Índice de preços acumulado em doze meses desce a 6,49%, dentro da meta do Banco Central de 6,50%; maiores quedas setoriais foram entre alimentos; remédios pressionaram para cima; produção de veículos recorde mostra atividade econômica aquecida; juros futuros caem na BM&F; no exterior, BC australiano baixa taxas para enfrentar crise; na Europa, países questionam ortodoxia da Alemanha de Ângela Merkel, num debate antecipado pela presidente Dilma Rousseff; em São Paulo, professor de Harvard Dani Rodrik resume o que alguns não enxergam: "Este é um país normal, e num momento de crise internacional como este a melhor coisa que qualquer país tem a almejar é ser normal"
247 _ Durante muito tempo, ao longo da ditadura militar (1964-1985), o Brasil teve suas melhores interpretações traçadas pelos chamados "brazilianistas". Eram professores americanos que, no ambiente democrático dos EUA, publicavam estudos, ensaios e livros sobre o que acontecia no Brasil da exceção.
Na terça-feira 7, durante seminário em São Paulo, mais uma vez um intelectual americano, agora na plena democracia, encarregou-se de contribuir para a melhor compreensão dos fatos, desta feita econômicos, que ocorrem no País.
- O Brasil é um país normal. E num momento como este (de crise econômica mundial), a melhor coisa que qualquer país tem a almejar é ser normal, disse o economista Dani Rodrik, titular da Universidade de Harvard, seguramente a mais prestigiada do mundo.
Nesta quarta-feira 8, o IBGE divulgou o dado oficial da inflação do mês de abril – e confirmou, com o número, a normalidade acentuada pelo professor americano. Com o 0,55% na elevação média dos preços da economia no mês passado, a inflação acumulada nos últimos doze meses voltou a ficar dentro da meta estabelecida pelo Banco Central, chegando a 6,49%, abaixo, portanto, do teto estipulado em 6,50%. O dado oficial confirmou as previsões apuradas entre analistas de 15 diferentes instituições financeiras, que haviam, na véspera, antecipado uma inflação dentro da meta. Como resultado desses números, as taxas de juros negociadas na Bolsa Mercantil & Futuros (BM&F) recuaram. Tudo dentro da normalidade.
Continua não sendo preciso, como gostariam os economistas brasileiros Ilan Goldfjan e Alexandre Schwartzman, promover desemprego em massa para controlar a subida dos preços por meio do desaquecimento da economia. O que houve, na volta da taxa para dentro da meta, foram recuos nos preços dos alimentos – aquele colar de tomates de Ana Maria Braga, de R$ 10 o quilo, voltou a ser comprado por R$ 2,50. Em detalhes, o IBGE mediu que vários produtos deste grupo ficaram mais baratos de março para abril, com destaque para o preço do açúcar refinado (-4,50%), do açúcar cristal (-3,41%), do óleo de soja (-2,87%) e do frango inteiro (-1,92%). O setor de vestuário também registrou redução nos preços, enquanto maior pressão surgiu no de remédios, com alta de 2,99% em abril sobre março.
Repita-se: tudo dentro da normalidade. Como indicador de que a economia brasileira continua pujante, o setor de veículos bateu recorde de produção no mês de março, contribuindo para um crescimento de PIB, até o final do ano, previsto para ser de 3% pelo FMI, contra 1% realizado no ano passado.
- A taxa de crescimento econômico do Brasil apresentou progressos significativos nos últimos dez anos, especialmente em termos relativos, se comparada à perfomance de países industrializados, lembrou, em sua palestra, o professor Rodrik.
Para ele, mesmo num mundo em crise econômica, o Brasil e a América Latina se manterão como uma região economicamente "relativamente segura". Ele destacou que o ambiente democrático brasileiro e os avanços fiscais promovidos pelo governo "são extremamente importantes para a resiliência do país ao cenário externo".
No contexto mundial de enfrentamento da crise econômica, ontem foi a vez do banco central da Austrália fazer o que o BC brasileiro tem procurado fazer, consistentemente, nos últimos anos: baixar juros. Lá, as taxas caíram para 2,75% ao ano, com indicativo de que poderão descer. Aqui, na última reunião do Copom, cercados por expectativas e apostas na alta dos juros, os diretores do BC quebraram uma longa série de baixas para elevar os juros em 0,25%, mas o mercado não vê intenção da autoridade econômica em prosseguir, na próximas reuniões, com mais aumentos.
No mundo e em particular na zona do euro, o debate instalado agora é o de como superar a estagnação econômica provocada pelos regimes de extrema austeridade que foram implantados, com desemprego em alta em diferentes países. Ao visitar a região central do continente, no ano passado, a presidente Dilma Rousseff deu sua receita, a mesma que aplica no Brasil: motivação para o crescimento como melhor forma de evitar o pior cenário. Ela foi contestada pela primeira-ministra da Alemanha, Ângela Merkel, defensora da cartilha ortodoxa para enfrentar a crise. Neste momento, Merkel é a dirigente europeia mais questionada por seus colegas de moeda e mercado comuns, que vão formando um consenso de que para sair da crise é preciso adotar medidas econômicas estimulantes, e não depressoras.
Por mais que se queira ver diferente, até aqui os fatos vão mostrando que a política econômica brasileira não apenas segue pela direção correta, como se adiantou ao que, só agora, os países centrais começam a procurar fazer. Acertar também deve ser visto como um feito normal dentro de um país normal.
Fonte: Brasil 247
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