora o tempo surgiu. 

Na verdade, são dois tipos de considerações: a primeira diz respeito ao discurso do "sinhô Mervá imortá"; a segunda se refere a alguns aspectos da estrutura do texto do "Sinhô Dotô Mervá Imortá Perêra" [Não costumo discutir ideias focando nos "erros" que sinalizam para o "mau uso" da variante da língua portuguesa dita padrão. Com Mervá, no entanto, tenho uma certa "sastisfação". É o meu protesto contra uma ABL que perdeu o norte de seus propósitos. É a minha solidariedade ao escritor Antônio Torres cuja vaga foi vergonhosamente usurpada pelo ordinário "escritor" que é o Mervá.]. 

"Apois" bem, "vamu lá!":

O raciocínio "mervaliano" - sobre o raciocínio da presidentA Dilma - apresenta, de início, um equívoco - o próprio Merval tratará de escancarar o equívoco. Escreve ele, o Mervá, que a forma como a presidentA Dilma vê a questão dos direitos humanos, de um modo amplo, 

"[...] faria até sentido se ele [o raciocínio de Dilma] comparasse regimes políticos semelhantes.". 

["Ô, misera!"] Quando a presidentA Dilma fala de direitos humanos - considerando todo e qualquer regime de governo -, ela o faz na perspectiva de que o respeito aos direitos humanos deva ser imperativo em qualquer forma de governo e, sobretudo, naquela forma dita democrática, caso dos EUA. 

Mas esse não parece ser um preceito a ser seguido pela infame potência mundial. Basta passar um pano rápido nas investidas estadunidenses mundo afora para constatar que clamar por direitos humanos é uma conveniente bandeira... quando se trata dos interesses do governo de Washington.

Se Cuba, cujo sistema governamental ganha "publicidade jornalística" como "ditadura" - concordo, em tese, com essa denominação -, não respeita os direitos humanos, as democracias - como a estadunidense - deveriam, imperativamente, respeitá-los. Não é o que se vê.

Mais adiante, o Mervá tenta iludir, com seu "raciocínio" pouco consistente, o leitor. Escreve ele que o sistema judiciário das democracias [Faz alusão, especificamente, aos EUA, pois, no Brasil, a coisa não é tão eficaz assim. Mervá deveria dizer por qual motivo isso ocorre, mas, covardemente, não diz.] funciona e pune os que mostram desvio de conduta no quesito direitos humanos. 

O poder judiciário da "democracia" estadunidense pune os transgressores, mas o Estado continua impune. Vale ressaltar ainda, Mervá, que as punições servem de lenitivo, de "prestação de contas" ao mundo e se dão no âmbito interno desta sociedade. Lá fora [Iraque, Afeganistão, Paquistão...], as atrocidades não só continuam a acontecer, como são estimuladas pelo belicismo dos EUA.

De fato, Mervá, não dá para comparar regimes autoritários com sistemas democráticos de governo, mormente, quando, nestes últimos, os direitos humanos são relegados a um discurso de conveniência. E, aqui, parece-me que quem está misturando alho com bugalhos é o "Sinhô, Dotô Mervá", porquanto não atentou para a amplitude da fala da presidentA e a implícita crítica que ela faz ao comportamento "democrático" de alguns países, incluindo todos aqueles que se alinham às diretrizes estadunidenses.

Um dado interessante no texto do Mervá é a referência sutil a ações governamentais que desrespeitam - quer por ação efetiva, quer por omissão - os direitos humanos. Ele cita a realidade das prisões brasileiras e as intervenções arbitrárias em comunidades pobres, mas não nomeia quem capitaneou recentemente - em conluio com o judiciário - o flagrante desrespeito aos direitos humanos em Pinheirinho. Fosse um prefeito ou um governador do PT, seus nomes apareceriam em letras garrafais. Como é Geraldo Alckmin e um prefeito do PSDB, nada a declarar... apenas vagas alusões.

Já quanto à estrutura do texto, só me resta dizer que sinto vergonha. Vergonha em saber que um eleito para a ABL apresenta dificuldades enormes em engendrar algumas linhas. Parece faltar ao "Sinhô Dotô Mervá" a habilidade estilística na construção de períodos articulados. O enxame de conjunções aditivas [E a imprensa internacional... / E geralmente... / ...e mancharam o nome do país... / ...e sistema judiciário costuma atuar com rigor. / ...e onde dissidentes morrem de fome...] ferroam o leitor. Mervá, a eliminação de algumas dessas conjunções daria mais leveza ao texto, hômi! Vêji isso lá com os doutô da ABL. E o relativo "onde"? Ele aparece três vezes! ["Ô, mininu danado esse Mervá!"].

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Alhos com bugalhos

O raciocínio da presidente Dilma sobre os direitos humanos faria até sentido se ele comparasse regimes políticos semelhantes. Mas ela simplesmente está misturando alhos e bugalhos. Uma democracia como a brasileira tem que ser criticada, e frequentemente o é, pelas falhas nos direitos humanos nas suas prisões, por exemplo, que são vergonhosas, ou nas comunidades pobres. Ou os Estados Unidos, como a própria Presidente brasileira lembrou, quando abusam dos direitos dos prisioneiros de Guantánamo. E a imprensa internacional não se cansa de denunciar esses abusos, lá e em outras regiões do mundo onde os Estados Unidos, através de seus agentes, cometem qualquer tipo de barbaridade. E geralmente, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos – mais lá do que aqui, temos que admitir – os agentes públicos que abusaram de seu poder e mancharam o nome do país são punidos, e sistema judiciário costuma atuar com rigor. O mesmo não se pode dizer de Cuba, onde o abuso dos direitos humanos é uma política de Estado, e onde dissidentes morrem de fome por falta de um mínimo de atuação do estado, que é uma ditadura de mais de 50 anos, sem Parlamento livre nem liberdade de imprensa e, portanto, não pode ser comparada com outros países democráticos que falham na proteção dos direitos humanos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Direitos Humanos e a cavilosidade do jornalista Cláudio Humberto

Por DiAfonso [Terra Brasilis]

Foi-se o tempo em que certos jornalistas, por meio de uma imperceptível parcialidade diante dos fatos, seduziam legiões de incautos. Eles - os certos jornalistas - perderam o poder de "convencer" os leitores das falácias e cavilosidades jornalísticas. 

É sabido que a presença de tais "entes" é maciça nas grandes corporações midiático-golpistas que tentam, por razões não mais obscuras, desestabilizar um governo eleito democraticamente. Esse processo de desestabiização e desgaste, com factoides e tais e quais, deu-se mais intensamente no governo Lula e finca raízes no governo Dilma.

Os sofismáticos jornalistas são, a cada dia e cada vez mais, desmascarados em sua ânsia de construir uma verdade inexistente ou meias verdades e passar para o público-leitor um recorte capenga da realidade. Muitos são os casos. Recentemente, a Veja e o jornalista de esgoto, Reinaldo Azevedo, foram flagrados na mentira [aqui]. Agora, é o jornalista Cláudio Humberto que, ironicamente, esforça-se em distorcer os fatos. Vejam o que foi publicado em sua coluna de hoje:


Partindo da premissa de que, em Cuba, não há observância aos direitos humanos e de que ministros responsáveis pela pasta de Direitos Humanos não devam, institucionalmente, relacionar-se com qualquer outro país onde não exista respeito a esses direitos, a ministra Maria do Rosário estaria impedida de pôr os pés nos Estados Unidos. 

Isso deveria ficar claro para Cláudio Humberto, a menos que ele desconheça o Campo de Detenção da Baía de Guantánamo ou, ainda, os horrores perpetrados por soldados estadunidenses no Afeganistão, no Iraque e no Paquistão - só para citar alguns exemplos.

Maria do Rosário também não poderá visitar Israel, certo, Cláudio Humberto?!

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Leia também: O equívoco de um jornalista na abordagem do "plural" e da "concordância" de Lula. Ou, se desejar, pesquise o que já se publicou no Terra Brasilis sobre Cláudio Humberto [palavra-chave na caixa de pesquisa: Cláudio Humberto].
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