sábado, 21 de agosto de 2010

Conselhos do além para José Serra



Para muitos a morte é o grilhão e freio dos instintos mais humanos dos vivos, o peso do julgamento final persegue o crente conforme a fé e o

 humor do padre na hora da confissão e da expiação dos pecados. Para outros é a libertação e a glória de ascensão aos céus, ida tranqüila para um mundo sem dor, com campos de trigo, flores e mel em abundância. Para os comunistas tanto e sempre odiados pelo personagem da historíola aqui contada, o momento fatal é o fim de tudo, a inexistência da alma seria a verdadeira liberdade para quem só tinha a vida para sonhar com um paraíso.
Para o eterno Machado de Assis, foi um instrumento para as mais radicais experimentações na prosa que um autor brasileiro fez até o seu momento. Apresentou a vida inútil de Brás Cubas, um defunto que em reflexões compõe um romance agressivo e de fina ironia. É possível afirmar que este romance psicológico fez a literatura brasileira alcançar a maioridade. Nas memórias póstumas de Brás Cubas, o importante não são os fatos em si, mas a forma como se vêem e sentem as circunstâncias vividas pelos personagens, enfatizando a caracterização interior dos personagens, suas incoerências e problemáticas existenciais.
Quando escrevi o post “O Triste fim de José Serra”, destaquei o fato do personagem José Serra estar cada vez mais solitário, sem sufrágio, aliados, fadado a ter um fracassado número de apoiadores. O termo “cristianizado” remete à história política de um homem com trajetória e caminho percorrido mostrando o total abandono por todos os partidários a seu redor, com desfecho em uma derrota imensa para um dos maiores líderes políticos que o Brasil já teve, Getúlio Vargas.
Cristiano Machado tinha em comum a José Serra um desejo imponderável pelo cargo de Presidente da República. Em sua cólera, o político mineiro acreditou em sua vitória e como um trator ignorou todos os seus aliados, e contribuiu em todas as suas práticas para que a vitória de Getúlio fosse plena e simples. Em imaginário bastante lúdico, tendo em vista a condição de descrença religiosa deste que escreve, quais as memórias póstumas que o espírito desencarnado Cristiano Machado compartilharia a José Serra em uma carta psicografada?
Caro “Zé”
Sei muito bem o que é ser o mais preparado brasileiro em sua época para ocupar a Presidência da República, e ter em seu caminho um líder trabalhista populista como um empecilho. Mas em verdade, a terrorista da Dilma Rousseff não tem a mesma envergadura do Getúlio Vargas, e muito menos a de Lula.
Venho do mundo dos mortos, com bastante esforço e crença em poder ajudá-lo, mas apenas o posso fazer na medida do possível. Isto é, não existem maneiras milagrosas para os espíritos, apenas para o Pai, e assim na impossibilidade do prodígio para a sua vitória, devo tentar te ajudar a aceitar o destino que te espera, esta derrota que se desenha.
Não deves temer as lágrimas e o ranger dos dentes em vida, pois esta é finita e deve ser gozada com serenidade e com a paz que muitos de nós não construímos em vida – o problema é nutrires amargura semelhante ao também comparte Fernando Henrique Cardoso, pois sei muito bem que ao se morrer de maneira desgostosa, aborrecida, insatisfeita e malcontente, se dão enormes passos para o purgatório, lugar o qual o choro e a dor são eternos e não há sequer um chá de camomila ou de cannabis sativa que possa aliviar. Não percebo se me compreendes, mas eu faleci como embaixador no Vaticano, e estar perto do papa não me ajudou.
O princípio desta calma que te peço é justamente na tentativa em explicar que este infortúnio que a vida te reserva foi inteiramente construído por ti. Existem muitas atitudes conscientes que tomamos, sem perceber que colheremos tempestades se plantarmos ventos. E a lei do retorno, meu caro, esta não conhece advogados, sempre recebemos de volta três vezes aquilo que entregamos.
Sei muito bem o que é tentar destruir o Varguismo, e existem momentos em que vocês paulistas se superam em força e atitude. Relato ter em vida presenciado o estádio do Pacaembu fazer surgir o apelido do São Paulo FC como “o mais querido”; todos em coro gritavam o nome do tricolor aos idos de 1940, como uma afronta à presença de Getúlio e lembrança da revolução constitucionalista. E o teu presente e futuro devem se acalmar, deves ter a ciência que quando aconselhavas Cardoso a vender a Vale e a Petrobrás, quando tu batias martelos em privatizações com delícia e satisfação, quando planejastes o desmonte osso por osso do legado Varguista, criavas para ti uma resistência de muitos.
E sei muito bem que ser abandonado é duro, difícil e doloroso. Sempre devemos ter limites na política, e agir junto ao Itagiba para implodir a candidata a Roseana Sarney além de te criar um inimigo mortal como o José Sarney, mostrou a teus outros aliados do que és possível. Aécio teima em copiar o que fez comigo o PSD do Rio Grande do Sul, da mesma maneira que Nereu Ramos fez à minha pessoa, pois sabe assim como o Nereu do que eu era capaz. Da mesma forma, Geraldo Alckmin espera de ti o mesmo que Adhemar de Barros aguardava quando me abandonou. Eu obrei com os meus no mesmo caráter que atuaste com os seus.
Quando se há uma oportunidade de aniquilar um adversário, deve-se entender que o tempo passa e a historieta que escrevemos tem revezes. Já imaginaste o que seria do Lula sem o PMDB, quando do dito escândalo do mensalão? Já imaginaste o que seria de ti caso o Sarney fosse teu aliado naquele momento? Já poderias ser presidente em 2006.
Em igual sentido, a escolha por dinamitar os primeiros da fila na sucessão de Lula foi um erro. José Dirceu e todos os que fritaram naquele momento tinham uma vida possivelmente mais vulnerável do que a mulher que diz ter maneiras gaúchas e mineiras.
Caro Zé; a escolha de Índio da Costa me fez lembrar a minha convenção, fui aclamado em um nove de junho; Mas receito que Altino Arantes era bem mais preparado, com larga bagagem em relação a tua escolha. Receio que Hugo Borghi também foi um aliado mais confiável do que Sérgio Guerra, Arthur Virgílio, Agripino Maia ou Álvaro Dias.
Assim, os conselhos que posso te deixar são para que percas dignamente, assim como eu perdi. Nunca renuncies a tua personalidade, não finjas ser o Lula, ou seu aliado – não fuja de quem és verdadeiramente. Pode-se enganar alguns por algum tempo, mas não é possível enganar a todos o tempo todo; Aceites a derrota com o coração livre, e saibas que Deus não está no Vaticano, quando faleci lá estava, em nada me ajudou. Além do mais, combina contigo em demasia um cargo diplomático na Romênia – apesar de não ser de glamour como Roma ou Paris, é de lá que vem a lenda do Conde Drácula.
Saudações do além
Cristiano Machado

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