sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A HAPPY NEW YEAR!!


SOBRE 2010, SOBRE 2011, SOBRE O "CARA" E SOBRE A BLOGOSFERA.


Olá companheiras e companheiros! Depois de uma semana longe deste espaço, resolvendo as "broncas" de professor em final de ano letivo,  estamos de volta à frente de batalha. Principalmente para desejar aos amigos que por aqui passaram e também àqueles que passarão, um ótimo ano de 2011. Cheio de realizações, alegrias, encontros, reencontros, projetos. Enfim, "whatever".  Sim, porque 2010 foi um ano ma-ra-vi-lho-so!

Em 2010 o país cresceu, em 2010 a miséria diminuiu, em 2010 a desigualdade social abrandou, em 2010 o orgulho do brasileiro voltou, em 2010 eu finalmente criei, com a ajuda do meu amigo Diafonso,  o meu blog, em 2010 talvez não o tenhamos  derrotamos completamente, mas impusemos uma grande derrota ao PIG.  E, principalmente, companheiros, em 2010 "O CARA" , o maior presidente da república que o brasil já teve,  pintou, bordou, fez barba, fez bigode e elegeu Dilma Rousseff a primeira mulher presidente! E nós tivemos grande participação nesta conquista. 

Em 2011 a luta recomeçará. Não nos enganemos. Aqueles que não engoliram Lula durante todos estes anos com popularidade recorde não exitarão em tentar minar o governo Dilma ao primeiro sinal de polêmica, de insucesso, de dificuldade. Caberá àquela parte da imprensa que ainda é séria neste país fazer a sua parte e caberá, principalmente à nós, aqui na BLOGOSFERA, continuarmos entrincheirados na luta para combater o PIG. Cada um fazendo a seu modo a "parte que lhe cabe neste latifúndio". Sim, porque parafraseando o poeta,  isto aqui é um latifúndio, é grande e não tem dono. Pode até ter regras, oficiais ou não, mas não tem dono. Aqui ninguém é mais importante do que ninguém por isso não se pode conceber uma certa "putariazinha" que vimos recentemente causada por interpretações equivocadas ou não, mas legítimas, a respeito de um termo usado em um "post".

A blogosfera não é jornalista famoso, a blogosfera não é blogueiro anônimo. A blogosfera não é quem tem um milhão de acessos, a blogosfera não é quem tem 7 mil acessos. A blogosfera são TODOS os blog e sites juntos. Se todos os blogueiros que se consideram ou são considerados  medalhões ou "blog grande" 'sairem' da blogosfera e as centenas de milhares de blogueiro anônimos continuarem aqui este espaço sobreviverá? Se acontecer o contrário, este espaço sobreviverá também? Talvez não, mas talvez sim,  para ambas as perguntas. 

 Não podemos deixar de reconhecer, é claro, a luta de alguns nomes na blogosfera que atuam em um nível no qual  a maioria de nós não atua. Combatem frontalmente grandes nomes da esfera política, empresarial e financeira do país. Se posicionam contra os "barões" do PIG publicamente. colocam em risco suas carreiras e sua estabilidade financeira porque desagradam a gente grande e sofrem processos milionários. Muitos de nós não chegará, por não poder,  ou simplesmente por não querer, neste nível de confronto. Cabe a nós apoiá-los "visitando" suas páginas e reproduzindo os seus textos. Mas também cabe a nós cuidarmos para que pequenos grupos não  "assumam"  sozinhos o título de progressistas ou gerentes da filosofia progressista. Repito, amigos,  a  blogosfera somos todos nós. 

Essas são considerações que julgo  pertinentes neste momento de balanço de 2010 mas não  são a intenção fundamental deste texto. A essência que pretendo dar-lhe é de confraternização, de alegria por ter conhecido pessoalmente alguns e virtualmente muitos, mas muitos,  novos  companheiros e companheiras. A "minhas lista" de blogs não tem 10% dos blog que visitei e os quais admiro. Espero um dia colocá-los  todos na  lista. 

Que Deus nos conceda saúde e entusiasmo  para estarmos todos juntos no próximo e nos muitos anos à nossa frente.

Best wishes!!

The teacher. 

sábado, 25 de dezembro de 2010

A VERY MARRY CHRISTMAS!



Quem entender verá!


Christmas Eve is the day before Christmas. The celebration of Christmas begins on the evening of December 24. The importance of Christmas Eve in terms of popular customs is greater than that of the Day itself. On this day, the Christmas-tree is manifested in its glory; then, the Yule log is solemnly lighted in many lands; then often the most distinctive Christmas meal takes place.

Midnight Mass
The Midnight masses was originally celebrated by the Pope towards midnight in the chapel of the Santa Maria Maggiore Basilica in Rome, before a small congregation. The celebration of mass at midnight is based on the ancient belief that Jesus was born precisely on the stroke of twelve. Solemn and impressive with the happy sound of pealing bells, with light sparkling everywhere and with hymns of joy are some of the inevitable aspect of Midnight Mass. 

Christmas Tree
The Christmas tree is the greatest joy for children. The tradition of deco- rating a Christmas tree include decorations that are made of pieces of straw strung together on a thread into intricate geometrical figures, colored egg shells and pastry were used to make birds, horses, squirrels, lambs, moons, suns, stars, flowers and other figurines. Christmas trees are also decorated with apples, fir or pine cones, nuts and paper cuttings.

Celebrations
Christmas Eve is the day for family reunions. Many Christians traditionally celebrate a Midnight mass at midnight on Christmas Eve, marking the beginning of Christmas Day. Other churches hold Candlelight service which is typically held earlier in the evening. It is also seen as the night when Santa Claus or his international variants, make their rounds giving gifts to good children.


By the teacher. 


Fonte:   http://www.happywink.org

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

DESCULPEM, COMPANHEIROS!

Gostaria de pedir desculpas aos companheiros que passam por aqui. Tenho recebido pedidos para fazer algumas traduções (um vídeo do youtube e também varios textos do wikileaks) partindo, principalmente do Terra Brasilis e de outros amigos. Acontece que esta é época do ano letivo em que o professor mais trabalha. São diários, provas, recuperações, finais, relatórios, e confraternizações, que ninguém é de ferro. Por isso não tenho atendido aos pedidos dos amigos e também não tenho atualizado o Blog como gostaria. Mas a fase pior está terminando. Acredito que nos próximos dias já estarei mais tranquilo para voltar ao contato com os amigos.

P.S:  Ei, Terror, cadê a cachaça no mercado da Madalena, mô véi???

P.S 1:  Queria inserir uma imagem de um professor lascado de cansaço mas o link "inserir imagem " está dando mensagem de erro. Sorry.

abração.

                                                                  the teacher. 

domingo, 19 de dezembro de 2010

EDUCAR E INSTRUIR


Sanguessugado do redecastorphoto

*José Flávio Abelha

Em memorável palestra na antiga Escola Superior de Cinema da PUC/MG o pioneiro do cinema brasileiro e, com destaque, chefe do INCE - Instituto Nacional do Cinema Educativo, o deslembrado cineasta Humberto Mauro nos contou sobre o primeiro contato com o professor Edgard Roquette-Pinto.
Depois de aceitar o convite, em nome do Ministro Gustavo Capanema, para chefiar o Instituto o professor lhe disse:
-Olha Humberto, vou lhe dizer o que penso sobre educar e instruir.
E Roquette-Pinto lhe deu, em poucas palavras, a dimensão da diferença, segundo nos disse o mestre Humberto.
“Instruir é você dizer para um garoto que a escovação dos dentes evita cáries, torna-os sempre brilhantes, combate bactérias e o mau-hálito.
Educar é você obrigar o garoto a escovar os dentes, criando nele um hábito salutar”.
Esta lição de Roquette-Pinto deveria ser a base de todas as atitudes das autoridades governamentais. Da saúde bucal? NÃO! Da cidadania, do respeito às leis, do respeito entre as pessoas.
Instruído o povo está; nossas leis estão aí, até em excesso, no entanto nenhuma é obedecida na sua plenitude, às vezes, nem simplesmente observada.
O prefeito Rudolph Giuliani, da cidade de Nova Iorque, sem saber da lição de Roquette-Pinto, iniciou um trabalho sério de educação do povo, a chamada TOLERÂNCIA ZEROaplicada durante sua gestão. Gritaram uns que era uma verdadeira ditadura. Outros, que os direitos civis estavam sendo ameaçados. O certo é que a cidade sem lei passou a obedecer aos homens da lei.
A administração Giuliani educou o nova-iorquino. Com tapinha nas costas? Não! Com a lei nas costas. Nada de instruir os gringos para que não estacionassem os carrões em lugares proibidos. O reboque era fatal, sem qualquer argumentação e o depósito de carros era na capital do Estado, na cidade de Albany (240 quilômetros de distância). Ou se perdia um dia de trabalho ou o carro. E mais todas aquelas pequenas infrações que, juntas, provocam o caos em uma cidade.
E nesse nosso brasilzão, como funcionam as coisas?
A população está instruída sobre a construção de casas em áreas de risco, mas mesmo assim constrói. Não aparece qualquer autoridade para impedir a ilegalidade. A conseqüência é funesta quando os céus abrem o chuveiro.
Instrução há, mas não há quem eduque. E a educação é penosa. Tanto na lição de Roquette-Pinto quanto na atitude de Giuliani. Não há diferença entre obrigar o menino a escovar os dentes ou rebocar um carro estacionado em local proibido. O chororô é o mesmo, tanto do menino rebelde quanto do cidadão infrator.
O calçadão da praia onde moro foi construído com os impostos que pagamos. Atualmente ele é pista para bicicletas, motocicletas, tri e quadricíclos e belíssimos cachorros. A população está instruída de que o calçadão é uma área de lazer para pedestres, mas, não havendo a intolerância governamental, a punição pedagógica que exclui multas e inclui o seqüestro dos veículos e cães, de tal forma que o dinheiro não possa comprar o desprazer de ir retirar do depósito os brinquedinhos dos marmanjos e os cães das madames, que rolam nas areias e fazem cocô no calçadão.
Todos os motoristas sabem que não podem dirigir quando tomam, ainda que uma pequena dose, bebida alcoólica. Estão instruídos à exaustão. Nos feriados prolongados a carnificina nas rodovias é assustadora. E não é só o álcool, a falta de manutenção dos veículos e a imprudência também.
Nunca se viu um carro saindo da cidade rumo à praia ou à montanha, cheio de crianças, interceptado por uma autoridade que, ao contrário de uma multa irrisória, proibisse o veículo de trafegar naquela situação, lamentavelmente acabando com o fim de semana da garotada e do irresponsável garotão.
No próximo feriadão aqueles meninos seriam os primeiros fiscais a chamar a atenção do pai. A tolerância zero agiria como uma lição pedagógica ou, como diria Roquette-Pinto – “... teriam adquirido salutar hábito de se tornarem colaboradores para que o escandaloso índice de mortalidade nessa época tivesse uma diminuição considerável”.
É certo que, se o incidente da detenção do veículo atingisse um irresponsável “cidadão acima de qualquer suspeita”, logo surgiria um habeas corpus, uma liminar, uma ONG dos direitos civis e a mídia que vive das manchetes viciosas. Afinal, o repressor, mesmo tentando evitar um mal maior, a matança nas estradas, estava ferindo o direito de ir e vir da família.
E sempre surgiria uma autoridade para liberar o veículo com a família dentro, rumo à máquina de moer gente que é uma estrada entulhada de carros nos fins de semana, todos apressados, ultrapassando de qualquer forma e aumentando assustadoramente as estatísticas de mortos e feridos.
O repressor ainda correria o risco de ser preso e processado.
Aqui não há espaço para o assunto dos celulares no trânsito, a mão segurando o cigarro enquanto dirigindo e outras mazelas cuja população está bastante instruída.
Será que os nossos pouquíssimos fiscais de trânsito, das praias e das ruas, sabem o que são decibéis? Carros, centenas, nos fins de semana, são estacionados nos calçadões com um som que estupra qualquer tímpano. Festas e churrascadas varam as madrugadas com o som nas alturas.
Se esse pessoal todo está instruído de que está cometendo uma infração? Claro que está! Falta quem os eduque e sejam intolerantes, interrompendo a festa, frustrando convidados com visíveis sintomas de embriaguês, na linguagem policial.
E a falta da educação impera, em muitas outras atividades que este pequeno texto não comporta citá-las.
Faço aqui apenas um lembrete: nesta segunda feira última, de calçadão deserto, que uma moto quase me atropelou. E ficou por isso mesmo. Denunciar? E a vindita, a desforra?A falta de policiamento e o perigo do nome do denunciante ser entregue, na bandeja, ao infrator ou ao meliante?
Se lá de cima não partem vigorosas medidas educadoras, na base das lições de Roquette-Pinto e Giuliani, não serei eu quem vai corrigir os instruídos cidadãos.
Afinal, não tenho qualquer mandato para tanto nem vocação para ser um novo Dom Quixote.

*Mineiro, autor de A MINEIRICE e outros livretes, reside na Restinga de Piratininga/Niterói, onde é Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar.

JOGOS DE AZAR: PROIBIR OU LIBERAR?



Artigo do leitor do GLOBO Silvio Teles

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, reacendeu a polêmica, recentemente, acerca da legalização dos jogos no Brasil. Para ele, precisamos "deixar de demagogia" tanto no caso dos jogos de azar, como no caso do aborto. Dias antes, Cabral, tentando justificar a legalização do aborto, questionou à platéia que ouvia seu discurso "quem nunca teve uma namoradinha que precisou abortar?" 
Aliás, quanto a essa questão do aborto, abrindo um parênteses, se eu estivesse lá no evento, levantaria a mão para negar o governador. Aliás, acho que eu e a maior parte dos meus amigos e conhecidos. Grande parte da população, certamente, não precisou recorrer a um aborto para se livrar de um filho indesejado. Foram péssimos o argumento e o exemplo. Um raciocínio que desprezou o cerne da controvérsia de proibir ou liberar o aborto, cerne que está menos atrelado à necessidade de quem quer se livrar de uma gravidez indesejada e com o próprio direito de viver da criança.
Voltando à outra polêmica que Cabral tornou a abraçar, sobre o jogo, concordo com o governador. A atividade do jogo, em si, não é nociva. Aliás, tanto não é que o Estado usa e abusa, por exemplo, das loterias federais e estaduais. Ou, ainda, autoriza grupos comerciais e financeiros a arrecadarem fundos, por meio de jogos e sorteios, como a promoção da manteiga, do xampu, do torpedo, Papa Tudo, Tele Sena, entre outros. 
Toda a atividade em que se deposita um certo valor - seja pela compra do rótulo de um produto, seja pela compra de fichas ou bilhetes - e depende da sorte para ver compensado, ou não, o seu investimento, é um jogo de azar. A pergunta é: por que tantos são liberados, enquanto outros são abominados? Por que eu posso ir até a loteria e trocar algumas moedas por uma Raspadinha, mas não posso depositar essas mesmas moedas numa máquina caça-níquel? Monopólio estatal, esse seria o argumento? 
Os mais ardorosos defensores da proibição do jogos de azar se apegam a razões como a lavagem de dinheiro que essa atividade possibilita, a formação de grupos ou máfias, a vinculação do jogo com outras práticas ilícitas (drogas e armas), a vitimização de pessoas hipossuficientes, o vício, a ruína e a desestrutura familiar. Para estes, a proibição do jogo de azar serviria para evitar que acontecessem tais situações. Mas em que mundo vivemos? 
Todas essas mazelas já ocorrem, estando ou não, o jogo proibido. Na verdade, a proibição apenas acentua o caráter clandestino da atividade, e o Estado, por interesse, negligência ou ineficiência, fica impedido de Intrometer-se, de verdade e profundamente, em seu funcionamento, nas engrenagens que movem tais atividades, como faz com os jogos de azar de que é titular ou concessor. 
Uma mesma atividade não pode ser tão boa a ponto de ser incentivada, como são os mantidos pelo Estado ou por ele autorizados, e tão ruim, objetos de matéria penal, como aqueles que fogem ao seu poder de controlar. O Estado não pode mais continuar a se comportar sob a lógica de que, aquilo que ele não tem competência para controlar, deve ser proibido ou criminalizado, como ocorre com as drogas arbitrariamente ditas ilícitas, por exemplo. 
Tenho certeza que, com uma regulamentação adequada, que fixe, entre outros parâmetros, margem de lucro máximo para as empresas desenvolvedoras dessa atividade, cadastro e perfil de usuários para fins de limitação de crédito a investir (como fazem os bancos), origem e destinação dos recursos, tarifação pesada sobre a atividade e destinação social de parte dos rendimentos, os jogos de azar seriam mais uma fonte de arrecadação. 
Em vez de ser visto como um problema, estaríamos diante de mais uma atividade produtiva. Teríamos a legitimação regrada de uma atividade que, antes de mais nada, é cultural, desfazendo o paradoxo estatal que demoniza uma prática na qual ele é doutor.

Fonte: blog Casa da Çogra

WIKILEAKS: O TEXTO NA MOSCA DE BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS



Segue texto do sociólogo português Boaventura de Souza Santos. Grifei algumas partes que me parecem especiais para a reflexão.
Wikiliquidação do Império?
Boaventura Souza Santos, publicado originalmente no Esquerda.net  
A divulgação de centenas de milhares de documentos confidenciais, diplomáticos e militares, pela Wikileaks acrescenta uma nova dimensão ao aprofundamento contraditório da globalização. A revelação, num curto período, não só de documentação que se sabia existir mas a que durante muito tempo foi negado o acesso público por parte de quem a detinha, como também de documentação que ninguém sonhava existir, dramatiza os efeitos da revolução das tecnologias de informação (RTI) e obriga a repensar a natureza dos poderes globais que nos (des)governam e as resistências que os podem desafiar. O questionamento deve ser tão profundo que incluirá a própria Wikileaks: é que nem tudo é transparente na orgia de transparência que a Wikileaks nos oferece.
A revelação é tão impressionante pela tecnologia como pelo conteúdo. A título de exemplo, ouvimos horrorizados este diálogo – Good shootingThank you – enquanto caem por terra jornalistas da Reuters e crianças a caminho do colégio, ou seja, enquanto se cometem crimes contra a humanidade. Ficamos a saber que o Irã é consensualmente uma ameaça nuclear para os seus vizinhos e que, portanto, está apenas por decidir quem vai atacar primeiro, se os EUA ou Israel. Que a grande multinacional farmacêutica, Pfizer, com a conivência da embaixada dos EUA na Nigéria, procurou fazer chantagem com o Procurador-Geral deste país para evitar pagar indemnizações pelo uso experimental indevido de drogas que mataram crianças. Que os EUA fizeram pressões ilegítimas sobre países pobres para os obrigar a assinar a declaração não oficial da Conferência da Mudança Climática de Dezembro passado em Copenhaga, de modo a poderem continuar a dominar o mundo com base na poluição causada pela economia do petróleo barato. Que Moçambique não é um Estado-narco totalmente corrupto mas pode correr o risco de o vir a ser. Que no “plano de pacificação das favelas” do Rio de Janeiro se está a aplicar a doutrina da contra-insurgência desenhada pelos EUA para o Iraque e Afeganistão, ou seja, que se estão a usar contra um “inimigo interno” as tácticas usadas contra um “inimigo externo”. Que o irmão do “salvador” do Afeganistão, Hamid Karzai, é um importante traficante de ópio. Etc., etc, num quarto de milhão de documentos.
Irá o mundo mudar depois destas revelações? A questão é saber qual das globalizações em confronto—a globalização hegemónica do capitalismo ou a globalização contra-hegemónica dos movimentos sociais em luta por um outro mundo possível—irá beneficiar mais com as fugas de informação. É previsível que o poder imperial dos EUA aprenda mais rapidamente as lições da Wikileaks que os movimentos e partidos que se lhe opõem em diferentes partes do mundo. Está já em marcha uma nova onda de direito penal imperial, leis “anti-terroristas” para tentar dissuadir os diferentes “piratas” informáticos (hackers), bem como novas técnicas para tornar o poder wikiseguro. Mas, à primeira vista, a Wikileaks tem maior potencial para favorecer as forças democráticas e anti-capitalistas. Para que esse potencial se concretize são necessárias duas condições: processar o novo conhecimento adequadamente e transformá-lo em novas razões para mobilização.
Quanto à primeira condição, já sabíamos que os poderes políticos e económicos globais mentem quando fazem apelos aos direitos humanos e à democracia, pois que o seu objectivo exclusivo é consolidar o domínio que têm sobre as nossas vidas, não hesitando em usar, para isso, os métodos fascistas mais violentos. Tudo está a ser comprovado, e muito para além do que os mais avisados poderiam admitir. O maior conhecimento cria exigências novas de análise e de divulgação. Em primeiro lugar, é necessário dar a conhecer a distância que existe entre a autenticidade dos documentos e veracidade do que afirmam. Por exemplo, que o Irã seja uma ameaça nuclear só é “verdade” para os maus diplomatas que, ao contrário dos bons, informam os seus governos sobre o que estes gostam de ouvir e não sobre a realidade dos factos. Do mesmo modo, que a táctica norte-americana da contra-insurgência esteja a ser usada nas favelas é opinião do Consulado Geral dos EUA no Rio. Compete aos cidadãos interpelar o governo nacional, estadual e municipal sobre a veracidade desta opinião. Tal como compete aos tribunais moçambicanos averiguar a alegada corrupção no país. O importante é sabermos divulgar que muitas das decisões de que pode resultar a morte de milhares de pessoas e o sofrimento de milhões são tomadas com base em mentiras e criar a revolta organizada contra tal estado de coisas.
Ainda no domínio do processamento do conhecimento, será cada vez mais crucial fazermos o que chamo uma sociologia das ausências: o que não é divulgado quando aparentemente tudo é divulgado. Por exemplo, resulta muito estranho que Israel, um dos países que mais poderia temer as revelações devido às atrocidades que tem cometido contra o povo palestiniano, esteja tão ausente dos documentos confidenciais. Há a suspeita fundada de que foram eliminados por acordo entre Israel e Julian Assange. Isto significa que vamos precisar de uma Wikileaks alternativa ainda mais transparente. Talvez já esteja em curso a sua criação.
A segunda condição (novas razões e motivações para a mobilização) é ainda mais exigente. Será necessário estabelecer uma articulação orgânica entre o fenómeno Wikileaks e os movimentos e partidos de esquerda até agora pouco inclinados a explorar as novas possibilidades criadas pela RTI. Essa articulação vai criar a maior disponibilidade para que seja revelada informação que particularmente interessa às forças democráticas anti-capitalistas. Por outro lado, será necessário que essa articulação seja feita com o Foro Social Mundial (FSM) e com os media alternativos que o integram. Curiosamente, o FSM foi a primeira novidade emancipatória da primeira década do século e a Wikileaks, se for aproveitada, pode ser a primeira novidade da segunda década. Para que a articulação se realize é necessária muita reflexão inter-movimentos que permita identificar os desígnios mais insidiosos e agressivos do imperialismo e do fascismo social globalizado, bem como as suas insuspeitadas debilidades a nível nacional, regional e global. É preciso criar uma nova energia mobilizadora a partir da verificação aparentemente contraditória de que o poder capitalista global é simultaneamente mais esmagador do que pensamos e mais frágil do que o que podemos deduzir linearmente da sua força. O FSM, que se reúne em Fevereiro próximo em Dakar, está precisar de renovar-se e fortalecer-se, e esta pode ser uma via para que tal ocorra.

Fonte:  Blog do Rovai

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A "ESCRITORA" VERA FISHER X DILMA ROUSSEFF

Mônica Bergamo
bergamo@folhasp.com.br

Luciana Whitaker/Folhapress
A atriz Vera Fisher, que lança o romance 'Serena', em seu apartamento no Rio

EU NÃO ESCREVO PRA POBRE

Vera Fischer lança, no dia 20, o romance "Serena", o primeiro de uma série de dez, todos com nome de mulher. Ela falou à coluna:



Folha - Como é o romance?
Vera Fischer - Não queria que meus livros fossem açucarados, mas sim vibrantes, para o público começar a ler e não parar mais. Já tenho dez livros escritos. E não queria títulos como "Um Amor e a Traição", "O Barco e a Saudade". Falei: vou botar nome de mulher, "Serena", depois "Donatela", "Valentina", "Pietra"... É a marca Vera Fischer. Fica mais chique.

Dez livros?
Fiz um atrás do outro, durante um ano. Como tenho muita imaginação, vou criando personagens. Tem uma situação ou duas pelas quais eu passei. Mas ninguém pode saber, é "segredíssimo". Eu descrevo os personagens, o perfume, as roupas, se é Ungaro ou Valentino. Meus personagens não são nunca pobres, são sempre ricos (gargalhada).

Por quê?
Porque eu não gosto, eu não sei escrever pra gente pobre. Eu detesto.

O universo dos ricos é mais interessante?
É mais interessante. Cada livro tem pelo menos uma viagem ao exterior. O "Serena" tem Marrocos e St. Barths, no Caribe.

Os que você chama de pobres podem comprar seus livros.
Podem. Porque eles não custam caro. Eles vão se identificar e adorar. Coisa bonita sempre é melhor.

Qual é o seu estilo?
Ah, esse negócio de descrever uma folhinha caindo da árvore em quatro páginas, ninguém tem mais saco pra ler isso, não. As coisas são rápidas nos meus livros.

Tem até um sequestro.
Achei que o livro tava acabando e aí falei: tem que inventar coisa interessante pra acontecer. Vamos botar um sequestro! É ação.

Tem também sexo oral.
Os meus livros têm sexo de todo tipo. Têm gays fazendo sexo -eu não sei como é, mas invento. Tem de tudo. Não tenho pudor. O mundo dos escritores é assim.

Em 2009 você disse: "Estou há dois anos sem sexo". E agora?
Ah, de vez em quando tem um sexozinho assim rápido.

O que você achou de uma mulher ser eleita presidente?
Eu achei que podia uma mulher ser eleita presidente, mas não esta (Dilma Rousseff). Porque essa não dá, né? O PT não dá mais.

A DIFERENÇA DO PT , PARA VERA FISHER APRENDER

Previdência
Sem proteção social
A maioria dos trabalhadores no mundo não tem direito a benefícios, como seguro-desemprego. Bolsa Família diferencia o Brasil
Vânia Cristino

Apenas uma em cada cinco pessoas no mundo conta com uma proteção social em patamares dignos e apropriados. As demais ou não têm qualquer tipo de cobertura ou ela é insuficiente para garantir os níveis mínimos, listados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) na Convenção 102. Embora a fotografia do globo em termos de proteção social ainda seja desalentadora, é possível gastar relativamente pouco — entre 3% e 5% do Produto Interno Bruto de cada país — e tirar contingentes significativos da população da condição de desamparo total e miséria.

“É possível estender a cobertura mesmo em países com dificuldades econômicas e fiscais”, afirmou o especialista em seguridade social para as Américas da OIT, Helmut Schwarzer, convidado a participar da I Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento de Sistemas Universais de Seguridade Social, promovida pelo governo brasileiro. O Brasil, aliás, é frequentemente citado internacionalmente como um exemplo a ser seguido, porque tem destinado parcela significativa do seu orçamento a gastos sociais e conseguindo diminuir a pobreza.

QualificaçãoA coqueluche internacional é o Bolsa Família. Assim como o Oportunidades, do México, o programa brasileiro é focado em famílias pobres, com crianças. Mediante a transferência monetária, mais a obrigatoriedade dos pequenos estarem na escola e a assistência à saúde — combinadas ainda com outras políticas públicas, como a qualificação profissional — tenta-se romper a transmissão da pobreza entre as gerações. O programa brasileiro já atinge 13 milhões de famílias. A meta da presidente eleita, Dilma Rousseff, é eliminar a pobreza extrema no país até 2014.

“É preciso primeiro pensar na universalização da cobertura para, depois, se introduzir melhorias nos programas”, defendeu Schwarzer. Desde a crise financeira internacional de 2008, as Nações Unidas vêm defendendo a criação de um piso de proteção social, como ferramenta que os países podem utilizar para garantir um patamar mínimo de proteção para seus cidadãos. Além de evitar o aprofundamento da pobreza, a saída da crise foi mais rápida e menos traumática nos países que contam com esse tipo de benefício.

ProgramasPela Convenção 102 da OIT a cobertura social completa abrange oito programas distintos, como acesso universal à saúde, pensão por morte, salário-maternidade e família, proteção contra o desemprego, além de aposentadoria por idade, por invalidez e por acidente de trabalho. Na América Latina e no Caribe, apenas cinco países, entre eles o Brasil e a Argentina, possuem os oito ramos da seguridade. A maioria conta com entre seis e sete programas e o Haiti, o mais pobre de todos, com apenas quatro. Os benefícios que geralmente faltam são o salário-família e o seguro-desemprego.

Mesmo os países que contam com todos os programas estão longe de protegerem toda a população- alvo. O seguro-desemprego, por exemplo, geralmente é voltado ao mercado formal, o que deixa trabalhadores pobres de baixa renda desprotegidos. A saúde pública básica, acessível a todos, já é uma realidade em muitas nações, mas, muitas vezes, a sua qualidade deixa a desejar. A pensão assistencial para os idosos, por exemplo, só recentemente foi universalizada na Bolívia.

No retrato das boas práticas em seguridade social, a melhor nota fica para os países ricos, membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que possuem um contingente expressivo de suas populações protegidas. Nos países da América Latina e do Caribe, a proteção social gira em torno de 1/3 da população. Na África e nos países do sul da Ásia, a situação é ainda mais crítica.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

"ENCHENDO A BOLA" DE TIRIRICA

PHA e Tiririca: Entrevista e post "enchendo a bola"

Um dos primeiros blogs que li quando comecei a "frequentar" a blogosfera foi o Conversa Afiada do jornalista Paulo Henrique Amorim. Fiquei impressionado logo nas primeiras leituras com a forma como ele criticava abertamente a Globo e a sua luta contra grandes nomes da política e do mundo financeiro como FHC, Serra e Daniel Dantas. A partir dali não parei mais e dali para outros blogs foi um pulo e estamos aqui agora. 

O motivo da pequena introdução acima é o post que li hoje no CAF: "Tiririca é o orgulho de São Paulo. E faz esquecer Maluf". Nele, o "ordinário blogueiro" ,como PHA  se intitula, "enche a bola" do palhaço Tiririca e começa dizendo que "Os paulistas deveriam se orgulhar do deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva". Lá pelas tantas afirma que, como qualquer deputado que acaba de ser eleito e ainda não foi empossado,  tiririca ainda não sabe o que um deputado federal faz. Mais adiante, o jornalista compara a eleição de Tiririca à de Clodovil e lembra que este deixou como legado uma impecável lei para adoção de crianças. E finalmente conclui dizendo que "como Clodovil e Lula, tiririca é a prova de que a democracia brasileira funciona."

Como deixei claro no início deste post, sou admirador de Paulo Henrique Amorim. Agora, dizer que é normal um cidadão que se candidatou a deputado federal não saber o que vai fazer no congresso é, no mínimo, esperar que o seu leitor esteja "distraído". Um adolescente, no ensino médio, já deve saber o que faz um deputado federal! não ter experiência na função é outra coisa: lógico que quem nunca teve mandato não a tem. Mas saber o que faz um deputado é obrigação dele.  

Dizer que o povo de São Paulo foi sábio ao eleger o comediante com 1 milhão e "cacetada" de votos é brincar com a seriedade de uma eleição. O povo votou talvez para demonstrar o seu inconformismo com os políticos e com a política. Mas não há sabedoria nenhuma em votar em um candidato que diz que não sabe o  que se faz num cargo que está disputando. Não  há seriedade alguma em um candidato que diz: "Vote em Tiririca. Pior do está não fica":  Este tipo de raciocínio coloca a todos na vala comum e nós sabemos que as generalizações só beneficiam àqueles que vivem no erro, em qualquer que seja a instância da vida.  É completamente sem noção um postulante a um cargo público dizer que ao ser eleito vai ajudar aos mais pobres, a começar pela sua família. Mesmo que tenha sido jogada de marketing não se justifica, uma vez que usa o descrédito da classe política e o nepotismo para se conseguir votos. 

Uma vez eleito, que Tiririca assuma o mandato que o povo lhe deu democraticamente. Não se justifica, assim a perseguição do promotor contra ele. Não deve encontrar abrigo na sociedade excesso de agentes da justiça contra quem quer que seja, muito menos contra um cidadão, repito, eleito democraticamente. A discussão aqui é outra. Não consegui compreender os motivos do renomado jornalista ter escrito o seu post da maneira que escreveu. Também não sei, com certeza, o que o eleitor de São Paulo quis dizer com o seu voto. Não tenho nada contra o comediante que ganha o seu pão honestamente trabalhando em uma das grandes emissoras do país.  Mas, na minha opinião, em termos de consciência política e sem generalizar,  com a eleição de Tiririca o que está ruim pode  ficar pior sim. 

By the teacher. 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

BBB-11 E O FRACASSO DA ÉTICA


o animador do circo.
Reproduzo artigo de Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:

Mais algumas semanas e a TV Globo estará colocando no ar seu programa de maior audiência no verão brasileiro: Big Brother Brasil 11. Sucesso de público, sucesso de marketing, sucesso financeiro, sempre na casa dos milhões de reais. Fracasso ético, fracasso de cidadania, fracasso de respeito aos direitos humanos fundamentais.

A data já foi confirmada: 11 de janeiro, uma terça-feira. O prêmio será de R$ 1,5 milhão para o vencedor. O segundo e terceiro lugares levam, respectivamente, R$ 150 mil e R$ 50 mil. As inscrições para a próxima edição do BBB já estão encerradas. Ao todo, nas dez edições, foram 140 participantes. E já foram entregues mais de R$ 8,5 milhões em prêmios. Balanço raquítico, tanto numérico quanto financeiro para seus participantes, para um programa que se especializou em degradar a condição humana.

Aos 11 anos de existência, roubando sempre 25% do ano (janeiro a março) e agora entrando na puberdade como se humano fosse, o BBB começa anunciando que passará por mudanças na edição 2011. Se você pensou que as mudanças seriam para melhorar o que não tem como ser melhorado se enganou redondamente. O formato será sempre o mesmo, consagrado pelo público e pelos anunciantes: invasão de privacidade com a venda de corpos quase sempre sarados, bronzeados e bem torneados e com a exposição de mentes vazias a abrigar ideias que trafegam entre a futilidade e a galeria de preconceitos contra negros, pobres, analfabetos funcionais.

Após dez anos seguidos, sabemos que a receita do reality show inclui em sua base de sustentação as antivirtudes da mentira, da deslealdade, dos conluios e... da cafajestagem. Aos poucos, todos irão se despir de sua condição humana tão logo um deles diga que "isto aqui é um jogo". Outros ensaiarão frases pretensamente fincadas na moral: "Mas nem tudo vou fazer para ganhar esse jogo."

Como miquinhos amestrados, os participantes estarão ali para serem desrespeitados, não poucas vezes humilhados e muitas vezes objeto de escárnio e lições filosóficas extraídas de diferentes placas de caminhões e compartilhadas quase diariamente pelo jornalista Pedro Bial, ao que parece, senhor absoluto do reality show. Não faltarão "provas" grotescas, como colocar uma participante para botar ovo a cada trinta minutos; outra para latir ou miar a cada hora cheia; algum outro para passar 24 horas de sua vida fantasiado de bailarina ou para pular e coaxar como sapo sempre que for ativado determinado sinal acústico. O domador, que terá como chicote sua lábia de ocasião ou nalgumas vezes sua língua afiada, continuará sendo Pedro Bial que, a meu ver, representa um claro sinal de como as engrenagens que movem a televisão guardam estreita semelhança com aqueles velhos moedores de carne.

O último a sair da jaula

É inegável que Bial é talentoso. É inegável que passou parte de sua vida tendo páginas de livros ao alcance das mãos e dos olhos. É inegável também que parece inconsciente dos prejuízos éticos e morais que haverá de carregar vida afora. Isto porque a cada nova edição do reality mais se plasmam os nomes BBB e Pedro Bial. E será difícil ao ouvir um não lembrar imediatamente o outro. Porque lançamos aqui nosso nome, que poderá ter vida fugaz de cigarra ou ecoará pela eternidade. Imagino, daqui a uns 25 anos, em 2035, quando um descendente deste Pedro for reconhecido como bisneto daquele homem engraçado que fazia o Big Brother no Brasil. E os milhares de vídeos armazenados virtualmente no YouTube darão conta de ilustrar as gerações do porvir.

E, no entanto, essas quase duas dezenas de jovens estarão ali para ganhar fama instantânea, como se estivessem acondicionados naqueles pacotinhos de sopa da marca Miojo. Imagino cada um deles a envergar letreiro imaginário a nos dizer com a tristeza possível que "Coloco à venda meu corpo sem alma, meu coração quebrado e minha inteligência esgotada; vendo tudo isso muito barato porque vejo que há muita oferta no mercado". E teremos aquele interminável desfile de senso comum. Afinal, serão 90 dias de vida desperdiçada, ou melhor, de vida em que a principal atividade humana será jogar conversa fora. O que dá no mesmo. E não será o senso comum exatamente aquele conjunto de preconceitos adquiridos antes de completarmos 15 anos de vida?

Friederich Nietzsche (1844-1900) parecia ter o dom da premonição. É que o filósofo alemão se antecipava muito quando se tratava de projetar ideias sobre a condição humana. É dele esta percepção: "O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele". Isto porque Nietzsche foi poupado de atrações quase sérias e semi-circenses, como o BBB. No picadeiro, o macaco é aplaudido por sua imitação do humano: se equilibra e passeia de triciclo e de bicicleta, se veste de gente, com casaca e gravata, sabe usar vaso sanitário, descasca alimentos. No picadeiro do BBB, os seres humanos são aplaudidos por se mostrarem intolerantes uns com os outros, se vestem de papagaios, ladram, miam, coaxam, zumbem – e tudo como se animais fossem. Chegam a botar ovo em momento predeterminado. Se vestem de esponja e se encharcam de detergente a limpar pratos descomunais noite afora.

Em sua imitação de animal, o humano que se sobressai no BBB é aquele que consegue ficar engaiolado – digo, literalmente engaiolado – junto com outros bípedes não emplumados – por grande quantidade de horas. E sem poder satisfazer as necessidades humanas básicas, muitas vezes tendo que ficar em uma mesma posição, como seriemas destreinadas. E são os únicos animais que demonstram imensa felicidade em permanecer por mais tempo na gaiola. Não lhes jogam bananas nem pipocas, mas quem for o último a sair da jaula semi-humana ganha uma prenda. Pode ser um passeio de helicóptero, pode ser um carro, pode ser uma noite na Marquês de Sapucaí.

Heidegger reconheceria

O leitor atento deve ter percebido que em algum momento deste texto mencionei que o BBB 11 terá mudanças. Nem vou me dar ao trabalho de editar. Eis o que copiei do site G1:

"Boninho, diretor do BBB, falou em seu Twitter nesta quarta-feira, 24/11, sobre a nova edição do programa, a 11ª, que estreará em janeiro de 2011. E ele adianta que, desta vez, as coisas vão mudar. ‘Esse ano tudo vai ser diferente... Nada é proibido no BBB, pode fazer o que quiser’, postou Boninho em seu microblog. Questionado sobre o que estaria liberado no confinamento que não estava em edições anteriores, ele respondeu: ‘Esse ano... liberado! Vai valer tudo, até porrada’. Boninho também comentou sobre as bebidas no reality show: ‘Acabou o ice no BBB... Vai ser power... chega de bebida de criança’, escreveu."

Não terá chegado a hora de o portentoso império Globo de comunicação negociar com o governo italiano a cessão do Coliseu romano para parte das locações, ao menos aquelas em que murros e safanões, sob efeito de álcool ou não, certamente ocorrerão? E como nada compreendo de Heidegger, só me resta dizer que ao longo de toda sua vida madura Heidegger esteve obcecado pela possibilidade de haver um sentido básico do verbo "ser" que estaria por trás de sua variedade de usos. E são recorrentes suas concepções quanto ao que existe, o estudo do que é, do que existe: a questão do Ser (i.e. uma Ontologia) dependente dos filósofos antes de Sócrates, da filosofia de Platão e de Aristóteles e dos Gnósticos.

Quem sabe tivesse assistido uma única noite do BBB – caso o formato da Endemol estivesse em cena antes de 1976 –, o filósofo, por muitos cultuado, não apenas teria uma confirmação segura de que não valia mesmo a pena publicar o segundo volume de sua obra principal, O Ser e o Tempo, como também haveria de reconhecer a inexistência de algo anterior ao ser. Mas, com certeza, se fartaria com a miríade de usos dados ao verbo "ser"

Fonte:  Blog do Miro
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