segunda-feira, 31 de outubro de 2011

LULA, CALADO, FALA ALTO






Como a anunciada “solidariedade humana” da mídia é apenas da boca para fora – embora possa, sim, haver várias e honrosas exceções – existe, neste momento, um grande ponto de interrogação em seus estrategistas.O que devem fazer?Aproveitar-se do recesso forçado a que terá de se submeter a mais carismática figura da política brasileira e aguçar ainda mais os ataques ao Governo? Ou acreditar que a notícia do problema de Lula causou um estado de espírito na população que torna um acirramento de sua ofensiva de ataques um elemento de evidenciação de seus propósitos e de seu inconformismo com os resultados das eleições?É provável que nossa mídia siga sua vocação de escorpião e recrudesça seus ataques, após alguns dias de perplexidade.Mas, neste momento, sua capacidade de ação está limitada.Hoje mesmo estão mandando suas pesquisas à rua – duvidam? – para saber o impacto da notícia.A causa da direita brasileira é muito ruim, é indefensável.De início, seu projeto manter o Brasil colonizado, com uma elite incapaz de um projeto próprio de país e uma classe média-alta que se compraz da pobreza geral, como forma de achar-se especial, com um “cosmopolitismo-provinciano” já se mostrou inviável ao primeiro sopro de progresso havido no Brasil.Trilhou-se, nos últimos anos, um caminho sem volta, porque dissolveu-se o fatalismo da pobreza e do atraso nacionais.Depois, por falta de projeto confessável para o país, ela está sem projeto político e, como não o tem, só lhe resta apontar o dedo para os governos progressistas e, não importando se verdadeiros ou falsos, apontar-lhes os malfeitos.Como a UDN fazia, nos anos 50 e 60, mas sem um ingrediente que alimentava a velha direita, que era a polarização da Guerra Fria e o pavor ao “comunismo ateu e apátrida”. E sem a esperança que ela nutria – e, afinal, conseguiu – de rondar os quartéis.Ainda assim, vão tentar atacar pela via que lhes resta. E contar com que, atacado, o Governo não possa contar com seu grande fiador: Lula.
Limitados como são, talvez não percebam que Lula, forçadamente calado, fala muito alto com a consciência dos brasileiros

Fonte: Blog do Saraiva

domingo, 30 de outubro de 2011

ATAQUE DE JABOR CONTRA ORLANDO: A CULPA É DE DILMA.

O medo: é este o estado do governo

Que o cineasta fracassado Arnaldo Jabor é um datrator contumaz de Lula, do PT e de tudo que cheire a povo e  esquerda isso nós sabemos. Este ataque, agora com tons racistas,  dirigidos ao ex-ministro Orlando Silva já era de se esperar e não deveria ser novidade para nós, uma vez que ele é pago pelo PIG, que o resgatou do ostracismo para onde a sua incompetência como artista o remeteu, com esta finalidade mesmo. Cabe, sem dúvida toda a nossa indignação e protesto e cabe, também, um processo por parte do ofendido. 

Contudo, , também,  uma reflexão se faz necessária. A culpa por este serviçal da imprensa golpista partir dia sim, dia não,  contra o governo, contra o PT e contra todas as instituições que coloquem o país de cabeça erguida não é só dele não. O governo de Lula e agora o de Dilma tem sua parcela de culpa. No caso específico de Orlando Silva, primeiro a Presidenta e depois o PC do B são os maiores culpados. A pergunta que se faz é: Se não há provas, por que o ministro caiu? Ou há provas e estamos todos aqui mergulhados num oceano de mentiras de parte a parte? Qualquer criança inocente sabe que ao defenestrar o ministro do seu posto, que aliás, sempre foi o objetivo da direita, dos que tem interesses ocultos ou explícitos na copa e do PIG, o governo, o partido e o próprio ministros estão confessando que há algo por trás das denúncias. Mesmo que não haja! Então pergunta-se novamente: se não há culpa, por que caiu?!

Dilma, o governo, os deputados e senadores que os  defendem  precisam entender que o povo que os apoia vive num mundo real, embora alguns, às vezes acho que inocentes, como nós,  lutamos aqui neste espaço virtual. Mas quando desligamos nossos computadores voltamos ao mundo real. E em  nossos locais de trabalho, em  nosso convívio social entramos no embate político e defendemos aquilo em que acreditamos. E para defender o que acreditamos precisamos de sinais claros de que é o certo que estamos defendendo. Passei uma semana ou mais tentando provar para as pessoas que o que estava havendo era uma tentativa criminosa da "mídia golpista" de derrubar um ministro inocente, por haver interesses financeiro ocultos e porque esta mesma imprensa faz papel de oposição. E no final o mesmo ministro que era inocente "pede para sair" apoiado pelo seu próprio partido e tem o pedido acatado pela presidenta? Pelo amor de Deus! É inaceitavel o discurso: "vou me afastar para defender minha honra." A honra se defende na trincheira de luta.

É claro que nós sabemos que ao ficar no cargo o ministro, seu partido e o governo viram vitrine. Mas sabemos também que isso é a estratégia do PIG e da direita. Então por que não resistir? Por que não se fazer uma contra ofensiva contra a imprensa? por que não usar horários institucionais do partido para mostrar provas de que o ministro é inocente? (se ele realmente é).  Como é possível que o panfleto criminoso (mire-se no caso José Dirceu) como a Veja e um ex-policial condenado e preso conseguirem  derrubar um ministro de estado e emparedar um governo e não haver nenhuma reação?! Assim fica difícil lutar, meu filho! Na guerra os soldados resistem até a última munição quando eles veem seus generais e oficiais no "front".  Mas ao perceberem que seus superiores fraquejam,  abandonam as armas e fogem. É isso que querem? Que abandonemos as armas e corramos? Nossos oficiais estão emparedados e com medo. Ou o governo Dilma perde  o medo de enfrentar a imprensa ou vai ser derrubado. O capo Civitta já disse que vai fazê-lo e pelo jeito não é uma ameaça em vão. E se este governo for derrubado por covardia, não conte com o povo para defendê-lo porque o povo estará tão fragilizado quanto aqueles que foram eleitos para representá-lo e defendê-lo.

the teacher. 

sábado, 22 de outubro de 2011

SE DILMA ENGOLIR CORDA DO PIG EU VOU ME ARRETAR!!


Orlando resiste ao bombardeio midiático

Por Orlando Silva Jr., na Folha de S. Paulo:

Estou, há uma semana, submetido à execração pública. O bombardeio é intenso. A calúnia máxima, a de que recebi dinheiro na garagem do prédio do Ministério do Esporte, foi nos últimos dias potencializada por uma sucessão de outros fatos divulgados pela mídia.

A cada manhã me pergunto: qual a nova mentira que ganhará as manchetes de hoje? O que mais irão inventar sobre mim e minha gestão? Qual o novo ataque ao meu partido, o PCdoB?

Há uma semana repito à exaustão o mantra-resposta fruto de minha total indignação: não houve, não há e não haverá provas sobre o que me acusam, simplesmente porque se trata de uma farsa. Provas quem possui sou eu contra o meu agressor, João Dias, que desviou recursos públicos de um convênio assinado com o Ministério do Esporte e, como resultado, teve a prestação de contas rejeitada. Por isso, determinei a devolução do dinheiro. O valor pode ultrapassar R$ 5 milhões.

Eu exigi a devolução do dinheiro público! Não agora, mas há mais de um ano, quando decidi pela instauração de Tomada de Contas Especial, respeitando os trâmites legais, com o envio do processo à Controladoria-Geral da União (CGU) e ao Tribunal de Contas da União (TCU).

O parecer técnico que embasa nossa cobrança de devolução do dinheiro serviu de base para uma ação penal do Ministério Público Federal contra os que me acusam e que, segundo o procurador da República, agiam em quadrilha. O Ministério do Esporte colaborou desde o início com os trabalhos da Polícia Federal e do próprio MPF para a abertura de processos contra o grupo.

Atenção! Descobrimos um criminoso que desviou dinheiro público, acionamos todos os mecanismos legais para puni-lo, inclusive exigindo a devolução dos recursos, e como ele reage? Me acusa! Me ataca!

Mente! Inventa uma história sem qualquer comprovação! E o que é pior, todas as mentiras ganham ares de "verdade", pela maneira como foram reproduzidas e generalizadas pelos meios de comunicação.

Desde então, uma avalanche de insinuações são publicadas dia a dia. Dizem meus detratores: não importa processo, não importam as provas. Há um julgamento sumário onde decretam a culpa e exigem a eliminação de um ministro. Querem demitir um ministro no grito!

Imagine onde vamos chegar se, em cada processo administrativo em que se exija a correção do malfeito, surgir o delinquente que o praticou e acusar o gestor para intimidá-lo?

Desde a primeira hora, eu solicitei todas as medidas possíveis para apurar com urgência as mentiras publicadas contra mim e meu partido. Requeri ao dr. Roberto Gurgel, chefe do Ministério Público Federal, a apuração dos fatos relatados pela publicação.

Pedi a mesma apuração também ao ministro da Justiça, através da Polícia Federal. Ofereci a abertura do meu sigilo bancário, telefônico, fiscal e de correspondência.

Outro expediente foi endereçado ao sr. José Paulo Sepúlveda Pertence, presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, para que ali pudesse expor a minha visão acerca das denúncias.

Todas essas providências foram requisitadas por mim! Solicitei audiências na Câmara e no Senado Federal para prestar esclarecimentos aos parlamentares. Abri minha vida. Insisto, eu propus todas essas medidas.

Na quinta-feira, dia 20, a AGU, a meu pedido, ofereceu queixa-crime à Justiça Federal para abertura de ação penal contra João Dias e Célio Soares Pereira, meus caluniadores. A condenação nesse tipo de delito pode ocasionar até mesmo a prisão dos caluniadores.

Depois de um verdadeiro massacre, baseado em mentiras publicadas diariamente, cheguei a uma conclusão: não adianta explicar, afinal nossos inquisidores estão surdos. Até na guerra há regras.

Desde 2006, dirijo com muito orgulho o Ministério do Esporte. De lá para cá, houve importantes mudanças na política pública do esporte e lazer em nosso país.

Quando assumi a pasta, tínhamos uma missão muito importante: a realização dos Jogos Pan e Para Pan-Americanos. Conquistamos, depois, a Copa do Mundo Fifa 2014 e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016.

Na agenda social, o Segundo Tempo é um marco, atendendo perto de 2 milhões de crianças. São 232 convênios em vigência, dos quais apenas 25 com ONGs. Os 207 outros convênios são com governos estaduais, municipais e universidades federais.

Em 2011, introduzimos uma novidade, uma Chamada Pública iniciada em julho e encerrada em setembro, pela qual selecionamos os novos parceiros do programa. E todos serão entes públicos. Essa é uma decisão de gestão.

Erros podem ter existido. Mas não compactuei com o malfeito, no passado, não o admito, no presente, assim como nunca o tolerarei, no futuro. Sempre que detectado, determinarei a apuração. No caso de ser pertinente, haverá a punição de quem quer que seja.

Sou comunista, tenho orgulho da minha tradição e da história do meu partido. São quase 90 anos de luta a favor do povo brasileiro, em diversas frentes de batalha.

Contra nós, tentaram tudo: perseguições, tortura, prisões e assassinatos. Mas nunca destruíram nossos sonhos nem nossos ideais. Nesse atual embate, ao atacarem meu partido, depararam-se com uma fortaleza. Uma organização unida, pronta para o combate.

Vou até as últimas consequências para defender a minha honra e a história do PCdoB, repudiando igualmente a tese de que o Ministério do Esporte tenha sido palco de crime que visasse benefícios escusos.

É muito importante a liberdade de imprensa. Mas essa deve ser exercida com responsabilidade, com a devida apuração dos fatos. O que não houve nesse caso.

Orlando Silva Jr. é ministro do Esporte

Fonte:  blog do miro

terça-feira, 18 de outubro de 2011

UMA HOMENAGEM AOS QUE RESISTEM,NA BLOGOSFERA E FORA DELA, CONTRA O PIG E CONTRA OS VENDILHÕES DA PÁTRIA.

Belchior, os profissionais.


Os profissionais

Onde anda o tipo afoito
Que em 1-9-6-8
Queria tomar o poder?
Hoje, rei da vaselina,
Correu de carrão pra China,
Só toma mesmo aspirina
E já não quer nem saber.


Flower power! Que conquista!
Mas eis que chegou o florista
Cobrou a conta e sumiu
Amor, coisa de amadores
Vou seguir-te aonde f(l)ores!
Vamos lá, ex-sonhadores,
À mamãe que nos pariu!

Oh! L'age d'or de ma jeunesse!
Rimbaud, "par delicatesse
J'ai perdu (também!) ma vie!"
(Se há vida neste buraco
Tropical, que enche o saco
Ao ser tão vil, tão servil!)

E então? Vencemos o crime?
Já ninguém mais nos oprime
Pastores, pais, lei e algoz?
Que bom voltar pra família!
Viver a vidinha à pilha!
Yuppies sabor baunilha
Era uma vez todos nós!

Dancei no pó dessa estrada...
Mas viva a rapaziada
Que berrava: "Amor e Paz!"

Perdão, que perdi o pique...
Mas se a vida é um piquenique
Basta o herói de butique
Dos chiques profissionais.

I have a dream... My dream is over!
(Guerrilla de latin lover!)
Mire-se o dólar que faz sol
Esplim, susexo e poder,
Vim de banda e podes crer:
"Muito jovem pra morrer
E velho pro rock 'n' roll!"

By the teacher.

"SIGO COM A MENTE QUIETA, A ESPINHA ERETA E O CORAÇÃO TRANQUILO." Orlando Silva, citando o grande Walter 'Vela Aberta' Franco.

E aqui, a homenagem ao grande letrista, Walter Franco.

Que esta vela leve para além-mar esses entreguista, esses lesa-pátrias, esses praticantes da mais servil genuflexão e nos deixem, brasileiros, construir os país com o qual sonhamos e pelo qual lutamos. Não Passarão!

The teacher.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

RAFINHA NÃO DANÇOU POR MACHISMO, MAS POR MEXER COM GENTE RICA



O integrante do CQC, que fez piada de péssimo gosto com Wanessa Camargo, já falara coisas piores. Agora mexeu com esposa de milionário, que ameaçou tirar anúncios da TV Bandeirantes. Ninguém classificou caso como atentado à liberdade de expressão. Já quando ministra condena comercial de lingerie machista, o coro é um só: “Censura”!


Qual é o problema com a suposta piada de Rafinha Bastos? Ele antes já exibira todas as cores de seu mau gosto e nada acontecera. 

Todos conhecem a pérola, não? O apresentador aproveitou-se de uma bola levantada pelo chefe da cena do programa Custe o que Custar (CQC), Marcelo Tas, sobre a gravidez da cantora Wanessa Camargo, e cortou ligeiro: “Eu comeria ela e o bebê, não tô nem aí”. Foi logo acompanhado por risos e caretas de seus colegas de vídeo, Tas e Marco Luque . 

A grosseria foi ao ar dia 19 de setembro. A TV Bandeirantes, que exibe o programa, levou duas semanas para decidir o que fazer. Em 3 de outubro, o apresentador foi suspenso da bancada. Não se sabe se voltará.

Não foi a primeira vez que Rafinha exerceu sua – digamos - sutileza. Em entrevista à revista Rolling Stone, em maio de 2011, ele saiu-se com esta: “Mulheres feias deveriam agradecer caso fossem estupradas, afinal os estupradores estavam lhes fazendo um favor, uma caridade”.

A gracinha com as feias não rendeu ao gaúcho de dois metros de altura nada além de protestos de movimentos femininos. Mas a liberdade com a cantora custou-lhe até agora, além do posto no programa, o cancelamento de shows e o rompimento de alguns contratos de publicidade. Rafinha perdeu grana com a brincadeira.

Pensamento vivoRepetindo: qual o problema com as tiradas do rapaz de 34 anos, num universo midiático em que o mau gosto, a boçalidade e o “politicamente incorreto” passaram a ser valores em si?

Rafinha vive num tempo em que as demonstrações de preconceito, como as do apresentador de outro programa de entretenimento da mesma emissora, Boris Casoy, não têm consequências maiores. Todos se recordam da fineza do jornalista ao desqualificar dois garis que apareceram em seu programa para desejar boas festas, no final de 2009. Sem saber que os microfones estavam abertos, ele foi ao ponto: "Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho".

O artista do CQC também sabe que o pensamento vivo de gente como o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) recebe destacada acolhida em grandes meios de comunicação. Sua entrevista à revista Playboy, em junho último, é pródiga em preciosidades. Segue um exemplo: “Moro num condomínio, de repente vai um casal homossexual morar do meu lado. Isso vai desvalorizar minha casa!”. 

Outro luminar da intelectualidade midiática, o ex-compositor Lobão, por sua vez, exibiu os músculos cerebrais em um festival de cultura em São Francisco Xavier (São José dos Campos, SP), também em junho. Após demonstrar criteriosamente que toda a música popular brasileira não tem nenhum valor, ele sentenciou: “A gente tinha que repensar a ditadura militar. Essa Comissão da Verdade que tem agora. (…) Que loucura que é isso? Aí tem que ter anistia pros caras de esquerda que sequestraram o embaixador, e pros caras que torturavam, arrancavam umas unhazinhas, não?”. 

Os exemplos são infindáveis. Rafinha provavelmente é leitor de Reinaldo Azevedo, o blogueiro de Veja, que, em março de 2010, durante uma palestra no afamado Instituto Millenium, em São Paulo, externou sua particular concepção de liberdade de expressão: “A imprensa tem que acabar com o isentismo e o outroladismo, essa história de dar o mesmo espaço a todos”. Na mesma oportunidade, o cineasta aposentado Arnaldo Jabor lançou o desafio de “impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”. Impedir o pensamento... muito bom!

A baixaria televisiva contaminou até mesmo as campanhas eleitorais. Continuam na memória de todos os ataques da campanha de José Serra à Dilma Rousseff, em 2010, sobre o tema do aborto. Em Nova Iguaçu (RJ), Monica Serra, esposa do então candidato tucano, disse o seguinte sobre a petista: "Ela é a favor de matar as criancinhas".

Dois anos antes, a campanha de Marta Suplicy (PT) à prefeitura de São Paulo já havia colocado em dúvida a sexualidade de seu oponente, ao dizer: “Você sabe mesmo quem é o Kassab? Sabe de onde ele veio? Qual a história do seu partido?” Em seguida, aparece a foto do prefeito: “Sabe se ele é casado? Tem filhos?”

Bem acompanhadoRafinha está em boa companhia. Deve se sentir incentivado para exercer seu rosário de preconceitos. Provavelmente pensa estar “quebrando paradigmas”, investindo contra o estabelecido e externando uma rebeldia adolescente, que lhe granjeia grande popularidade e bons cachês. 

Ridicularizar e humilhar quem tem poucas chances de se defender, em uma sociedade com desigualdades abissais como a brasileira, é um grande negócio. Prova isso a lista de clientes dos shows do moço, que constam de sua página na internet. São elas Votorantim, Bosch, Agroceres, LG, HP, Ernst & Young, IBM, Banco Real, Vivo, Springer Carrier, Cargil, Unilever, Motorola, Chevrolet, Sherwin Williams, Valor Econômico, Bunge, GNT (Globosat), Jornal O Estado de S. Paulo, Coca-Cola, Bradesco, ESPM etc. Segundo a Veja, ele foi visto em mais de 730 comerciais somente neste ano.

Rafinha faz parte de uma tendência do humor televisivo, que se abriu após a chegada dos humoristas do Casseta e Planeta ao vídeo. A linhagem envolve também o programa Panico (da Rede TV!) e outros imitadores, além do Zorra Total, da Globo. Todos se dizem distantes da política, independentes e praticantes de um humor anárquico e sem freios. Nem mesmo a participação de Marcelo Tas como palestrante em um encontro da juventude do DEM ,em novembro de 2008, ou de Marcelo Madureira nas palestras hidrófobas do Instituto Millenium, os comprometem, segundo eles, com idéias que não as próprias.

Acima da cintura 


Num panorama desses, repetimos: qual o problema de Rafinha Bastos?


O problema é que o garoto bateu acima da cintura. 

Tudo bem desancar garis, a esquerda que foi à luta nos anos da ditadura, exaltar a parcialidade da imprensa e atacar homossexuais e outros grupos vulneráveis.

Não pode é investir contra o topo da pirâmide social. 

Rafinha cometeu esse pecado. Wanessa Camargo é casada com Marcus Buaiz, 31 anos, herdeiro de um dos maiores conglomerados empresariais do Espírito Santo, o Grupo Buaiz, que completa 70 anos em 2012. O grupo é formado pela TV Vitória (afiliada da Rede Record), por duas rádios, pelo Nova Cidade Shopping Center, por várias empresas de alimentação (Café Número Um, Moinho Três Rios e Moinho Vitória), pela Buaiz Importação e Exportação, pela incorporadora Meca e pela Automóbile Comércio de Veículos, entre outras. 

Marcus Buaiz transferiu-se para São Paulo, onde é proprietário de casas noturnas e restaurantes, além de uma empresa de marketing esportivo, a 9INE, em parceria com o ex-jogador Ronaldo Fenômeno. Segundo o jornal A Gazeta, de Vitória, o empresário e seu sócio teriam ameaçado tirar anúncios do programa, após a performance de Rafinha Bastos. “Um comercial de 30 segundos no CQC custa 130 mil reais. Já um merchandising pode custar de 240 mil a dois milhões e 400 mil reais, sem incluir cachês”, diz a publicação.

Com tudo isso, a Bandeirantes podou Rafinha Bastos de sua programação.

Dois pesosO curioso da história é que intenção semelhante, de retirada de um comercial de lingerie do ar, por parte da ministra da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, Iriny Lopes (PT), foi classificada como censura por colunistas de imprensa e até por colegas seus na Esplanada dos Ministérios. 

Na peça, em três versões, Gisele Bündchen faz as vezes de uma esposaprestes a dar uma péssima notícia ao marido: estourou o limite do cartão de crédito, bateu o carro ou informa que sua mãe virá morar com eles. É um machismo digno dos anos 1950. Os publicitários da agência Giovanni+DraftFCB devem ter achado o máximo a própria criação. No clima de boçalidade modernosa, não há problema na mulher bonita, mas dependente do marido provedor, invocar seus atributos eróticos para conseguir o que quer. 

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a representante governista assim se manifestou: “A propaganda caracteriza como correto a mulher dar uma notícia ruim apenas de lingerie e errado estar vestida normalmente. Essa definição de certo e errado caracteriza um sexismo atrasado e superado”.

A ação da ministra está a quilômetros de distância das ameaças que teriam sido feitas pelo marido de Wanessa Camargo ou pela ação da Bandeirantes, que sem mais tirou Rafinha do ar. Iriny apenas solicitou ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) a suspensão da peça publicitária. 

O mundo desabou sobre sua cabeça, com insinuações sobre estética feminina e inveja da modelo.

O caso Rafinha Bastos é pedagógico. No Brasil, além das mulheres, qualquer minoria pode ser atacada. Menos uma: a minoria dos endinheirados.




Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).

Fonte:   Carta Maior

sábado, 1 de outubro de 2011

PROFESSORES DA FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE PROTESTAM CONTRA A PRESENÇA DE MARCO MACIEL



 
Maciel  é o da extrema direita


Conversa Afiada recebeu o seguinte e-mail do ZCarlos:  


Olá Geórgia, tudo bem?

Na próxima segunda-feira, dia 03/10, o salão nobre da Faculdade de Direito do Recife será reaberto em comemoração aos 100 anos do prédio histórico. O convidado para proferir uma palestra alusiva à data foi o ex-senador Marco Maciel e isso virou motivo de polêmica.  Alguns professores ameaçam boicotar a solenidade porque Marco Maciel foi aliado do governo militar.

O convite ao ex-senador para palestrar ensejou o envio de uma carta à diretora da Faculdade, Luciana Grassano, e aos colegas docentes, pela professora Larissa Maria de Moraes Leal. 

Veja aqui, porque vale a pena ler.

Bom trabalho e boa sorrrte!

zcarlos

Carta Aberta à Diretora da Faculdade de Direito do Recife


Cara Diretora do CCJ – UFPE – Faculdade de Direito do Recife, Profa. Dra. Luciana Grassano


Caros colegas docentes,


Cumprimentando-os cordialmente, venho, preliminarmente, parabenizar nossa Diretora, Profa. Luciana Grassano, por mais este importante passo na restauração de nossa casa, o prédio da Faculdade de Direito do Recife. Um trabalho primoroso, bem conduzido e realizado que, sem dúvidas, nos trouxe mais que conforto. Temos, atualmente, a satisfação de exercermos nosso ofício em um edifício dotado da dignidade que sempre lhe foi devida. O cuidado deferido à nossa edificação tem reflexos largos, porquanto seja toda a sociedade beneficiária do resgate de integridade desse patrimônio histórico. Assim, registro meus agradecimentos sinceros e fraternos, bem como o meu reconhecimento.


Por ocasião da Solenidade de Reabertura do Salã o Nobre, venho, ainda que comprendendo a circunstância de absoluta felicidade institucional, registrar meu singelo e firme protesto referente ao Conferencista brindado pela ocasião. Foi no Salão Nobre que muitos de nós defenderam suas dissertações de mestrado, teses de doutorado, assistiram e participaram de debates acalourados; foi também neste salão que, em várias situações, professores e alunos reuniram-se simplesmente para exercerem o seu legítimo direito de pensar, dialogar e dar máxima expressão à própria idéia sobre a qual construimos, diariamente, a nossa Faculdade.


Todos esses fatos fazem parte da história da Faculdade de Direito do Recife, tão bem contada pelo saudoso Prof. Dr. Gláucio Veiga. No volume 2 de sua obra sobre a história das ideias, das ações e do papel de nossa Faculdade, Prof. Gláucio dedicou seu trabalho a todos aqueles que morreram porque ousaram pensar. Em tempos difíceis, nossa Faculdade representou, ao menos no imaginário de muitos, um oásis onde era possível pensar! Entrementes, sabemos que, nesses mesmos tempos, pensar na Faculdade tornou-se algo perigoso. Sob as vistas dos ditadores, foram os professores e alunos da Faculdade vítimas preferenciais de restrições e toda sorte de agressões a direitos humanos.

Esses tempos, infelizmente, são reféns de nossa memória. É em nome dessa memória – que não podemos negligenciar – que apresento meus protestos referentes à eleição do ex-senador Marco Maciel como conferencista da ocasião de reabertura do Salão Nobre da Faculdade. Entendo, com meus botões, que sua presença, em condição tal de honraria – e acredito ser de honra extrema proferir conferência no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Recife, em sua reabertura – fere a memória viva de lamentáveis fatos ocorridos na própria Faculdade no final da década de 60 e durante a década de 70. Fere diretamente professores da casa, que, então, foram perseguidos porque pensavam; fere professores que foram, inclusive, expulsos de casa, para tornarem-se estrangeiros em busca de Justiça em outros países, exilados da Faculdade; fere a mim, pessoalmente, que vivenciei a potencialidade lesiva da ditadura, e convivo com fotos de parentes que sequer tive oportunidade de conhecer, em cartazes de busca por desaparecidos afixados em nosso prédio . Fere, por fim, em minha opinião, todos os nossos alunos que, sem experiências pessoais sobre esse período tenebroso, precisam de nossas memórias e de nossa voz para conhecerem esse mal absoluto que é a restrição da liberdade.


Não tenho nenhuma queixa pessoal dirigida ao ex-senador Marco Maciel para apresentar aqui. O que tenho é a convicção e o conhecimento de sua trajetória política; nos tempos em que convivemos com a divisão entre ditadores e cidadãos, sei que nossa Faculdade ficou aliada aos cidadãos, postura contrária do Conferencista convidado.


Por certo, como acadêmica, não devo ter preconceito com ideias. Mas a distância no tempo, pouco mais de 30 anos, apenas o tempo de minha vida, não pode ser suficiente para apagar de nossa história e memória o passado a que aludi.


Se, durante a ditadura, o maior desafio do cidadão era pensar e manifestar-se, hoje, penso eu, o que mais nos constrange é o dever de não calar, de não tolerar por comodidade e de não negligenciar nosso legado. São tempos diferentes, é claro. Os protestos desapareceram para dar lugar ao individualismo e à busca de conquistas patrimoniais. Não há voz nas ruas ou nas praças. É o silêncio obsequioso, chamado de tolerância, que incomoda alguns poucos legatários de tanto sofrimento do passado.


Meu protesto, portanto, segue as diretrizes atuais: infelizmente a presença do conferencista constrange a mim, em tão alta medida, que não me permitirá participar desse momento histórico. Protesto por meio dessas palavras, de minha ausência e de um pedido. Se algum documento resultar da solenidade da próxima segunda-feira, dia 03 de outubro, solicito que minha ausência seja registrada como forma de protesto silencioso e pacífico.


Eu não sei se nós teremos os benefícios de, dentre nós, haver um novo docente dedicado a contar a história da Faculdade de Direito do Recife, como fez o Prof. Gláucio Veiga; mas, se houver, os relatos da próxima segunda-feira farão o histórico dos fatos passados nas décadas de 60 e 70 do século XX darem uivos de terror… o terror da superação das ideias e da liberdade pelo tempo; o terror da negligência da história dos que se foram, em nome do que agora está.


Cordialmente,


Profa. Dra. Larissa Maria de Moraes Leal.


Fonte:  Conversa Afiada

FERNANDO MORAIS: "BLOQUEIO É UMA METRALHADORA APONTADA PARA CUBA"


Felipe Prestes

O jornalista Fernando Morais captou Cuba em dois momentos absolutamente diferentes. Em 1976, Morais escreveu a “A Ilha”, obra que o celebrizou e abriu as portas para sua carreira como autor de grandes reportagens em livro. Naquele momento, o repórter encontrou o socialismo funcionando a pleno vapor, com pouquíssimos descontentes.

O livro que acaba de lançar, “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, se passa na década de 1990 e mostra uma Cuba em fortíssima crise econômica decorrente do fim da União Soviética. Um país que se tornou um prato cheio para as dezenas de organizações anticastristas chefiadas por cubanos radicados na Flórida, que incentivavam e auxiliavam os conterrâneos que desejavam deixar a ilha. Com aviões a seu dispor, estas organizações se tornavam cada vez mais ameaçadoras para Cuba, desrespeitando totalmente o espaço aéreo do país, com voos despudorados sobre Havana.

Neste contexto, o governo cubano inicia a Operação Vespa, que consistiu no envio de 14 espiões que se infiltraram nestas organizações anticastristas. Morais começou a pensar o livro no mesmo dia em que dez destes espiões foram descobertos pelo FBI e presos, em 1998. “Eu comentei com a minha mulher: ‘Aqui tem um livro’”. O escritor solicitou documentos secretos ao governo cubano em seguida, mas só os obteve em 2005. A pesquisa, que incluiu 40 entrevistas, teve início em 2008.

Fernando Morais ainda revela profunda admiração pela Cuba revolucionária, que já não funciona tão bem quanto a que mostrou em “A Ilha”. “Relembro sempre do outdoor, que acho muito forte, que foi colocado na entrada de Havana quando o Papa João Paulo II esteve lá em 1998: ‘Nesta noite 200 milhões de crianças vão dormir na rua em todo o mundo. Nenhuma delas é cubana’”, diz.

Na última quinta-feira (29), Morais veio a Porto Alegre para um debate sobre “Os Últimos Soldados da Guerra Fria” e conversou por cerca de 50 minutos com o Sul21 no restaurante do hotel em que estava hospedado. O jornalista defendeu as “correções de rumo” que estão sendo feitas na economia cubana e explicou que o bloqueio econômico que os Estados Unidos impõem a Cuba é muito mais prejudicial dos que as pessoas costumam pensar.  ”É uma metralhadora apontada para a cabeça da economia cubana”, afirma. Morais também falou sobre jornalismo, regulação da mídia e revelou quais podem ser seus próximos livros.

Sul21 – Quando tu escreveste “A Ilha”, na década de 1970, Cuba era quase a realização de uma utopia, as coisas davam muito certo. Em “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, que se passa na década de 1990, Cuba já está em uma situação econômica muito ruim. Como tu avalias a diferença entre o país nestes dois momentos?

Fernando Morais – Havia uma dependência muito grande com a URSS. Cuba era quase um país da chamada Cortina de Ferro. Mantinha um nível de independência política muito grande, mas do ponto de vista econômico era um grau de dependência enorme. Quando acaba a URSS, a economia cubana sofre um baque que torna a sobrevivência da Revolução uma coisa milagrosa. Só se explica mesmo pela garra do povo cubano. O PIB desabou em 75%. Quando o PIB de um país cai 4 ou 5%, um presidente arranca os cabelos. Eles tiveram que fazer mágica para sobreviver. O inacreditável de tudo isto é que, apesar desta tragédia econômica, passados 20 anos do fim da URSS, dados recentes mostram que Cuba é o único país do Caribe e da América Latina que não tem mais desnutrição infantil. Zero. A taxa de mortalidade infantil é de 4,5 por mil. A dos Estados Unidos é de oito por mil. A do Brasil é de 22 por mil. Em São Paulo é de 11 por mil. No debate sobre o livro em Curitiba me perguntaram como eu continuo solidário à Revolução Cubana. Eu cito estes números e relembro sempre do outdoor, que acho muito forte, que foi colocado na entrada de Havana quando o Papa João Paulo II esteve lá em 1998: “Nesta noite 200 milhões de crianças vão dormir na rua em todo o mundo. Nenhuma delas é cubana”. É isso.

Sul21 – Imagino que tenham questionado no debate o fato de o poder estar concentrado com Fidel Castro e agora com seu irmão, o que muitos consideram uma ditadura.

Fernando Morais – É um país em guerra com a maior potência bélica do planeta. Não sei que cidade está a 160 quilômetros de Porto Alegre, para que as pessoas tenham a noção da distância entre Cuba e os Estados Unidos. E não é uma ameaça retórica. É real. Acho que não tem mais ninguém ingênuo depois que os americanos deram a volta no planeta para invadir o Iraque e o Afeganistão e do que fizeram agora na Líbia. Independentemente se Kadafi era um ditador ou não, eles atravessam o planeta e vão matar gente em um lugar que eles não sabem nem a língua. Se você der um mapa-múndi para os americanos, 99% não sabem onde ficam estes países. Os cubanos não são ingênuos de supor que estão a salvo de uma agressão militar, até porque já houve na Baía dos Porcos. Quando o Brasil entrou na Segunda Guerra, Getúlio baixou no dia seguinte leis que proibiam japoneses, alemães e italianos de falar seus idiomas na rua, de ler livros em suas línguas. Está havendo muita mudança econômica em Cuba. Raúl está corrigindo muita cagada que eles fizeram no começo. Agora, não acredito que haverá alguma mudança política enquanto não acabar o bloqueio econômico.

Sul21 – Como tu estás vendo estas mudanças econômicas?

Fernando Morais – São correções de rumo. Me lembro que nas primeiras vezes em que fui a Cuba, quem cortava seu cabelo era um barbeiro estatal. Você tinha uma unha encravada, tinha que arrumar um podólogo estatal. Não tinha nada que não fosse estatal. Um caso célebre é de uma empresa que era muito famosa que se chamava El Rey de la Papa Frita, que tinha centenas de quiosques em todo o país. Foi estatizada. Eles criaram um mecanismo em um ministério para cuidar da El Rey de la Papa Frita. Não podia dar certo. Foi uma revolução de um radicalismo só visto na Revolução Russa de 1917. Hoje está nos jornais que as pessoas podem comprar e revender carros. As pessoas já podem abrir pequenos negócios. Agora, saúde e educação continuam sendo de responsabilidade do Estado, nisto não se mexe. Cuba não vai voltar a ser puteiro dos Estados Unidos nunca.

Sul21 – O título do livro fala em últimos soldados da Guerra Fria. Mas pela nossa conversa, percebe-se que na verdade esta guerra ainda não acabou.

Fernando Morais – Eu acho que ali foi o último episódio da Guerra Fria. Na verdade, é um anacronismo. A Guerra Fria acaba no dia em que acaba a URSS. Os Estados Unidos perderam o inimigo que alimentava isto. No entanto, ali no Caribe havia um microcosmo onde a Guerra Fria se mantinha.

Sul21 – Agora não se mantém?

Fernando Morais – Isso está, aos poucos, desaparecendo. Primeiro pela descoberta da rede de cubanos. Das denúncias feitas por Fidel a Bill Clinton, via Gabriel Garcia Marquez. E também por um problema generacional. Os jovens que vivem em Miami não estão mais interessados em jogar bombas em Cuba.

Sul21 – Já não devem ter interesse em voltar para lá também e reinstalar o capitalismo.

Fernando Morais – Não, até porque eles não tiveram prejuízo nenhum. Eles nasceram depois das expropriações. Quinze dias atrás o Pablo Milanés foi fazer um show em Miami, em um grande estádio da American Airlines (a American Airlines Arena). Havia 15 mil pessoas aplaudindo ele dentro do estádio e do lado de fora uns quinze velhinhos com cartazes na mão o chamando de comunista sem-vergonha. Então, isso está diminuindo muito. É muito raro você encontrar um jovem entre as lideranças das dezenas de organizações anticastristas que existem na Flórida.

Sul21 – O bloqueio econômico é realmente o grande causador dos problemas econômicos de Cuba?

Fernando Morais – A maioria das pessoas não sabe o que é realmente o bloqueio. Acha que é só a impossibilidade dos dois países comerciarem e de cidadãos de um país visitarem o outro. É claro que apenas isto já afeta profundamente a economia cubana, porque na hora em que você permitir que o turista norte-americano visite Cuba, o turismo cubano vai multiplicar seu faturamento. Mas o problema maior são as imposições feitas a outros países. Há cerca de três anos, Cuba comprou da Toshiba uns 50 tomógrafos e o Japão não podia entregar, porque se um navio japonês atracar em Cuba fica proibido de atracar em portos norte-americanos durante não sei quantos meses. Há um trecho no livro em que o cônsul norte-americano no Rio de Janeiro procura o vice-presidente da Souza Cruz para ameaçá-lo porque a empresa tinha acabado de montar uma fábrica em Havana, em um terreno que fora expropriado da indústria americana. Deram com o nariz na porta. O bloqueio é uma coisa que até a OEA, que é controlada pelos EUA, já protestou. É uma metralhadora apontada para a cabeça da economia cubana.

Sul21 – O livro mostra que até mesmo Jimmy Carter acabou apelando para o eleitorado de Miami anticastrista quando sua popularidade estava em baixa. A gente vê agora que Obama vai vetar a criação do Estado Palestino. Tu estudaste muito o lobby das organizações anticastristas. Como funcionam estes lobbies?

Fernando Morais – Dinheiro. No caso do lobby cubano, além do dinheiro tem a importância que a Flórida desempenha nas eleições dos Estados Unidos. Foi lá que o Bush (filho) ganhou a primeira eleição, que dizem que foi roubada do Al Gore. No caso do lobby pró-Israel, é financiamento de campanha. Financiamento legal, tudo declaradinho. Os caras não são loucos de enfrentar isto. Perdem a eleição. No caso do lobby cubano, nenhum candidato desde Kennedy, seja democrata ou republicano, deixou de cumprir o ritual de ir beijar o anel dos barões da comunidade cubana em Miami. Se o Obama vier a fazer alguma coisa – seja no sentido de acabar com o bloqueio, seja no sentido de libertar os cinco (agentes cubanos que continuam presos nos EUA) – só vai fazer se for reeleito no ano que vem, o que está cada vez mais difícil. Se ele se reelege, não deverá satisfação nenhuma à comunidade cubana da Flórida, porque ninguém pode ser presidente dos EUA por mais de duas vezes, nem alternadamente.

Sul21 – Tu ouviste a notícia da prisão dos espiões cubanos no rádio e no mesmo momento pensou que dava um livro. Como foi isto?

Fernando Morais – No dia em que eles foram presos, em setembro de 1998, eu estava dentro de um táxi com minha mulher, num final de tarde, no trânsito infernal de São Paulo. No meio de um monte de notícias internacionais, de vulcão não sei onde, ele disse: “Dez agentes secretos cubanos foram presos hoje pelo FBI na Flórida. Estavam infiltrados todos eles em organizações de extrema-direita”. Em geral é o contrário, quem espia o mundo todo são os Estados Unidos, é o FBI, a CIA. Cuba lá dentro, nas “entranhas do monstro”, como dizem os cubanos. Eu comentei com a minha mulher: “Aqui tem um livro”. Levei quase dez anos para conseguir que os cubanos me entregassem o material secreto.

Sul21 – Então, desde aquele momento tu já começaste a fazer o livro?

Fernando Morais – Já. Na primeira vez em que fui a Cuba depois daquilo já bati na porta deles. No começo, Cuba nem reconhecia que eram agentes do governo, mesmo que já tivessem sido condenados à prisão perpétua nos EUA. Em 2005 eles me liberaram os documentos, mas eu estava fazendo a biografia do Paulo Coelho. Já tinha recebido adiantamento da editora, precisava entregar o livro. Quando acabei a biografia, em 2008, saí a campo. Fiquei dois anos pesquisando e um ano escrevendo.

Sul21 – Mas além dos documentos tu também fizeste entrevistas com os familiares dos espiões.

Fernando Morais – Tem 40 entrevistas. Conversas com familiares, com profissionais da área de inteligência, nos Estados Unidos conversas com líderes dos grupos cubanos de direita. Tem muita coisa em off com agentes do FBI aposentados, que me deram dicas. Fui a Nova Iorque entrevistar o Larry Rother, aquele repórter que disse que o Lula bebia, que queriam expulsar do Brasil. Ele foi chefe da sucursal do New York Times em Miami e os caras (grupos anticastristas) ameaçaram ele, cortaram os freios do carro dele, metralharam a porta da casa dele. Falei com os presos por internet e, quando falava por telefone, aproveitava as cotas de minutos que as famílias têm para falar com eles mensalmente. Como não sou nem parente, nem cidadão americano, não podia visitá-los na cadeia.

Sul21: Foi bem reportagem investigativa.

Fernando Morais – Típica reportagem investigativa. Tem que se virar para que as pessoas contem coisas que não estão querendo contar. Fiz tudo sozinho. Em geral uso jovens jornalistas, historiadores ou pessoas da área de Letras para fazer algumas pesquisa e entrevistas por mim. Nesta, eu achei tão saboroso que fiz tudo sozinho. Tive pessoas me ajudando apenas para marcar entrevistas, degravar as fitas. Tinha uma moça em Havana, uma jornalista, a Leslie. Em Miami tinha uma jornalista colombiana e no Brasil, uma jovem jornalista. Ela organizava as informações para mim.

Sul21 – É uma história que desperta o interesse em todo o mundo. Já tem edições em outros idiomas?

Fernando Morais – Tem duas editoras norte-americanas interessadas em lançar o livro. Em espanhol, já tem editora em Cuba, Venezuela e México. Em Portugal também. E já está vendido para cinema desde o começo, para um jovem investidor paulista. Foi o que me ajudou porque foi uma pesquisa cara. No meio da pesquisa, o dinheiro havia acabado. Ele comprou os direitos. Está em campo para ver se amarra a produção com algum grande estúdio norte-americano.

Sul21 – Muitos jornalistas antigos falam que este tipo de reportagem morreu, principalmente nos veículos. Tu concordas com isto?

Fernando Morais – Os donos dos veículos dizem que o leitor não quer mais saber de reportagens extensas, quer saber de hard news, de internet. Se isto fosse verdade meus livros não venderiam o que vendem. São todos livros de grande reportagem, e todos os dez entraram em listas de mais vendidos. Acho que as pessoas querem as duas coisas. Uma coisa é você entrar na internet agora e saber o que está acontecendo na Bolívia. Outra coisa é você ler uma boa história. Público tem. Precisa dinheiro para você pôr um repórter por dois, três meses em cima de um assunto. Eu sou um leitor ávido de papel. Uma das minhas alegrias era ler de manhã três, quatro jornais. Já não tenho tanta sedução assim. Os jornais hoje me lembram um verso profético do Gilberto Gil: “O jornal de manhã chega cedo, mas não traz o que quero saber/As notícias que leio, conheço, já sabia antes mesmo de ler”. Salvo uma ou outra coisa, você já leu antes na internet. Não acho que a internet vai acabar com o jornal. Mas acho que a única maneira do jornal em papel obter alguma vantagem sobre a internet é com opinião e com a grande reportagem, com matérias esteticamente trabalhadas. Dar tempo ao repórter burilar, escrever a reescrever. Se não, morrerão de fome.

Sul21 – Como tu vês a discussão que voltou à tona agora sobre a regulação da mídia?

Fernando Morais – Eu sou a favor, claro. Em primeiro lugar, televisão e rádio não são propriedade dos donos, é uma concessão com a sociedade está fazendo a eles, mas mesmo a mídia impressa precisa de regulação. Isso não significa ter censura, não. É ter normas. Um jornal não pode dar em manchete que você é batedor de carteira e no dia seguinte desmentir com uma notinha de três linhas. É inadmissível que seja assim. Eu sou absolutamente contra a censura. Vivi de 1968 a 1976 abaixo de censura. O censor sentava ao seu lado na redação. Não pode haver nenhuma instituição impune. Esta discussão, por exemplo, sobre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Tem que ter o CNJ. Você não pode permitir, por exemplo, que a censura que era fardada se torne a censura togada. Agora, quem é que regula o direito da imprensa dizer que você é ladrão? Tem regulação no mundo inteiro. Tem muito mais nos países que são modelo para os nossos donos de jornal. Nos EUA, quem é dono de televisão não pode ter jornal. E as televisões que têm alcance nacional precisam de um percentual altíssimo de produção local e de produção independente. Aqui no Brasil, as grandes redes nacionais produzem tudo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os estados produzem apenas uma fatia pequenininha do seu noticiário.

Sul21 – Para a indústria cultural não é bom.

Fernando Morais – Claro que não. Um país com uma diversidade cultural como a nossa não pode ter uma emissora de televisão como aGlobo, com 60% de audiência, com a concentração de produção como ela tem. Seria bom também para ela comprar produção local. Seria uma forma de estimular produtoras no Brasil inteiro. E não tem nada que ver com censura. Este papo que os donos de jornal estão usando é para inibir a ação de quem defende a regulação. Não tem censura nenhuma.

Sul21 – Mas é difícil disseminar uma ideia contrária entre a população.

Fernando Morais – Claro, eles detêm o controle dos meios. Não adianta você querer dizer que isto não é censura no seu site, que atinge uma fatia pequena. Tem a Globo, o Estadão, a Folha, a Veja. Dos grandes, você tira a Carta Capital. O resto todo está martelando a cabeça das pessoas, dizendo que regulação é sinônimo de censura. Quando falo, mesmo para pessoas de cabeça aberta, que sou a favor da regulação, falam assim: “Quem diria, você que foi vítima da censura, agora está defendendo”.

Sul21 – Como estão andando as biografias do José Dirceu e do Lula?

Fernando Morais – Do José Dirceu eu estava trabalhando, ainda não desisti. Cheguei a ir a Cuba com ele, no lugar em que ele foi treinado, as pessoas que conviveram com ele, o médico que fez a cirurgia no rosto dele. Aí veio a cassação e ele teve que cuidar da vida dele. Pensamos em fazer um livro mais em primeira pessoa chamado 30 Meses, que seria a história dos bastidores do Governo Lula a partir da ótica dele. Ontem (quarta-feira, 28) ele lançou em Brasília um livro (Tempos de Planície), que acho que é um livro de ensaios, não de revelações. Com o Lula estou conversando há uns dois meses. Nem eu, nem ele sabemos bem o que se quer fazer.


Sul21 – Ele está plenamente disposto a fazer esta biografia?

Fernando Morais – A iniciativa foi dele, do pessoal ligado a ele. Me procuraram e propuseram um almoço com ele. Tenho uma relação antiga com o Lula. Na noite em que o sindicato foi invadido pelo Exército em 1979, estava lá dentro com ele. Pode rolar, pode dar um negócio legal. Vamos ver. É um momento bom porque eu estou na entressafra.

Sul21 – Não tem algum outro projeto em vista?

Fernando Morais – Tenho. Aliás, um projeto aqui no RS. Estou começando a conversar com a família do João Goulart para fazer algo não sobre a vida dele, mas sobre a morte.

Sul21 – É algo que está no ar.

Fernando Morais – É, aquilo não está devidamente esclarecido. Almocei na semana passada com a dona Maria Thereza (viúva de Jango) e com a Denise (filha). Vamos ver. Não descarto nenhuma possibilidade.

Sul21 – Como tu avalias o governo Lula?

Fernando Morais – Um governo que levou para o mundo das pessoas que comem três vezes por dia 30 milhões de habitantes. São três Chiles, cinco Dinamarcas de gente que não comia e que passou a comer. A política externa foi impecável. Altiva, independente, sem submissão. Acho que os tataranetos da gente, daqui duzentos anos, vão olhar para o Brasil dos séculos XX e XXI e vão ver dois governantes: Getúlio Vargas e Luis Inácio Lula da Silva.

Sul21 – E quanto ao governo Dilma?

Fernando Morais – Muito bem. Acho que está um pouco embaçado neste começo por estes rolos, de ladrões pendurados na administração, mas achoque vai ser tão bom quanto o do Lula. É a mesma família. São galhos da mesma árvore.



Fonte:   Terra Brasilis

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