No Viomundo
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
CAMPANHA DE JAMIE OLIVER FAZ McDONALD'S MUDAR RECEITA DE HAMBÚRGUER
O chef e apresentador Jamie Oliver acaba de ganhar uma batalha contra uma das maiores redes de fast food do mundo. Depois que Oliver mostrou o modo como os hambúrgueres do McDonald’s são produzidos, a rede anunciou que irá mudar sua receita. Segundo Oliver, as partes mais gordurosas da carne de boi são “lavadas” em hidróxido de amônia e usadas no recheio do hambúrguer. Antes desse processo, segundo o apresentador, o alimento é considerado impróprio para consumo humano.
“Basicamente, estamos pegando um produto que seria vendido da maneira mais barata para os cachorros e, depois desse processo, dando para seres humanos”, disse ao portal britânico Daily Mail Online. Além da baixa qualidade da carne, o hidróxido de amônia é prejudicial à saúde. Oliver denominou o processo de lodo rosa.
“Por que qualquer ser humano sensato colocaria carne com amônio na boca de suas crianças?”, questionou o chef, que empreende uma guerra contra a indústria de alimentos fast food. Em uma de sua iniciativas, Oliver demonstra para crianças como são feitos os nuggets. Depois de selecionar as partes mais nobres do frango, os restos (gordura, pele e interiores) são processados e fritos.
A empresa Arcos Dourados, gerente da rede na América Latina, afirmou que esse tipo de processo não é praticado na região. O mesmo ocorre com o produto da Irlanda e Reino Unido, que utiliza carne de fornecedores locais. Nos Estados Unidos, Burguer King e Taco Bell já haviam suspendido o uso de amônia em seus produtos.
Leia mais:
No site oficial no Mc Donald’s, a empresa afirma que sua carne é barata porque, ao servir muitas pessoas todo dia, são capazes de comprar de seus fornecedores por um preço menor, e oferecer os produtos de melhor qualidade. Além disso, a rede negou que decisão de mudar a receita esteja relacionada com a campanha de Jamie Oliver. No site, o McDonald’s esclarece que sua carne, apesar de todos os mitos que dizem o contrário, é verdadeira.
Fonte: Revista Carta Capital on
ELES PRECISAM DE NÓS. MAIS DO QUE PRECISAMOS DELES
A indústria automobilística remeteu 5,58 bilhões de dólares em lucros e dividendos ao exterior no ano passado. O valor – equivale a 19% de todas remessas desse tipo e é 36% superior ao montante enviado em 2010 – foi tema de boa matéria de Pedro Kutney, nesta sexta no Uol.
Lucro pode se traduzir em empregos, geração de renda, impostos e tudo o mais. Contudo, quando ele surge em um ambiente com problemas sociais, ambientais e trabalhistas não resolvidos, deveria ser melhor avaliado.
Por exemplo, as montadoras não colocam em prática certas ações importantes para garantir qualidade de vida ao brasileiro, como a adaptação da frota nacional para um diesel com menos enxofre na sua composição e que, portanto, mataria menos os moradores das grandes cidades. Ou um controle mais rígido sobre sua cadeia produtiva. Hoje, ao comprar um carro, você não tem como saber se o aço ou o couro que entrou na fabricação do veículo foram obtidos através de mão-de-obra escrava e trabalho infantil ou se beneficiando de desmatamento ilegal – ilegalidades que vêm sendo apontadas pelo Ministério Publico Federal e pela sociedade civil.
Alguns “especialistas” repetem que é irracional a solicitação de contrapartidas à indústria, uma vez que o aumento nas vendas gira a economia e gera empregos. Afirmam que as empresas não podem operar esquecendo que estão inseridas em uma economia de mercado, buscando uma taxa de lucro para continuar sendo viável. E que se problemas existem é pela falta de fiscalização do governo.
Ou seja, o Estado tem que garantir e ajudar o funcionamento das empresas, mas as empresas não podem sofrer nenhuma forma de intervenção em seu negócio – mesmo se ele for vetor de problema. Um liberalismo de brincadeirinha.
E recordar é viver: durante o pico da crise econômica de 2008, a General Motors demitiu 744 trabalhadores de sua fábrica em São José dos Campos (SP) sob a justificativa de “diminuição da atividade industrial”. Mesmo após ter recebido apoio da União e do governo do Estado de São Paulo no sentido de facilitar a compra de seus produtos por consumidores.
Se o Estado pensar só com cabeça de planilha, vai continuar fazendo do Brasil um suporte para as empresas automobilísticas de outros países durante épocas de crise, deixando o nosso meio ambiente e nossos trabalhadores pagarem a conta por isso.
Sugestão: quando constatados problemas na cadeia produtiva das montadoras, que tal taxar o lucro delas a ser remetido e usar o montante para cobrir esses danos ao homem e ao meio? OK, a idéia é quase impossível (por aqui, a dignidade é relativa, enquanto a propriedade é absoluta). Mas por isso mesmo deliciosamente interessante imaginarmos as reações.
“Ah, isso afastará os investidores internacionais”, dirão xororôs do mercado.
Vai não… Eles precisam de nós. Mais do que precisamos deles.
Fonte: Blog do Sakamoto
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
SE PREOCUPAR COM O "BRADO" É PERDER TEMPO
ENEM: Haddad tem que saber usar essa arma
O que vai fazer o ex-ministro Fernando Haddad perder ou vencer as eleições para a prefeitura de São Paulo será uma conjuntura de fatores como alianças, a performance do próprio candidato, o projeto para São Paulo etc. O ENEM terá papel importante, dependendo de quem vença a briga: O PSDB e o PIG que vão tentar desqualificar o papel de Haddad e o ENEM ou o PT e seus aliados que terão que mostrar as enormes vantagens do exame e o bem que trouxe a milhares de jovens pobres em todo o país.
Ninguém neste país, na moderna democracia, nem o próprio Lula, sofreu um campanha tão baixa e agressiva quanto Dilma Rousseff. Os terríveis ataques que sofreu foram na hora, em plena campanha. Vieram de todos os lados: da Folha, da bancada do JN, do Waack, do Estadão, da Veja e principalmente, da internet. Foram de todos os tipos: de caráter político, religioso, moral, calúnias, tudo. No entanto, quem é a Presidenta do Brasil hoje?
Aquela vitória só foi conseguida porque o povo estava consciente, independente das calúnias do pig, da grande mudança que o projeto Lula trouxe para suas vidas. E sabia, também, que esse projeto seria tocado por Dilma. Se Lula, Dilma, o PT e os aliados conseguirem tocar no povo paulista, mostrando-lhe não só a mudança de destino que terão nas mãos de Haddad, mas, principalmente, em que situação se encontram suas vidas hoje nas mãos de Kassab, de Alckmim, usando sem dó nem piedade o "Privataria" para mostrar ao eleitor de São Paulo que tipo de gente governa o estado a dez anos, com certeza a vitória do ex-ministro da educação virá e não será um seriado, de ficção, em um horário que quase ninguém assiste, que vai modificar isso.
The teacher.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
PROCURA-SE UMA ALTERNATIVA AO "SHOW DE TRUMAN" QUE A GLOBO NOS EMPURRA
Truman chega ao fim do "mar" e ao começo da vida
O filme "O show de Truman" de 1998, conta a história do próprio Truman, personagem vivido por Jim Carrey, que tem sua vida mostrada ao vivo desde seu nascimento. Todos sabem, na cidade fictícia onde ele vive, pois todos são atores, menos ele. Seus pais, seu melhor amigo, sua esposa, todos representam seus respectivos papeis menos Truman por achar que aquela era realmente a realidade. Para encurtar a história, Truman depois de começar a desconfiar de certas "coincidências", consegue chegar até o "mar", que na verdade é um estúdio e, a partir daí, não só descobre a verdade como se liberta da prisão em que vivia no "projac" montado pela emissora da ficção. Na última cena do filme, ocorrida em um bar, quando percebem que Truman descobriu a verdade e que aquele programa perdeu a seu maior atrativo, o dono do bar automaticamente desliga a televisão e os clientes, que estavam vidrados no programa , se voltam e começam a conversar.
Desde que começou, semana passada, a celeuma a respeito do BBB que o tema Rede Globo voltou à pauta. Aqui neste prosaico blog escreveu-se texto, nos blogs mais visitados textos foram escritos e naqueles blogs considerados "top" também foram encontrados conteúdos cujo tema era a vênus prateada. Na maioria dos blogs ditos progressistas e que pelejam nesta guerra para defender uma regulação para a mídia no Brasil e que ver, na globo, um grande impecilho para isso, o tema central dos textos era: o estupro não é o foco principal. O foco é o fato de uma emissora de televisão, que é uma concessão pública, fazer (e mostrar) coisas que estarrecem a todos e não ser sequer molestada por isso.
Pois bem. A partir daí comecei a observar que embora haja um indignação contra os fatos ocorrido no "reality", as pessoas no meu entorno, pelo menos, continuam a assistir uma tal de griselda, continuaram a ver o tal do BBB e aqui na minha cidade em todas as churrascarias há, no mínimo, dois telões de quarenta e duas polegadas, todos ligados na Globo de dia a noite. É claro que existe muito milhares de pessoas, e nós entre elas, que não assistem à tv dos Marinho. Mas temo que este número ainda não seja tão grande , como relaçao aos que a assistem.
Por que essa audiência persiste? Na minha modesta opinião, para aquelas pessoas que buscam em um canal de televisão o tipo de entretenimento fornecido pela Globo, e ao qual elas estão acostumadas, não há no Brasil uma outra alternativa. As concorrentes tentam mas não conseguem produzir programas e novelas com a mesma qualidade (pelo menos aos olhos do público), com os mesmos atores e autores que a Vênus produz. Há tentativas aqui e ali. A Record está conseguindo vencer batalhas importantes na área do entretenimento e do jornalismo, mas não ainda o suficiente para desbancar a emissora em primeiro lugar. Não estou fazendo aqui apologias à qualidade dos programas da Globo nem estou dizendo que eles são bons, na verdade não assisto a mais nenhum faz tempo. Estou apenas dizendo que não foi ofertado ao cidadão que, à noite, depois do jantar, se senta em frente à sua televisão nenhuma outra escolha, pelo menos até agora, que faça com que ele, a partir dos padrões estabelecidos dentro de sua mente, mude de canal .
Tal qual no "Show de Truman" tão logo as pessoas percam o interesse por aquilo que lhes é empurrado todos os dias pela Rede Globo, (e isso só será conseguido, aqui, pela oferta de uma programação melhor ou igual, aos olhos daqueles que assistem) , os expectadores mudarão de canal ou simplesmente desligarão a televisão e irão cuidar de suas vidas. rezemos para que este dia chegue logo.
The teacher.
A NOTÍCIA QUE A VEJA NÃO GOSTARIA DE TER DADO.
Acostumada a só dar notícia ruim sobre o país, verdadeira ou inventada, a revista Veja agora teve que engolir seu ranço e reproduzir em seu caderno de economia na edição on line uma ótima notícia sobre o Brasil, publicada no Estadão e reproduzida abaixo
Economia
Brasil retira 10 milhões da pobreza em uma década
Número de pessoas na classe E cai de 17 milhões para 7 milhões, apontam pesquisas
Pela primeira vez, a classe E, a base da pirâmide social, representa menos de 1% dos 49 milhões de domicílios existentes no país. Isso significa que o número de brasileiros em situação de pobreza extrema teve uma drástica redução nos últimos dez anos, conforme apontam duas pesquisas de consultorias que usaram metodologias distintas. Em números exatos: 404.900, ou 0,8% dos lares, são hoje de classe E, segundo os cálculos do estudo IPC-Maps, feito pela IPC Marketing, consultoria especializada em avaliar o potencial de consumo. Em 1998, a classe E reunia 13% dos domicílios, indica o estudo baseado em dados do IBGE.
Marcos Pazzini, responsável pelo estudo, explica que os dados são atualizados segundo um modelo desenvolvido pela consultoria, que leva em conta a pesquisa do Ibope Mídia sobre a distribuição socioeconômica dos domicílios, projeções de crescimento da população e da economia, entre outros indicadores. Os lares são classificados segundo o Critério Brasil, da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (Abep), que leva em conta a posse de bens e o nível de escolaridade do chefe da família.
O Instituto Data Popular, especializado em baixa renda, vai na mesma direção. Em 2001, a classe E era 10% da população (17,3 milhões de pessoas) e, em 2011, tinha caído para 3,6% ou 7 milhões, segundo o estudo que divide a população pela renda mensal per capita - R$ 79 para a classe E. "Não dá para dizer que acabaram os pobres, mas diminuíram muito, e a condição social deles melhorou porque tiveram acesso a vários bens de consumo, o que antes era praticamente impossível", afirma Pazzini.
Segundo o sócio diretor do Data Popular, Renato Meirelles, a tendência das pesquisas é a mesma: uma forte redução do contingente de pobres. "Em dez anos, foram 10 milhões de pessoas a menos na classe E", observa, ponderando que a divergência entre a ordem de grandeza dos resultados pode ser decorrente do fato de muitas pessoas da classe E não terem domicílio.
As participações das classes E e D na estrutura social encolheram por causa da forte migração que houve entre 1998 e 2011. A fatia dos domicílios de classe D caiu quase pela metade no período, de 33,6% para 15,1%. Já os estratos C e B cresceram. Em 1998, 17,8% dos domicílios eram da classe B e, em 2011, representavam 30,6%.
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Fonte: blog da Dilma
domingo, 22 de janeiro de 2012
sábado, 21 de janeiro de 2012
POPULARIDADE DE DILMA: EFEITO COLATERAL DA CAMPANHA DO PARTIDO DA IMPRENSA
Sem o PIG não se elegeriam nem vereadores.
O jornalista Paulo Henrique Amorim costuma dizer que sem o PIG os principais caciques do PSDB de São Paulo não passariam de Resende. Depois da divulgação da aprovação de Dilma ao final do seu primeiro ano de mandato (veja aqui), pode-se se dizer mais: os principais "privatas" não se elegeriam nem para vereador dos seus respectivos municípios. Se não, vejamos. A oposição, no ano que passou, só teve as bandeiras que o PIG levantou, acho que em reunião com ela mesma: primeiro, a tentativa de jogar Dilma contra Lula, de diferenciar os seus governos e de dizer que Lula era leniente com a corrupção. Não conseguiram. Tanto o ex-presidente com a presidenta tiveram um comportamento exemplar e solidário. Dilma, não esquecendo de citar seu mentor e de associar as obras e as realizações de seu governo com o de Lula. Lula, por sua vez, usou o brilhantismo e a inteligência que lhes são característicos, embora os que o invejem não admitam, e disparou esta pérola, que calou a todos: " Não há divergências entre mim e Dilma, mas, se houver, ela é que está certa."
Quando a oposição estava começando a ficar sem discurso, começou a caça aos ministros. aproveitando-se da conduta de ministros que foram indicados pelos respectivos partidos da base, o PIG começou a campanha que ainda está em curso para derrubar auxiliares de Dilma. Alguns deles foram defenestrados por pura pressão pois não foram apresentadas, pelos menos até o momento, provas concretas contra estes acusados. Estão incluídos neste caso os Ex-ministros dos esportes Orlando Silva e do trabalho Carlos Lupi.
Verdadeiras as acusações ou não, a intensa campanha desenvolvida pelo PIG visava a, primeiro, dar discurso à combalida oposição e, segundo, colar no governo e na presidenta a pecha de conivente com a corrupção e sem autoridade diante de ministros que praticavam o famoso "mal feito". Foi um tiro no pé: as rapídas e firmes atitudes de Dilma, após dar o tempo necessário para que os acusados se defendessem, tiveram o efeito contrário ao esperado pela imprensa e pela oposição: a sociedade começou a ver na presidenta uma mulher capaz de resolver rapidamente e com autoridade um dos problemas que mais atormentam o cidadão comum: a corrupção.
Os partidos de oposição, que foram governo durante a era FHC estavam, há algumas semanas, com um problema sério nas mãos: encontrar um modo de explicar aos seus eleitores, cada dia em menor número, mas que já leram o "Privataria Tucana", a participação de alguns de seus caciques nos crimes mostrados por Amaury Ribeiro Junior além de acharem um modo de neutralizar a referência ao livro no guia eleitoral que se aproxima. Agora, com a divulgação da pesquisa na qual a presidenta supera o próprio Lula no seu primeiro ano de governo, para não falar nos presidentes que o antecederam, os caciques, dependentes do PIG até a medula, suspiram de desânimo por saberem primeiro que serão desnudados diante da sociedade como corruptos e corruptores que são e depois por constatarem que o povo, desde o governo de Luis Inácio Lula da Silva, não se guia tanto e tão cegamente pela imprensa-partido como fazia no passado.
the teacher.
NÃO À MP 557/2011! EM DEFESA DA VIDA DAS MULHERES!
- ATUALIZADO EM 17/01/2012POSTADO EM: EQUIPE DO BLOG
“É urgente que o Ministério da Saúde retire essa MP e articule suas ações para redução da mortalidade materna em acordo com mecanismos e as diretrizes já previstos no SUS e nas Conferencias Nacionais de Saúde. “
enviado por Fátima Oliveira
No dia 26/12/2011, o Ministério da Saúde publicou a Medida Provisória 557/2011, que institui o Sistema Nacional de Cadastro, Vigilância e Acompanhamento da Gestante e Puérpera para Prevenção da Mortalidade Materna que prevê um cadastro universal das gestantes e puérperas buscando identificar as que estão com gestação de risco. Segundo o Ministério da Saúde essa iniciativa visa a responder a uma preocupação de que os municípios e Estados fortaleçam sua intervenção e garantam a realização de uma atenção eficaz e humanizada como parte do esforço de redução da mortalidade materna a níveis aceitáveis segundo a OMS. É conhecida a gravidade dos índices de mortalidade materna no Brasil, seu corte de classe e raça e, portanto, a urgência que uma Política Integral de Atenção à Saúde da Mulher priorize essa questão.
No entanto a edição desta MP levanta várias dúvidas quanto à sua adequação e se, de fato, é necessário criar esse tipo de mecanismo e, mais ainda, por meio de um dispositivo de Medida Provisória. Em primeiro lugar chama a atenção de maneira contundente o fato de que ela mexe na lei geral que organiza o sistema de saúde (Lei 8080 de 1990) para introduzir na legislação a questão dos direitos do nascituro. A introdução da idéia de direitos do nascituro tem sido, ao longo de várias décadas, uma questão central na disputa realizada pelos setores que buscam restringir os direitos das mulheres à autodeterminação e autonomia em relação à maternidade. Um debate que se contrapõe não apenas ao movimento de mulheres, mas a todos os setores progressistas que reconhecem a importância de se resguardar e reafirmar o direito das mulheres frente às tentativas constantes de introduzir esta contraposição no ordenamento legal brasileiro.
Não é pouco lembrar que, até agora, o marco principal é a Constituição brasileira onde prevaleceu o direito à vida desde o nascimento e os direitos das mulheres enquanto gestantes, recusando-se essa noção movida principalmente por influências religiosas conservadoras. O mais preocupante, portanto, é que a MP 557/2011, introduz a figura do nascituro como portador de direitos, quando é fato que esse não existe fora do corpo da gestante.
O fato é que esses setores retrógrados não conseguiram introduzir essa questão na legislação no Brasil até o momento, ainda que nos últimos anos tenha se acirrado a pressão para se definir os direitos das pessoas, e neste caso em especial das mulheres pela ótica de ideologias religiosas conservadoras. É inaceitável que isso seja realizado pelo Ministério da Saúde e a partir de uma questão tão sensível como propostas de redução da mortalidade materna. Com isso, o Ministério assume a linguagem dos setores reacionários, o que é inadmissível, e retrocede no processo de acúmulo que o SUS representa em termos de uma concepção de saúde vinculada ao pleno exercício de direitos.
Evidentemente o caráter persecutório da MP torna-se mais forte pelo fato de que no Brasil as mulheres são criminalizadas pela realização do aborto. Nos últimos anos há uma ofensiva conservadora e aumento da perseguição e criminalização das mulheres, inclusive com a interdição policial de clínicas, com a utilização de prontuários e registros das usuárias. As mulheres não podem exercer sua autonomia diante de uma gravidez indesejada e ficam expostas a riscos para sua saúde, sua integridade física e liberdade.
É evidente que o cadastro proposto é universal e compulsório, como se pode ler no texto da MP. Se é possível tomar medidas para que isso não seja utilizado como mais um instrumento de restrição de liberdade das mulheres em sua vida reprodutiva, os argumentos do Ministério da Saúde de que “universal” não se confunde com “compulsório” só faz sentido se isso corresponde a uma sugestão do Ministério de que as mulheres não procurem os serviços de saúde! Aliás, todas nós esperamos e queremos um atendimento integral à saúde das mulheres e que todas possam estar inscritas no sistema de saúde. O que torna, portanto, mais estranha e incompreensível a necessidade de tal cadastro específico de gestantes, mesmo considerando a problemática da mortalidade materna.
Desde o início da gestão, tem prevalecido nas ações do Ministério da Saúde uma perspectiva conservadora que não leva em consideração a saúde integral das mulheres e está centrada fundamentalmente no aspecto materno infantil. Nesse sentido a MP é uma continuidade da rede cegonha e de uma visão redutora do papel das mulheres como mães e reprodutoras.
Também chama a atenção a introdução da proposta de um Comitê Gestor Nacional sem qualquer participação da sociedade civil, e principalmente de Comissões de Cadastro, Vigilância e Acompanhamento de Gestantes e Puérpuras de Risco quando na realidade já existe no sistema de saúde, com participação dos movimentos e da sociedade civil, os Comitês de Morbi-Mortalidade Materna, fruto da luta e reivindicação dos setores organizados como parte de toda uma luta dos movimentos sociais por um sistema de saúde público e com controle social. A proposta não segue o acúmulo do SUS, prevendo em sua composição apenas a participação de profissionais e gestores, e desconhece o papel do movimento organizado nesses instrumentos.
Finalmente, o enfrentamento da mortalidade materna exige enfrentar a terceira causa de mortalidade materna que é o abortamento inseguro. É amplamente conhecido que isso só será possível se for respeitada a autonomia das mulheres e o aborto diante de uma gravidez indesejada for parte da política de saúde pública.
É obrigação do Ministério da Saúde ter políticas de atenção à maternidade que busquem reduzir a morbi-mortalidade materna e para isso é necessário qualificar a assistência e garantir o acesso e acolhimento nas unidades e hospitais, tanto na regulamentação para o atendimento privado como nos serviços sob responsabilidade da rede SUS. Nesse sentido a o benefício de R$50,00 terá um papel importante para o deslocamento daquelas que têm dificuldade financeiras. Sua eficácia, entretanto, depende da existência de outras políticas sociais associadas. Mas, mais uma vez, não é isso o que justifica a edição desta medida provisória.
É urgente que o Ministério da Saúde retire essa MP e articule suas ações para redução da mortalidade materna em acordo com mecanismos e as diretrizes já previstos no SUS e nas Conferencias Nacionais de Saúde.
Por isto, nós, da Marcha Mundial das Mulheres, exigimos:
• Que o Ministério da Saúde retire a MP 577/2011 no sentido de garantir a integralidade da saúde da mulher em consonância com seus direitos e garantias individuais;
• Que o Ministério da Saúde retome o debate sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e que o governo reafirme a autonomia política das ações condizentes com os princípios do Estado Laico, tomando medidas sem se curvar para conservadorismos ou morais religiosas;
• Um compromisso explícito do governo de impedir todas as ações de retirada de direito das mulheres nas políticas públicas;
• Que o Ministério da Saúde e o governo federal em conjunto com a sociedade civil enfrentem o debate do aborto inseguro e a necessidade de políticas de atendimento às mulheres que decidem interromper uma gravidez indesejada e, portanto, que o aborto seja descriminalizado e legalizado.
Marcha Mundial das Mulheres
Fonte: Saúde com Dilma
PISO DOS PROFESSORES: GOVERNO SÉRIO CUMPRE A LEI, NÃO ESPERA ANÚNCIO
A demora dos gestores estaduais e municipais em corrigir os vencimentos iniciais de carreira do magistério público da educação básica, à luz do piso salarial profissional nacional, não se justifica pelo fato de o MEC ainda não ter se pronunciado sobre o assunto. Na verdade, a atitude caracteriza o descumprimento de direito líquido e certo do magistério em ver atualizados seus vencimentos de carreira, a partir de janeiro de cada ano, e enseja a existência de categoria privilegiada na esfera do direito, o que é inconcebível diante do princípio de que ninguém pode escusar-se de cumprir a Lei alegando desconhecê-la.
Depois de terem sido derrotados no Supremo Tribunal Federal, governadores e prefeitos têm se rebelado contra a decisão de mérito proferida na ADIn 4.167, que ordena o cumprimento integral e imediato da Lei 11.738, não obstante pender o julgamento dos embargos de declaração interpostos pelos autores da ação de inconstitucionalidade.
Enquanto milhares de cidadãos comuns são obrigados a cumprir as decisões da justiça, o que acontece com prefeitos e governadores que insistem em desrespeitar as deliberações judiciais? Isso é o que veremos a partir da greve nacional da educação!
Sobre a atualização do piso nacional, o art. 5º da Lei 11.738 claramente vincula o índice do PSPN ao mesmo que reajusta o valor mínimo do Fundeb, ano a ano. Em lugar algum se exige o pronunciamento de órgão federal, tendo sido esta uma opção adotada pelo MEC para tentar unificar o cumprimento da Lei.
Para o ano de 2012, conforme defende a CNTE, o piso deve ser de R$ 1.937,65. Contudo, desde 2010, a maior parte dos estados e municípios tem optado em seguir as recomendações do MEC, que para este ano indicam um crescimento de 22,22% sobre o valor de 2011, atingindo assim a cifra de R$ 1.450,75.
Para quem não tem cumprido as regras do Piso, a CNTE recomenda a seus sindicatos filiados que ingressem com ações judiciais para cobrar o imediato e integral cumprimento da Lei 11.738, com destaque para o passivo do piso - contrapondo as orientações do MEC - e para a aplicação do percentual de 1/3 da jornada de hora-atividade, conquistado recentemente na justiça pela Apeoesp e pela Fetems/MS.
P.S.: Clique aqui para ver as tabelas com a memória da evolução dos valores do piso desde 2008.
FONTE: CNTE
AMEAÇA AO “PETRODÓLAR” É A RAZÃO DA GUERRA CONTRA O IRÃ
“O MITO DO IRÃ ISOLADO”
Por Pepe Escobar, no “Tom Dispatch”
OS CAMINHOS DO DINHEIRO, NA CRISE IRANIANA (“The Myth of Ïsolated Iran – Following the Money in the Iran Crisis”)
“Comecemos pela linha vermelha. Cá está ela, colhida diretamente da boca do leão [1]. Semana passada, o secretário de Defesa [dos EUA] Leon Panetta disse dos iranianos: “Estão tentando desenvolver bomba atômica? Não. Mas sabemos que estão tentando desenvolver alguma capacidade nuclear. E é isso que nos preocupa. Nossa linha vermelha para o Irã é “não desenvolvam bomba atômica”. Para nós, é a linha vermelha.”
Estranho, mesmo, é que as tais linhas vermelhas não param de encolher. Era uma vez, antigamente, a linha vermelha para Washington era “o enriquecimento” do urânio. Agora, só falam de bomba atômica. Lembrem todos que, desde 2005, o Supremo Líder iraniano, aiatolá Khamenei já dizia [2] que seu país não trabalha para construir bomba atômica. A mais recente “National Intelligence Estimate” [3] sobre o Irã, produzida pela inteligência dos EUA já disse várias vezes que o Irã não está, de fato, construindo bomba atômica (o que não significa que não venha, algum dia, a ter capacidade para construir).
Mas e se não se tratar de coisa alguma como “linha vermelha”? E se tratar-se, de fato, de algo completamente diferente, de uma, digamos, “linha do petrodólar”?
SANÇÕES E NOVOS BANCOS?
Comecemos por aqui: em dezembro de 2011, indiferente às graves consequências para a economia global, o Congresso dos EUA – sob as pressões habituais exercidas pelo lobby israelense (não que fossem necessárias) – impôs um pacote de sanções goela abaixo do governo Obama (100 a zero no Senado, e apenas 12 [4] votos “não” na Câmara de Deputados). Começando em junho, os EUA terão de boicotar todos os bancos e empresas de terceiros países que negociem com o Banco Central do Irã, o que implica paralisar as vendas de petróleo do país (O Congresso prevê algumas “exceções”).
O objetivo final? Mudar o regime – e o que mais seria? – em Teerã. O funcionário norte-americano não identificado de sempre admitiu claramente ao “Washington Post”, e o jornal publicou o comentário. (“O objetivo dos EUA e das novas sanções contra o Irã é levar o regime ao colapso, disse alto funcionário da inteligência dos EUA, em clara indicação de que o governo Obama tem, no mínimo, intenção de derrubar o governo do Irã, apesar do corrente engajamento”). Mas... Epa! O jornal, logo depois, teve de revisar [5] esse trecho, para eliminar essa citação embaraçosamente clara. Sem dúvida, essa “linha vermelha” aproximara-se excessivamente da verdade e abalara o conforto geral.
O ex-comandante geral do Estado-Maior das Forças dos EUA almirante Mike Mullen acreditava que só evento monstro estilo “choque-e-pavor”, que humilhasse completamente a liderança em Teerã, levaria a genuína mudança de regime – e de modo algum estava sozinho. Defensores de ações que vão de ataques aéreos à invasão (pelos EUA, por Israel ou por alguma combinação de ambos) sempre foram legiões na Washington neoconservadora. (Basta ver, por exemplo, o relatório de 2009 da “Brookings Institution”, “Which Path to Pérsia” [6]).
O problema é que quem conheça, por pouco que seja, o Irã, sabe que esse tipo de ataque fará a população cerrar fileiras a favor de Khamenei e dos Guardas Revolucionários. Nessas circunstâncias, o que menos importará é a profunda aversão que vários iranianos nutrem contra a ditadura militar do mulariato.
Além disso, até a oposição iraniana apoia um programa nuclear nacional pacífico. É questão de orgulho nacional.
Intelectuais iranianos, mais familiarizados com as fumaças e espelhos persas que os ideólogos em Washington, descartam completamente[7] quaisquer cenários de guerra. Dizem que o regime de Teerã, afiado nas artes do teatro de sombras persa, não tem qualquer intenção de provocar qualquer tipo de ataque que levaria ao cerco contra o próprio governo. Por sua vez, certos ou não, os estrategistas de Teerã assumem que Washington não tem condições para lançar mais uma guerra no Oriente Médio Expandido, sobretudo se se fala de guerra que levaria a terrível dano colateral para a economia mundial.
Enquanto isso, as expectativas de Washington, de que sanções duríssimas possam forçar os iranianos a ceder um pouco, se o governo não for derrubado, podem revelar-se nada além de quimera. Em Washington, os especialistas só falam de uma suposta megadesvalorização desastrosa da moeda iraniana [8], o Rial, dadas as novas sanções. Infelizmente para os fãs do colapso econômico do Irã, o professor Djavad Salehi-Isfahani [9] já expôs, em detalhes elaborados, a natureza de longo prazo desse processo, que os economistas iranianos receberam como dádiva. Afinal, as sanções farão aumentar a importância de outros itens de exportação iraniana e ajudarão a indústria local, hoje obrigada a enfrentar a concorrência dos produtos chineses baratos. Em resumo: um Rial desvalorizado tem boas chances de ajudar a reduzir o desemprego no Irã. [10]
MAIS CONECTADO QUE O GOOGLE
Embora poucos nos EUA tenham observado, o Irã não está absolutamente “isolado”, por mais que Washington deseje que esteja. O primeiro-ministro do Paquistão Yusuf Gilani tornou-se passageiro frequente de voos para Teerã. E não se compara, em assiduidade, com o chefe da segurança nacional da Rússia, Nikolai Patrushev, que recentemente alertou Israel para que não force os EUA a atacar o Irã. Acrescente-se a tudo isso também o aliado dos EUA e presidente do Afeganistão Hamid Karzai. Num “Loya Jirga” (Grande Conselho) no final de 2011, frente a 2.000 chefes tribais, Karzai disse que Kabul planejava aproximar-se ainda mais de Teerã.
Oleodutostão - as várias linhas que passam e/ou saem do Irã
Nesse crucial tabuleiro eurasiano de xadrez, o “Oleodutostão” (orig. “Pipelineistan” [11]), gasoduto Irã-Paquistão (IP) de gás natural –para extremo incômodo de Washington – está em pleno andamento. O Paquistão precisa muito de energia e o governo já decidiu claramente que não está disposto a esperar até o dia do juízo final pelo projeto que é a menina-dos-olhos de Washington [12] – o “oleogasoduto Turcomenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia” (TAPI) – para tentar atravessar o “Talibãnistão”.
Até o ministro das Relações Exteriores da Turquia Ahmet Davutoglu esteve recentemente em Teerã, embora as relações entre os dois países estejam cada dia mais complicadas. Afinal, a energia sobrepõe-se a todas as ameaças na região. A Turquia é membro da OTAN e já está envolvida em operações clandestinas na Síria, aliada a sunitas fundamentalistas linha-duríssima no Iraque e – em movimento ostensivo de dar as costas à(s) primavera(s) árabe(s) – trocou um eixo Ankara-Teerã-Damasco por eixo Ankara-Riad-Doha. Já planeja até hospedar componentes do longamente planejado sistema de mísseis de defesa de Washington, mirados para o Irã.
Tudo isso, vindo de um país para o qual o mesmo Davutoglu inventara uma política exterior de “zero problemas com nossos vizinhos”. Apesar de tudo, a necessidade de “Oleogasodutostão” faz disparar todos os corações. A Turquia precisa desesperadamente de acesso aos recursos energéticos do Irã e, se o gás natural iraniano algum dia chegar à Europa Ocidental – chegada que os europeus esperam com máxima ansiedade – a Turquia será país de trânsito daquele gás, com os correspondentes privilégios e impostos a cobrar. Líderes turcos já demonstraram que rejeitam quaisquer novas sanções que os EUA imponham ao petróleo iraniano.
Por falar em conexões, o mundo assistiu, semana passada, a um espetacular “coup de théâtre” diplomático, com o tour do presidente Mahmoud Ahmadinejad do Irã, pela América Latina. A direita dos EUA imediatamente pôs-se a falar sobre um “eixo do mal Teerã-Caracas” – que supostamente estaria promovendo o “terror” na América Latina, como preparação para futuros ataques contra a superpotência do norte – mas, de volta à vida real, o que se viu foi outro tipo de clara verdade [13]. Mesmo depois de tantos anos, Washington ainda não é capaz de digerir a ideia de que perdeu o controle e, até, a influência, sobre aquelas duas potências regionais sobre as quais, há tempos, exerceu sua impiedosa hegemonia imperial.
Acrescente a tudo isso a barreira de desconfiança que só fez solidificar-se desde a revolução islâmica do Irã de 1979. Misture também uma América Latina nova, já praticamente soberana e que busca a integração, não só pelos governos de esquerda na Venezuela, Bolívia e Equador, mas também pelas potências regionais Brasil e Argentina. Mexa tudo e você obterá as fotos históricas em que se veem os presidentes Chávez da Venezuela e Ahmadinejad do Irã, saudando o presidente Daniel Ortega da Nicarágua.
Washington continua a tentar divulgar a imagem de um mundo do qual o Irã teria sido completamente desconectado. Como já aconteceu, a porta-voz do Departamento do Estado Victoria Nuland insistia novamente, recentemente, que “o Irã permanece em total isolamento internacional”. Não. Como também acontece com frequência, a porta-voz precisa prestar mais atenção aos fatos.
Esse Irã que permaneceria “isolado” tem US$4 bilhões em projetos conjuntos com a Venezuela, dentre os quais – crucialmente importante – um banco (como também com o Equador, o Irã tem vários projetos planejados, da construção de usinas e, outra vez, também bancos). Tudo isso levou a equipe dos “Primeiro-Israel” que Israel controla em Washington a exigir, em altos brados, que se aplicassem sanções também contra a Venezuela. O problema é o seguinte: como, nesse caso, os EUA pagariam para receber o petróleo da Venezuela de que muito precisam?
A imprensa dos EUA comentou muito que Ahmadinejad não tenha visitado o Brasil nesse tour latino-americano, mas não há dúvidas de que Teerã e Brasília continuam em sintonia diplomática. No que tenha a ver com o dossiê diplomático, a história do Brasil só atrai simpatias. Afinal, o Brasil desenvolveu – e depois cancelou – um programa de armas nucleares. Em maio de 2010, Brasil e Turquia construíram um acordo de troca de urânio para o Irã que bem poderia ter desatado os nós mais apertados do “imbróglio” nuclear entre EUA e Irã. Aquele acordo foi imediatamente sabotado por Washington. Membro-chave dos BRICS, o clube das principais economias emergentes, Brasília opõe-se firmemente à estratégia dos EUA de sanções/embargo [14].
O Irã está “isolado” dos EUA e da Europa Ocidental, mas dos BRICS aos MNAs (120 países do Movimento dos Não Alinhados), o Irã tem, a seu favor, a maioria do sul global. E, além do mais, há os aliados de Washington, Japão e Coreia do Sul, que suplicam para serem excluídos da obrigação de boicotar/embargar o Banco Central do Irã.
Não surpreende, porque essas sanções unilaterais dos EUA visam, também, a atingir a Ásia. Afinal, China, Índia, Japão e Coreia do Sul, juntos, compram nada menos que 62% de todo o petróleo que o Irã exporta.
Com a polidez que é marca registrada asiática, o Ministro das Finanças do Japão Jun Azumi fez saber ao secretário do Tesouro dos EUA Timothy Geithner o problema que Washington está criando para Tóquio, que depende do Irã para suprir 10% do petróleo que consome. Está prometendo [15], pelo menos, “reduzir” aquela proporção “o mais depressa possível”, para obter de Washington uma isenção daquelas sanções, mas que ninguém espere muita coisa. A Coreia do Sul já anunciou que, em 2012, comprará do Irã, sim, 10% do petróleo de que necessita.
ROTA DA SEDA “REDUX”
O mais importante de tudo é que um Irã “isolado” é assunto gravíssimo, de alta segurança nacional, para a China, que rejeitou[16] imediatamente as últimas sanções de Washington, sem nem piscar [17]. O ocidente parece esquecer que o Império do Meio e a Pérsia fazem negócios já há quase dois mil anos (“Rota da Seda”, alguém já ouviu falar?)
Os chineses já montaram grande negócio [18] para o desenvolvimento do maior campo de petróleo do Irã, Yadavaran. Há também a questão de entregar o petróleo iraniano no Mar Cáspio, por um oleoduto que se estende do Cazaquistão à China Ocidental. De fato, o Irã fornece nada menos que 15% do petróleo e do gás natural que a China consome. O Irã é mais crucial [19] para a China, especialista em energia, que a Casa de Saud para os EUA, que importam da Arábia Saudita 11% do petróleo que consomem.
A verdade é que a China pode sair como vencedora [20] da nova rodada de sanções de Washington, porque, provavelmente, conseguirá preço mais baixo por petróleo e gás, com os iranianos agora mais dependentes do mercado chinês. Nesse momento, de fato, os dois países estão em meio a uma complexa negociação [21]sobre o preço do petróleo iraniano, e os chineses aumentaram a pressão cortando muito de leve as compras de energia. Mas tudo isso estará resolvido em março, pelo menos dois meses antes de a última rodada de sanções dos EUA entrar em vigência, segundo especialistas em Pequim. No final, os chineses, com certeza, comprarão muito mais gás e petróleo iranianos, mas o Irã permanecerá na posição de seu terceiro maior fornecedor de petróleo[22], depois de Arábia Saudita e Angola.
Quanto a outros efeitos sobre a China das novas sanções, que ninguém conte muito com eles. Empresários chineses no Irã estão produzindo carros, redes de fibras óticas e expandindo o metrô de Teerã. O comércio bilateral é de US$30 bilhões hoje e deve alcançar os US$50 bilhões em 2015. Não há dúvidas de que comerciantes chineses encontrarão um meio de circunavegar os impedimentos bancários impostos pelas novas sanções.
A Rússia, é claro, é outra apoiadora chave do “isolado” Irã. Opôs-se fortemente contra as sanções aplicadas através da ONU e as aplicadas pelo pacote aprovado em Washington [23] e que visam o Banco Central do Irã. De fato, a Rússia deseja que sejam suspensas as sanções já aplicadas pela ONU e também trabalha num plano alternativo [24] que poderia, pelo menos teoricamente, levar a um acordo nuclear aceitável, sem demérito, por todas as partes.
No front nuclear, Teerã já manifestou disposição para acertar-se com Washington, seguindo as linhas do plano que Brasil e Turquia sugeriram e Washington boicotou imediatamente, em 2010. Dado que hoje já se vê bem claramente que, para Washington – com certeza para o Congresso – a questão nuclear é secundária (e a mudança de regime é a questão principal) – quaisquer novas negociações estão condenadas a enfrentar processo extremamente doloroso.
Tudo isso é especialmente verdade agora que os líderes da União Europeia conseguiram afastar-se de qualquer futura mesa de negociação, atirando, eles mesmos, nos próprios pés calçados em sapatos Ferragamo. À moda típica, seguiram caninamente a liderança de Washington para implementar um embargo ao petróleo do Irã. Como alto funcionário da União Europeia disse a Trita Parsi, presidente do Conselho Iraniano Norte-americano [25], e diplomatas da União Europeia disseram também a mim em termos bem claros, eles temem que a situação esteja agora a um passo de nova guerra.
Enquanto isso, uma equipe da Agência Internacional de Energia Atômica acaba de visitar o Irã [26]. A AIEA está supervisionando tudo que tenha a ver com programa nuclear no Irã, inclusive a nova usina de enriquecimento de urânio [27] em Fordow, próxima da cidade santa de Qom, que deverá estar em plena produção em junho. A AIEA é positiva: no Irã ninguém cogita de bomba. Mesmo assim, Washington (e os israelenses) continuam a agir como se fosse apenas questão de tempo – e pouco tempo.
SIGA O DINHEIRO
O mote do isolamento iraniano enfraquece ainda mais se se sabe que o país está abandonando o Dólar no comércio com a Rússia, que passará a ser feito nas respectivas moedas nacionais, Rials e Rublos[28] – movimento semelhante ao que já se vê no comércio entre China e Japão. Quanto à Índia, usina econômica na região, os líderes também se recusam [29] a suspender as compras de petróleo iraniano, troca comercial que, no longo prazo, parece que também não será conduzida em dólares. A Índia já está usando o Yuan em negócios com a China; Rússia e China também já negociam em Rublo e Yuanshá mais de um ano; Japão e China comerciam entre eles em Yen e Yuan. Como para Irã e China, todos os novos negócios e investimentos conjuntos serão pagos em Yuan e Rial.
Tradução, caso seja necessária: no futuro próximo, com europeus excluídos do ‘mix’, praticamente nenhum petróleo iraniano será comerciado em dólares.
Importante também, três dos BRICS (Rússia, Índia e China) aliados do Irã são grandes possuidores (e produtores) de ouro. Suas complexas negociações não serão afetadas pelos humores do Congresso dos EUA. De fato, quando o mundo em desenvolvimento assiste à profunda crise [30] no Ocidente da OTAN, o que veem ali é dívida massiva dos EUA, o FED imprimindo moeda como se o fim do mundo estivesse próximo, muita injeção de dinheiro nos bancos [orig. “quantitative easing”] e, claro, a eurozona abalada até os alicerces.
Siga o dinheiro. Deixe de lado, por um instante, as novas sanções contra o Banco Central do Irã, que só entrarão em vigência daqui a alguns meses; ignore as ameaças iranianas de fechar o Estreito de Ormuz (pouco viáveis, porque aquela é a principal via pela qual o petróleo iraniano chega ao mercado), e é possível que a razão chave pela qual a crise no Golfo só faz crescer esteja na decisão de torpedear o petrodólar usado como moeda de troca em todos os negócios.
A ideia foi introduzida pelo Irã e com certeza gera ansiedade máxima em Washington, que se vê ultrapassada não só por uma potência regional, mas, também, pelos seus dois principais concorrentes estratégicos, China e Rússia. Não surpreende que todos aqueles porta-aviões estejam nesse instante em viagem para o Golfo Persa[31], mas enviados para o mais estranho dos combates: naves militares, com ordens para desarticularem arranjos econômicos.
Nesse contexto, vale recordar que, em setembro de 2000, Saddam Hussein abandonou o petrodólar como moeda de pagamento pelo petróleo iraquiano [32], e mudou-se para o euro. Em março de 2003, o Iraque foi invadido e aconteceu a inevitável mudança de regime. A Líbia de Muammar Gaddafi propôs um dinar de ouro, previsto para ser moeda comum africana e moeda que a Líbia aceitaria em pagamento por seus recursos energéticos vendidos. Outra intervenção e mais um regime “mudado”.
Mas Washington/OTAN/Telavive oferecem narrativa completamente diferente. As “ameaças” dos iranianos seriam o xis da questão da atual crise, embora as ameaças, de fato, só tenham acontecido como reação contra a incansável guerra clandestina que EUA-Israel movem contra o Irã [33], e agora, também, contra a guerra econômica. Aquelas “ameaças” reza a narrativa de Washington, estão fazendo aumentar o preço do petróleo e alimentando recessão cada vez maior. A culpa de tudo é do Irã, não do capitalismo de cassino de ‘Wall Street’ nem as dívidas massivas de EUA e países europeus. A fina-flor dos 1% nada tem contra altos preços do petróleo, desde que o Irã possa ser atirado às massas, como judas a malhar.
Michael Klare, [34] especialista em energia lembrou recentemente que estamos hoje numa nova era de geoenergia, que, com certeza, será extremamente turbulenta no Golfo Persa e em outros pontos. Mas deve-se ver 2012 como o ano do início do que bem poderá ser deserção massiva do dólar como moeda global preferencial. Como pensar também é realidade, imaginem o mundo real – quase todo o sul global – fazendo todas as suas necessárias contas; aos poucos, começando a negociar em suas próprias moedas; e investindo quantidades cada dia menores dessas moedas na compra de bônus do Tesouro dos EUA.
Claro que os EUA sempre podem contar com o “Conselho de Cooperação do Golfo” (CCG) – Arábia Saudita, Qatar, Omã, Bahrain, Kuwait e os Emirados Árabes Unidos – que sempre prefiro chamar de “Clube Contrarrevolucionário do Golfo” (basta ver o que fizeram durante a “Primavera Árabe”). Para todas as finalidades geopolíticas práticas, as monarquias do Golfo são satrapias dos EUA. A promessa imorredoura, que fizeram há décadas, de só usar o petrodólar, implica em que são todas, hoje, apêndices do poder do Pentágono projetados para o Oriente Médio. O Comando Central dos EUA (CENTCOM) está, afinal de contas, baseado no Qatar; a V Frota dos EUA, no Bahrain.
De fato, em todas aquelas terras imensamente ricas em fontes de energia, que se podem identificar como o “Oleodutostão Expandido” –que o Pentágono costumava chamar de “o arco de instabilidade” – e que avançam pelo Irã na direção da Ásia Central, o “Conselho de Cooperação do Golfo” continua a ser elemento crucial da periclitante hegemonia norte-americana.
Se se tratasse de recriação econômica do conto “O Poço e o Pêndulo” de Edgar Allen Poe [35], o Irã seria uma engrenagem numa máquina infernal que estaria lentamente esmagando o dólar como moeda mundial de reserva. Mas é a engrenagem na qual Washington foca hoje toda a atenção. A mudança de regime é ideia fixa. Só falta uma faísca para iniciar o incêndio (em – deve-se acrescentar – todas as direções nas quais Washington não esteja preparada).
Lembrem-se da “Operação Northwoods” [36], o plano de 1962, rascunhado pelos comandantes do Comando Conjunto, de encenar operações terroristas nos EUA e culpar os cubanos de Fidel Castro. (O presidente Kennedy fulminou o projeto). Ou recordem o incidente no Golfo de Tonkin em 1964, que o presidente Lyndon Johnson usou como justificativa para ampliar a Guerra do Vietnã. Os EUA acusaram barcos armados do Vietnã do Norte de ataque não provocado contra barcos dos EUA. Adiante, se comprovou que os ataques sequer algum dia aconteceram e que o presidente mentiu sobre todo o “incidente”.
Não é delírio imaginar que pregadores linha-dura da doutrina da “Dominação de Pleno Espectro” dentro do Pentágono possam, a qualquer momento, inventar um incidente de falsa bandeira no Golfo Persa para atacar o Irã (ou podem, simplesmente, usar golpe semelhante para induzir Teerã a cometer algum erro fatal de avaliação). Considerem-se também a nova estratégia militar dos EUA que o presidente Obama acaba de divulgar, segundo a qual Washington estaria tirando os olhos de duas guerras em solo fracassadas no “Oriente Médio Expandido”, para movê-los agora na direção do Pacífico (e, portanto, da China). O Irã está exatamente no meio do caminho, no sudoeste da Ásia, mandando todo aquele petróleo diretamente para as bocas vorazes do Império do Meio, atravessando águas vigiadas [37] pela Marinha dos EUA.
Quero dizer que, sim, sim. Esse psicodrama maior que a vida, que chamamos “caso do Irã” pode vir a revelar-se “o caso do dólar norte-americano contra a China”; ou o “caso das políticas do Golfo Persa”, sob o manto de uma inexistente bomba iraniana. A pergunta é: que besta mostruosa, chegada a hora, arrasta-se para Pequim, para renascer? [38]”
NOTAS DOS TRADUTORES
1 “Face the Nation” transcript: January 8, 2012
2 “Iran and Nuclear Latency”
3 “New NIE on Iran nuke program appears to differ little from 2007 findings”
4 “Only 12 House Members Vote Against Iran Sanctions”
5 “WaPo Censors Iran Sanctions' Regime Change Intent”
6 “Strategy toward Iran”
7 “Military Option is the Worst Possible Scenario”
8 "Iran says depreciation in riyal not linked to latest-US sanctions”.
9 “The fall of the Iranian rial: too much of a good thing?”
10 “Iran economy strong despite sanctions”
11 “Liquid War”
12 “Blue Gold, Turkmen Bashes, and Asian Grids”
13 “Turkey: Not bound by US sanctions against Iran”
14 “Brazil-Turkey 1, sanctions 0”
15 Japan “to reduce Iran oil imports”
16 “China will not hesitate to protect Iran even with a third World War”
17 “China defends Iran oil trade despite U.S. push”
18 “Yadavaran: A Treasure in Land of Black Gold”
19 “China's Crude Oil Imports Data for January”
20 “China Gets Cheaper Iran Oil as U.S. Pays Tab for Hormuz Patrols”
21 “UPDATE 1-China extends Iran oil import cut as sanctions mount”
22 “UPDATE 1-China extends Iran oil import cut as sanctions mount”
23 “Russia warns US over Iran oil sanctions”
24 “Tomgram: Pepe Escobar, Sinking the Petrodollar in the Persian Gulf”
25 “Discursos levianos sobre guerras fazem da guerra ao Irã risco real”
26 “AEOI Chief: Iran Shows New Generation of Centrifuges to IAEA”
27 “Iran says Fordo uranium enrichment site runs under IAEA watch: TV”
28 “Iran, Russia dump dollar for Rial, Ruble”
29 “India, Iran mull over gold-for-oil for now”
30 “The West and the Rest in a One-Model-Fits-All World”
31 “Second US aircraft carrier near Gulf: Pentagon”
32 “Petrodollar Warfare: Dollars, Euros and the Upcoming Iranian Oil Bourse”
33 “Blast kills Iran nuclear expert amid covert war”
34 “Petrodollar Warfare: Dollars, Euros and the Upcoming Iranian Oil Bourse”
35 The Pit and the Pendullum [1843]. em ingles; em português O Poço e o Pêndulo.
36 “Operation Nothwoods”
37 “Playing With Fire: Obama’s Risky Oil Threat to China”
38 Orig. “What rough beast, its hour come round at last, slouches towards Beijing [Belém, no orig.] to be born?” É verso de William Butler Yeats (1865-1939), em The Second Coming [A segunda vinda]. Pode ser lido em português (tradução não identificada).”
FONTE: escrito por Pepe Escobar, no “Tom Dispatch”. Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu. Postado no blog “redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com/2012/01/pepe-escobar-o-mito-do-ira-isolado.html). [título e imagem do google acrescentados por este blog 'democracia&política'].
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