Um pregador de golpes de Estado
Por Mário Augusto Jakobskind
O nome dele é Roger Noriega (foto), um linha-dura que ocupou o  cargo de  subsecretário do Departamento de Estado no governo de George W.  Bush e  de embaixador dos Estados Unidos na Organização dos Estados  Americanos  (OEA).
Notoriamente  vinculado ao complexo industrial militar  norte-americano, Noriega  volta e meia é convocado pela mídia de mercado  para dar recados de  grupos que se utilizam de expedientes de todos os  tipos na defesa de  poderosos interesses econômicos.
 Pois bem, a revista Veja, sempre ela, divulgou  entrevista  em que Noriega faz previsões suspeitas envolvendo o Brasil.  Segundo  este estimulador de golpes nas Américas, o Brasil dá cobertura e  serve  de base para o terrorismo internacional.
Noriega,  que segue como funcionário do  Departamento de Estado, ainda por cima  acusa o Brasil de ser complacente  e apoiar o terrorismo na Tríplice  Fronteira. Esta região, por sinal,  volta e meia aparece no noticiário  com matérias requentadas acusando a  existência de células terroristas  árabes.
A própria revista Veja já publicou matérias do gênero em várias ocasiões. Aí vem Noriega para voltar ao tema que o governo brasileiro já investigou e concluiu a improcedência das acusações.
Dá ou não dá para desconfiar que a nova investida de Noriega é suspeita?
Além de fazer duras críticas aos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales e Rafael Correa do Equador, Noriega previu nas páginas da Veja que o Brasil será alvo de atentados durante a Copa do Mundo, sugere ainda que o governo mude sua política externa e rompa os elos com os três dirigentes sul americanos mencionados.
Noriega, que em abril de 2002 foi um dos estimuladores da tentativa de golpe de estado contra o presidente Hugo Chávez, está mais uma vez se intrometendo indevidamente em assuntos internos de um país soberano e no fundo tenta provocar pânico ao fazer previsões com base em coisa alguma, o que também levanta a suspeita segundo a qual serviços de inteligência dos EUA, a CIA e outros, podem estar preparando algum atentado terrorista para incriminar os governos dos países que não rezam pela cartilha de Washington. Ele, na prática, procura preparar a opinião pública a aceitar o argumento de que Venezuela, Bolívia e Equador representam um perigo para o Brasil.
E, de quebra, Noriega ainda afirma que as embaixadas do Irã incrementam células terroristas na América Latina.
Pelos antecedentes deste funcionário do Departamento de Estado todo o cuidado é pouco. Nesse sentido, representantes de vários movimentos sociais reunidos em Brasília chamaram atenção para as declarações de Noriega. Pediram providências imediatas do governo brasileiro e chegaram até a pedir que o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, seja considerado persona non grata. Para estes movimentos, a adoção de tal medida seria uma forma de demonstrar que o Brasil não aceita passivamente intromissões indevidas em questões internas.
Não contente com a entrevista publicada na Veja, Noriega andou fazendo declarações de caráter golpista em outras plagas. Empolgado com o desfecho das ações militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Líbia, Noriega mais uma vez deitou falação contra o governo constitucional da Venezuela.
Fez mais uma previsão, a de que Chávez não teria mais de seis meses de vida e que a sua morte provocaria o caos no país petrolífero devido a confrontos entre apoiadores e opositores do presidente venezuelano, o que justificaria uma intervenção militar dos EUA. No portal Inter American Security Watch, ao pregar abertamente a intervenção, ele declara textualmente que “as autoridades dos Estados Unidos devem estar preparados para lidar com o impacto de uma situação de turbulência a curto prazo em um país onde se compra 10 por cento do nosso petróleo”.
Não é a primeira vez que Noriega se manifesta sobre a doença de Chávez. No mês de setembro chegou a afirmar que “deveríamos nos preparar para um mundo sem Chávez”. As declarações de Noriega então entraram em contradição com a dos médicos de Chávez assegurando que ele reagia bem ao tratamento a que vinha sendo submetido contra o câncer.
Por coincidência ou não, poucas horas antes da declaração de Noriega sobre o estado de saúde de Chávez, o governo venezuelano denunciava a presença de um submarino no litoral do país.
Na verdade, Noriega exerce a função de estimulador de setores golpistas latino-americanos e se os governos silenciarem a respeito, o referido funcionário do Departamento de Estado continuará ocupando espaços na mídia de mercado para sugerir retrocessos e tentar fazer com que o continente retorne ao período tenebroso dos anos 70.
Roger Noriega é mesmo uma figura nefasta ao processo democrático latino-americano.
Em tempo: o recorde da semana em termos  de deturpação da história ficou por conta de um colunista de O Globo  que  comparou o ato público organizado pelo governo do Estado do Rio  contra o  projeto ilegal sobre os royalties do petróleo com a passeata  dos 100  mil. O que disse Zuenir Ventura é realmente uma ofensa à  geração 68 que  lutou com o que estava ao seu alcance contra a ditadura.
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