o políciais, pelos menos os honestos, não têm uma dessas
Duas postagens acendem uma polêmica na blogosfera neste sábado. Uma, no Blog do Sakamoto, pergunta: "o Estado pode usar método de criminoso?", ao se referir à entrada da polícia na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. O post, publicado pelo blogueiro à tarde, já tem quase um bilhão (sic) de comentários. Em um outro post, este no Blog do Gilson Sampaio, o escritor carioca autor de Cidade de Deus, Paulo Lins, afirma que a polícia, ao entrar no Complexo do Alemão, promoverá ali uma chacina. Não vi comentários no Gilson, mas, com certeza, haverá. Nas duas postagens os respectivos autores dão como certa a morte dos traficantes e questionam se a polícia tem direito de matar, questionamento correto. Em ambas, há a preocupação com a morte gratuita de seres humanos, no que está certa, também, a dupla.
Agora, vamos combinar aqui. Foram exibidas em todas as redes - o circo midiático - centenas de bandidos fugindo, muitos deles com fuzis nas mãos em direção ao morro. Uma Hilux, carregada de homens, partia em disparada em meio à fuga em massa. Em outra imagem um traficante se exibia, dançando, com um fuzil na mão. Os relatos de moradores, que concordam em falar com a voz disfarçada e com o rosto encoberto mostra o alívio da população da Vila Cruzeiro. E pra terminar, o porta voz da PM do Rio, hoje, nas principais redes, deu um ultimato para que aqueles bandidos (aqueles, da Hilux. Aquele, que estava dançando) se entregassem numa rua determinada pela polícia, com suas armas sobre a cabeça. Se esses cidadãos não confiam na polícia, no Exercito, nem na Marinha eles podiam, a qualquer hora, solicitar a presença da imprensa - já fizeram isso quando foi interessante para eles - para registrar a rendição. Até o último jornal da noite nenhum bandido armado tinha se rendido.
Não se discute que esses homens, a maioria negros, como registra Eduardo Guimarães no Blog da Cidadania, foram levados a esta vida pela perversa desigualdade social do Brasil e pela ausência do estado em garantir o mínimo de dignidade a estes brasileiros. É fato que para jovens que cresceram em meio a miséria extrema a possibilidade de de uma hora para outra terem os tênis mais caros, as melhores marcas de roupas e, principalmente, o respeito de sua própria comunidade é por demais tentador.
Contudo, o número de moradores do Alemão que resolveram enveredar pelos caminhos do crime é infimo diante das várias centenas de milhares de pobres - tanto quanto eles - mas que decidiram por continuar numa vida sacrificada, mas honesta. E mais: muitos desses jovens ao verem seus amigos mortos ou mesmo ao perceberem, por si sós, que aquela vida só os levaria à destruição, resolveram sair sem que ninguém lhes pedissem ou lhes desse ultimatos: Descobriram a tempo que há saida, embora difícil, para quem quer deixar o tráfico.
Portanto, Companheiro Sakamoto, Companheiro Paulo Lins: Só aqueles que torcem pela barbárie gostam de ver seres humanos mortos. Principalmente, inocentes e crianças, vítimas de balas perdidas. Mas se aquelas pessoas (aqueles, da Hilux. Aquele, que estava dançando) não entregarem suas armas e, ao contrário, partirem para o confronto com a polícia, serão mortos. Não como resultado de uma chacina, mas como baixas de uma guerra na qual o Rio de Janeiro está envolvido há décadas. Não se sabe se com essas baixas a guerra estará vencida - temo que não - mas uma coisa se sabe: os homens do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e os da Polícia Militar são também de origem humilde, assim como aqueles a quem vão combater. A diferença é que eles, eu ousaria dizer a maioria, não têm os tênis mais caros, não têm as roupas de marcas, não têm as caminhonetes Hilux nem suas mulheres moram em condomínios de luxo.
by the teacher. Nordestino, miserável, que comprou carro com financiamento, que nunca leu um livro... essas coisas.
Um comentário:
teacher Ramos,
Os três textos apontam na mesma direção: a ausência do Estado nas comunidades pobres e a espetacularização de apenas algumas variáveis do problema.
- alguma coisa sobre a violência das milícias?
- alguém se lembrou do ex-secretário de segurança e ex-deputado do Rio que está encarcerado?
- alguém questionou onde é gerada a complexa logística no atacado do narcotráfico?
- etc etc etc
Não vi partidarização, nem romantização nos textos citados. Vi,sim, um berro contra a possibilidade de matança de pretos e pobres, culpados e inocentes. É mais uma responsabilização do Estado pela situação.
Veja este vídeo
http://gilsonsampaio.blogspot.com/2010/11/promessa-de-cerveja-gelada-na-vila.html
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