José nasceu no Maranhão, mas mora no Piauí. Nesses Estados, os trabalhadores acabam fugindo do desemprego nas grandes cidades e da falta de condições para cultivar sua própria terra para outros lugares movidos por histórias de serviço farto. José deixou sua casinha em uma favela na periferia da capital Teresina e foi se aventurar no Sul do Pará para tentar dar melhores condições de vida à sua esposa e ao seu filho de quatro meses. Logo chegando, perdeu um dedo da mão ao cortar madeira. “Me deram duas caixas de comprimido: uma para desinflamar e outra para tirar a dor”, conta. Além disso, só um cala a boca. Depois, foi limpar o pasto para o gado e levantar cercas. O “gato” (contratador de mão-de-obra que faz a ponte entre o empregador e o peão) havia o encontrado na rodoviária quando estava passando fome e prometido um bom emprego. Bom emprego… A carne que lhe era dada estava podre, casa de vermes. O pagamento do salário ficava na promessa havia dois meses. Só o trabalho, que lhe comia a mão de tanto aplicar veneno sem proteção, era uma certeza diária. Se não tivesse sido libertado pelo governo federal naquele momento, ia se afogar no seu próprio suor em comemoração ao seu 17º aniversário alguns dias depois.
Tirei esta foto de José tempos atrás, durante a operação de fiscalização que o resgatou. Hoje se comemora o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. Assim como ele, quase outras 40 mil pessoas já foram retiradas dessas condições desde 1995. Muito se fez para combater o problema, mas muito falta a ser feito. Por exemplo, combater de forma eficaz a pobreza, garantindo acesso a serviços públicos e a oportunidades e não apenas se preocupando com a renda.
E o pior de tudo é ter que ouvir, ano após ano, da boca de nobres deputados federais e senadores, que José não existe. E, por isso, aprovar leis sobre o tema (como a que confisca terras em que esse crime for encontrado) é um fato completamente insano. Coisa de louco.
Fonte:Blog do Sakamoto
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