terça-feira, 8 de outubro de 2013

UNIÃO DUDARINA: DE QUEM FOI, DE FATO, O GOLPE DE MESTRE?

A megalomania sempre foi uma das características mais evidentes em Eduardo Campos, sendo transmitida por osmose a seus correligionários, que não cansam de utilizar adjetivações como o mais, o demais e o melhor, ao se referirem a seu líder. Ocorre que a megalomania, via de regra , finda por vir acompanhada por uma espécie de cegueira que acaba por embaçar ou até mesmo eliminar a visão da realidade. Ao final deste texto, isso restará mais que evidenciado.Blog Imagem
Por Noelia Brito
A recente união entre Eduardo Campos e Marina Silva, que nas Redes Sociais já está sendo chamada de união Dudarina, causou frisson em muitos partidários e admiradores do governador de Pernambuco e presidente do PSB. Chegaram a acusar um autêntico golpe de mestre da parte do pernambucano, por acreditarem que a aliança em questão, já garantiria Eduardo Campos no segundo turno contra a presidenta Dilma e mais, que isso já faria de Eduardo o novo presidente do Brasil.
Um dos políticos de maior visão de conjuntura no país é, sem dúvida, o ex-presidente Lula. Sei que a turminha que aprecia os artigos de Reynaldo Azevedo e do tal “Menino Maluquinho”, do Instituto Milenium, vão estrebuchar com essa afirmação, mas contra fatos não há argumentos. E a sabedoria política de Lula é um fato. Ninguém chega aonde ele chegou por incompetência. O ex-presidente pode ter todos os defeitos, mas é uma ave de rapina, quando o assunto é analisar a política que se pratica no país. Aprendeu isso ainda na época em que comandava greves gerais puxadas por seu sindicato e pela CUT.
A política brasileira tem toda uma herança advinda da política sindical e estudantil, grande parte dos políticos em atividade foram criados e formados nesse meio. Quem não veio daí, veio de outro tipo de herança, a que é passada pela via das oligarquias familiares, como é o caso, por exemplo, do próprio Eduardo Campos. Com toda a sua experiência política e rapinismo, custo a acreditar que Lula se deixou inebriar pela ilusão de que pessoas como Eduardo Campos, mesmo lhe devendo muito, do ponto de vista político, se manteriam gratas e fiéis a um projeto de poder que não fosse o seu próprio.
Lula viu e se beneficiou com a puxada de tapete que Eduardo Campos deu em Ciro Gomes, retirando sua candidatura à presidência, quando apresentava bons índices nas pesquisas de opinião, para poder embarcar na primeira candidatura de Dilma.
Será que não imaginava que quem puxa o tapete de um companheiro de partido não teria o menor pudor em puxar o tapete de outros companheiros, ainda mais se forem de outros partidos, ainda que esse companheiro seja o Lula? Custo a acreditar que Lula seja tão ingênuo. Até do domínio do fato, Lula escapou, não escaparia dos ardis de Eduardo?
Como a política tradicional se faz por meio de concessões de parte a parte, Lula abriu mão de algumas posições ocupadas por seu partido, em troca da conquista de uma posição fundamental para o PT, para a manutenção de seu projeto de poder, ou seja, a prefeitura de São Paulo e a reeleição de Dilma.
Em São Paulo, o PSB historicamente era muito próximo dos tucanos,  a ponto de ter cargos em seus governos. Lula abriu mão, por exemplo, das prefeituras do Recife e de Fortaleza, permitindo, por uma postura omissa no processo eleitoral, que fossem tomadas do PT por dois caciques do PSB. Em Fortaleza, a prefeitura foi entregue aos Ferreira Gomes, que já detinham o governo do Estado do Ceará. No Recife, foi entregue a Eduardo Campos, que, por sua vez, já detinha o governo de Pernambuco.
Passadas as eleições, Eduardo Campos, embalado por sua corte de marqueteiros que só dizem, como em qualquer corte, o que o monarca quer ouvir (o que se comenta a boca miúda é que, na intimidade, o presidente do PSB não suporta ser contrariado), acreditou que poderia, em razão dos espaços conquistados pelo PSB, grande parte em razão das concessões feitas por Lula,  alçar o tal “voo solo” e chegar aonde seu avô, Miguel Arraes, jamais esteve sequer perto de chegar: à presidência da República.
Ocorre que a realidade para além das fronteiras da capitania hereditária de Pernambuco é bem outra e Eduardo Campos não conseguiu decolar, por mais viagens que tenha feito nos jatinhos contratados por seu governo, no tão sonhado voo nacional.
A ganância, ou melhor seria dizer, a verdadeira obsessão de Eduardo Campos em chegar a presidência acabou por desidratar sua liderança dentro do Estado e de seu próprio Partido (vide a debandada dos Ferreira Gomes e de outras lideranças pessebistas, como o ex-presidente do PSB de Minas, Walfrido do Mares Guia, que preferiram continuar seguindo com Lula e Dilma), pois ao se focar num projeto maior, como a presidência da República, findou por abrir brechas para que aliados como o senador Armando Monteiro conseguisse avançar em seu próprio projeto pessoal de poder, que é o governo de Pernambuco, contando, inclusive, com acenos de apoio do PT de Lula, a quem, repita-se, Eduardo deve praticamente todas as conquistas de investimentos feitos em Pernambuco durante seu governo e a quem Eduardo devia não apenas seus altos índices de aprovação, mas a própria conquista da prefeitura do Recife.
Eduardo, de repente, viu-se numa situação em que poderia perder tudo. Ao mesmo tempo em que sua candidatura à presidência não avançava, a candidatura de Armando Monteiro ao governo de Pernambuco crescia a olhos vistos e, o que é pior, para Eduardo, à sua revelia e contra sua vontade. O patamar em que já se encontra a candidatura de Armando Monteiro foi, inclusive, registrado em foto emblemática de uma almoço político reunindo Armando Monteiro, o ex-prefeito João Paulo e o senador Humberto Costa, no tradicional restaurante “Leite”, da capital pernambucana. Uma coligação com Marina já era sua tábua de salvação.
É claro que Eduardo Campos, político experiente que é, vinha tentando agregar, aqui e ali, forças políticas em torno de sua candidatura à presidência e isso incluía, por certo, à própria Marina Silva, cortejada por intermédio do secretário de Maio Ambiente de Eduardo e um dos escudeiros de Marina, em Pernambuco, o empresário Sérgio Xavier. Mas não era só Marina, Eduardo cortejou e conquistou o apoio de personalidades como Ronaldo Caiado, da UDR, da família Bornhausen, do DEM, do ex-senador Heráclito Fortes, ligado ao banqueiro Daniel Dantas, todos, não por coincidência, antigos inimigos do lulismo, à exceção da própria Marina, cria deste. Sem falar nas reuniões que teve com o pastor Silas Malafaia, um dos primeiros, aliás, a tecer rasgados elogios à aliança Dudarina.
Eduardo Campos cortejava Marina de longas datas. Foi seu partido quem ingressou com ações contra o projeto de lei acusado por Marina de casuísmo legislativo, cujo intuito único seria o de prejudicá-la, por reduzir tempo de TV e repasses do Fundo Partidário para os novos partidos.
A partir desse projeto de lei casuístico, Marina passou a nutrir a ideia de que o PT estaria por trás da decisão do TSE de não registrar seu Partido, por problemas nas assinaturas de apoiamento. Mas a verdade é que a ex-ministra  foi quem cometeu o pecado da soberba, ao deixar para iniciar o processo de coleta de assinaturas faltando apenas 5 meses para se esgotarem os prazos para o registro do seu partido, ainda a tempo de disputar as próximas eleições.
Marina teve três anos para fazê-lo e não fez. Apoiadores de primeira hora do projeto político de Marina Silva, como a ex-senadora Heloisa Helena, alertaram-na, já em seguida às eleições de 2010, onde conquistara mais de 19 milhões de votos, que deveria iniciar logo a fundação de um partido onde pudesse abrigar os que pensavam como ela.
Mas Marina, diferentemente do que apregoa, é extremamente personalista e autoritária, só faz o que quer e a ida para o PSB, à revelia de seus “sonháticos” seguidores e apoiadores, é a maior prova disso. Aliás, se tem um ponto de semelhança entre Eduardo e Marina, não tenham dúvidas de que é esse: só fazem o que seu personalismo quer.
Naufragada a arca de Marina, que se propunha a salvar da extinção, pelo dilúvio chavista que inundou a América Latina, os espécimes mais variados da política nacional, espécimes de origem que vão do PSDB, do PPS, do PV ao PSOL, incluindo alguns do próprio PT, (a ex-ministra de Lula justificou sua adesão ao PSB à uma missão messiânica de combater o chavismo do PT), Marina, mais que rapidamente, “cedeu” ao chamado de Eduardo e se “aliou” ao seu projeto presidencial, passando para os aliados de governador de Pernambuco, a imagem de pessoa desprendida e humilde.
Marina, porém, é sabedora da natureza megalomaníaca de Eduardo Campos, a quem deve conhecer muito bem por intermédio de relatos feitos por seu fiel escudeiro, Sérgio Xavier, homem tão poderoso dentro do governo Eduardo Campos que acumula a presidência da CPRH, responsável pelos cobiçados licenciamentos ambientais de SUAPE, por exemplo, com a Secretaria de Meio Ambiente. Mas pelo visto, Eduardo é quem não conhece bem Marina.
Ocorre que por trás da suposta adesão de Marina ao projeto presidencial de Eduardo Campos está o próprio projeto de poder da ex-seringueira Marina Silva. Quisesse mesmo aderir ao projeto de poder de Eduardo Campos, abrindo mão do seu próprio, mesmo que temporariamente, Marina teria se filiado a um outro Partido e, assim, garantiria uma coligação que desse mais tempo de TV e rádio para o candidato Eduardo Campos.
Eduardo Campos nunca esperou que Marina e seu grupo fossem para o PSB, inclusive por pragmatismo eleitoral e é por isso que colocou o PSB a serviço de viabilizar a criação do Rede Sustentabilidade, chegando até a assinar como um de seus apoiadores. Sonhava Eduardo, do alto de sua megalomania, com uma coligação, onde ele seria o presidente e Marina, a vice.
Inviabilizada a Rede, repita-se, por culpa exclusivamente de Marina, o que esta fez? Foi para um dos 10 partidos que a cortejavam por causa dos seus 19 milhões de votos na eleição passada e por onde poderia, aí sim, numa coligação, ser a vice de Eduardo, agregando tempo na propaganda eleitoral à essa candidatura?
Não, de jeito nenhum. Marina Silva, que não foi criada em berço de ouro como Eduardo Campos e que, tem muito da sagacidade do próprio Lula, emparedou Eduardo dentro de seu próprio Partido e se imporá, ela mesma, como candidata à presidência. Aliás, quem imporá a candidatura de Marina a Eduardo será o “clamor das ruas”, esse mesmo que tornara uma aliança com Marina tão atrativa a Eduardo. Também as pesquisas de opinião, por motivos óbvios, seguirão apontando Marina como a candidata melhor aquinhoada na preferência popular, se comparada ao próprio Eduardo.
Lula, evidentemente, não está surpreso com a traição de Eduardo, pois essa era de se esperar, sendo Eduardo quem é. Também não está surpreso com a jogada de Marina, pois melhor do que ninguém conhece do que a ex-companheira é capaz, seja porque é um mago quando o assunto é política, seja porque a conhece profundamente, pois formaram juntos o que hoje é o PT. Lula anda dizendo que quem ganhou com a união Dudarina foi Eduardo Campos.
Segundo Lula, Eduardo cresceu, enquanto Marina teria se apequenado. Lula está tranquilo agora. Sabe que se alguém ganhou com essa união foi o próprio PT e sem nem precisar de muito esforço. Numa tacada só viu dizimada a candidatura de Eduardo e desmascarada a verdadeira Nova Política de Marina Silva, movida pelo personalismo e pelo ranço do anti-petismo (petismo do qual Marina, contraditoriamente, é criatura), mas como bom político que é, Lula nunca fala o que realmente pensa.
Noelia Brito é advogada e procuradora do Município 

FONTE:   Blog do Jamildo

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