publicado em 10 de outubro de 2012 às 12:27
por Miruna
Genoino
Com essa frase, meu pai, José Genoino Neto, cearense, brasileiro,
casado, pai de três filhos, avô de dois netos, explicou-me como estava se
sentindo em relação à condenação que hoje, dia 9 de outubro, foi confirmada.
Uma frase saída do livro que está lendo atualmente e que me levou
por um caminho enorme de recordações e de perguntas que realmente não têm
resposta.
Lembro-me que quando comecei a ser consciente daquilo que meus
pais tinham feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a ditadura militar,
vinha-me uma pergunta à minha mente: será que se eu vivesse algo assim teria
essa mesma coragem de colocar a luta política acima do conforto e do bem estar
individual? Teria coragem de enfrentar dor e injustiça em nome da democracia?
Eu não tenho essa resposta, mas relembrar essas perguntas me fez
pensar em muitas outras que talvez, em meio a toda essa balbúrdia, merecem ser
consideradas…
Você seria perseverante o suficiente para andar todos os dias 14
km pelo sertão do Ceará para poder frequentar uma escola? Teria a coragem
suficiente de escrever aos seus pais uma carta de despedida e partir para a
selva amazônica buscando construir uma forma de resistência a um regime
militar? Conseguiria aguentar torturas frequentes e constantes, como pau de
arara, queimaduras, choques e afogamentos sem perder a cabeça e partir para a
delação? Encontraria forças para presenciar sua futura companheira de vida e de
amor ser torturada na sua frente? E seria perseverante o suficiente ao esperar
5 anos dentro de uma prisão até que o regime político de seu país lhe desse a
liberdade?
E sigo…
Você seria corajoso o suficiente para enfrentar eleições nacionais
sem nenhuma condição financeira? E não se envergonharia de sacrificar as
escassas economias familiares para poder adquirir um terno e assim ser possível
exercer seu mandato de deputado federal? E teria coragem de ao longo de 20 anos
na câmara dos deputados defender os homossexuais, o aborto e os menos
favorecidos? E quando todos estivessem desejando estar ao seu lado, e sua
posição fosse de destaque, teria a decência e a honra de nunca aceitar nada que
não fosse o respeito e o diálogo aberto?
Meu pai teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais de
40 anos dedicados à luta política. Nunca, jamais para benefício pessoal. Hoje e
sempre, empenhado em defender aquilo que acredita e que eu ouvi de sua boca
pela primeira vez aos 8 anos de idade quando reclamava de sua ausência: a única
coisa que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas…
Este seu desejo, que tanto me fez e me faz sentir um enorme
orgulho de ser filha de quem sou, não foi o suficiente para que meu pai pudesse
ter sua trajetória defendida. Não foi o suficiente para que ganhasse o respeito
dos meios de comunicação de nosso Brasil, meios esses que deveriam ser olhados
através de outras tantas perguntas…
Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de
informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente em êxtase, em
poder noticiar a tragédia de um político honrado? Acharia uma excelente ideia
congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de causar um pânico
na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de um hospital no
dia de um político realizar um procedimento cardíaco? Dedicaria suas energias a
colocar-se EMem dia de eleição a falar, com a boca colada na orelha de uma
pessoa, sobre o medo a uma prisão que essa mesma pessoa já vivenciou nos piores
anos do Brasil?
Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram coragem
de fazer isso tudo e muito mais.
Hoje, nesse dia tão triste, pode parecer que ganharam, que seus
objetivos foram alcançados. Mas ao encontrar-me com meu pai e sua disposição
para lutar e se defender, vejo que apenas deram forças para que esse genuíno
homem possa continuar sua história de garra, HONESTIDADE e defesa daquilo que
sempre acreditou.
Nossa família entra agora em um período de incertezas. Não sabemos
o que virá e para que seja possível aguentar o que vem pela frente pedimos
encarecidamente o seu apoio. Seja divulgando esse e/ou outros textos que
existem em apoio ao meu pai, seja ajudando no cuidado a duas crianças de 4 e 5
anos que idolatram o avô e que talvez tenham que ficar sem sua presença, seja
simplesmente mandando uma palavra de carinho. Nesse momento qualquer atitude,
qualquer pequeno gesto nos ajuda, nos fortalece e nos alimenta para ajudar meu
pai.
Ele lutará até o fim pela defesa de sua inocência. Não ficará de
braços cruzados aceitando aquilo que a mídia e alguns setores da política
brasileira querem que todos acreditem e, marca de sua trajetória, está muito
bem e muito firme neste propósito, o de defesa de sua INOCÊNCIA e de sua
HONESTIDADE. Vocês que aqui nos leem sabem de nossa vida, de nossos princípios
e de nossos valores. E sabem que, agora, em um dos momentos mais difíceis de
nossa vida, reconhecemos aqui humildemente a ajuda que precisamos de todos,
para que possamos seguir em frente.
Com toda minha gratidão, amor e carinho,
Miruna Genoino
09.10.2012
09.10.2012
Fonte: Vi o Mundo
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